Evidências Covid 19

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Como a conexão entre os micro-organismos do intestino e o sistema imune pode influenciar na progressão da infecção da COVID-19 ?

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Autoimunidade e COVID-19 – A conexão microbiótica

PALMEIRA, Vanila Faber

KATZ-AGRANOV, N.; ZANDMAN-GODDARD, G. Autoimmunity and COVID-19 – The microbiotal connection. Autoimmun Rev., v. 20, n. 8, p. 102865 Ago. 2021. [Epub 10 jun. 2021] DOI: 10.1016/j.autrev.2021.102865 Disponível em: https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC8189735/pdf/main.pdf

A pandemia pelo Coronavírus 2019, também chamado de SARS-CoV-2, é responsável por diversas manifestações clínicas, que coletivamente são denominadas de COVID-19. Sabe-se que a intensidade e/ou gravidade da doença, que pode ser assintomática, leve, moderada e severa, tem relação direta com a resposta imunológica do paciente.

Devido ao fato de pacientes com COVID-19 poderem apresentar manifestações gastrointestinais, como vômitos e diarreias, a interação entre o SARS-CoV-2 e o intestino foi investigada. A coleção de micro-organismos presentes no intestino, chamada de microbioma, participa de uma complexa interação com o sistema imune do paciente hospedeiro desses micro-organismos, podendo modular o perfil entre Th1 (pró inflamatório) ou Th2 (anti-inflamatório). O objetivo do trabalho foi tentar fazer uma relação entre a infecção pelo SARS-CoV-2 com o microbioma humano e com o perfil de resposta imune, através de similaridade com o Lupus, que é uma doença autoimune. O estudo foi feito visando a desenvolver potenciais terapias que poderiam prevenir a transmissão, a progressão, e manifestações relacionadas ao sistema imune na COVID-19, por meio da manipulação da microbiota intestinal.

A imunidade de mucosa é crucial para o equilíbrio imune no organismo humanos. Através de interações entre células imunes e microbioma, ocorre modulação local e sistêmica da imunidade. As infecções virais (incluindo a COVID-19) podem quebrar a tolerância imunológica, contribuição para a ativação de células T autorreativas, e o desenvolvimento de doenças autoimunes, como por exemplo o Lupus. Neste contexto, tanto a COVID-19 como o Lupus possuem algumas características em comum, tais como um processo de inflamação descontrolada. A quantidade e/ou os tipos de micro-organismos, no intestino e/ou no pulmão, podem estar relacionados a uma maior ou menor gravidade da COVID-19. Ao mesmo tempo, a infecção pelo SARS-CoV-2 pode alterar essa composição microbiana do paciente.

Os autores discutem a possível alteração do microbioma intestinal pela presença do SARS-CoV-2, mesmo em pacientes que não apresentaram manifestações gastrointestinais; pois existe uma correlação entre pulmão e intestino, no que diz respeito ao microbioma e sua modulação imune. A infecção pelo vírus, gerando a reação inflamatória, poderia levar a uma disbiose intestinal, e consequentemente a um maior potencial inflamatório, de forma auto-alimentada. Portanto, a modulação do microbioma intestinal poderia ser utilizada como recurso de prevenção à COVID-19, bem como no tratamento auxiliar, por poder modular a resposta imune exagerada por meio de funções anti-inflamatórias e antioxidantes. Essa abordagem vale a pena ser melhor investigada, uma vez que já vem sendo utilizada em doenças autoimunes como o Lupus como uma modalidade de tratamento adjuvante e conjugado.

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Como evolui no tempo a capacidade dos anticorpos induzirem nos pacientes a destruição das células infectadas pelo virus?

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O desenvolvimento e a cinética da citotoxicidade mediada por células dependente de anticorpos funcionais (ADCC) para a proteína spike SARS-CoV-2

PALMEIRA, Vanila Faber

CHEN, X. et al. The development and kinetics of functional antibody-dependent cell-mediated cytotoxicity (ADCC) to SARS-CoV-2 spike protein. Virology., v. 559, p. 1-9, mar. 2021. DOI: 10.1016/j.virol.2021.03.009 Disponível: https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC7975276/pdf/main.pdf

A pandemia atual é causada por um Beta Coronavírus intitulado de Coronavírus 2019 (SARS-CoV-2), que é o responsável pela doença COVID-19. Esta infecção viral é capaz de induzir no hospedeiro uma resposta imunológica completa, com geração de memória através da produção de anticorpos, os quais são glicoproteínas específicas para estruturas microbianas, incluindo os vírus.

