Evidências Covid 19

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Como a perda de olfato e paladar pode afetar emocionalmente as pessoas acometidas por COVID-19 ?

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Investigação sobre a perda do paladar e do olfato e os efeitos psicológicos consequentes: um estudo transversal em profissionais da saúde que contraíram a infecção COVID-19

DOLINSKY, Luciana

DUDINE, L. et al. Investigation on the Loss of Taste and Smell and Consequent Psychological Effects: A Cross-Sectional Study on Healthcare Workers Who Contracted the COVID-19 Infection. Front Public Health, v.9, article 666442, May 2021. DOI:10.3389/fpubh.2021.666442. Disponível em: https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/34123991

O artigo analisa a correlação entre o estresse e as alterações no olfato e paladar de trabalhadores da saúde, da região norte da Itália, que contraíram a COVID-19 no meio do surto da patologia em 2020.

A infecção pelo SARS-Cov-2 é caracterizada por diversos sintomas, com quadros clínicos variando de assintomáticos ou com sintomas leves até doença severa e óbito. Dentre as manifestações neurológicas mais comuns da patologia situam-se as alterações no olfato e no paladar relatadas por inúmeras publicações. Também é fator conhecido que pandemias estão associadas com consequências diversas para a saúde mental e existem estudos relatando aumento nos sintomas de ansiedade e depressão na pandemia da COVID-19. No entanto, raros são os estudos que têm como foco os sintomas da patologia como determinantes do estresse psicológico.

Como as disfunções de olfato e paladar podem impactar negativamente o bem-estar, com indivíduos relatando sensações de solidão, medo e depressão, além de dificuldades sociais devido a preocupações com a higiene pessoal, no caso da alteração no olfato, e impactos na nutrição e desenvolvimento de depressão, nos casos de alterações no paladar, pesquisadores consideraram a possibilidade destes sintomas amplificarem o estresse psicológico já determinado por outros fatores.

Para verificar esta hipótese, 104 trabalhadores da saúde, homens e mulheres, com idades entre 18 e 70 anos, que haviam contraído a COVID-19, foram avaliados por entrevistas semiestruturadas que envolviam questões sobre sintomatologia, incluindo alterações de olfato e paladar, termômetro de estresse (DT) e escala de ansiedade e depressão hospitalar (HADS). Os questionários referentes a estresse, ansiedade e depressão são validados em diversos países, culturas e populações patológicas. O questionário sobre estresse abordou percepção durante a infecção e no momento da entrevista e o HADS apenas no momento da entrevista. A análise de dados foi robusta com p 0.05.

Os sintomas mais frequentes foram fadiga, alterações no olfato e alterações no paladar. 68%, dos entrevistados declararam estresse moderado a alto, com ansiedade, irritabilidade, mau humor e solidão. Há correlação com os sintomas, com maior quantidade de sintomas estando relacionada a maior grau de estresse. Perda de olfato não mostrou relação com altos níveis de estresse, mas a perda de paladar sim.

A ansiedade é maior nos pacientes com perda de ambos os sentidos, olfativo e gustativo, enquanto a depressão é mais evidente na perda do paladar. A despeito deste resultado, 29% dos entrevistados precisam de intervenção psicológica clínica, segundo os dados obtidos.  

O estudo evidencia que alterações no olfato e no paladar em pessoas sintomáticas estão associadas com maiores níveis de estresse, comparando com aqueles sem alterações nesses sentidos da percepção. Ansiedade e depressão são respostas frequentes, que estão mais associadas a perda do paladar e tendem a persistir por mais tempo. No entanto, risco de reinfecção, excesso de trabalho, frustração, equipamentos de proteção inadequados, isolamento, exaustão, etc., também influenciam a situação emocional dos trabalhadores da saúde. A coexistência com sintomas da COVID-19 intensifica a reação. Mesmo as pessoas curadas continuam a experimentar estresse, devido ao medo de reinfecção. Essa condição aponta a necessidade de intervenção psicológica.

Há limitações metodológicas citadas pelos autores, incluindo análise retrospectiva não randomizada, tendência de aceite de participação por profissionais mais impactados, questionários não desenhados para reações emocionais em pandemias e ausência de dados sobre a duração das alterações de sentido. No entanto, a temática relevante merece continuar sendo alvo de pesquisas.

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Como a pandemia afetou a saúde mental dos profissionais de enfermagem?

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Preocupações, Preparação e Impacto Percebido da Pandemia de Covid-19 na Saúde Mental de Enfermeiros

CARVALHO, Milena Maciel de

GALLETTA, M. et al. Worries, Preparedness, and Perceived Impact of Covid-19 Pandemic on Nurses’ Mental Health. Front Public Health. vol. 9, 566700. 26 May. 2021, doi:10.3389/fpubh.2021.566700. Disponível em: https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/34123979/

Durante a pandemia de Covid-19, enfermeiros estão expostos a um risco maior de infecção. Além da exposição direta à contaminação pelo vírus, também sofrem os impactos psicossociais decorrentes desse contexto.

Estudos têm indicado que profissionais de saúde, de forma geral, estão mais expostos aos impactos de um cenário pandêmico, em função da maior demanda de trabalho, jornadas de trabalho mais longas, sofrimento psíquico, fadiga, estigmatização, violências, preocupações, estresse e outros fatores que afetam a saúde mental. No entanto, os profissionais da área de Enfermagem merecem destaque por representarem a maior parcela de profissionais de saúde na chamada linha de frente, atuando na assistência direta às vítimas.

