Evidências Covid 19

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Quais as alterações mais frequentes após a COVID-19 e suas implicações?

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Perfil Metabólico Sérico em Pacientes com Síndrome de Pós-COVID (PASC): Implicações Clínicas

D’AVILA, Joana

PASINI, E. et al. Serum Metabolic Profile in Patients with Long-Covid (PASC) Syndrome: Clinical Implications.        Frontiers in Medicine, v. 8, n. 714426, Jul. 2021 Disponível em: https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/34368201/

A síndrome pós-COVID é uma condição clínica na qual alguns sintomas da infecção por coronavírus continuam a se manifestar mesmo após o vírus deixar o corpo, sendo as alterações mais comuns fadiga, fraqueza muscular e falta de ar. Os sintomas podem persistir por um período até seis meses após a recuperação total da fase aguda da infecção. No entanto, o conhecimento sobre a fisiopatologia e os biomarcadores desta síndrome que se desenvolve após a fase aguda da doença ainda é limitado, e o objetivo deste estudo foi investigar os marcadores no sangue de pacientes presentes na síndrome pós-COVID.

Os pesquisadores avaliaram setenta e cinco pacientes com idade média de 72 ± 7 anos, que foram hospitalizados com diagnóstico confirmado de COVID-19. Foram selecionados os pacientes que relataram os sintomas de fadiga, fraqueza muscular ou falta de ar, que se manifestavam após a COVID-19 e que estavam ausentes antes da infecção causada pelo vírus, e também que não estavam associados a outras doenças ou condições clínicas.

Os pacientes foram avaliados por um período de dois meses após receberem a alta hospitalar e os exames de sangue mostraram que todos apresentaram concentrações séricas muito altas de ferritina e D-dímero; a maioria dos pacientes tinha níveis baixos de hemoglobina e albumina, e também apresentavam elevações na velocidade de hemossedimentação e na PCR (proteína C reativa) – estes dois últimos constituindo marcadores da presença de inflamação. Os sintomas relatados coexistiam com os marcadores sanguíneos dos processos de coagulação e inflamação, que permaneceram elevados no período pós-COVID.

Os autores discutem sobre o fato de que a persistência de um estado inflamatório crônico altera o metabolismo dos pacientes e também está associado aos sintomas tardios da doença. Altos níveis de D-dímero no sangue aumentam o risco de doença tromboembólica a longo prazo. Portanto, os autores recomendam o monitoramento laboratorial precoce dos níveis sanguíneos desses marcadores para poder estabelecer a melhor conduta de profilaxia para cada paciente. A terapia pode envolver a utilização de anti-inflamatórios e / ou anticoagulantes, quando esses medicamentos forem indicados conforme cada caso clínico.

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Como a conexão entre os micro-organismos do intestino e o sistema imune pode influenciar na progressão da infecção da COVID-19 ?

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Autoimunidade e COVID-19 – A conexão microbiótica

PALMEIRA, Vanila Faber

KATZ-AGRANOV, N.; ZANDMAN-GODDARD, G. Autoimmunity and COVID-19 – The microbiotal connection. Autoimmun Rev., v. 20, n. 8, p. 102865 Ago. 2021. [Epub 10 jun. 2021] DOI: 10.1016/j.autrev.2021.102865 Disponível em: https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC8189735/pdf/main.pdf

A pandemia pelo Coronavírus 2019, também chamado de SARS-CoV-2, é responsável por diversas manifestações clínicas, que coletivamente são denominadas de COVID-19. Sabe-se que a intensidade e/ou gravidade da doença, que pode ser assintomática, leve, moderada e severa, tem relação direta com a resposta imunológica do paciente.

Devido ao fato de pacientes com COVID-19 poderem apresentar manifestações gastrointestinais, como vômitos e diarreias, a interação entre o SARS-CoV-2 e o intestino foi investigada. A coleção de micro-organismos presentes no intestino, chamada de microbioma, participa de uma complexa interação com o sistema imune do paciente hospedeiro desses micro-organismos, podendo modular o perfil entre Th1 (pró inflamatório) ou Th2 (anti-inflamatório). O objetivo do trabalho foi tentar fazer uma relação entre a infecção pelo SARS-CoV-2 com o microbioma humano e com o perfil de resposta imune, através de similaridade com o Lupus, que é uma doença autoimune. O estudo foi feito visando a desenvolver potenciais terapias que poderiam prevenir a transmissão, a progressão, e manifestações relacionadas ao sistema imune na COVID-19, por meio da manipulação da microbiota intestinal.