Os anticorpos representam uma forma de defesa importante contra todo tipo de infecção, incluindo as infecções virais, como a COVID-19. Dentre os papéis que os anticorpos podem desempenhar estão: neutralização, fagocitose dependente de anticorpo (tanto para células mononucleares, como os macrófagos, quanto para as células polimorfonucleares, como os neutrófilos), e também a citotoxicidade (capacidade de causar lise em células) mediada por anticorpos (tanto para célula do tipo Natural Killer {NK} quanto para linfócitos do tipo TCD8). Os autores tiveram como objetivo avaliar o desenvolvimento da citotoxicidade mediada por anticorpos contra SARS-CoV-2, através de experimentos utilizando células com super expressão da proteína S do vírus, soro de pacientes positivos para o Coronavírus 2019, e células NK de linhagens modificadas.

A citotoxicidade mediada por anticorpo (CMA) leva as células NK a liberarem substâncias, como as granzimas e as perforinas, que causam a destruição celular, a partir de seu reconhecimento de anticorpos aderidos à superfície celular. Nos experimentos conduzidos pelos autores do trabalho, as análises avaliaram, dentre outras coisas, a lise de células expressando a proteína S do SARS-CoV-2, a partir de anticorpos do soro de pacientes positivos para SARS-CoV-2. Do total de 61 pacientes positivos para SARS-CoV-2 com forma leve ou moderada de COVID-19, 56 tinham anticorpos com propriedades de CMA, e 5 deles não tinham essa propriedade, indicando que nem todo anticorpo neutralizante possui capacidade de CMA.

Os dados apresentados no trabalho mostram que a capacidade de CMA dos anticorpos contra SARS-CoV-2 começa a aumentar a partir do sétimo dia de início dos sintomas, continuando a subir até a fase de convalescência precoce (15–90 dias), e começando a diminuir após um período de 3 a 4 meses. Esses dados são consistentes com outros trabalhos que mostram essa mesma dinâmica de quantidade de anticorpo versus tempo. Esse conhecimento acerca da CMA ajuda a compreender a imunidade contra SARS-CoV-2, bem como sua proteção, podendo ser utilizado para o desenvolvimento de terapêutica e vacinas mais eficazes.

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Como a perda de olfato e paladar pode afetar emocionalmente as pessoas acometidas por COVID-19 ?

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Investigação sobre a perda do paladar e do olfato e os efeitos psicológicos consequentes: um estudo transversal em profissionais da saúde que contraíram a infecção COVID-19

DOLINSKY, Luciana

DUDINE, L. et al. Investigation on the Loss of Taste and Smell and Consequent Psychological Effects: A Cross-Sectional Study on Healthcare Workers Who Contracted the COVID-19 Infection. Front Public Health, v.9, article 666442, May 2021. DOI:10.3389/fpubh.2021.666442. Disponível em: https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/34123991

O artigo analisa a correlação entre o estresse e as alterações no olfato e paladar de trabalhadores da saúde, da região norte da Itália, que contraíram a COVID-19 no meio do surto da patologia em 2020.

A infecção pelo SARS-Cov-2 é caracterizada por diversos sintomas, com quadros clínicos variando de assintomáticos ou com sintomas leves até doença severa e óbito. Dentre as manifestações neurológicas mais comuns da patologia situam-se as alterações no olfato e no paladar relatadas por inúmeras publicações. Também é fator conhecido que pandemias estão associadas com consequências diversas para a saúde mental e existem estudos relatando aumento nos sintomas de ansiedade e depressão na pandemia da COVID-19. No entanto, raros são os estudos que têm como foco os sintomas da patologia como determinantes do estresse psicológico.

Como as disfunções de olfato e paladar podem impactar negativamente o bem-estar, com indivíduos relatando sensações de solidão, medo e depressão, além de dificuldades sociais devido a preocupações com a higiene pessoal, no caso da alteração no olfato, e impactos na nutrição e desenvolvimento de depressão, nos casos de alterações no paladar, pesquisadores consideraram a possibilidade destes sintomas amplificarem o estresse psicológico já determinado por outros fatores.

Para verificar esta hipótese, 104 trabalhadores da saúde, homens e mulheres, com idades entre 18 e 70 anos, que haviam contraído a COVID-19, foram avaliados por entrevistas semiestruturadas que envolviam questões sobre sintomatologia, incluindo alterações de olfato e paladar, termômetro de estresse (DT) e escala de ansiedade e depressão hospitalar (HADS). Os questionários referentes a estresse, ansiedade e depressão são validados em diversos países, culturas e populações patológicas. O questionário sobre estresse abordou percepção durante a infecção e no momento da entrevista e o HADS apenas no momento da entrevista. A análise de dados foi robusta com p 0.05.

Os sintomas mais frequentes foram fadiga, alterações no olfato e alterações no paladar. 68%, dos entrevistados declararam estresse moderado a alto, com ansiedade, irritabilidade, mau humor e solidão. Há correlação com os sintomas, com maior quantidade de sintomas estando relacionada a maior grau de estresse. Perda de olfato não mostrou relação com altos níveis de estresse, mas a perda de paladar sim.