O artigo teve como objetivo analisar a relação entre alguns fatores de risco para o adoecimento e sintomas psicológicos entre enfermeiros/as durante a pandemia de Covid-19. Como fatores de risco os autores elegeram: a preparação para a pandemia, o impacto percebido e preocupações. Já os sintomas – ou resultados de saúde mental,  como os autores chamam – foram o choro, o estresse e a ruminação. Este último resultado foi descrito como uma atividade cognitiva  automática em que o indivíduo mantém seu pensamento fixo nos problemas, sem agir contra eles.

Este estudo transversal foi realizado a partir do preenchimento de um questionário online de auto avaliação, de forma anônima e voluntária. A amostra final foi de 860 participantes, pois nem todos atendiam ao critério de inclusão: estarem atuando durante a pandemia de Covid-19 – na linha de frente ou não. Todos estavam registrados na Itália. Foram usados indicadores e variáveis de outros estudos internacionais sobre epidemias. São eles: Preparação organizacional; Preparação pessoal;  Medo de adoecer com a Covid-19; Preocupações não relacionadas ao trabalho; Demandas de trabalho aumentadas; Impacto na vida pessoal; Percepção de estresse no trabalho; Ruminação sobre a pandemia; e Frequência de choro no trabalho. Como método estatístico, foi utilizada a regressão logística binária múltipla.

Dentre os resultados, destaca-se que as maiores preocupações com a pandemia foram o medo de adoecer (73,3%) e de colocar em risco seus familiares (73,7%). Já em relação ao preparo para a pandemia, 79,9% relataram não se sentir preparados. Quanto ao impacto percebido na vida pessoal, 25% mencionaram estigma pela natureza do trabalho. Os resultados também apontam que 66% se sentiram mais estressados, 44% citam maior nível de ruminação em relação à pandemia e 19,9% dizem ter chorado no trabalho.

Atuar na linha de frente não foi avaliado como fator de risco significativo para a saúde, sugerindo que a saúde mental é afetada em todos os contextos clínicos. A exposição contínua a eventos estressantes aparece como fator que pode levar a sintomas de estresse pós-traumático, condição que diminui a capacidade de lidarem com o contexto. Os autores citam como consequência dessa exposição o risco de trauma vicário (fadiga da compaixão) e o estresse traumático secundário.

Quanto à associação das variáveis com os três resultados de saúde, o estudo indica que tiveram associação significativa no estresse percebido no trabalho: preocupações em se infectar, maior demanda de trabalho, impacto no cargo, preocupações não relacionadas ao trabalho, observar colegas chorando e pensamento ruminativo. Como estratégias de suporte, destaca-se a terapia cognitivo comportamental e exercícios de relaxamento, que atuariam no bem estar e na redução do pensamento ruminativo. Assegurar a quarentena dos que atuam com pessoas infectadas também aparece como recurso para o fortalecimento da segurança.

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Como as epidemias e pandemias em geral afetam a saúde mental dos profissionais de saúde?

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O que aprendemos com duas décadas de epidemias e pandemias: uma revisão sistemática e meta-análise da carga psicológica dos profissionais de saúde da linha de frente

CARVALHO, Milena Maciel de

BUSCH, I. M. et al. What We Have Learned from Two Decades of Epidemics and Pandemics: A Systematic Review and Meta-Analysis of the Psychological Burden of Frontline Healthcare Workers. Psychotherapy and psychosomatics, v. 90, n. 3, p. 178-190,  feb.  2021. Doi:10.1159/000513733. Disponível em: https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/33524983/

Surtos de doenças infecciosas emergentes e reemergentes são considerados uma ameaça recorrente em todo o mundo, impactando diretamente os sistemas de saúde e os profissionais que neles atuam.

Considerando a alta carga psicológica de profissionais de saúde em situações de surtos de grande proporção, o artigo apresenta resultados de estudos sobre os impactos desses contextos na saúde mental e no desempenho no trabalho desse grupo. A partir de uma revisão sistemática e de meta-análise, os autores apresentam um levantamento dos sintomas psicológicos e/ou psicossomáticos de profissionais de saúde na linha de frente em epidemias e/ou pandemias ocorridas nos últimos vinte anos.

Para tanto, elegeram como critérios de inclusão para a seleção de artigos: 1) estudos que abordassem tais sintomas em profissionais de saúde que atuaram com pacientes infectados ou com suspeita de H1N1, Ebola, doença respiratória aguda grave (SARS), síndrome respiratória do Oriente Médio (MERS) e/ou Covid-19; 2)  profissionais que trabalharam em ambientes de alto risco de exposição a essas doenças; 3) estudos que apresentassem resultados originais; e 4) estudos que relatassem quantitativamente os impactos psicológicos nesses surtos específicos.

A análise dos 86 estudos incluídos na revisão evidenciou um alto índice de prevalência dos seguintes sintomas: preocupação em transmitir o vírus para a família, estresse percebido, preocupações com a própria saúde, dificuldades para dormir, burnout, sintomas de depressão, sintomas de ansiedade, sintomas de transtorno de estresse pós-traumático, problemas de saúde mental e sintomas de somatização.

A percepção de falta de controle da vida profissional e pessoal é levantada como aspecto gerador de sofrimento psicológico, reforçado pelo número alto de infecções entre profissionais nessas epidemias.

Um dado que chama a atenção em alguns estudos sobre a Covid-19 é o relato de níveis maiores de sintomas de transtorno de estresse pós traumático, esgotamento, ansiedade e traumatização entre os que não atuavam na linha de frente. Os autores sugerem, além de outros aspectos, que isso pode ser explicado pela maior disponibilidade de apoio, informações e equipamentos para esse grupo.

Citam descobertas de estudos sobre a importância do reconhecimento e administração de sintomas de estresse, sensação de falta de controle, ansiedade, depressão e insônia. Se não administrados e bem conduzidos, esses sintomas podem levar a sobrecarga alostática  e  burnout.