A imunidade de mucosa é crucial para o equilíbrio imune no organismo humanos. Através de interações entre células imunes e microbioma, ocorre modulação local e sistêmica da imunidade. As infecções virais (incluindo a COVID-19) podem quebrar a tolerância imunológica, contribuição para a ativação de células T autorreativas, e o desenvolvimento de doenças autoimunes, como por exemplo o Lupus. Neste contexto, tanto a COVID-19 como o Lupus possuem algumas características em comum, tais como um processo de inflamação descontrolada. A quantidade e/ou os tipos de micro-organismos, no intestino e/ou no pulmão, podem estar relacionados a uma maior ou menor gravidade da COVID-19. Ao mesmo tempo, a infecção pelo SARS-CoV-2 pode alterar essa composição microbiana do paciente.

Os autores discutem a possível alteração do microbioma intestinal pela presença do SARS-CoV-2, mesmo em pacientes que não apresentaram manifestações gastrointestinais; pois existe uma correlação entre pulmão e intestino, no que diz respeito ao microbioma e sua modulação imune. A infecção pelo vírus, gerando a reação inflamatória, poderia levar a uma disbiose intestinal, e consequentemente a um maior potencial inflamatório, de forma auto-alimentada. Portanto, a modulação do microbioma intestinal poderia ser utilizada como recurso de prevenção à COVID-19, bem como no tratamento auxiliar, por poder modular a resposta imune exagerada por meio de funções anti-inflamatórias e antioxidantes. Essa abordagem vale a pena ser melhor investigada, uma vez que já vem sendo utilizada em doenças autoimunes como o Lupus como uma modalidade de tratamento adjuvante e conjugado.

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Como evolui no tempo a capacidade dos anticorpos induzirem nos pacientes a destruição das células infectadas pelo virus?

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O desenvolvimento e a cinética da citotoxicidade mediada por células dependente de anticorpos funcionais (ADCC) para a proteína spike SARS-CoV-2

PALMEIRA, Vanila Faber

CHEN, X. et al. The development and kinetics of functional antibody-dependent cell-mediated cytotoxicity (ADCC) to SARS-CoV-2 spike protein. Virology., v. 559, p. 1-9, mar. 2021. DOI: 10.1016/j.virol.2021.03.009 Disponível: https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC7975276/pdf/main.pdf

A pandemia atual é causada por um Beta Coronavírus intitulado de Coronavírus 2019 (SARS-CoV-2), que é o responsável pela doença COVID-19. Esta infecção viral é capaz de induzir no hospedeiro uma resposta imunológica completa, com geração de memória através da produção de anticorpos, os quais são glicoproteínas específicas para estruturas microbianas, incluindo os vírus.

Os anticorpos representam uma forma de defesa importante contra todo tipo de infecção, incluindo as infecções virais, como a COVID-19. Dentre os papéis que os anticorpos podem desempenhar estão: neutralização, fagocitose dependente de anticorpo (tanto para células mononucleares, como os macrófagos, quanto para as células polimorfonucleares, como os neutrófilos), e também a citotoxicidade (capacidade de causar lise em células) mediada por anticorpos (tanto para célula do tipo Natural Killer {NK} quanto para linfócitos do tipo TCD8). Os autores tiveram como objetivo avaliar o desenvolvimento da citotoxicidade mediada por anticorpos contra SARS-CoV-2, através de experimentos utilizando células com super expressão da proteína S do vírus, soro de pacientes positivos para o Coronavírus 2019, e células NK de linhagens modificadas.