A ansiedade é maior nos pacientes com perda de ambos os sentidos, olfativo e gustativo, enquanto a depressão é mais evidente na perda do paladar. A despeito deste resultado, 29% dos entrevistados precisam de intervenção psicológica clínica, segundo os dados obtidos.  

O estudo evidencia que alterações no olfato e no paladar em pessoas sintomáticas estão associadas com maiores níveis de estresse, comparando com aqueles sem alterações nesses sentidos da percepção. Ansiedade e depressão são respostas frequentes, que estão mais associadas a perda do paladar e tendem a persistir por mais tempo. No entanto, risco de reinfecção, excesso de trabalho, frustração, equipamentos de proteção inadequados, isolamento, exaustão, etc., também influenciam a situação emocional dos trabalhadores da saúde. A coexistência com sintomas da COVID-19 intensifica a reação. Mesmo as pessoas curadas continuam a experimentar estresse, devido ao medo de reinfecção. Essa condição aponta a necessidade de intervenção psicológica.

Há limitações metodológicas citadas pelos autores, incluindo análise retrospectiva não randomizada, tendência de aceite de participação por profissionais mais impactados, questionários não desenhados para reações emocionais em pandemias e ausência de dados sobre a duração das alterações de sentido. No entanto, a temática relevante merece continuar sendo alvo de pesquisas.

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Quais as consequências no coração provocadas após a Covid-19 ?

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Sequelas cardíacas após a recuperação da doença coronavírus em 2019: uma revisão sistemática

LASSANCE, Marcio

RAMADAN, M. S. et al. Cardiac sequelae after coronavirus disease 2019 recovery: a systematic review. Clinical Microbiology and Infection., v. 27, n. 9, p. 1250-1261, Set. 2021 [Epub 23 jun. 2021] DOI: 10.1016/j.cmi.2021.06.015 Disponível em: https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/34171458/

Não obstante a infecção pelo vírus SARS-CoV-2 seja responsável pela síndrome respiratória aguda grave, sabe-se que pode desencadear manifestações extrapulmonares, mormente problemas cardiovasculares. Isto pode ocorrer em qualquer momento da infecção pelo vírus, perdurando, por vezes, várias semanas após a recuperação do COVID-19. No presente artigo realiza-se revisão sistemática com foco nas sequelas cardíacas em adultos recuperados da COVID-19.

Acredita-se que os mecanismos pelos quais o vírus pode afetar o coração resultam de ação direta no músculo cardíaco e no endotélio dos vasos que os nutrem, assim como indireta, resultado da “tempestade de citocinas inflamatórias”, hipercoagulabilidade e hipóxia. Há, no entanto, questões acerca da reversibilidade das lesões cardíacas, o que, em última análise, resultaria em sequelas permanentes.

O estudo caracteriza-se por uma revisão sistemática da literatura com estudos extraídos de diversas bases, incluindo pesquisas realizadas de 2019 e 2021. Os desfechos investigados limitaram-se ao período pós-recuperação. Foram colhidas informações relativas a sintomas cardiovasculares referidos (dados subjetivos), assim como alterações estruturais ou funcionais (dados objetivos).

A análise foi realizada com 35 estudos, selecionados de um total de 2.867 estudos, o que englobou 52.609 pacientes com idade entre 19 e 74 anos. Os desfechos objetivos foram avaliados por meios de ressonância magnética nuclear cardíaca, ecocardiograma, eletrocardiograma, exames de sangue (NT-proBNP, Troponina) e cateterismo cardíaco (cineangiocoronariografia e biópsia miocárdica). Em contrapartida, os dados dos desfechos subjetivos foram extraídos de questionários.

Os doze estudos que avaliaram pacientes submetidos à ressonância magnética nuclear mostraram alterações estruturais do coração em todos os pacientes infectados. Variavam desde variações na intensidade do sinal e captação do gadolínio (contraste paramagnético) até envolvimento miocárdico e pericárdico (miocardite e pericardite).

Os estudos que se utilizaram de ecocardiografia para avaliação cardíaca mostraram, entre outras alterações, redução da fração de ejeção (função cardíaca), derrame pericárdico e hipertensão pulmonar em até 16% dos pacientes.

Mudanças vistas no eletrocardiograma ocorreram em até 27% e contemplavam mudanças na onda T, segmento ST, bloqueio do ramo direito e taquicardia sinusal. Enzimas cardíacas aumentadas (Troponina) foram detectadas em até 20% dos casos e os níveis de NT-pro-BNP, marcador de insuficiência cardíaca, aumentaram em até 23% dos pacientes.

Em todos os pacientes submetidos à biópsia miocárdica foi vista inflamação sem, no entanto, a presença de genoma viral. Doença arterial coronariana foi vista em até um quarto dos pacientes que realizaram cineangiocoronariografia.