Esses e outros achados indicam evidências dos impactos desses surtos na saúde mental desses profissionais, reforçando a necessidade de se pensar em estratégias de suporte para os que atuam e já atuaram na atual pandemia de Covid-19. Os autores citam como desafios no contexto pandêmico atual, os altos níveis de estresse, questões éticas que atravessam a atuação desses profissionais (como a decisão de alocação de ventiladores pulmonares) e casos de suicídio. Como ações para minimizar tais impactos, citam a assistência familiar, informações atualizadas e claras às equipes, apoio psicológico, flexibilização dos horários de trabalho pelos gestores, primeiros cuidados psicológicos, além de atividades que aumentem a resiliência, senso de auto eficácia e pertencimento.

A principal contribuição do artigo é apresentar ações de saúde mental para o pós pandemia, reconhecendo os impactos a longo prazo.

Como limitação, destaca-se a afirmação de que a pandemia de Covid-19 não pode ser comparada a outros desastres, por não estar “confinada no tempo e no espaço”. Essa demarcação acaba deslocando o desastre de seus impactos subsequentes e causas sócio históricas, atribuindo sua ocorrência a eventos naturais, ou seja, naturalizando-o. A  atemporalidade dos desastres demanda estratégias duradouras e o reconhecimento de que seus impactos repercutem em dimensões e períodos que não podemos mensurar.

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Como as mulheres estão sofrendo maior impacto psicológico durante a pandemia de COVID-19?

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O impacto da pandemia de COVID-19 na saúde mental das mulheres

SCHEINKMAN, Lilian

ALMEIDA, M. et al.  The impact of the COVID-19 pandemic on women’s mental health. Arch Womens Ment Health, v. 23, n. 6, p. 741-748, Dec. 2020. Doi: 10.1007/s00737-020-01092-2 Disponível em:  https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC7707813/

A infecção por COVID-19 foi inicialmente relatada em Wuhan, China, em dezembro de 2019 e rapidamente se tornou uma pandemia afetando todos os segmentos da sociedade. O artigo apresenta uma revisão narrativa dos efeitos da pandemia especificamente na saúde mental das mulheres.  A revisão foi feita a partir de artigos publicados até 30 de maio de 2020, nas bases de dados PubMed e Psych Info, em publicações de entidades de saúde representativas (Organização Mundial da Sáude, Center for Disease Control and Prevention dos Estados Unidos e Nações Unidas) e em comunicados de imprensa.  Os termos utilizados na busca foram “novo coronavirus”, “coronavirus’, “SARS-CoV-2”, “COVID-19”, “violência de gênero”, “violência doméstica ” e “saúde mental”*, usados individualmente e em várias combinações e idiomas. Foram incluídos artigos avaliando como as mulheres são afetadas pela quarentena e isolamento social na pandemia em aspectos como preconcepção, gravidez, pós-parto e aleitamento, além das repercussões no aumento da incidência de violência doméstica.

Estudos da China encontraram aumento significativo de estresse, ansiedade, depressão e estresse pós traumático reportados em mulheres, em relação aos homens. As mulheres têm uma prevalência maior de fatores de risco que podem se intensificar durante a pandemia, incluindo sobrecarga ambiental crônica, transtornos depressivos e ansiosos prévios e violência doméstica.  Além das influências associadas ao papel das mulheres culturalmente, elas também vivenciam estressores relacionados à pandemia, no que diz respeito à reprodução e aos ciclos de vida da mulher, como menor acesso à contracepção, redução do horário de atendimentos médicos, receio de ir ao médico/hospital e cancelamento de procedimentos de pré-natal. Vários casais optaram por adiar os planos de gravidez, alguns suspendendo tratamentos de fertilização em andamento. 

Estudos de diferentes países apontam aumento de prevalência de depressão, ansiedade e uso de substâncias em mulheres grávidas em relação aos índices pré-pandemia  A gravidez e o primeiro ano pós-parto são períodos de maior vulnerabilidade para saúde mental.  Observou-se na revisão risco aumentado de ansiedade, depressão e sofrimento emocional, sobretudo em mulheres com gravidez de alto risco. Entre possíveis causas estariam: vulnerabilidade à infecção, receio de complicações, receio de transmissão fetal do vírus, estresse associado a decisões sobre ir ou não ao hospital para acompanhamento devido ao receio de contágio e redução dos atendimentos presenciais. Falta de diretrizes para o cuidado de mulheres grávidas na pandemia, pouco conhecimento quanto a complicações da infecção por COVID na gravidez e falta de dados definitivos sobre transmissão vertical do SARS-CoV-2 podem também contribuir para aumento do estresse materno.

No pós-parto, foram descritas preocupações como: vulnerabilidade do recém-nascido ao vírus, dúvidas quanto à proximidade segura mãe-bebê e quanto à transmissão viral através do aleitamento, dificuldades em ter ajuda de familiares no cuidado do bebê e receios financeiros nas  situações de desemprego. Nessa fase de alterações hormonais, privação do sono e ajustes na dinâmica familiar, as mulheres se encontram frequentemente sem ajuda familiar ou profissional, devido ao distanciamento social, tendo que lidar com múltiplas funções, por vezes com outros filhos em casa. Encontram-se ainda sem apoio social, importante fator de proteção em relação à depressão pós-parto, situação ainda mais difícil para mães solteiras e em situação de baixa renda. Embora não haja consenso absoluto quanto ao aleitamento, o CDC recomendou que as mulheres usem máscara e lavem as mãos com sabão antes de cada mamada. Em situações de aborto espontâneo, já frequentemente associadas a altos níveis de depressão, ansiedade e sintomas de estresse pós traumático, a decisão de evitar ir ao consultório ou ao hospital pelo receio de contágio pode levar a vários dias de sofrimento físico e mental, com reduzido apoio social.