A citotoxicidade mediada por anticorpo (CMA) leva as células NK a liberarem substâncias, como as granzimas e as perforinas, que causam a destruição celular, a partir de seu reconhecimento de anticorpos aderidos à superfície celular. Nos experimentos conduzidos pelos autores do trabalho, as análises avaliaram, dentre outras coisas, a lise de células expressando a proteína S do SARS-CoV-2, a partir de anticorpos do soro de pacientes positivos para SARS-CoV-2. Do total de 61 pacientes positivos para SARS-CoV-2 com forma leve ou moderada de COVID-19, 56 tinham anticorpos com propriedades de CMA, e 5 deles não tinham essa propriedade, indicando que nem todo anticorpo neutralizante possui capacidade de CMA.

Os dados apresentados no trabalho mostram que a capacidade de CMA dos anticorpos contra SARS-CoV-2 começa a aumentar a partir do sétimo dia de início dos sintomas, continuando a subir até a fase de convalescência precoce (15–90 dias), e começando a diminuir após um período de 3 a 4 meses. Esses dados são consistentes com outros trabalhos que mostram essa mesma dinâmica de quantidade de anticorpo versus tempo. Esse conhecimento acerca da CMA ajuda a compreender a imunidade contra SARS-CoV-2, bem como sua proteção, podendo ser utilizado para o desenvolvimento de terapêutica e vacinas mais eficazes.

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O que sabemos até o momento sobre a fisiopatologia e a clínica da COVID-19 ?

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Uma revisão abrangente sobre os aspectos fisiopatológicos clínicos e mecanísticos da Doença COVID-19: Até onde chegamos?

PALMEIRA, Vanila Faber

SHAKAIB, B et al. A comprehensive review on clinical and mechanistic pathophysiological aspects of COVID‑19 Malady: How far have we come? Virol J., v. 18, p. 120, Jun. 2021.  DOI: 10.1186/s12985-021-01578-0 Disponível em: https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC8182739/pdf/12985_2021_Article_1578.pdf

A atual pandemia pelo Coronavírus 2019 foi incialmente comparada à gripe pelo vírus Influenza. Entretanto, logo se percebeu que se tratava de uma doença multissistêmica (que acomete vários sistemas do corpo), que foi denominada de COVID-19. Essa doença passou a ser dividida de acordo com a gravidade do quadro clínico apresentado, podendo ser leve, moderada, severa ou crítica.

O objetivo do trabalho foi discutir a ampla gama de manifestações clínicas da COVID-19 registradas na literatura, incluindo a fisiopatologia da doença, e as medidas de combate. Para isso vários trabalhos foram analisados pelos autores, e os resultados mostraram que a COVID-19 possui uma enorme variedade de sinais e sintomas, sendo que nenhum deles é patognomônico (sinal característico, específico) da doença. Essa variedade clínica está relacionada com a capacidade do Coronavírus 2019 (SARS-CoV-2) poder infectar diferentes células do corpo humano. Para isto, o vírus utiliza o receptor ECA2 (Enzima Conversora de Angiotensina 2), que está presente nas membranas de vários tipos celulares no corpo do hospedeiro. E algumas comorbidades podem piorar o quadro clínico, justamente porque ou facilitam a entrada do vírus nas células ou interferem na resposta imune do indivíduo.

No início da pandemia pelo Coronavírus 2019, os quadros clínicos detectados eram pneumonias com sintomas semelhantes à infecção pelo vírus Influenza: febre, tosse seca (sem expectoração), fadiga (cansaço). Entretanto, logo foi identificado o agente causador, um Beta Coronavírus, denominado de SARS-CoV-2, devido à semelhança genética com o SARS-CoV, que foi associado à Síndrome da Angústia Respiratória Aguda (SARA) em 2002. Logo após, outros casos foram sendo identificados, entretanto expressando diferentes apresentações clínicas, e rapidamente foi percebido pelos profissionais que este Coronavírus 2019 era capaz de infectar diferentes células do corpo humano. Desta forma, portanto, o vírus pode causar diferentes tipos de manifestações (penetração direta do vírus e/ou ativação imune, com inflamação associada), que incluem desde ausência de sintomas, até quadros muito graves, com evolução para o óbito.