Com relação aos sintomas cardiovasculares, houve, em vinte estudos, relatos de dor torácica, palpitações e dispneia em até 88% dos pacientes.

Este estudo nos mostra que o acometimento cardiovascular da COVID-19 é frequente e pode deixar sequelas. No entanto, há de se ter cuidado ao se interpretar os dados obtidos: quanto maior a acurácia diagnóstica, mais frequentemente são detectadas alterações estruturais do coração. Vimos que todos os pacientes que realizaram ressonância magnética nuclear tiveram algum grau de anormalidade e isto pode não ser clinicamente relevante. Da mesma forma, os sintomas relatados pelos pacientes podem ter outras causas não cardíacas. Podemos então concluir que, à luz dos estudos analisados, a infecção pelo SARS-CoV-2 podem associar-se a sequelas cardíacas, clínicas ou subclínicas, que incluem miocardite, pericardite, infarto do miocárdio, arritmias e hipertensão pulmonar. Cronologicamente, as sequelas que ocorrem nos primeiros três meses tendem a ser mais graves do que aquelas ocorrendo após este período.

Concluindo: para melhor compreensão do real impacto clínico do acometimento cardiovascular da COVID-19 seriam necessários estudos controlados com desfechos mais definidos.

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Quais reações certos medicamentos podem causar a pacientes com Covid-19?

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Reações adversas a medicamentos em pacientes com COVID-19 no Brasil: análise das notificações espontâneas do sistema de farmacovigilância brasileiro

D’AVILA, Joana

MELO, J. R. R. et al. Adverse drug reactions in patients with COVID-19 in Brazil: analysis of spontaneous notifications of the Brazilian pharmacovigilance system. Cad Saude Publica v. 37, n. 1, p. e00245820, Jan. 2021. Disponível em: https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/33503163/

As reações adversas a medicamentos são consideradas um grave problema de saúde pública e contribuem para o aumento da morbimortalidade e de gastos para o paciente e para os sistemas de saúde.

Até o momento ainda não foi identificado um tratamento eficaz específico para COVID-19 e vários fármacos são utilizados sem evidências de sua eficácia. Dados preliminares de estudos in vitro identificaram atividade antiviral dos fármacos cloroquina e hidroxicloroquina, associados a antibióticos como azitromicina, e estes foram recomendados em alguns países como terapia medicamentosa contra o SARS-CoV-2. Apesar desses fármacos serem indicados para outras doenças, o uso nesta pandemia é experimental, e mesmo o uso compassivo pode representar riscos à saúde devido ao potencial de causar reações adversas, principalmente o risco de cardiotoxicidade. As reações adversas a medicamentos podem prolongar o tempo da internação do paciente, agravando ainda mais a busca por leitos para novos pacientes infectados.

Este estudo teve como objetivo avaliar as reações adversas identificadas nos pacientes com COVID-19, segundo características de pessoas, medicamentos e reações, bem como identificar os fatores associados ao surgimento de reações graves nestas pessoas.

A metodologia consiste em um estudo transversal, com etapas descritiva-exploratória e analítica, utilizando como fonte de dados os relatórios de segurança de casos individuais encaminhados ao Centro Nacional de Monitorização de Medicamentos da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). A população foi constituída pelos pacientes com COVID-19 que apresentaram reações adversas a medicamentos e foram notificados no Sistema Brasileiro de Farmacovigilância.

Foi considera reação adversa grave qualquer reação que resulte em morte, ameaça à vida, que cause internação hospitalar ou prolongue a internação, resulte em incapacidade, persistente ou significativa, ou que cause anomalia congênita.

A pesquisa descreveu 631 reações adversas a medicamentos em 402 pacientes no período de 01 de março de 2020 a 15 de agosto de 2020.

As reações se manifestaram prioritariamente no sistema cardíaco (38,8%), gastrointestinal (14,4%), tecido cutâneo (12,2%) e hepático (8,9%). As reações mais relatadas foram o prolongamento do intervalo QT no eletrocardiograma (33,6%), diarreia (7,4%), prurido (6,5%) e a elevação das transaminases do fígado (6%).

Os principais medicamentos suspeitos de causar as reações foram hidroxicloroquina (59,5%), azitromicina (9,8%) e cloroquina (5,2%). Homens e idosos acima de 65 anos tiveram maior chance de apresentar reações adversas graves. A cloroquina e a hidroxicloroquina foram os únicos medicamentos associados a reações adversas graves, como o aumento do intervalo de QT acima de 500ms, de forma dose-dependente.

Os autores discutem que as características dos participantes foram semelhantes a outros estudos com esta mesma temática, com a prevalência do sexo masculino, pacientes acima de 60 anos, com doenças concomitantes e em uso de múltiplos fármacos. Também são semelhantes os principais locais de manifestação das reações, que foram o sistema cardíaco, gastrointestinal, cutâneo e hepatobiliar. O prolongamento do intervalo QT informado neste estudo foi maior do que o encontrado em outros estudos. Uma explicação para este achado foi a maior exposição do Brasil à cloroquina e hidroxicloroquina, drogas que tiveram uso interrompido no início da pandemia em outros países.

