Evidências Covid 19

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Como conduzir a abordagem e o manejo clínico de crianças com COVID-19 ?

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COVID-19 em Crianças: Abordagem Clínica e Manejo

FAULHABER, Maria Cristina Brito

SANKAR, J.; et al. COVID-19 in Children: Clinical Approach and Management. Indian J Pediatr., v. 87, n. 6, p. 433-442, Jun. 2020. Doi:10.1007/s12098-020-03292-1. Epub 2020 Apr 27. Disponível em: http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/32338347

O artigo revê os casos de COVID-19 até abril de 2020 na Índia, quando se procurava estabelecer a melhor forma de abordagem e manejo clínico da doença em crianças. Nelas as manifestações parecem ser mais brandas e os sintomas clínicos são semelhantes a qualquer infecção viral respiratória aguda. Os modos de transmissão são a inalação direta de gotículas infectadas (produzidas durante a tosse ou espirro por pessoa infectada) e contato direto com superfícies e fômites contaminados por secreções respiratórias infectadas. O vírus foi também isolado em amostras de fezes.

A COVID-19 deve ser suspeitada em crianças sintomáticas que viajaram nos últimos 14 dias, ou em crianças hospitalizadas com doença respiratória aguda grave, ou naquelas assintomáticas, e que tiveram contato direto com um caso que foi confirmado. Um caso confirmado é aquele em que o exame laboratorial para SARS-CoV-2 é positivo, independentemente dos sinais e sintomas.

As três series dos casos pediátricos iniciais no estudo relataram tosse (48,5%), eritema faríngeo (46,2%), febre (41,5%), respiração rápida (28,7%), diarreia (8,8%), rinorréia (7,6%), fadiga (7,6%) e vômitos (6,4%). A frequência de infecção assintomática, de infecção do trato respiratório superior e de pneumonia foi de 15,5%, 19,3% e 64,9%, respectivamente. Uma criança morreu. Pacientes com manifestações graves geralmente desenvolvem hipoxemia e hipoperfusão no final da primeira semana. As complicações da síndrome de dificuldade respiratória aguda incluem miocardite, choque séptico, coagulação intravascular disseminada, lesão renal e disfunção hepática. A mortalidade de crianças entre 0-9 anos e 10-19 foi 0% e 0,18% respectivamente.

O padrão ouro de diagnóstico é pelo teste RT-PCR para SARS-CoV-2 RNA, idealmente colhido por swab nasofaríngeo. Em crianças submetidas a ventilação mecânica, a coleta por lavagem bronco alveolar (BAL) mostrou sensibilidade de 93% quando comparada a coleta por expectoração (72%), esfregaço nasal (63%), escovado brônquico (46%), esfregaço faríngeo (32%), fezes (29%), sangue (1%) e urina (0%).

Indicações para internação: 1) dificuldade respiratória; 2) saturação O2 (Sat O2) < 92% em ar ambiente; 3) choque/má perfusão periférica; 4) pouca aceitação oral; 5) letargia e 6) convulsões/encefalopatia. A investigação em pacientes internados inclui exames de imagem como tomografia computadorizada de tórax, que em 32,7% dos casos mostrou opacidades de vidro fosco, hipotransparências irregulares localizadas (18,7%), hipotransparências irregulares bilaterais (12,3%) e anormalidades intersticiais (1,2%). O hemograma demonstra leucopenia e linfopenia, menos acentuados que em adultos.

O tratamento nos casos leves (as crianças não têm dificuldade respiratória, se alimentam bem e a SO2 é > 92%) consiste no isolamento domiciliar, uso de paracetamol SOS (10 – 15 mg/kg/dose) a cada 4-6 horas em caso de febre, evitar antinflamatórios não hormonais como ibuprofeno, hidratação oral, explicar aos pais os sinais de gravidade e usarem máscara quando tiverem contato.

O manejo dos casos hospitalizados consiste em: a) Suplementação de oxigênio para manter Sat O2> 92%; b) Hidratação venosa adequada; c) Paracetamol para febre; d) Hemocultura; e) Antimicrobianos empíricos (por exemplo, Ceftriaxona) / oseltamivir na suspeita de influenza; f) Monitorização clínica rigorosa. Era preconizado o uso de hidroxicloroquina por 5 dias e lopinavir / ritonavir por 14 dias, além de transfusão de plasma, azitromicina, interferon e ribavirina.

Os critérios para UTI são: a) necessidade de ventilação mecânica; b) choque exigindo suporte vasopressor; c) piora do estado mental e d) síndrome de disfunção de múltiplos órgãos.