Apesar da COVID-19 ser uma doença multissistêmica, e poder se apresentar com sinais e sintomas mais frequentes, ainda sim, não existe nenhum sintoma que seja típico, ou exclusivo, desta enfermidade. Isto torna imperativo que seja sempre investigada a possibilidade de ser uma infecção causada pelo Coronavírus 2019. Além disso, ainda não há medicamentos liberados para tratamento da COVID-19, sendo a prevenção e o controle da infecção os pilares da gestão da pandemia atual. As vacinas estão no centro desta discussão, desde futuras candidatas (ainda em estudos) até as que já foram aprovadas e estão em uso em todo o mundo.

A contribuição positiva do trabalho foi mostrar ao leitor a variedade de sinais e sintomas associados à COVID-19, mostrando que nenhum deles é específico da doença. Além disso, foi extremamente bem pensado colocar os endereços de consulta para o leitor sobre o manejo da doença, incluindo controle e prevenção da COVID-19, tratamento e vacinas.

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Como prever a progressão da doença COVID-19 nos pacientes e sua gravidade?

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Proteína 10 induzida por interferon-γ (IP-10) e amiloide A sérico (SAA) são excelentes biomarcadores para a previsão de progressão e gravidade de COVID-19

PALMEIRA, Vanila Faber

HAROUN, R. A.; OSMAN, W. H.; EESSA, A. M. Interferon-γ-induced protein 10 (IP-10) and serum amyloid A (SAA) are excellent biomarkers for the prediction of COVID-19 progression and severity. Life Sci. v. 269, p. 119019, Mar. 2021. [Epub 14 Jan. 2021] DOI: 10.1016/j.lfs.2021.119019 Disponível em: https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC7832132/pdf/main.pdf

A pandemia pelo novo Coronavírus 2019 é uma infecção viral causada pelo vírus causador da síndrome respiratória aguda grave (SARS-CoV-2) e que ficou conhecida como doença Coronavírus 2019 (COVID-19). Esta doença pode se apresentar por uma variedade de sinais e sintomas, que podem ser classificados em leves, moderados, intensos e críticos, podendo a pessoa doente evoluir para a morte.

A capacidade de fazer uma previsão sobre a evolução de um paciente com alguma morbidade é algo muito importante na Medicina, uma vez que pode auxiliar a equipe de saúde na tomada de decisão. Na COVID-19 o prognóstico é muito difícil de ser feito, já que cada paciente pode apresentar um quadro clínico diferente, e mesmo aqueles com os mesmos sinais e sintomas podem ter intensidade e/ou gravidade diferentes. Tendo estas variáveis em vista, os autores buscaram investigar se duas proteínas plasmáticas, que têm relação com a inflamação induzida pelo SARS-CoV-2, aumentam no curso da doença, e se isso corresponderia a gravidade do paciente.

Clinicamente a COVID-19 pode ser dividida em leve, moderada, grave ou crítica, levando-se em consideração os sinais e sintomas, além da intensidade e/ou gravidade desses. A severidade da COVID-19 parece ter uma estrita relação com o processo inflamatório induzido no indivíduo. Com a inflamação acontecendo, várias proteínas plasmáticas se elevam na corrente sanguínea, como a IP-10 (quimiocina induzida por interferon), bem como a amiloide sérica A (SAA). Estas duas proteínas foram dosadas no sangue de pacientes confirmados para SARS-CoV-2 (grupo de estudo) pelo teste de swab nasal (um cotonete longo e estéril), e em pessoas saudáveis (grupo controle).

O estudo seguiu dois caminhos: o primeiro deles consistiu na comparação entre pessoas doentes e pessoas saudáveis; e o outro caminho foi realizar a comparação dentro do próprio grupo de pacientes positivos para COVID-19, onde foram equiparados aqueles que apresentavam formas leves ou moderadas, em contraste com os pacientes graves ou críticos. Os resultados mostraram que tanto a IP-10 como a SAA aumentam de maneira significativa, quando foram comparados os soros de pacientes com COVID-19 e os de pessoas saudáveis. Além disso, os níveis plasmáticos das duas proteínas inflamatórias foram mais altos em pacientes graves ou críticos do que em pacientes leves e moderados. Tudo isto sinaliza para que essas duas proteínas possam vir a ser utilizadas tanto na classificação do paciente quanto à gravidade, quanto na sua possível evolução clínica, e essa relação possa auxiliar na tomada de decisões acerca de cada paciente.