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O que sabemos até o momento sobre a fisiopatologia e a clínica da COVID-19 ?

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Uma revisão abrangente sobre os aspectos fisiopatológicos clínicos e mecanísticos da Doença COVID-19: Até onde chegamos?

PALMEIRA, Vanila Faber

SHAKAIB, B et al. A comprehensive review on clinical and mechanistic pathophysiological aspects of COVID‑19 Malady: How far have we come? Virol J., v. 18, p. 120, Jun. 2021.  DOI: 10.1186/s12985-021-01578-0 Disponível em: https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC8182739/pdf/12985_2021_Article_1578.pdf

A atual pandemia pelo Coronavírus 2019 foi incialmente comparada à gripe pelo vírus Influenza. Entretanto, logo se percebeu que se tratava de uma doença multissistêmica (que acomete vários sistemas do corpo), que foi denominada de COVID-19. Essa doença passou a ser dividida de acordo com a gravidade do quadro clínico apresentado, podendo ser leve, moderada, severa ou crítica.

O objetivo do trabalho foi discutir a ampla gama de manifestações clínicas da COVID-19 registradas na literatura, incluindo a fisiopatologia da doença, e as medidas de combate. Para isso vários trabalhos foram analisados pelos autores, e os resultados mostraram que a COVID-19 possui uma enorme variedade de sinais e sintomas, sendo que nenhum deles é patognomônico (sinal característico, específico) da doença. Essa variedade clínica está relacionada com a capacidade do Coronavírus 2019 (SARS-CoV-2) poder infectar diferentes células do corpo humano. Para isto, o vírus utiliza o receptor ECA2 (Enzima Conversora de Angiotensina 2), que está presente nas membranas de vários tipos celulares no corpo do hospedeiro. E algumas comorbidades podem piorar o quadro clínico, justamente porque ou facilitam a entrada do vírus nas células ou interferem na resposta imune do indivíduo.

No início da pandemia pelo Coronavírus 2019, os quadros clínicos detectados eram pneumonias com sintomas semelhantes à infecção pelo vírus Influenza: febre, tosse seca (sem expectoração), fadiga (cansaço). Entretanto, logo foi identificado o agente causador, um Beta Coronavírus, denominado de SARS-CoV-2, devido à semelhança genética com o SARS-CoV, que foi associado à Síndrome da Angústia Respiratória Aguda (SARA) em 2002. Logo após, outros casos foram sendo identificados, entretanto expressando diferentes apresentações clínicas, e rapidamente foi percebido pelos profissionais que este Coronavírus 2019 era capaz de infectar diferentes células do corpo humano. Desta forma, portanto, o vírus pode causar diferentes tipos de manifestações (penetração direta do vírus e/ou ativação imune, com inflamação associada), que incluem desde ausência de sintomas, até quadros muito graves, com evolução para o óbito.

Apesar da COVID-19 ser uma doença multissistêmica, e poder se apresentar com sinais e sintomas mais frequentes, ainda sim, não existe nenhum sintoma que seja típico, ou exclusivo, desta enfermidade. Isto torna imperativo que seja sempre investigada a possibilidade de ser uma infecção causada pelo Coronavírus 2019. Além disso, ainda não há medicamentos liberados para tratamento da COVID-19, sendo a prevenção e o controle da infecção os pilares da gestão da pandemia atual. As vacinas estão no centro desta discussão, desde futuras candidatas (ainda em estudos) até as que já foram aprovadas e estão em uso em todo o mundo.

A contribuição positiva do trabalho foi mostrar ao leitor a variedade de sinais e sintomas associados à COVID-19, mostrando que nenhum deles é específico da doença. Além disso, foi extremamente bem pensado colocar os endereços de consulta para o leitor sobre o manejo da doença, incluindo controle e prevenção da COVID-19, tratamento e vacinas.

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Como a condição nutricional pode influir na evolução clínica de pacientes com COVID-19 ?

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Doença por coronavírus 2019 (COVID-19) e estado nutricional: o elo perdido?

FAULHABER, Maria Cristina Brito

SILVERIO, R. et al. Coronavirus Disease 2019 (COVID-19) and Nutritional Status: The Missing Link? Adv Nutr., v. 12, n. 3, p. 682-692, Jun.  2021. DOI: 10.1093/advances/nmaa125. Disponível em: https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/32975565/

COVID-19 é uma doença emergente que alcançou níveis pandêmicos. Indivíduos idosos e pacientes com comorbidades, como obesidade, diabetes e hipertensão, mostram maior risco de hospitalização, maior severidade da doença e maior mortalidade pela infecção por SARS-CoV-2. O objetivo do artigo é discutir o papel do estado nutricional em pacientes com COVID-19, além de ressaltar a importância da nutrição adequada.