Isolamento, fechamento de escolas, assumir o cuidado de crianças e idosos, desemprego, tentativas de conciliar trabalho remoto e ensino em casa, entre outros fatores, acrescentam às dificuldades vivenciadas, em alguns casos se traduzindo em maior risco de violência contra crianças. Estratégias recomendadas pelo American Psychological Association para diminuir esses conflitos são realçadas, além da importância da reorganização do tempo e das responsabilidades para prevenir exacerbação de desigualdades de gênero. Esse pode ser um momento também de comportamentos positivos e de aprofundar relações interpessoais desenvolvendo novas habilidades e competências.  Níveis de violência doméstica e taxas de feminicídio cresceram em diversos países, incluindo Brasil. Os números são provavelmente subestimados, pois muitas vítimas estão privadas do contato com o mundo externo por medo de retaliação. Vítimas de violência doméstica, geralmente mulheres, estão mais expostas aos agressores em uma época de enorme estresse psicológico e econômico, tendo menor acesso a locais seguros.  São enfatizados o valor essencial do apoio social, a importância de ajudar as mulheres no desenvolvimento de estratégias para lidar com os filhos e a necessidade de divulgar e manter linhas de atendimento telefônico e abrigos para assistência às mulheres vítimas de violência.   

Nessa excelente revisão, nosso olhar é direcionado para as desigualdades de gênero, acentuadas nesse momento de pandemia. Maior conhecimento das consequências psicológicas da pandemia em mulheres, que podem ser devastadoras, é essencial para desenvolver estratégias de prevenção e tratamento.

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Como os comportamentos pró-sociais podem contribuir para o bem-estar emocional durante a pandemia?

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Usando comportamento pró-social para salvaguardar a saúde mental e promover o bem-estar emocional durante a pandemia de COVID-19: um protocolo de relatório registrado para um ensaio clínico randomizado

MARTINHO, Alfredo

MILES, A.; et al. Using prosocial behavior to safeguard mental health and foster emotional well-being during the COVID-19 pandemic: A registered report protocol for a randomized trial. PLoS One, v. 16, n. 1, p. e0245865, Jan. 2021. Doi: 10.1371/journal.pone.0245865 Disponível em: https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/33503045/

Os efeitos de longo prazo da pandemia de COVID-19 tornaram a saúde mental uma preocupação urgente de saúde pública e, pesquisadores estruturaram um protocolo de pesquisa num volume grande e aleatório de pessoas no Canadá e nos EUA.

O objetivo é comprovar hipóteses de que atos que beneficiem outras pessoas tenham impactos positivos na felicidade e na saúde mental dos indivíduos, comparados com atos chamados neutros ou autofocados.

Sabe-se que as medidas rígidas para minimizar o contato entre indivíduos, em um esforço para conter a propagação da infecção na pandemia, embora seja uma abordagem de sucesso, o preço do isolamento na saúde mental, provavelmente, será alto.

As primeiras evidências da China sugeriam que esses temores estavam se concretizando; imediatamente após as medidas de bloqueio, entrevistados chineses relataram níveis moderados a altos de estresse, bem como altas taxas de problemas de saúde mental, incluindo ansiedade, sintomas depressivos e perturbações do sono.

Pesquisas mais recentes conduzidas em contextos canadenses, americanos e holandeses também mostram tendências em direção ao agravamento da saúde mental e maior sofrimento em pessoas de diversas idades conforme a pandemia se desenvolve.

Portanto, há uma forte necessidade de estratégias eficientes, eficazes e de baixo custo para preservar a saúde mental, que possam ser implantadas de forma rápida e ampla.

Atos que se concentram em beneficiar os outros – conhecidos como comportamentos pró-sociais – oferecem uma abordagem promissora; benefícios das atividades pró-sociais têm sido bem fundamentados na literatura.

A maioria das pesquisas sobre comportamento pró-social e emoções examinou felicidade ou índices de afeto positivo. Poucos estudos examinaram os efeitos de atos gentis em outras formas de bem-estar emocional ou indicadores específicos de saúde mental.

O estudo reproduz trabalhos anteriores, examinando os efeitos pró-sociais sobre a felicidade e, em seguida, os amplia, contribuindo para o pequeno corpo de pesquisas que avaliam os efeitos pró-sociais em três resultados adicionais: felicidade, ansiedade e depressão.

Serão examinados os efeitos do comportamento pró-social usando uma intervenção experimental de 3 semanas, seguida por uma avaliação de acompanhamento em 5 semanas, que fornecerá insights sobre a durabilidade dos efeitos pró-sociais.

Esta intervenção será incluída em uma pesquisa maior destinada a abordar várias questões relacionadas ao comportamento pró-social e à pandemia de COVID-19.

No início do estudo, será medido o bem-estar emocional com base na felicidade e sensação de que a vida é valiosa e a saúde mental dos participantes, medida como ansiedade e depressão.

Estudos publicados sobre comportamento pró-social provavelmente sofrem de viés de pequenas amostras. Foi realizada uma análise para determinar o tamanho da amostra necessária para detectar um tamanho de efeito adequado. No entanto, caso a amostragem inicial não produzir um tamanho de amostra suficiente, repetirão o procedimento de amostragem a cada semana até obterem um número suficiente de respondentes.

A pesquisa busca avaliar três tipos de atos (pró sociais, neutros e autocentrados) relacionando-os à felicidade (sensação de que a vida é valiosa) e doença mental (ansiedade e depressão) para tentar responder a quatro hipóteses, indicando como cada ato desse influencia essa relação.

