Evidências Covid 19

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Como a produção de anticorpos específicos está relacionada com a persistência do vírus após a infecção de COVID-19 ?

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A persistência de SARS-CoV-2 está associada a respostas de células T CD8 antígeno-específicas

FARHA, Jorge

VIBHOLM, L. et al. SARS-CoV-2 persistence is associated with antigen-specific CD8 T-cell responses. EBioMedicine, v. 64, p. 103230, Epub 01 fev. 2021 DOI: 10.1016/j.ebiom.2021.103230. Disponível em: https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/33530000/

O presente estudo foi desenvolvido pelo Departamento de Doenças Infecciosas do Hospital Universitário Aarthus da Dinamarca, de abril a julho de 2020.

Sabe-se que algumas viroses como Zika, Ebola e Sarampo podem cursar com persistência do vírus por longos períodos, prolongando o potencial de transmissão da doença.  Na Covid-19 igualmente, a persistência do vírus observada após a recuperação clínica pode, teoricamente, prolongar a transmissão e ainda ser um fator de risco para a recorrência da doença, especialmente em imunodeprimidos.

Até então nenhum estudo que correlacionasse a resposta antígeno-específica das células-T CD8 e os anticorpos totais com a persistência do vírus havia sido publicado. Essa lacuna na compreensão da Covid-19 não permitia avaliar adequadamente o potencial de transmissão dos portadores assim como definir com segurança o período de auto-isolamento dos pacientes.

Com o objetivo portanto de investigar se o RNA viral presente nesses portadores seria capaz de infectar outras pessoas e/ou estimular resposta imune específica, dois grupos de pacientes foram selecionados de acordo com o resultado do RT-PCR, ambos entre 15 e 44 dias de evolução após o início da doença e já assintomáticos. De 203 indivíduos incluídos no estudo, 26 apresentavam RT-PCR positivo nesta primeira avaliação.  Este exame detecta a presença de material genético do vírus em amostras colhidas da mucosa nasal posterior. Por sua vez esse grupo foi dividido em 5 subgrupos conforme a severidade do quadro clinico. Tabelas e gráficos detalham os grupos constituídos e suas particularidades.

Curiosamente o subgrupo 1, de menor gravidade, mostrou maior probabilidade de ter RT-PCR positivo.  Uma segunda avaliação foi realizada entre 85 e 105 dias após a melhora dos sintomas e apenas 5 mostraram RT-PCR positivo.

Ao se analisar os níveis de anticorpos totais, 99,5% dos participantes do estudo apresentavam anticorpos positivos na primeira avaliação e surpreendentemente não se observou diferença entre os grupos RT-PCR positivo e negativo. Contudo, os que apresentavam maiores níveis de anticorpos tiveram os menores títulos de RT-PCR, além do menor número de pacientes com RT-PCR persistente.

Passou-se a avaliar os contactantes dos pacientes RT-PCR persistentes num total de 757 pessoas. Dentre estes não se observou nenhum caso novo de Covid-19, concluindo-se que a persistência do RNA viral na fase de recuperação clinica da doença não se correlaciona com o risco de transmissão do SARS CoV-2

Finalmente, ao analisar a resposta imune específica das células-T CD8, observou-se que os pacientes que apresentavam RT-PCR persistente eram os que exibiam mais ampla e intensa resposta de imunidade celular.

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Como evoluem durante a pandemia pacientes com colite ulcerativa aguda grave?

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Avaliação, endoscopia e tratamento em pacientes com colite ulcerativa aguda grave durante a pandemia de COVID-19 (PROTECT-ASUC): um estudo multicêntrico, observacional, caso-controle

COHEN, Larissa

SEBASTIAN, S. et al. Assessment, endoscopy, and treatment in patients with acute severe ulcerative colitis during the COVID-19 pandemic (PROTECT-ASUC): a multicentre, observational, case-control study. Lancet Gastroenterol Hepatol., v. 6, n. 4, p. 271-281, Apr. 2021. Epub 2 fev. 2021. DOI: 10.1016/(21)00016-9. Disponível em: https://www.thelancet.com/journals/langas/article/PIIS2468-1253(21)00016-9/fulltext

Há uma escassez de evidências que embasem o manejo seguro e eficaz de pacientes com colite ulcerativa aguda grave durante a pandemia de COVID-19. O impacto de possíveis mudanças no gerenciamento convencional para colite ulcerativa aguda grave pode gerar dúvidas em relação aos desfechos.

Em 60 hospitais de cuidados agudos do Reino Unido realizou-se o estudo PROTECT-ASUC (Resposta Pandêmica da Avaliação, Endoscopia e Tratamento em Colite Ulcerativa Aguda Grave), no qual incluiu-se adultos acometidos por colite ulcerativa ou doença intestinal inflamatória (DII) admitidos entre março e junho de 2020 (período de pandemia) e entre janeiro e junho de 2019, considerado coorte de controle histórico.

O objetivo deste estudo foi identificar alterações para estabelecer tratamento convencional baseado em evidências para colite ulcerativa aguda grave, como consequência da primeira onda da pandemia COVID-19 no Reino Unido, e avaliar o efeito nos resultados do paciente, bem como, a severidade diante da COVID-19.