Durante a doença, frequentemente ocorre aumento da produção de citocinas pró-inflamatórias, associada a uma reação exagerada do sistema imunológico, a chamada tempestade de citocinas. O espectro clínico é amplo, variando de assintomático ao desenvolvimento de pneumonia grave, síndrome de angústia respiratória aguda e morte. Febre, tosse, fadiga, dores musculares, diarreia e pneumonia são as manifestações mais comuns, podendo progredir, desde síndrome de dificuldade respiratória aguda até falência de órgãos.

O estado nutricional desempenha importante papel no resultado de uma variedade de doenças infecciosas. O sistema imunológico é afetado pela desnutrição, com diminuição das respostas imunes, aumentando risco de infecção e gravidade da doença. A composição corporal, especialmente baixa massa magra e alta adiposidade, é associada à piora do prognóstico.

A alta prevalência de obesidade é descrita entre pacientes hospitalizados. Estatísticas mostram que em unidades de terapia intensiva (UTI) da Espanha 48% dos primeiros pacientes admitidos com COVID-19 eram obesos; entre 1482 dos pacientes hospitalizados nos EUA com COVID-19 48,3% foram obesos; e um estudo da China mostrou que 43% dos pacientes hospitalizados com COVID-19 eram obesos ou tinham sobrepeso. A obesidade também foi associada a maior mortalidade e aumento de gravidade de doenças. IMC de pacientes com doenças cardiovasculares e infecção por SARS-CoV-2 na UTI é maior do que a de pacientes sem necessidade de cuidados intensivos. Esse mesmo estudo também demonstrou prevalência maior de sobrepeso e obesidade entre não sobreviventes.

Mesmo que os jovens estejam em menor risco de COVID-19 grave, se a obesidade for uma condição concomitante, os pacientes têm cerca de 2,0 vezes mais probabilidade de precisar de cuidados intensivos na internação. A associação entre pacientes mais jovens com um IMC ≥25 kg/m2 e pneumonia na admissão também foi descrita. A obesidade acomete também os pulmões: a ventilação mecânica invasiva em pacientes com COVID-19 foi positivamente correlacionada com obesidade, independentemente da idade. Células adiposas viscerais aumentadas em obesos podem atuar como reservatório para vírus, aumentando assim a carga total de vírus. Ainda não se conhece a razão pela qual os indivíduos com obesidade com comorbidades estão em maior risco de COVID-19 grave.

Desnutrição proteico-energética está relacionada ao aumento do risco de ocorrência principalmente de doenças infecciosas e, assim como na obesidade, ela impacta também na replicação viral e na patogenicidade. Anorexia, diarreia, vômitos, náuseas e dor abdominal leve são frequentes em pacientes com COVID-19, podendo agravar o quadro.

O envelhecimento está associado a alterações no sistema imune inato e resposta adaptativa, processo conhecido como imunossenescência, evento associado a um aumento da suscetibilidade às infecções virais. Idosos com frequência apresentam sarcopenia, que consiste na perda de força muscular; sua patogênese está associada à presença de citocinas pró inflamatórias. Obesidade sarcopênica consiste em indivíduos com maior massa gorda associada a baixa massa muscular. O fenótipo sarcopênico está associado com a diminuição da atividade física.

Hábitos saudáveis são importantes não apenas para garantir uma resposta imunológica ideal, mas também para prevenir e / ou tratar a desnutrição, a obesidade e comorbidades relacionadas à obesidade em pacientes com COVID-19.

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Como é a evolução clínica dos recém-nascidos infectados pelo SARS-CoV-2 ?

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Características e resultados da infecção neonatal por SARS-CoV-2 no Reino Unido: um estudo de coorte nacional prospectivo usando vigilância ativa

FAULHABER, Maria Cristina Brito

GALE, Chris et al. Characteristics and outcomes of neonatal SARS-CoV-2 infection in the UK: a prospective national cohort study using active surveillance The Lancet Child & Adolescent Health, v. 5, n. 2, p. 113-121, Fev. 2021. DOI: 10.1016/S2352-4642(20)30342-4. Disponível em: https://www.thelancet.com/journals/lanchi/article/PIIS2352-4642(20)30342-4/fulltext

Os bebês diferem das crianças mais velhas no que diz respeito à exposição à síndrome respiratória aguda grave por coronavírus 2 (SARS-CoV-2). Os dados disponíveis que descrevem o efeito do SARS-CoV-2 neste grupo são escassos, e as diretrizes são variáveis.

O objetivo do artigo é descrever a incidência, as características, a transmissão e os desfechos de infecção por SARS-CoV-2 em bebês que estiveram internados em hospitais do Reino Unido nos primeiros 28 dias de vida, no período entre 1º de março e 30 de abril de 2020, buscando formular políticas de manejo e diretrizes para profissionais de saúde, gestantes e novos pais.  