Esses atos são ações descritas de forma sucinta na pesquisa como ações do dia a dia dos que responderam à pesquisa. Ações pró sociais são ações que beneficiem alguém; ações autocentradas são as que beneficiem a si próprio; e neutras são ações simples, cotidianas.

Esse trabalho é uma pesquisa em evolução, a ser atualizada à medida em que os resultados forem sendo codificados numa base estatística relevante.

No relatório final, o texto será atualizado conforme necessário para refletir quaisquer alterações das análises exploratórias e para descrever com precisão os processos de decisão. A introdução das análises exploratórias em termos gerais está descrita na seção de métodos e, a seguir, o fornecimento de detalhes completos na seção de resultados que ainda não haviam sido registrados até a publicação.

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Como apoiar profissionais de saúde utilizando saúde mental e mídia social?

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Apoio de pares em epidemias e intervenção em crises via mídia social

FAGUNDES, Dorival

CHENG, P. ; et al. COVID-19 Epidemic Peer Support and Crisis Intervention Via Social Media. Community Ment Health J., v.56, n.5, p. 786-792, jul. 2020.  Doi:10.1007/s10597-020-00624-5 Disponível em: https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/32378126/

O artigo descreve um projeto de apoio psicológico aos profissionais de saúde atuantes na linha de frente da COVID-19 em Wuhan, China, formulado e efetivado por profissionais experientes em saúde mental. Identificou-se que a pandemia causou grande sofrimento psíquico aos profissionais da linha de frente. Os autores descreveram a infraestrutura da equipe, assim como um novo modelo de apoio mental aos colegas em tempos de crise, utilizando um aplicativo de mídia social (WeChat). Tal modelo de atenção e suporte pode ser implementado em outras localidades.

Resgata-se o histórico da pandemia, com ênfase nos momentos iniciais, quando médicos notaram um novo tipo de pneumonia causado por um patógeno desconhecido. Destaca-se ainda as crises de saúde mental desencadeadas nos profissionais de saúde. Quando Wuhan foi subitamente fechada os seus habitantes entraram em pânico caótico, com milhares de pessoas exigindo cuidados nos hospitais, deixando o sistema local à beira da ruptura e os profissionais da linha de frente enfrentaram esse momento com recursos inadequados. Dado esse contexto, um grupo de profissionais de saúde mental dos EUA, Austrália e Canadá reuniu uma equipe para fornecer apoio psicológico aos trabalhadores de saúde. Reconhecida a urgência do tratamento, foi imediatamente iniciado.

Descrevem o projeto de atendimento aos pares, dividindo a explicação em quatro tópicos: (i) infraestrutura e organização (uso do WeChat, explicitação dos critérios de recrutamento dos profissionais atendidos e especialidade dos membros de apoio); (ii) ambiente de trabalho, diretrizes, plataforma, operação e limites (pontuam a neutralidade política do grupo e apresentam as diretrizes de atuação, dentre as quais “não fazer mal” e garantir confidencialidade); (iii) dinâmica do funcionamento em grupo (dois grupos online: voluntários para discussão do trabalho; profissionais chineses); (iv) operações de serviço (rotina e modus operandi do apoio psicológico oferecido).

Oferecem mais quatro tópicos para discussão: (i) estratégia de saída e encaminhamento (como a intervenção é limitada no tempo, um plano de saída deve estar em vigor e em conexão com os recursos locais de saúde mental para encaminhamentos); (ii) o licenciamento precisa ser reconsiderado (pois o serviço de apoio entre pares não é considerado tratamento e não há relação paciente-profissional); (iii) seguro contra negligência médica (recomendam que os profissionais obtenham uma consulta jurídica antes de iniciar o serviço); (iv) conflito de interesses (não houve interesses, nem políticos ou monetários, apenas desejo de ajudar colegas).

Categorizam o estado dos pacientes em 10 estágios. 1) perplexidade, fruto das incertezas do momento inicial; 2) choque, relativamente breve e com mudança de humor; 3) raiva, aumentada à medida que mais profissionais morriam e devido à falta de informação; 4) ansiedade, é o mais longo e continuou durante todo o projeto, incluindo uma série de preocupações, como as relacionadas à família; 5) estafa, marcada pelo contexto sobrecarregado de problemas; 6) desespero, devido à sensação de desesperança e desamparo; 7) aceitação, com elevação da esperança e percepção das muitas medidas rapidamente tomadas de assistência; 8) esperança, com a chegada de mais recursos e recuperações; 9) recuperação, devido ao início do retorno da vida ao “normal”; 10) “após”, com muitos retornando à linha de base, mas alguns com doenças mentais de longo prazo.

Concluindo destacam a unicidade da experiência pandêmica, com pessoas expostas a perdas e traumas contínuos, e o sucesso considerável da experiência. Apontam a abordagem inovadora da pesquisa, pois poucas fazem uso das mídias sociais para intervenção em crises. Embora não tenha havido coleta de dados formais, evidências apontam a utilidade desse tipo de intervenção, e com grande relevância, pois mantiveram, estavelmente, cerca de 300 membros ativos, ao longo do projeto. Por fim, expõem limitações do estudo, como o caráter ímpar da China (infraestrutura política, crenças culturais e fuso horário) e a necessidade de se considerar especificidades locais de cada país ao instituir grupos de apoio.

A principal contribuição do estudo foi demonstrar o uso eficaz das tecnologias cibernéticas e do apoio humano dos profissionais de saúde para ajudar trabalhadores a lidarem com a pandemia de COVID-19; e as principais limitações foram o não registro das atividades de apoio para obtenção de mais dados e a dificuldade de lidar com as especificidades da China, diferente culturalmente do Ocidente.

Como melhorar a proteção de motoristas comerciais em relação à COVID-19 frente aos múltiplos fatores negativos para a saúde?