A pandemia da COVID-19, causada por síndrome respiratória aguda (SARS-CoV-2) desafiou as estratégias de tratamento convencionais para doença intestinal, incluindo a colite ulcerativa aguda grave. Dados de pequenas coortes durante a primeira onda da pandemia de COVID-19 sugeriram que a atividade desta última doença pode ser um preditor para resultados adversos de COVID-19 em pacientes com DII. E com a recomendação de isolamento social, muitos pacientes não compareceram aos hospitais para continuarem seu tratamento.

O PROTECT-ASUC foi um estudo multicêntrico, observacional e caso-controle, que incluiu 782 pacientes (398 na coorte do período pandêmico e 384 na coorte de controle histórico), os quais atenderam os critérios de Truelove e Witts para colite ulcerativa aguda grave.           

A proporção de pacientes que receberam terapia de resgate ou cirurgia foi maior

durante o período pandêmico em comparação com o período histórico. Esta diferença foi impulsionada por um maior uso de terapias de indução primária e de resgate com produtos biológicos, ciclosporina ou tofacitinibe na COVID-19. Por outro lado, não houve diferença no requisito para cirurgia de emergência entre as coortes, nem na resposta de corticosteroide intravenoso.

Durante a pandemia, mais pacientes receberam esteróides intravenosos ambulatoriais. Menos pacientes receberam tiopurinas e ácidos 5-aminossalicílicos durante a pandemia do que no período de controle histórico. As taxas de colectomia foram semelhantes entre a pandemia e grupo de controle histórico; no entanto, a cirurgia laparoscópica foi menos frequente durante o período de pandemia.

Embora tenha havido algumas adaptações aos padrões de gerenciamento dos casos de colite ulcerativa aguda grave no período da pandemia de COVID-19, não houve diferença dos resultados encontrados quando comparados ao período sem pandemia.

Estudos prospectivos adicionais de grande escala durante a pandemia da COVID-19 são recomendados para confirmar a baixa incidência de COVID-19 neste grupo de pacientes.

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Como conduzir a abordagem e o manejo clínico de crianças com COVID-19 ?

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COVID-19 em Crianças: Abordagem Clínica e Manejo

FAULHABER, Maria Cristina Brito

SANKAR, J.; et al. COVID-19 in Children: Clinical Approach and Management. Indian J Pediatr., v. 87, n. 6, p. 433-442, Jun. 2020. Doi:10.1007/s12098-020-03292-1. Epub 2020 Apr 27. Disponível em: http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/32338347

O artigo revê os casos de COVID-19 até abril de 2020 na Índia, quando se procurava estabelecer a melhor forma de abordagem e manejo clínico da doença em crianças. Nelas as manifestações parecem ser mais brandas e os sintomas clínicos são semelhantes a qualquer infecção viral respiratória aguda. Os modos de transmissão são a inalação direta de gotículas infectadas (produzidas durante a tosse ou espirro por pessoa infectada) e contato direto com superfícies e fômites contaminados por secreções respiratórias infectadas. O vírus foi também isolado em amostras de fezes.

A COVID-19 deve ser suspeitada em crianças sintomáticas que viajaram nos últimos 14 dias, ou em crianças hospitalizadas com doença respiratória aguda grave, ou naquelas assintomáticas, e que tiveram contato direto com um caso que foi confirmado. Um caso confirmado é aquele em que o exame laboratorial para SARS-CoV-2 é positivo, independentemente dos sinais e sintomas.

As três series dos casos pediátricos iniciais no estudo relataram tosse (48,5%), eritema faríngeo (46,2%), febre (41,5%), respiração rápida (28,7%), diarreia (8,8%), rinorréia (7,6%), fadiga (7,6%) e vômitos (6,4%). A frequência de infecção assintomática, de infecção do trato respiratório superior e de pneumonia foi de 15,5%, 19,3% e 64,9%, respectivamente. Uma criança morreu. Pacientes com manifestações graves geralmente desenvolvem hipoxemia e hipoperfusão no final da primeira semana. As complicações da síndrome de dificuldade respiratória aguda incluem miocardite, choque séptico, coagulação intravascular disseminada, lesão renal e disfunção hepática. A mortalidade de crianças entre 0-9 anos e 10-19 foi 0% e 0,18% respectivamente.

O padrão ouro de diagnóstico é pelo teste RT-PCR para SARS-CoV-2 RNA, idealmente colhido por swab nasofaríngeo. Em crianças submetidas a ventilação mecânica, a coleta por lavagem bronco alveolar (BAL) mostrou sensibilidade de 93% quando comparada a coleta por expectoração (72%), esfregaço nasal (63%), escovado brônquico (46%), esfregaço faríngeo (32%), fezes (29%), sangue (1%) e urina (0%).