Como critério de seleção foi considerada doença grave nos casos que apresentassem pelo menos 2 dos seguintes critérios: 1) hipertermia (>37.5ºC), apneia, tosse, taquipneia, dificuldade respiratória, necessidade de suplementação de oxigênio, pouca aceitação alimentar, vômitos ou diarreia; 2) leucopenia (< 5.000 leucócitos/µL), linfopenia (< 1.000/µL ou PCR elevada); e 3) Rx de tórax alterado.

Foram elegíveis 66 recém-nascidos (RN) com infecção por SARS-CoV-2 confirmada, sendo 42% com infecção neonatal grave; 24% eram prematuros; 26% nasceram de mães com infecção perinatal por SARS-CoV-2 conhecida, 3% foram considerados com possível infecção adquirida verticalmente (amostra positiva para SARS-CoV-2 dentro de 12 horas após o nascimento, quando a mãe também era positiva) e em 12% a suspeita foi de infecção adquirida nosocomialmente. A idade média do diagnóstico foi de 9,5 dias e 68% dos RN foram diagnosticados mais de 7 dias após o nascimento; entre estes últimos os sintomas mais comuns foram hipertermia, coriza e baixa aceitação alimentar. Nos 62 pacientes em que foi informado o sexo, 35 RN eram do sexo feminino; 22 RN receberam um ou mais tipos de suporte respiratório: três receberam ventilação invasiva, dez ventilação não invasiva e 22 receberam oxigênio suplementar. Rx foi realizado em 25 RN e 56% apresentaram alterações, entre estes 28% com lesões em vidro fosco. Laboratorialmente as alterações mais significativas foram o aumento de PCR (29% de 49 RN) e aumento de lactato (55% de 31 RN testados); dois dos 66 bebês foram tratados com agentes antivirais, outros dois foram tratados com corticosteroides, e um outro recebeu imunoglobulina combinada.

Usando dados de vigilância ativa em nível de população, o estudo demonstrou que o atendimento hospitalar para neonatos com confirmação SARS-CoV-2 é raro, com 5,6 casos por 10.000 nascidos vivos (um em 1.785) no pico do Reino Unido em março e abril de 2020. Infecção nos primeiros 7 dias após o nascimento de uma mãe com infecção perinatal por SARS-CoV-2 foi incomum e geralmente leve ou assintomático, apesar de uma política nacional que promovia manter a mãe e o recém-nascido juntos.

Este estudo foi realizado no Reino Unido, onde a orientação era, e continua sendo, para manter a mãe e bebê juntos quando a mãe confirmou no período perinatal infecção por SARS-CoV-2. Separação da mãe e filho tem múltiplas consequências prejudiciais para ambos e não é recomendada pela orientação da OMS. Durante o período de estudo, mais de 300 mães com infecção confirmada de SARS-CoV-2 deram à luz, e o baixo número de infecções neonatais iniciais por SARS-CoV-2 e o curso de doença leve que os autores documentaram apoiam a abordagem realizada no Reino Unido.

 

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Variantes do virus da COVID-19 podem infectar mais?

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Variantes do SARS-CoV-2 501Y.V2 não apresentam maior infecciosidade, mas apresentam escape imunológico

PALMEIRA, Vanila Faber

QIANQIAN LI, et al. SARS-CoV-2 501Y.V2 variants lack higher infectivity but do have immune escape. Cell, v. 184, n. 9, p. 2362. Apr. 2021. DOI: 10.1016/j.cell.2021.02.042 Disponível em: https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC7901273/pdf/main.pdf

O novo Coronavírus 2019 (SARS-Cov-2), até fevereiro de 2021 já infectou mais de 100 milhões de pessoas, com mais de 2 milhões de mortes em todo o mundo. O SARS-Cov-2 é um vírus de RNA e, como tal, tem grande tendência a sofrer mutações, que levam a alterações de proteínas virais, e com isso ao surgimento de novas variantes do vírus.

Mutações são erros que acontecem na hora da replicação de um vírus, por exemplo, que leva a alterações de proteínas do vírus. Quando a mutação é favorável, ela rapidamente torna-se presente na maioria dos vírus circulantes. Desde o início da pandemia pelo SARS-Cov-2 no final de 2019, novas variantes do vírus originado em Wuhan têm sido descritas em vários locais pelo mundo. Pesquisas têm sido realizadas com o intuito de determinar se essas variantes vêm tornando-se mais infecciosas, ou são capazes de causar infecções mais graves, ou se conseguem escapar do sistema imune. No trabalho os autores foram atrás de buscar respostas para algumas dessas perguntas, em relação à variante que surgiu na África do Sul em outubro de 2020.