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Estruturas sindêmicas para compreender os efeitos da COVID-19 no estresse, saúde e segurança do motorista comercial

PORTO, Ana Maria

LEMKE, M. K.; APOSTOLOPOULOS, Y.; SÖNMEZ, S. Syndemic frameworks to understand the effects of COVID-19 on commercial driver stress, health, and safety. J Transp Health. v. 18, p. 100877, Sep. 2020. Doi: 10.1016/j.jth.2020.100877. Disponível em: https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC7245330/

Nos EUA existem cerca de 2 milhões de motoristas comerciais expostos cronicamente a fatores estressores que interferem nas respostas comportamentais e psicossociais, determinando profundas disparidades de saúde e segurança. Ao longo da pandemia da COVID-19, evidências demonstram que novos fatores estressores foram introduzidos e fatores pré-existentes foram agravados, ampliando o impacto sobre a saúde e as condições de trabalho. Os autores destacam a inadequação dos modelos de pesquisa atuais para o estudo das consequências da pandemia neste grupamento, por desconsiderar o sinergismo entre os diferentes fatores envolvidos. Como consequência, os resultados podem indicar ações de pouco impacto no processo de saúde-doença dos motoristas comerciais americanos. A utilização dos modelos sindêmicos é apontada como adequada para esta análise.

Nos últimos 40 anos, mudanças na política federal norte-americana alteraram fundamentalmente a estrutura, a organização do trabalho e dos locais de trabalho desses profissionais, tornando o setor de transporte de cargas mais competitivo. Contudo, o impacto para a categoria foi negativo, com redução de salários, e remuneração “por quilômetro” resultando em longas jornadas de trabalho. Assim, o trabalhador experimenta isolamento social crônico, e tem maior dependência dos serviços existentes ao longo das estradas e localidades muitas vezes de pouca qualidade. Alimentação não equilibrada, falta de atividade física, difícil acesso a serviços de saúde, exposição a estresse crônico, pressão por maior produção e uso de álcool e drogas interferem diretamente na saúde do trabalhador e podem induzir a comportamentos inseguros ao dirigir, resultando em acidentes rodoviários.   

A evolução da pandemia da COVID-19 levou à piora dos serviços nas estradas e nas localidades, maior demanda e pressão para manutenção das cadeias de suprimento de consumo e saúde, e restrições de viagens, agravando condições endêmicas pré-existentes.

Todavia, novos fatores estressores foram introduzidos, como a preocupação com a doença, a ausência de Equipamento de Proteção Individual (EPI) e o maior risco de adoecer, o difícil acesso a serviços de saúde ou a falta de condição para permanecer em quarentena, que somaram-se aos estressores crônicos.

Em consequência, os autores destacam a possível escassez de mão de obra, por adoecimento, absenteísmo ou abandono, e o aumento de demanda para os motoristas restantes, agravando o ciclo vicioso de estresse crônico. Favorecem o adoecimento, o agravamento de condições pré-existentes e a pior evolução dos casos da COVID-19 entre motoristas comerciais.

Frente à complexidade da interação entre fatores sociais, econômicos, políticos e biológicos, e sua relação com o processo de saúde-doença de motoristas comerciais, os autores defendem o uso de estruturas sindêmicas em pesquisas que analisam os impactos da pandemia da COVID-19 sobre o estresse, saúde e segurança desse grupo de trabalhadores. A compreensão dessas relações dinamicamente complexas e de como elas podem induzir diferentes resultados de saúde e segurança, inter-relacionados, favorece o desenvolvimento de políticas públicas e ações de prevenção de alto nível, capazes de interferir positivamente na qualidade de vida e do trabalho dos motoristas comerciais de forma holística.

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Como a COVID-19 está associada a sequelas psiquiátricas?

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Ansiedade e depressão em sobreviventes da COVID-19: Papel dos preditores inflamatórios e clínicos

SCHEINKMAN, Lilian

MAZZA, M.G. et al. Anxiety and depression in COVID-19 survivors: Role of inflammatory and clinical predictors. Brain, Behavior, and Immunity, v. 89, p. 594-600, Jul. 2020. Doi 10.1016/j.bbi.2020.07.037 Disponível em https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC7390748/

Sabemos que processos infecciosos podem causar alterações do sistema imune e estas podem levar a alterações psicopatológicas tanto agudas como duradouras. Sequelas psiquiátricas já foram descritas após exposição ao coronavirus em epidemias anteriores como a SARS (Severe Acute Respiratory Syndrome) e a MERS (Middle East Respiratory Syndrome). Sobreviventes da SARS relataram sintomas psiquiátricos como Transtorno de Estresse Pós-Traumático (TEPT), depressão, transtorno de pânico e transtorno obsessivo-compulsivo em avaliações de seguimento de 1 a 50 meses.

Considera-se que os coronavirus poderiam induzir sequelas psicopatológicas através de infecção viral diretamente no sistema nervoso central ou indiretamente através da resposta imunológica. Estudos clínicos, post mortem, in vitro e também em animais têm demonstrado que os coronavirus são potencialmente neurotrópicos, podendo causar dano neuronal.  Além da possível infiltração cerebral, a tempestade de citocinas (cytokine storm) envolvida na resposta imune pode ainda causar sintomas neuropsiquiátricos por precipitar neuro-inflamação.

Levando em conta a evidência prévia a partir de epidemias de SARS e MERS e estudos preliminares em COVID, os autores estudaram a hipótese de que os sobreviventes de COVID-19 teriam um aumento na prevalência de condições psiquiátricas como Transtornos de humor, Transtornos de ansiedade, TEPT e insônia.