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Variantes do virus da COVID-19 podem infectar mais?

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Variantes do SARS-CoV-2 501Y.V2 não apresentam maior infecciosidade, mas apresentam escape imunológico

PALMEIRA, Vanila Faber

QIANQIAN LI, et al. SARS-CoV-2 501Y.V2 variants lack higher infectivity but do have immune escape. Cell, v. 184, n. 9, p. 2362. Apr. 2021. DOI: 10.1016/j.cell.2021.02.042 Disponível em: https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC7901273/pdf/main.pdf

O novo Coronavírus 2019 (SARS-Cov-2), até fevereiro de 2021 já infectou mais de 100 milhões de pessoas, com mais de 2 milhões de mortes em todo o mundo. O SARS-Cov-2 é um vírus de RNA e, como tal, tem grande tendência a sofrer mutações, que levam a alterações de proteínas virais, e com isso ao surgimento de novas variantes do vírus.

Mutações são erros que acontecem na hora da replicação de um vírus, por exemplo, que leva a alterações de proteínas do vírus. Quando a mutação é favorável, ela rapidamente torna-se presente na maioria dos vírus circulantes. Desde o início da pandemia pelo SARS-Cov-2 no final de 2019, novas variantes do vírus originado em Wuhan têm sido descritas em vários locais pelo mundo. Pesquisas têm sido realizadas com o intuito de determinar se essas variantes vêm tornando-se mais infecciosas, ou são capazes de causar infecções mais graves, ou se conseguem escapar do sistema imune. No trabalho os autores foram atrás de buscar respostas para algumas dessas perguntas, em relação à variante que surgiu na África do Sul em outubro de 2020.

É importante ressaltar que, quanto mais pessoas infectadas, maior é a pressão seletiva (qualquer conjunto de condições ambientais que origina o favorecimento de determinados genes em relação a outros em determinada população) para que mutações ocorram. Por isso, regiões extensas como Brasil, África e Índia são favoráveis ao surgimento de novas variantes do SARS-Cov-2. Os autores investigaram se determinadas mutações da variante originada na África do Sul ainda seriam susceptíveis a neutralização por anticorpos monoclonais e anticorpos policlonais (obtidos de soro de pacientes convalescentes e de camundongos imunizados com vacinas). Além disso, os autores testaram para avaliar uma maior infectividade em células de origem humana e murina.

O que foi percebido pelos experimentos utilizando vírus pseudotipados (não são o SARS-Cov-2 reais circulantes, e sim uma mistura da cepa mutante com um outro vírus) foi que a infectividade aumentou para células de camundongo que super expressavam ECA2, indicando a possibilidade de ampliação de hospedeiros para o vírus. Já para células humanas, a cepa mutante não teve aumento em sua infectividade, mas teve escape do sistema imune. Esses achados sugerem uma redução na capacidade neutralizante de anticorpos monoclonais e, possivelmente, das vacinas. Os autores discutem que os anticorpos monoclonais devem ser desenhados para reconhecimento de mais resíduos, aumentando assim a afinidade de ligação e, incluindo uma maior variedade de epítopos, possibilitando o reconhecimento apesar de mutações virais. Além disso, também foi ressaltado o fato de que estudos sobre a eficiência das vacinas para a novas mutantes devem ser feitos em outros trabalhos.

 

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Como ocorrem as alterações nos tecidos orgânicos provocadas pela infecção da COVID-19 ?

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O panorama imunopatológico e histológico da lesão pulmonar mediada por COVID-19

PALMEIRA, Vanila Faber

ZARRILLI, G; et al. The Immunopathological and Histological Landscape of COVID-19-Mediated Lung Injury. Int. J. Mol. Sci., v. 22, n. 2. p. 974. Jan. 2021. DOI: 10.3390/ijms22020974 Disponível em: https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC7835817/pdf/ijms-22-00974.pdf

O SARS-CoV- 2 é o novo Coronavírus que surgiu em 2019 e é o responsável, dentre outras manifestações clínicas, pela síndrome respiratória aguda grave (SARS), que é um conjunto de sinais e sintomas respiratórios. A atual pandemia por SARS-CoV- 2 é a terceira epidemia em grande escala relacionada a Coronavírus, tendo sido a primeira em 2002 por SARS-CoV, e a segunda em 2012 por MERS.