Indicações para internação: 1) dificuldade respiratória; 2) saturação O2 (Sat O2) < 92% em ar ambiente; 3) choque/má perfusão periférica; 4) pouca aceitação oral; 5) letargia e 6) convulsões/encefalopatia. A investigação em pacientes internados inclui exames de imagem como tomografia computadorizada de tórax, que em 32,7% dos casos mostrou opacidades de vidro fosco, hipotransparências irregulares localizadas (18,7%), hipotransparências irregulares bilaterais (12,3%) e anormalidades intersticiais (1,2%). O hemograma demonstra leucopenia e linfopenia, menos acentuados que em adultos.

O tratamento nos casos leves (as crianças não têm dificuldade respiratória, se alimentam bem e a SO2 é > 92%) consiste no isolamento domiciliar, uso de paracetamol SOS (10 – 15 mg/kg/dose) a cada 4-6 horas em caso de febre, evitar antinflamatórios não hormonais como ibuprofeno, hidratação oral, explicar aos pais os sinais de gravidade e usarem máscara quando tiverem contato.

O manejo dos casos hospitalizados consiste em: a) Suplementação de oxigênio para manter Sat O2> 92%; b) Hidratação venosa adequada; c) Paracetamol para febre; d) Hemocultura; e) Antimicrobianos empíricos (por exemplo, Ceftriaxona) / oseltamivir na suspeita de influenza; f) Monitorização clínica rigorosa. Era preconizado o uso de hidroxicloroquina por 5 dias e lopinavir / ritonavir por 14 dias, além de transfusão de plasma, azitromicina, interferon e ribavirina.

Os critérios para UTI são: a) necessidade de ventilação mecânica; b) choque exigindo suporte vasopressor; c) piora do estado mental e d) síndrome de disfunção de múltiplos órgãos.

São colocadas ainda no estudo as indicações de intubação, como realizar o procedimento e o tratamento de suporte em crianças gravemente enfermas.

É reforçada a orientação de manter a amamentação usando máscara, além de orientações sobre convivência doméstica com alguém com COVID-19 e medidas de saneamento ambiental.

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Quais os fatores que predizem a mortalidade de pessoas com diabetes e COVID-19 ?

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Preditores de Mortalidade em uma Coorte Urbana Multirracial de Pessoas com Diabetes Tipo 2 e Novo Coronavírus 19

BISOL, Tiago

MYERS, A.K.; et al. Predictors of Mortality in a Multi-Racial Urban Cohort of Persons with Type 2 Diabetes and Novel Coronavirus 19. J Diabetes. Epub ahead of print. DOI 10.1111/1753-0407.13158. Disponível em https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/33486896/

Os autores da pesquisa estudaram a correlação entre o estado do controle glicêmico recente e outras comorbidades à mortalidade em pacientes que necessitaram internação hospitalar pela COVID-19.

O Diabetes Mellitus (DM) tem sido associado a maior risco no desenvolvimento de Síndrome Respiratória Aguda em pacientes com COVID-19. Os mecanismos propostos são alterações da resposta imune e desregulação (downregulation) das enzimas conversoras de angiotensina (ECA) que levariam ao aumento dos níveis de angiotensina II. O próprio vírus pode também ter efeitos transitórios no pâncreas, levando à hiperglicemia e até à cetoacidose. Alguns estudos já associaram também o diagnóstico de DM à maior mortalidade em pacientes com COVID-19. O objetivo deste estudo foi avaliar se o mau controle glicêmico prévio à infecção, avaliado através da medida da hemoglobina glicosilada (HbA1c), está associado a uma pior evolução da COVID-19. A relação entre necessidade de intubação orotraqueal e presença de outras comorbidades também foi avaliada.

Foram estudados retrospectivamente pacientes com diagnóstico de DM e COVID-19, que foram admitidos para internação nos hospitais do Sistema de Saúde de Northwell, em Nova Iorque, EUA, entre janeiro e maio de 2020. A medida mais recente (dentro dos últimos 3 meses) de HbA1c do paciente foi utilizada para análise. Foram analisados 3.846 pacientes, 59% homens, média de idade de 68 anos, 33% eram brancos, 27% americano-africanos, e o restante de outras etnias ou raças.

A maioria (73%) dos pacientes admitidos tinham HbA1c menor que 9% e não foi observada diferença na mortalidade entre os que tinham níveis mais altos ou mais baixos. Porém, a glicemia medida quando da admissão ao hospital se correlacionou com maior mortalidade (glicemia média no grupo óbito de 195 mg/dl e não óbito 165mg/dl).

Maior mortalidade foi associada à idade mais avançada (idade média dos que foram a óbito, 72 anos, dos que não foram, 65 anos) e necessidade de intubação – dos 24,6% pacientes que precisaram de intubação orotraqueal, 64% foram à óbito. Não houve associação de mortalidade com etnia ou raça.

Óbito também se correlacionou com existência de comorbidades: DPOC (13,4% vs 8%, OR 1,63), Insuficiência cardíaca (18,2% vs 13,1%, OR 1,40), Doença arterial coronariana (32,7% vs 24,6%, OR 1,43), Insuficiência renal crônica (20,1% vs 13.1% OR 1,60), Hipertensão arterial (87% vs 82%, OR 1,23) e Infarto do miocárdio (11,7% vs 7,5%, OR 1,69). Em análise multivariada, permaneceram como fatores isolados de risco para mortalidade: idade, sexo masculino, necessidade de ventilação mecânica, DPOC e Infarto Agudo do Miocárdio.