Foram rastreados 402 pacientes sobreviventes de COVID-19, atendidos no Hospital San Raffaele, em Milão, no período de 6 de abril a 9 de junho de 2020.  Os pacientes foram submetidos a avaliação clínica, eletrocardiograma, gasometria e análise hematológica (hemograma completo e PCR) e encaminhados para internação ou tratamento em residência, de acordo com a gravidade do quadro.

A avaliação psiquiátrica foi realizada por psiquiatra, através de entrevista clínica não estruturada na visita de seguimento, cerca de um mês (28 +- 15.7  dias ) após a alta hospitalar ou o atendimento no setor de Emergência.  Foram aplicados questionários de auto-avaliação de psicopatologia* englobando os sintomas de TEPT, depressão, ansiedade, sintomas obsessivo-compulsivos e insônia, e foram utilizados os pontos de corte recomendados na literatura para delimitação de patologia. Logo após a avaliação psiquiátrica, foi avaliada a saturação de oxigênio como medida de eficiência respiratória. Foram utilizados também os dados de prontuário clínico, dados eletrônicos e, quando necessário, informações de familiares. Dados sociodemográficos e clínicos foram coletados, incluindo idade, sexo, história psiquiátrica, duração da hospitalização e marcadores inflamatórios no início do quadro.

Os autores observaram que uma proporção considerável dos pacientes atingiu níveis patológicos nos sintomas das auto-avaliações: 55,7% estava na faixa clínica em ao menos uma dimensão de psicopatologia; 36% em duas dimensões, 26% em 3, e 10% em 4. A gravidade de sintomas depressivos incluiu também pacientes com ideação e planejamento suicida.

Mulheres e pacientes com história psiquiátrica prévia apresentaram maiores índices de psicopatologia em todas as dimensões, corroborando estudos anteriores e sugerindo que sexo feminino e história psiquiátrica prévia possam ser considerados fatores de risco para psicopatologia pós COVID-19.  Pacientes tratados ambulatorialmente apresentaram maior frequência de ansiedade e de alterações de sono e a duração da hospitalização apresentou correlação inversa com sintomas de TEPT, depressão, ansiedade e sintomatologia obsessivo-compulsiva. Os autores consideram que esse achado possa estar relacionado a menor apoio de cuidado em saúde nos pacientes em regime ambulatorial, o que poderia ter aumentado o isolamento social e a solidão típicas da pandemia de COVID-19, gerando maior psicopatologia após a remissão. Pacientes jovens apresentaram maiores índices de depressão e alterações de sono, em acordo com estudos anteriores sobre o impacto psicológico da pandemia de COVID-19 em pessoas mais jovens. Nem os marcadores inflamatórios iniciais nem o nível de saturação de oxigênio no seguimento apresentaram correlação com sintomas de ansiedade, depressão, insônia ou TEPT, mas houve tendência a correlação entre alguns marcadores inflamatórios iniciais e sintomas obsessivos-compulsivos no seguimento.

Nesse estudo, foram encontradas altas taxas de TEPT, depressão, ansiedade, insônia e sintomatologia obsessivo-compulsiva, em consonância com achados de estudos realizados em surtos anteriores de coronavirus.

Os autores ressaltam que as consequências psiquiátricas do SARS-CoV-2 podem ser causadas tanto pela resposta imune ao próprio vírus como pelos estressores psicológicos como: isolamento social; impacto psicológico de uma doença grave, pouco conhecida e potencialmente fatal;  receio de infectar os outros; e estigma.   Os autores apresentam, na discussão, possíveis vias através das quais os sistemas imunes e mecanismos psicopatológicos de doenças psiquiátricas possam interagir. 

Eles sugerem que a avaliação de psicopatologia em sobreviventes de COVID-19 seja realizada rotineiramente de forma a diagnosticar e tratar condições psiquiátricas iniciais, monitorando sua evolução e reduzindo as consequências que podem ser significativas nesses pacientes. Consideram ainda que esse acompanhamento poderá auxiliar na investigação de como a resposta imune-inflamatória poderia se traduzir em doenças psiquiátricas, o que aumentaria nosso conhecimento sobre a etiopatogenia das doenças mentais.

 

* Questionários utilizados no estudo: Impact of Events Scale-Revised (IES-R) (Creameret al., 2003), PTSD Checklist for DSM-5 (PCL-5) (Armour et al., 2016), Zung Self-Rating Depression Scale (ZSDS) (Zung, 1965), 13-item Beck’s Depression Inventory (BDI-13) (Beck and Steer, 1984), State-Trait Anxiety Inventory form Y (STAI-Y) (Vigneau and Cormier, 2008), Medical Outcomes Study Sleep Scale (MOS-SS) (Hays et al., 2005), Women’s Health Initiative Insomnia Rating Scale (WHIIRS) (Levine et al., 2003), and Obsessive-Compulsive Inventory (OCI) (Foa et al., 2002).

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Como o atendimento aos pacientes com COVID-19 afeta a saúde mental dos enfermeiros de UTI ?

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Estresse psicológico dos enfermeiros de UTI na época da COVID-19

TEIXEIRA, Flávia

SHEN, X.; et al.  Psychological stress of ICU nurses in the time of COVID-19. Crit Care. 2020 May 6;24 (1):200. DOI: 10.1186/s13054-020-02926-2. PMID: 32375848; PMCID: PMC7202793. Disponível em: https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC7202793/#

O presente artigo aborda o estresse psicológico vivido pelos enfermeiros, que atuaram nos cuidados aos pacientes gravemente enfermos, internados devido à COVID-19, no Hospital Pulmonar de Wuhan, na cidade de Wuhan, na China.