São colocadas ainda no estudo as indicações de intubação, como realizar o procedimento e o tratamento de suporte em crianças gravemente enfermas.

É reforçada a orientação de manter a amamentação usando máscara, além de orientações sobre convivência doméstica com alguém com COVID-19 e medidas de saneamento ambiental.

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Como o tipo de alimentação pode exercer uma ação negativa na saúde e aumentar os riscos em relação à COVID-19 de alguns grupos de pessoas?

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O impacto da nutrição na suscetibilidade à COVID-19 e nas consequências de longo prazo

PESSANHA, Katia Maria de Oliveira Gonçalves

BUTLER, M. J. ; BARRIENTOS, R. M. The impact of nutrition on COVID-19 susceptibility and long-term consequences. Brain Behav Immun, v. 87 p. 53-54, Jul. 2020. DOI: 10.1016/j.bbi.2020.04.040 . Disponível em : https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/32311498/

Dentro dos grupos mais afetados pela pandemia de COVID-19 estão os idosos e aqueles com condições médicas subjacentes, como obesidade e Diabetes Mellitus (DM) tipo 2. A dieta ocidental (Western Diet – WD), rica em gorduras saturadas, açúcares e carboidratos refinados, predispõe ao DM tipo 2 e à obesidade, colocando essa população em risco aumentado para o desenvolvimento e para a maior mortalidade por COVID-19.

Dados foram coletados em um centro de informações sobre COVID-19 disponibilizado  por Elsevier Connect, validado pelo PubMed e também pela WHO COVID database, que mantém informações sobre esta pandemia e seus desdobramentos para fins de pesquisa.

A  mortalidade por COVID-19 e o desenvolvimento de doença grave são muito mais altos em idosos, minorias sub-representadas e naqueles pacientes com comorbidades subjacentes. A alta prevalência da obesidade e do DM tipo 2, como principais fatores de risco associados à COVID-19 em todo o mundo, é provavelmente impulsionada pelo aumento do consumo da dieta ocidental típica, que consiste em grandes quantidades de gordura saturada (HFD), carboidratos refinados, açúcares e baixos níveis de fibras, gorduras insaturadas e antioxidantes.

A WD, rica em ácidos graxos saturados (SFAs),  leva à ativação crônica do sistema imunológico inato e à inibição do sistema imunológico adaptativo, desencadeando estímulo de vias de sinalização inflamatórias com  produção de  mediadores pró-inflamatórios. Cita-se, a partir desta dieta WD, aumento da infiltração de macrófagos no tecido pulmonar, bastante  relevante para pacientes com COVID-19, dado o envolvimento da inflamação do tecido pulmonar e do dano alveolar nesta patologia.

O consumo de WD com HFD inibe a função dos linfócitos no sistema imune adaptativo, por aumentar o estresse oxidativo, contribuindo para imunodepressão das células B  envolvidas na defesa do hospedeiro contra o vírus. Portanto, o consumo de WD prejudica a imunidade adaptativa, enquanto aumenta a imunidade inata, levando à inflamação crônica e comprometendo a defesa do hospedeiro contra patógenos virais. Dado que os idosos e as comunidades afro-americanas têm uma maior sensibilidade inerente aos moduladores inflamatórios, o consumo de dietas não saudáveis pode representar um risco maior para COVID-19 grave.

Percebe-se que altas taxas de obesidade e diabetes entre as populações minoritárias podem ser responsáveis pelas disparidades de saúde em resposta à COVID-19 nesses grupos. Os dados sugerem que as dificuldades de acesso a escolhas alimentares saudáveis, provavelmente devido ao aumento das taxas de pobreza, contribuem para a maior carga de doenças crônicas nessas comunidades. Estudos mostram que consumir alimentos saudáveis tem um efeito anti-inflamatório rápido, mesmo na presença de obesidade.

Os autores citam a possibilidade de haver consequências indiretas da doença a longo prazo, como dano pulmonar potencial e possíveis impactos na função neurológica, já  que eventos inflamatórios periféricos evocam uma resposta neuroinflamatória exagerada e persistente em indivíduos vulneráveis. Além disso, existe uma associação bem conhecida entre os níveis patológicos de neuroinflamação e doenças neurodegenerativas, como Alzheimer e outras formas de demência, o que poderia  acontecer devido à COVID-19.

Concluindo, é fundamental considerar o impacto dos hábitos de vida, como o consumo de dietas não saudáveis, sobre a suscetibilidade à COVID-19 e sua recuperação. Além disso, a recuperação de COVID-19 pode levar ao aumento nas condições médicas crônicas, que serão agravadas por dietas não saudáveis, especialmente em  populações vulneráveis. Os autores recomendam que os indivíduos evitem alimentos ricos em gorduras saturadas e açúcar e consumam maiores quantidades de fibras, grãos inteiros, gorduras insaturadas e antioxidantes, para aumentar a função imunológica.