O estudo não encontrou correlação entre o estado de controle prévio do DM, avaliado através da medida da HbA1c, e a mortalidade, porém evidenciou uma relação com a glicemia mais elevada quando da admissão, que pode ter relação com a própria manifestação do quadro infeccioso. Confirmou também a já descrita associação de idade, sexo masculino, comorbidades e necessidade de ventilação mecânica com uma mortalidade significativamente mais elevada.

 

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Qual a relação das respostas de produção de anticorpos com a imunidade protetora ?

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Imunidade protetora após a COVID-19 ser questionada: O que podemos fazer sem a detecção de SARS-CoV-2-IgG ?

MONTEIRO, Elisabeth Costa

MELGAÇO, Juliana Gil; AZAMOR, Tamiris; BOM, Ana Paula Dinis Ano. Protective immunity after COVID-19 has been questioned: What can we do without SARS-CoV-2-IgG detection? Cellular Immunology, v. 353, p. 104114, Jul. 2020. DOI: 10.1016/j.cellimm.2020.104114. Epub 2020 Apr 28. Disponível em: http://www.sciencedirect.com/science/article/pii/S0008874920302501

Os autores da pesquisa discutem questões relativas a marcadores de proteção imunológica, dentre as quais o fato de que resultados positivos em testes moleculares não evoluem com detecção SARS-CoV-2-IgG. O trabalho destaca a importância das células T de memória como possíveis biomarcadores, para avaliação da imunidade protetora em relação à

O mundo vivencia a infecção pelo coronavirus 2, com elevada transmissibilidade e alta mortalidade, que induz uma síndrome respiratória aguda grave, além de diarreia, pneumonia, linfopenia, exaustão de linfócitos e produção de citocinas pró-inflamatórias. A população não-hospitalar e profissionais de saúde assintomáticos podem se constituir em hospedeiros virais. O distanciamento social e ensaios clínicos massivos para detecção de anticorpos são empregados para deter a propagação viral. No entanto, resultados positivos em testes moleculares não se correlacionaram com detecção de IgG, e anticorpos neutralizantes estão ausentes mesmo em pacientes hospitalizados. Assim, emergem questões sobre a proteção imunológica e o tempo para quarentena.

Estudos realizados em pacientes sintomáticos e hospitalizados indicam que, durante a infecção, a resposta imunológica envolve a produção de anticorpos e a ativação de células T linfocitárias. Nestes pacientes, a produção de anticorpos aumentou após a primeira semana de início dos sintomas, com ativação das células T e maior exibição de fenótipo de memória após 14 dias de hospitalização.

A linfopenia induzida inicialmente pelo vírus causa atraso na ativação de células T. No entanto, após duas semanas de sintomas, começam a surgir fenótipos de linfócitos T específicos da SARS-CoV-2. Este processo pode proporcionar informações relevantes quanto à imunidade de proteção. Os estudos têm observado que a não-detecção de anticorpos após a vacinação não está relacionada à proteção, porque os linfócitos T de memória podem ser ativados e proteger as pessoas contra reinfecções subsequentes. O desenvolvimento de vacinas destinadas apenas à ativação das células T encontra-se em processo de investigação e poderá promover uma resposta robusta da célula T de memória.

Os autores levantam a hipótese de que o novo coronavírus tenha o poder de reduzir a atividade das células B. Uma resposta para este problema pode estar na realização de ensaios de resposta celular, cujos custos se assemelham aos dos testes de anticorpos neutralizantes. Os pesquisadores propõem avaliar uma pequena subpopulação que não produza anticorpos IgG, mas que ative as células T após a doença, garantindo, dessa forma, a imunidade protetora. Os ensaios de células T linfocitárias possuem elevada sensibilidade e especificidade, podendo utilizar partículas virais como estimuladores e serem otimizados em laboratórios com nível 2 de biossegurança.

Ensaios para linfócitos T de memória específica para SARS-CoV-2 podem fornecer informações úteis de eficácia em relação à imunidade protetora da população (estejam as pessoas hospitalizadas ou não). Essas análises podem ser realizadas em países com laboratórios especializados em imunologia. Estudos com as células T podem contribuir para o desenvolvimento de vacinas, terapias e diagnósticos para a COVID-19, preenchendo lacunas de conhecimento em imunologia.

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Como apoiar profissionais de saúde utilizando saúde mental e mídia social?

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Apoio de pares em epidemias e intervenção em crises via mídia social

FAGUNDES, Dorival

CHENG, P. ; et al. COVID-19 Epidemic Peer Support and Crisis Intervention Via Social Media. Community Ment Health J., v.56, n.5, p. 786-792, jul. 2020.  Doi:10.1007/s10597-020-00624-5 Disponível em: https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/32378126/

O artigo descreve um projeto de apoio psicológico aos profissionais de saúde atuantes na linha de frente da COVID-19 em Wuhan, China, formulado e efetivado por profissionais experientes em saúde mental. Identificou-se que a pandemia causou grande sofrimento psíquico aos profissionais da linha de frente. Os autores descreveram a infraestrutura da equipe, assim como um novo modelo de apoio mental aos colegas em tempos de crise, utilizando um aplicativo de mídia social (WeChat). Tal modelo de atenção e suporte pode ser implementado em outras localidades.