A compreensão acerca da estrutura e da patogenicidade do Coronavírus 2019 é crucial para que medidas de prevenção e controle da infecção possam ser adotadas. Sabe-se que o SARS-CoV- 2 utiliza a enzima conversora de angiotensina 2 (ECA2) para penetrar nas células hospedeiras, e a partir daí poder se replicar. Essa ECA2 é amplamente disseminada nos tecidos humanos (fígado, intestinos, rins e sistema nervoso central), sendo muito expressa no epitélio  respiratório e endotélio  vascular. Por isso, os autores buscaram analisar amostras de tecidos de pessoas que faleceram de COVID-19 para identificar as alterações histológicas causadas por SARS-CoV- 2.

O Coronavírus 2019 pode causar danos ao hospedeiro principalmente através de quatro mecanismos, que incluem: lesão direta a células hospedeira; desregulação das vias ativadas por ECA2 (o que potencializa ativação inflamatória); danos às células endoteliais (com consequente obstrução de vasos sanguíneos e/ou perda de sua estrutura, levando a hipóxia tecidual e/ou extravasamento de líquido para os tecidos); e desregulação do sistema imune (o que leva à tempestade de citocinas e a inflamações descontroladas). Está claro para os autores que os pulmões e os vasos sanguíneos foram as estruturas de tecidos que mais apresentaram alterações histopatológicas.

Os achados histopatológicos das amostras analisadas mostram dano alveolar difuso com várias alterações teciduais, porém nenhuma delas sendo patognomônica (sinal próprio e característico de uma doença) para COVID-19. As observações feitas em outros tecidos também foram inespecíficas. Todas as alterações teciduais mostradas são, provavelmente, pela infiltração inflamatória, estando ou não a tempestade de citocinas presente. O que fica claro é que na COVID-19 ocorre lesão direta nas células dos tecidos, e também nos vasos sanguíneos, mudanças que se somam para originar as apresentações clínicas, como tromboses, edemas teciduais, indução de apoptose  celular.

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Quais as principais diferenças nas respostas do sistema imunológico ao virus?

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Respostas imunes adaptativas ao SARS-CoV-2

PALMEIRA, Vanila Faber

FORTHAL, D. Adaptive immune responses to SARS-CoV-2. Adv Drug Deliv Rev., v. 172, p. 1-8, Mai. 2021.[Epub 18 Fev. 2021]. DOI: 10.1016/j.addr.2021.02.009 Disponível em: https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC7891074/pdf/main.pdf

A resposta imune contra qualquer vírus depende da capacidade individual de estimulações dos diferentes leucócitos. Na COVID-19 (infecção causada pelo Coronavírus 2019 – SARS-CoV-2) não é diferente das demais viroses. Por este motivo, o conhecimento acerca das diferentes respostas imunológicas para as estruturas virais se faz imprescindível para a compreensão das ações na prevenção, no controle da infecção e/ou na possível patogênese.

A resposta imunológica adquirida (ou adaptativa) é responsável pela geração de memória imunológica, que nos protege em infecções futuras. A resposta imune antiviral se baseia primeiramente em uma resposta com células T auxiliares (TCD4+), que segue principalmente dois caminhos: Th1 (que leva à ativação de TCD8+) e Th2 (que leva à ativação de célula B e produção de anticorpos). A resposta antiviral mais efetiva se baseia primeiramente no caminho Th1 com controle da replicação viral, seguida do caminho Th2 com produção de anticorpos neutralizantes e proteção contra encontros futuros com o mesmo vírus. Tudo isso se aplica à COVID-19, porém muitos aspectos desses caminhos continuam obscuros frente à pandemia atual.