É importante ressaltar que, quanto mais pessoas infectadas, maior é a pressão seletiva (qualquer conjunto de condições ambientais que origina o favorecimento de determinados genes em relação a outros em determinada população) para que mutações ocorram. Por isso, regiões extensas como Brasil, África e Índia são favoráveis ao surgimento de novas variantes do SARS-Cov-2. Os autores investigaram se determinadas mutações da variante originada na África do Sul ainda seriam susceptíveis a neutralização por anticorpos monoclonais e anticorpos policlonais (obtidos de soro de pacientes convalescentes e de camundongos imunizados com vacinas). Além disso, os autores testaram para avaliar uma maior infectividade em células de origem humana e murina.

O que foi percebido pelos experimentos utilizando vírus pseudotipados (não são o SARS-Cov-2 reais circulantes, e sim uma mistura da cepa mutante com um outro vírus) foi que a infectividade aumentou para células de camundongo que super expressavam ECA2, indicando a possibilidade de ampliação de hospedeiros para o vírus. Já para células humanas, a cepa mutante não teve aumento em sua infectividade, mas teve escape do sistema imune. Esses achados sugerem uma redução na capacidade neutralizante de anticorpos monoclonais e, possivelmente, das vacinas. Os autores discutem que os anticorpos monoclonais devem ser desenhados para reconhecimento de mais resíduos, aumentando assim a afinidade de ligação e, incluindo uma maior variedade de epítopos, possibilitando o reconhecimento apesar de mutações virais. Além disso, também foi ressaltado o fato de que estudos sobre a eficiência das vacinas para a novas mutantes devem ser feitos em outros trabalhos.

 

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Como a produção de anticorpos específicos está relacionada com a persistência do vírus após a infecção de COVID-19 ?

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A persistência de SARS-CoV-2 está associada a respostas de células T CD8 antígeno-específicas

FARHA, Jorge

VIBHOLM, L. et al. SARS-CoV-2 persistence is associated with antigen-specific CD8 T-cell responses. EBioMedicine, v. 64, p. 103230, Epub 01 fev. 2021 DOI: 10.1016/j.ebiom.2021.103230. Disponível em: https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/33530000/

O presente estudo foi desenvolvido pelo Departamento de Doenças Infecciosas do Hospital Universitário Aarthus da Dinamarca, de abril a julho de 2020.

Sabe-se que algumas viroses como Zika, Ebola e Sarampo podem cursar com persistência do vírus por longos períodos, prolongando o potencial de transmissão da doença.  Na Covid-19 igualmente, a persistência do vírus observada após a recuperação clínica pode, teoricamente, prolongar a transmissão e ainda ser um fator de risco para a recorrência da doença, especialmente em imunodeprimidos.

Até então nenhum estudo que correlacionasse a resposta antígeno-específica das células-T CD8 e os anticorpos totais com a persistência do vírus havia sido publicado. Essa lacuna na compreensão da Covid-19 não permitia avaliar adequadamente o potencial de transmissão dos portadores assim como definir com segurança o período de auto-isolamento dos pacientes.

Com o objetivo portanto de investigar se o RNA viral presente nesses portadores seria capaz de infectar outras pessoas e/ou estimular resposta imune específica, dois grupos de pacientes foram selecionados de acordo com o resultado do RT-PCR, ambos entre 15 e 44 dias de evolução após o início da doença e já assintomáticos. De 203 indivíduos incluídos no estudo, 26 apresentavam RT-PCR positivo nesta primeira avaliação.  Este exame detecta a presença de material genético do vírus em amostras colhidas da mucosa nasal posterior. Por sua vez esse grupo foi dividido em 5 subgrupos conforme a severidade do quadro clinico. Tabelas e gráficos detalham os grupos constituídos e suas particularidades.

Curiosamente o subgrupo 1, de menor gravidade, mostrou maior probabilidade de ter RT-PCR positivo.  Uma segunda avaliação foi realizada entre 85 e 105 dias após a melhora dos sintomas e apenas 5 mostraram RT-PCR positivo.

Ao se analisar os níveis de anticorpos totais, 99,5% dos participantes do estudo apresentavam anticorpos positivos na primeira avaliação e surpreendentemente não se observou diferença entre os grupos RT-PCR positivo e negativo. Contudo, os que apresentavam maiores níveis de anticorpos tiveram os menores títulos de RT-PCR, além do menor número de pacientes com RT-PCR persistente.

Passou-se a avaliar os contactantes dos pacientes RT-PCR persistentes num total de 757 pessoas. Dentre estes não se observou nenhum caso novo de Covid-19, concluindo-se que a persistência do RNA viral na fase de recuperação clinica da doença não se correlaciona com o risco de transmissão do SARS CoV-2

Finalmente, ao analisar a resposta imune específica das células-T CD8, observou-se que os pacientes que apresentavam RT-PCR persistente eram os que exibiam mais ampla e intensa resposta de imunidade celular.

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