Resgata-se o histórico da pandemia, com ênfase nos momentos iniciais, quando médicos notaram um novo tipo de pneumonia causado por um patógeno desconhecido. Destaca-se ainda as crises de saúde mental desencadeadas nos profissionais de saúde. Quando Wuhan foi subitamente fechada os seus habitantes entraram em pânico caótico, com milhares de pessoas exigindo cuidados nos hospitais, deixando o sistema local à beira da ruptura e os profissionais da linha de frente enfrentaram esse momento com recursos inadequados. Dado esse contexto, um grupo de profissionais de saúde mental dos EUA, Austrália e Canadá reuniu uma equipe para fornecer apoio psicológico aos trabalhadores de saúde. Reconhecida a urgência do tratamento, foi imediatamente iniciado.

Descrevem o projeto de atendimento aos pares, dividindo a explicação em quatro tópicos: (i) infraestrutura e organização (uso do WeChat, explicitação dos critérios de recrutamento dos profissionais atendidos e especialidade dos membros de apoio); (ii) ambiente de trabalho, diretrizes, plataforma, operação e limites (pontuam a neutralidade política do grupo e apresentam as diretrizes de atuação, dentre as quais “não fazer mal” e garantir confidencialidade); (iii) dinâmica do funcionamento em grupo (dois grupos online: voluntários para discussão do trabalho; profissionais chineses); (iv) operações de serviço (rotina e modus operandi do apoio psicológico oferecido).

Oferecem mais quatro tópicos para discussão: (i) estratégia de saída e encaminhamento (como a intervenção é limitada no tempo, um plano de saída deve estar em vigor e em conexão com os recursos locais de saúde mental para encaminhamentos); (ii) o licenciamento precisa ser reconsiderado (pois o serviço de apoio entre pares não é considerado tratamento e não há relação paciente-profissional); (iii) seguro contra negligência médica (recomendam que os profissionais obtenham uma consulta jurídica antes de iniciar o serviço); (iv) conflito de interesses (não houve interesses, nem políticos ou monetários, apenas desejo de ajudar colegas).

Categorizam o estado dos pacientes em 10 estágios. 1) perplexidade, fruto das incertezas do momento inicial; 2) choque, relativamente breve e com mudança de humor; 3) raiva, aumentada à medida que mais profissionais morriam e devido à falta de informação; 4) ansiedade, é o mais longo e continuou durante todo o projeto, incluindo uma série de preocupações, como as relacionadas à família; 5) estafa, marcada pelo contexto sobrecarregado de problemas; 6) desespero, devido à sensação de desesperança e desamparo; 7) aceitação, com elevação da esperança e percepção das muitas medidas rapidamente tomadas de assistência; 8) esperança, com a chegada de mais recursos e recuperações; 9) recuperação, devido ao início do retorno da vida ao “normal”; 10) “após”, com muitos retornando à linha de base, mas alguns com doenças mentais de longo prazo.

Concluindo destacam a unicidade da experiência pandêmica, com pessoas expostas a perdas e traumas contínuos, e o sucesso considerável da experiência. Apontam a abordagem inovadora da pesquisa, pois poucas fazem uso das mídias sociais para intervenção em crises. Embora não tenha havido coleta de dados formais, evidências apontam a utilidade desse tipo de intervenção, e com grande relevância, pois mantiveram, estavelmente, cerca de 300 membros ativos, ao longo do projeto. Por fim, expõem limitações do estudo, como o caráter ímpar da China (infraestrutura política, crenças culturais e fuso horário) e a necessidade de se considerar especificidades locais de cada país ao instituir grupos de apoio.

A principal contribuição do estudo foi demonstrar o uso eficaz das tecnologias cibernéticas e do apoio humano dos profissionais de saúde para ajudar trabalhadores a lidarem com a pandemia de COVID-19; e as principais limitações foram o não registro das atividades de apoio para obtenção de mais dados e a dificuldade de lidar com as especificidades da China, diferente culturalmente do Ocidente.

Como analisar as águas residuais pode auxiliar no monitoramento de surtos e epidemias e trazer quais benefícios?

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Análise computacional da vigilância da SARS-CoV-2 / COVID-19 por epidemiologia baseada em análise de águas residuais local e globalmente: viabilidade, economia, oportunidades e desafios

DUARTE, Rosalia Maria

HART, O.E.; HALDEN, R. U. Computational analysis of SARS-CoV-2/COVID-19 surveillance by waste water-based epidemiology locally and globally: Feasibility, economy, opportunities and challenges. Sci Total Environ., v.730, Aug. 2020. Doi: 10.1016/j.scitotenv.2020.138875. Epub 2020 Apr 22. Disponível em https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/32371231/

O artigo discute as vantagens e desvantagens de se efetuar vigilância sanitária da evolução da contaminação por SARS-CoV-2 através da epidemiologia baseada na análise de águas residuais (water-based epidemiology/WBE).