Na COVID-19 as formas graves estão principalmente associadas a um perfil Th2 somado a uma resposta Th1 reduzida, o que levaria a uma maior carga viral, uma vez que os anticorpos não seriam em sua maioria neutralizantes do vírus. Por outro lado, alguns autores discutem que, se o paciente montar uma resposta baseada em TCD8 mais intensa, esse processo poderia ser o responsável por uma maior lesão tecidual, a qual cursaria com maior gravidade clínica. Há autores, ainda, que discutem que, nas formas graves de COVID-19, as subpopulações de linfócitos Th2 são diferentes das encontradas nas formas mais leves da doença. Todos esses estudos têm que ser vistos com muita cautela, pois utilizam-se de amostras pequenas e tempos de infecção desconhecidos. Porém, todos os pesquisadores discutem se as células T são: úteis, prejudiciais ou ambos, para a CPVID-19.

A produção de memória imune para o SARS-CoV-2 parece envolver tanto o caminho Th1 quanto o caminho Th2 com produção de anticorpos, tanto IgM quanto IgG e IgA. Esses distintos tipos de anticorpos parecem ser diferentes entre si, sendo produzidos para vários epítopos do vírus, e podendo ser neutralizantes ou não. Parece existir uma resposta cruzada entre anticorpos contra outros vírus, como vírus influenza ou coronavírus comum (do resfriado). Só não se sabe se esta resposta é benéfica ou não. Alguns estudos mostraram que os perfis de anticorpos produzidos por crianças e adultos são diferentes, parecendo que em crianças eles são mais protetores para evitar infecções. Os anticorpos mais neutralizantes parecem ser os produzidos contra a proteína S, que evitam a ligação do SARS-CoV-2 à ECA2. Enfim, a memória imune na COVID-19 está totalmente vinculada aos dois braços da resposta adquirida: Th1 e Th2; e resta saber até onde essa resposta é protetora, e a partir de que condição ela se torna prejudicial.

Esta resenha pertence ao grupo sobre:

O tipo de sangue pode aumentar ou diminuir os riscos na infecção da COVID-19 ?

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Fenótipo ABO e infecção por SARS-CoV-2: Existe alguma correlação ?

D’AVILA, Joana

MATHEW, A.; et al. ABO phenotype and SARS-CoV-2 infection: Is there any correlation? 
Infection, Genetics and Evolution
., v. 90, p. 104751, Jun. 2021[Epub 2 Feb 2021]. DOI: 10.1016/j.meegid.2021.104751 Disponível em: https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/33540085/

Desde o início da pandemia de COVID-19, em março de 2020, diversos estudos vêm demonstrando associações entre determinados grupos sanguíneos e a COVID-19. Mas será que o nosso tipo sanguíneo pode proteger ou aumentar o risco de infecção pelo vírus SARS-CoV-2?

O sistema de grupos sanguíneos ABO, também conhecido como lei de Landstein, consiste em antígenos expressos na membrana das nossas hemácias e outras células, que podem ser do tipo A ou B. Indivíduos podem expressar apenas o antígeno A (tipo A), apenas o antígeno B (tipo B), ambos os antígenos (tipo AB) ou nenhum antígeno (tipo O). Indivíduos tipo A possuem anticorpos naturais contra o antígeno B, e indivíduos tipo B possuem anticorpos contra o antígeno A. Indivíduos do tipo AB não possuem esses anticorpos naturais, e os do tipo O possuem anticorpos contra ambos os antígenos A e B.

Na prática, saber o tipo sanguíneo é importante, pois a pessoa com sangue tipo A rejeita o sangue tipo B, e vice-versa. Já pessoas com sangue tipo O rejeitam sangues dos tipos A, B ou AB. Entretanto, a importância clínica do sistema ABO vai além da questão de compatibilidade para transfusão sanguínea, podendo influenciar também a progressão de infecções, doenças cardiovasculares e câncer.

Alguns estudos indicaram que a proporção de indivíduos com sangue tipo A era maior entre os pacientes com COVID-19, enquanto a proporção de indivíduos com sangue tipo O era menor. O antígeno A é uma glicoproteína que pode interagir com outras glicoproteínas, presentes tanto na membrana da célula hospedeira quanto na proteína S do SARS-CoV-2, facilitando a interação do vírus com a célula hospedeira. Além disso, outros estudos demonstraram que os anticorpos naturais contra o antígeno A podem funcionar como anticorpos neutralizantes, restringindo a ligação do SARS-CoV-2 ao seu receptor na célula hospedeira. Os resultados desses estudos explicam por que pessoas de sangue tipo A seriam mais suscetíveis à COVID-19.