Uma pesquisa feita com 85 enfermeiros da UTI apresentou, como resultado, que as principais manifestações foram: diminuição do apetite ou indigestão (59%), fadiga (55%), dificuldade para dormir (45%), nervosismo (28%), choro frequente (26%), e até mesmo pensamentos suicidas (2%). O fato de alguns enfermeiros serem mais jovens, e com pouca experiência nos cuidados de pacientes mais críticos, eleva o índice de possibilidade de sofrerem uma maior crise psicológica.

Os fatores encontrados como desencadeantes de estresse psicológico foram:

  • ansiedade em relação ao ambiente e processos de trabalho não familiares;
  • falta de experiência profissional no cuidado com doenças infecciosas;
  • preocupação de ser infectado;
  • uma enorme carga de trabalho e fadiga a longo prazo;
  • depressão devido à cura malsucedida de pacientes criticamente enfermos;
  • preocupação com suas famílias.
  • Algumas atitudes foram tomadas de modo que o estresse psicológico dos enfermeiros fosse precocemente detectado, e intervenções foram feitas para que os profissionais pudessem ter assistência rápida, com o objetivo de aliviar a pressão psicológica vivida quando estão diante de pacientes infectados pelo vírus da COVID-19.

A inclusão de psicólogos nas equipes médicas, alguns métodos ensinados aos profissionais para que pudessem expressar melhor suas emoções (cantando, pintando, etc.), a divisão em grupos com uma liderança para promover uma melhor comunicação entre os pares, um sistema social de apoio melhorado, a criação de um WeChat, dentro outras intervenções, demonstraram eficácia para alcançar mudanças psicológicas de longo prazo nos profissionais, e para que todo o acompanhamento devesse ser feito regularmente.

De acordo com a pesquisa, abordar os problemas psicológicos dos enfermeiros de UTI que cuidam de pacientes com COVID-19, e agir o mais rápido possível para aliviar a pressão psicológica sobre esses profissionais, são ações de suma importância. Pois a resolução de modo eficaz e rápido, além de diminuir a chance de contaminação pelo vírus, traz um impacto direto na qualidade e na segurança do atendimento médico aos pacientes adoecidos.

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Como as ordens de ficar em casa pela COVID-19 podem afetar a busca de informação sobre saúde mental?

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Achatando a curva de saúde mental: as ordens de ficar em casa pela COVID-19 estão associadas a alterações no comportamento de buscas sobre saúde mental nos Estados Unidos

BERMUDES, Priscilla Mara

JACOBSON, Nicholas C.; et al. Flattening the mental health curve: COVID-19 stay-at-home orders are associated with alterations in mental health search behavior in the United States. JMIR Mental Health, v. 7, n. 6, e19347, Jun. 2020. DOI: 10.2196/19347. Disponível em: https://mental.jmir.org/2020/6/e19347/

O presente artigo trata sobre o achatamento da curva de saúde mental nos Estados Unidos, tendo como objetivo examinar como as ordens de ficar em casa devido à COVID-19 produziram mudanças diferenciais nos sintomas de saúde mental, usando consultas de pesquisa na Internet em escala nacional.

A disseminação rápida e amplamente descontrolada da COVID-19 impactou todas as facetas da vida americana, exigindo mudanças dramáticas no comportamento social e profissional de quase 327 milhões de pessoas. Não obstante medidas de distanciamento social sejam necessárias para proteger a saúde física, menos se sabe sobre o impacto de tais medidas na saúde mental, em relação à qual uma revisão rápida do impacto psicológico da quarentena constatou que tais medidas estavam associadas a altos níveis de sofrimento psicológico, incluindo sintomas de estresse pós-traumático, confusão e raiva, alta prevalência de mau humor e irritabilidade.

Dessa forma, o estudo procurou investigar as mudanças nas buscas sobre saúde mental no Google entre 16 e 23 de março de 2020, em cada estado dos Estados Unidos e em Washington, DC. Especificamente, averiguou as mudanças diferenciais nas consultas sobre saúde mental com base em padrões de atividade de pesquisa, após a emissão de ordens de permanência em casa nesses estados, em comparação com todos os outros estados, para impedir a transmissão da COVID-19.

Foram analisados mais de 10 milhões de consultas na Internet, usando modelos mistos aditivos generalizados, e os resultados sugeriram que a implementação de ordens de permanência em casa está associada a um achatamento significativo da curva para buscas por ideação suicida, ansiedade, pensamentos negativos e distúrbios do sono, com o achatamento mais proeminente associado à concepção suicida e à ansiedade.

Concluindo, esses resultados indicam que, apesar da diminuição do contato social, as consultas sobre saúde mental se ampliaram rapidamente antes da emissão das ordens de fique em casa, e que essas mudanças se dissiparam após o anúncio e a promulgação dessas ordens. Embora mais pesquisas sejam necessárias para verificar os efeitos sustentados, as respostas identificadas preconizam que os sintomas de saúde mental foram associados a um nivelamento imediatamente após a ordem de ficar em casa.

Por fim, ressalta-se que a falta de comunicação clara dos governos com seus cidadãos pode aumentar a incerteza, que pode ser um fator-chave para angústia, revelando que uma ação governamental aberta pode reduzir o sofrimento psicológico, segundo os autores. No entanto, nenhum dos estudos incluídos nesse trabalho avaliou o sofrimento psicológico imediatamente antes e após a realização de uma quarentena.

Apesar dos muitos pontos fortes da pesquisa, também existem questões sem resposta, como o achatamento desses surtos nas buscas de sintomas de saúde mental ser de curta duração ou se as ordens de permanecer em casa por um longo prazo resultaram em um amortecimento permanente desses sintomas. Assim, enfatiza-se nesse artigo que mais pesquisas são necessárias para estudar os impactos da COVID-19 sobre a saúde mental e sobre as decisões e ações governamentais relacionadas à COVID-19 durante este período.

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