Uma das mais complexas atividades da política de vigilância sanitária em caso de pandemias é o monitoramento e a detecção de novos casos de contaminação, para criar barreiras que evitem a propagação da doença. No caso da SARS-CoV-2, as altas taxas de subnotificação, fruto da dificuldade de produzir testagem em massa e do significativo número de indivíduos contaminados que permanecem assintomáticos, tornam ainda mais complexa a tarefa de monitorar a disseminação do vírus e reduzir os índices de contaminação. Face a isso, os autores argumentam que a epidemiologia baseada na análise de águas residuais (WBE), que vem se tornando uma ferramenta importante de vigilância de doenças infecciosas, com histórico comprovado na detecção de poliomielite e hepatite A, poderia auxiliar a vigilância populacional na pandemia da COVID-19.  Referenciam no artigo evidências preliminares de detecção bem-sucedida de SARS-CoV-2 em águas residuais municipais da Holanda, dos Estados Unidos e da Austrália, que confirmariam essa possibilidade. Alertam, no entanto, que ainda há incertezas quanto a se um ensaio baseado em WBE seria suficiente para orientar políticas sanitárias (como a aplicação de testes em massa ou a aplicação de medidas de contenção de mobilidade ou de isolamento social somente em áreas onde tenham sido detectados indivíduos contaminados) e indicam a necessidade de combinar WBE com aplicação posterior de testes clínicos.

Para avaliar a possibilidade da WBE ser utilizada em larga escala na detecção da SARS-CoV-2, o estudo relatado no artigo toma como base a realização de uma análise computadorizada que combina um grande volume de dados e cálculos estatísticos referentes a: 1) estimativa das cargas iniciais de SARS-CoV-2 em águas residuais; 2) estimativa de persistência de COVID-19 em águas residuais; 3) dados da área de estudo de caso (densidade populacional e condições espaciais da cidade de Tempe, no Arizona, EUA); modelo hidráulico (dados relacionados ao layout físico do sistema de coleta de esgoto); cálculos do tempo de deslocamento de águas residuais no sistema de coleta, taxas de fluxo volumétricas de águas residuais e velocidades); análise de custo para WBE e triagem médica de indivíduos. A partir dessa modelagem computacional, os autores concluíram que, dependendo das condições locais (modelagem hidráulica, temperatura e tempo de deslocamento das águas residuais, por exemplo) a epidemiologia baseada em águas residuais pode detectar um indivíduo infectado (sintomático ou assintomático) entre cada 100 a 2 milhões de pessoas. Argumentam que essa ferramenta permitiria monitorar 2,1 bilhões de pessoas globalmente, através de 105.600 estações de tratamento de esgoto e que, combinada com a realização de testes clínicos, poderia gerar uma economia de bilhões de dólares na detecção e no acompanhamento de surtos epidemiológicos.

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Qual o possível impacto de COVID-19 na gravidez e no risco de transmissão da mãe para o recém-nascido?

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Impacto da infecção de COVID-19 nos desfechos da gravidez e o risco de transmissão intraparto maternal-a-neonatal da COVID-19 durante o nascimento natural.

DAMASCENO, Patricia Salles

KHAN, Suliman; et al. Impact of COVID-19 infection on pregnancy outcomes and the risk of maternal-to-neonatal intrapartum transmission of COVID-19 during natural birth. Infection Control & Hospital Epidemiology. Cambridge, v. 41, n.6, p. 748-750, jun, 2020. doi: 10.1017/ice.2020.84. Disponível em: https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/32279693/.

Desde seu surgimento em Wuhan, China, em dezembro de 2019, a pneumonia atípica causada pelo vírus SARS-CoV-2 é altamente infecciosa e se espalhou rapidamente pelo planeta com perdas em todo o mundo. Estudos têm focado nos efeitos da COVID-19 na população em geral, tornando escassos dados na gravidez de mulheres portadoras. Estudos anteriores relataram os resultados materno-neonatais e o potencial de transmissão vertical da pneumonia por COVID-19 apenas em mulheres com partos cirúrgicos. Também foram excluídos os profissionais de saúde.

O estudo em tela selecionou três gestantes  (n = 3) com SARS-CoV-2 confirmado em 2020 por teste de swab nasal, e com partos vaginais no Hospital Renmin no dia da internação. Todas relataram contato com portador de COVID-19. Os pesquisadores mantiveram inclusos os profissionais de saúde. O estudo considerou para diagnóstico da pneumonia por COVID-19 a 4ª edição do Programa de Controle e Prevenção de Pneumonia por Coronavírus, publicado pela Comissão Nacional de Saúde da China. Os testes maternos positivos usaram reação em cadeia da polimerase da transcriptase reversa quantitativa (qRT-PCR), com amostras coletadas na nasofaringe e amostras de sangue. Para determinar a infecção neonatal com COVID-19, amostras de swabs de sangue do cordão e garganta neonatal foram coletadas até doze horas após o parto vaginal. O protocolo do estudo foi aprovado pelo comitê de ética do hospital Renmin, em Wuhan.