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Como mudaram os comportamentos alimentares dos adolescentes durante o confinamento na pandemia?

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Confinamento da Covid-19 e Mudanças nas Tendências Dietéticas de Adolescentes na Itália, Espanha, no Chile, Colômbia e Brasil

FAULHABER, Maria Cristina Brito

RUIZ-ROSO, M. B. et al. Covid-19 Confinement and Changes of Adolescent’s Dietary Trends in Italy, Spain, Chile, Colombia and Brazil. Nutrients, v. 12, n. 6,  p. 1807, Jun. 2020. Doi:10.3390/nu12061807. Disponível em: https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/32560550/

A Organização Mundial da Saúde define adolescência como período da vida que se inicia aos dez anos e termina aos dezenove anos completos. É um período essencial para adquirir bons hábitos alimentares que irão influenciar o estado de saúde na vida adulta, objetivando a prevenção de doenças como obesidade, patologias cardiovasculares, diabetes, etc. Sabe-se que o confinamento influencia o estilo de vida, principalmente a dieta e a atividade física.

O artigo avalia os efeitos das políticas de confinamento induzidos pela COVID-19 sobre mudanças de hábitos alimentares em adolescentes de 5 países: Espanha, Itália, Brasil, Chile e Colômbia, além de buscar identificar potenciais variáveis que possam ter influenciado essa mudança.

Trata-se de um estudo transversal que utilizou um questionário anônimo com mais de 30 perguntas, distribuído em redes sociais como Twitter, WhatsApp, Facebook e outras. Baseado na Pesquisa Nacional de Saúde do Escolar (PeNSE), o questionário avaliou aspectos sociodemográficos, características familiares e práticas alimentares antes e durante o confinamento, no período de 17 de abril a 25 de maio de 2020.  Os alimentos/grupos de alimentos analisados foram: legumes, verduras, frutas, doces, frituras, carne processada (hamburguer, salsicha, mortadela, salame, presunto, nuggets), bebidas adoçadas com açúcar (BAA) (do inglês SSB: sugar-sweetened beverages) e fast food.

A análise de dados foi realizada usando o teste estatístico t pareado e análise de variância (ANOVA), além do GraphPad Prism8 (versão 8.3.0) Software Inc., San Diego, CA, EUA, nas análises estatísticas.

O estudo está em acordo com os princípios éticos contidos nas resoluções de cada país.

 A idade média dos 820 adolescentes participantes foi 15 anos, 61,1% meninas; 43,3% das mães não tinha diploma universitário.

O consumo de legumes, verduras e frutas aumentou significativamente durante o confinamento; 43% consumiram verduras todos os dias versus 35,2% dos que o faziam antes. Apenas 25,5% dos adolescentes consumia pelo menos 1 fruta por dia em comparação com 33,2% durante. Houve uma drástica redução no consumo de fast food (44,6% antes e 64,0% após o confinamento). Por outro lado, houve um significativo aumento do consumo médio de frituras e alimentos doces (14% e 20,7% após).

Quanto ao gênero as meninas aumentaram um pouco o consumo de verduras (4,8% antes e 5,1% após) e frutas (4,0 e 4,4%). Os meninos também apresentaram aumento no consumo de verduras (4,0% antes e 4,4% após) e de carne processada (2,9% e 3%), mas não houve alteração no consumo de frutas. A diferença mais significativa na dieta entre meninos e meninas foi o aumento de BAA (42,9% e 57,2% respectivamente).

Os adolescentes brasileiros consumiram mais leguminosas do que os demais países; adolescentes colombianos tiveram menor consumo de frutas e verduras, apesar de terem aumentado significativamente o consumo de frutas durante o confinamento. O maior consumo de frutas ocorreu na Espanha e na Itália.

Adolescentes cujas mães tinham níveis superiores ao ensino médio mostraram aumento no consumo de frutas e verduras; e o consumo de BAA entre aqueles com mães com nível universitário foi menor.

Assistir TV durante as refeições foi relacionado com menor consumo de frutas e verduras, maior consumo de alimentos fritos, alimentos doces e BAA, demonstrando piora da qualidade da dieta entre os adolescentes.

O confinamento pode levar a padrões alimentares irregulares e lanches frequentes, por parte dos adolescentes, devido ao tédio e ao estresse.

A pandemia pela COVID-19 tornou visível e ampliou as desigualdades sociais, sendo as famílias mais pobres as mais afetadas.

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