O caso 1 descreve primípara de 28 anos, com 34 semanas e 6 dias de gestação. Admissão em 28 de janeiro, com queixa de febre e tosse. Temperatura corporal de 37,3°C. Swab positivo para SARS-CoV-2. O bebê nasceu prematuro por via vaginal, com escores de Apgar de 8 e 9 no primeiro e quinto minutos, respectivamente. Pesava 2.890 gramas e media 48 cm. Com testagem negativa para SARS-CoV-2, ficou em observação em unidade neonatal. Para prevenir e controlar a infecção, a puérpera recebeu azitromicina endovenosa, cápsulas orais de Lianhua Qingwen (medicina chinesa) e antivirais de andoseltamivir.

 O caso 2 é relativo a uma primípara de 33 anos com 39 semanas de gestação. Ela foi internada em 22 de fevereiro, apresentando febre e tosse. Sua temperatura corporal era de 37,6°C. O bebê tinha índice de Apgar de 9 a 10, peso de 3.500 g, media 50 cm e testou negativo para SARS-CoV-2. A puérpera recebeu antibióticos, medicamentos antivirais e inalação intermitente.

O caso 3 corresponde a uma primípara com 27 anos e 38 semanas de gestação. Internou no hospital em 1º de março, com tosse e aperto no peito. Os batimentos cardíacos fetais e a ultrassonografia foram satisfatórios. Nasceu um bebê a termo, Apgar 9 e 10, peso de 3.730 g e medindo 51 cm. Com swab negativo, foi transferido para a enfermaria pediátrica para observação. A paciente recebeu antibióticos, medicamentos antivirais, fármaco da medicina chinesa e oxigenoterapia intermitente.

Nesse estudo de caso clínico com três grávidas com pneumonia sintomática por COVID-19, submetidas a partos vaginais, apenas o caso 1 teve um bebê prematuro. Entretanto, esse concepto apresentou resultado negativo para SARS-CoV-2, o que sugere que o parto prematuro não foi causado pela transmissão vertical da SARS-CoV-2. A prematuridade pode ter relação com o estresse psicológico associado a COVID-19. Não observou-se óbitos ou natimortos. Os pesos de nascimento neonatal variaram de 2.890 Kg  a 3.730 Kg; os comprimentos de nascimento neonatal variaram de 48 cm a 51 cm. Os três neonatos tiveram escores normais de Apgar e resultado negativo para SARS-CoV-2. Considerando o tamanho da amostra, incentiva-se estudos com amostras quantitativas mais significativas para identificar a possibilidade de transmissão vertical de COVID-19 no segundo e terceiro trimestre de gravidez e possíveis desfechos adversos na gravidez. Não observou-se nesse estudo transmissão vertical entre os bebês nascidos por via vaginal. Também não foram encontradas evidências de transmissão intra-parto vaginal materno-neonatal de COVID-19.

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Quais as consequências para os cuidados de HIV, tuberculose e malária, decorrentes da pandemia de COVID-19?

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O que a pandemia de COVID-19 significa para o controle de HIV, tuberculose e malária?

PALMEIRA, Vanila Faber

AMIMO, F.; LAMBERT, B.; MAGIT, A. What does the COVID-19 pandemic mean for HIV, tuberculosis, and malaria control? Tropical Medicine and Health, v. 48, n. 32, Mai. 2020. Doi: 10.1186/s41182-020-00219-6 Disponível em: https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC7218555/pdf/41182_2020_Article_219.pdf

Na atual pandemia pelo Coronavírus 2019 é importante ressaltar a população que já convive com outras doenças infecciosas, como HIV/AIDS, tuberculose e malária, principalmente em regiões de maior vulnerabilidade como o continente africano. Inclusive porque que na África essas doenças são endêmicas, ou seja, estão presentes em várias áreas de maneira permanente.

Na África, em comparação ao restante do mundo, o número de casos e/ou de óbitos pelo novo Coronavírus 2019 foi mais baixo. Isto ocorre provavelmente devido à presença maior de jovens, ou seja, a média da população africana é de 18,7 anos, enquanto a média global é de 30,2 anos. Pois é sabido que as formas mais graves e, a maioria dos óbitos causados pelo novo Coronavírus 2019, ocorrem, principalmente, em pessoas idosas. Além disso, como a maioria apresenta formas leves ou assintomáticas (sem sintomas), provavelmente nem procuram os serviços de saúde, o que pode estar gerando uma subnotificação dos casos.

No continente africano, a maioria dos países não possuem testes suficientes para fazer o diagnóstico da infecção pelo novo Coronavírus 2019. Além disso, existe uma incapacidade de rastreio de contatos, seja pelos pacientes não procurarem corretamente os serviços de saúde, seja por falta de pessoal capacitado. Apesar de terem um número oficial relativamente baixo de infecção pelo novo Coronavírus 2019, este representa um risco importante para a saúde pública deste continente, uma vez que existem muitas pessoas com outras doenças infecciosas, e que necessitam de acesso constante aos serviços públicos de saúde.

O isolamento social, uma das medidas mais adotadas pelos governos de todo o mundo, não funcionam bem na África, uma vez que este continente alberga a maioria dos casos de pessoas convivendo com HIV/AIDS do mundo, além de pessoas com tuberculose e malária, que precisam ir constantemente aos serviços públicos de saúde buscar seus fármacos para tratamento dessas infecções. Portanto, limitar o número de pessoas utilizando transporte público, por exemplo, só faz com que as outras patologias sejam negligenciadas. Ou seja, na África, a pandemia pelo novo Coronavírus 2019 está tornando o acesso aos serviços de saúde limitado, o que por sua vez leva as pessoas a fazerem o tratamento para HIV/AIDS, tuberculose e malária de maneira equivocada. Esse efeito, por sua vez, leva à disseminação da resistência microbiana, agravando ainda mais a condição de saúde da população.

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Quais cuidados a serem tomados pelo anestesista com paciente que dá entrada no hospital?

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Surto de um novo coronavírus: o que o anestesista deve saber

CARNEVALE, Renata

PENG, P. W. H.; HO, P. L.; HOTA, S. S. Outbreak of a new coronavirus: what anaesthetists should know. Br J Anaesth., v. 124, n. 5 p. 497-501, 2020. Doi: 10.1016/j.bja.2020.02.008. Disponível em https://bjanaesthesia.org/article/S0007-0912(20)30098-2/fulltext

O artigo foi publicado em fevereiro de 2020 em uma revista britânica direcionada para anestesistas. O objetivo é apresentar informações sobre o início da epidemia de coronavirus e enfatiza na necessidade da cuidados e proteção individual dos anestesistas, especialmente no momento da intubação orotraqueal.

Em dezembro de 2019, iniciou um surto de pneumonia de origem desconhecida em Wuhan, China. Em janeiro, cientistas chineses confirmaram que o surto estava sendo causado por um coronavirus, posteriormente chamado de SARS-CoV-2. A Organização Mundial de Saúde declarou estado de emergência em 30 de janeiro de 2020, devido à alta transmissibilidade da doença. Apesar das medidas de controle adotadas internacionalmente, o número de casos continuou crescendo.

O SARS-Cov-2 é um vírus RNA envelopado. Até o momento, sete coronavírus humanos foram identificados, incluindo os responsáveis pela transmissão da SARS e da MERS. O vírus é transmitido por gotículas respiratórias, que podem atingir até 2 metros de distância. O período de incubação é de 1 a 14 dias, sendo mais comum 5 dias. A média de transmissão de cada indivíduo infectado é estimada em 2,68. Os sintomas mais comuns são febre e tosse.

Existem várias semelhanças entre os coronavírus do SARS, da MERS e 2019-nCoV. Os três podem causar síndrome da angústia respiratória e morte. O último caso de SARS ocorreu em 2003. Ainda há casos de MERS reportados esporadicamente. A rápida identificação genômica do SARS-CoV-2 permitiu que o exame de cadeia polimerase em tempo real fosse desenvolvido para diagnóstico da doença. A agilidade na identificação dos casos permite que medidas de saúde pública sejam tomadas, evitando a maior contaminação.

O que anestesistas precisam saber? Durante a epidemia de SARS, 21% dos infectados foram profissionais de saúde. O uso de equipamentos de proteção individual e medidas de controle de dispersão de aerossol ajudam a proteger o profissional de saúde. A intubação orotraqueal, se realizada com a proteção correta não representa um aumento de contaminação para quem a realiza.

O paciente com suspeita de COVID-19 deve ser transferido para uma área apropriada e os seguintes cuidados devem ser tomados: i) o local deve ser ventilado ou preferencialmente ser equipado com sistema de pressão negativa; ii) o paciente deve usar máscara cirúrgica durante o transporte; iii) o staff envolvido deve usar o equipamento de proteção adequado; iv) higiene das mãos antes e após o contato com o paciente; v) o número de profissionais deve ser o mínimo possível para fornecer um atendimento adequado ao paciente.

Em relação aos equipamentos de proteção individual, sempre que exposto a ambiente que possa haver geração de aerossol, deve-se utilizar máscara PFF2 ou similar, óculos de proteção, luvas, capote impermeável. Atenção especial deve ser prestada à retirada e ao descarte do equipamento de proteção individual. A manipulação errada pode aumentar o risco de contaminação.

A fim de minimizar a geração de aerossóis, alguns cuidados devem ser tomados: i) o manejo da via aérea deve ser feito pelo anestesista mais experiente; ii) usar filtro hidrofóbico; iii) pré-oxigenar com oxigênio a 100%, e evitar o uso do ambu; iv) caso seja necessário ventilar com ambu, usar volumes correntes reduzidos; v) intubação com paciente acordado por broncoscopia deve ser evitado; vi) intubação orotraqueal é preferível do que máscara laríngea; vii) uso de ventilação não invasiva deve ser evitado ou medidas para diminuir dispersão devem ser adotadas.

É importante considerar que este artigo foi publicado em fevereiro. Nos últimos meses muita informação sobre o tema foi gerada. Os dados estatísticos do artigo precisam ser reconsiderados para a realidade atual. A orientação para proteção de profissionais de saúde permanece relevante e deve ser aplicada principalmente no manejo da via aérea.

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