Fatores de coagulação, como o Fator VIII (FVIII) e o fator de von Willebrand (FvW) também estão relacionados aos grupos sanguíneos ABO. O risco de trombose e de embolia pulmonar é maior quando os níveis desses fatores se encontram elevados no plasma. O tromboembolismo pulmonar é uma das mais prevalentes e graves complicações da COVID-19, pois impede o fluxo sanguíneo aos pulmões, dificultando a respiração. Estudos mostraram que indivíduos do tipo O possuem menores níveis de FVIII e FvW, portanto possuem menor risco de desenvolver tromboembolismo.

Este conjunto de dados fornece alguma base científica para explicar porque as pessoas do tipo sanguíneo O seriam menos suscetíveis à COVID-19 e suas complicações, e porque pessoas do tipo sanguíneo A teriam maior risco de desenvolver COVID-19.

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Qual a relação entre obesidade e tendência a inflamação e redução da imunidade em crianças?

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Associação entre os níveis circulantes de furina, obesidade e marcadores pró-inflamatórios em crianças

FAULHABER, Maria Cristina Brito

SWÄRD, P. et al. Association between circulating furin levels, obesity and pro-inflammatory markers in children. Acta Paediatr. Jan. 2021 [Epub ahead of print]. Doi: 10.1111/apa.15774. Disponível em: https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/33486829/

Hoje sabe-se que a obesidade é o segundo maior fator de risco para a gravidade da doença por coronavírus, atrás apenas da idade. O artigo investiga associações entre níveis séricos de furina, obesidade, sobrepeso, gordura corporal, triglicerídeos e marcadores pró-inflamatórios de tecido adiposo ou inflamação sistêmica em uma coorte de crianças, de base populacional sueca. O estudo prospectivo POP (The Pediatric Osteoporosis Prevention) incluiu crianças de quatro comunidades próximas entre si e com nível socioeconômico similar. Participaram 349 crianças, sendo 192 meninos, com idade média de 7,7 anos. Quando atingiram os 9,9 anos de idade, 173 crianças forneceram amostras de sangue venoso para exames, sendo 166 resultados elegíveis para estudo.

Aferiu-se peso, altura e foi calculado o Índice de Massa Corporal (IMC = peso em kg / altura em metros2). Conforme os valores do IMC, as crianças foram classificadas em peso baixo a normal, sobrepeso, ou obesas, de acordo com o IOTF (International Obesity Task Force BMI cut-offs). A massa de gordura corporal total, a massa de gordura do tronco e o total de massa magra corporal foram aferidos por DXA (dual energy X-ray absorptiometry).

Foram dosados laboratorialmente Proteína C Reativa ultrassensível (PCRus), triglicerídeos, furina, leptina, proteína de ligação a ácidos graxos (adipocyte fatty acid binding protein →A-FABP), interleucinas IL6 e IL8. Todos esses marcadores podem estar alterados na vigência de uma inflamação sistêmica e estão associados com aumento do risco de resistência à insulina, com diabetes mellitus tipo 2 e com a progressão da aterosclerose.

A enzima furina é uma protease encontrada em grande quantidade no tecido pulmonar e é usada na clivagem de proteínas. Estudos sugerem que o SARS-Cov-2 usa esse caminho para remodelar suas principais proteínas virais e entrar nas células humanas. Quando essa enzima está em maior quantidade que o habitual ocorre uma capacidade maior de infectar células e do vírus fazer cópias de si mesmo. Níveis circulantes de furina em adultos de meia idade estão positivamente correlacionados com o IMC, com a síndrome metabólica e com um aumento da mortalidade e do risco de diabetes. Seus níveis estão ainda positivamente associados com os níveis de glicose, insulina e colesterol LDL, e negativamente com aos níveis de colesterol HDL.

Estatisticamente foi usada a correlação parcial de Pearson ajustada para idade e sexo, para investigar correlações entre níveis séricos de furina, a antropometria e outros marcadores séricos.

Constatou-se que os níveis circulantes de furina foram mais elevados em crianças com obesidade (62%) e sobrepeso (15%), em comparação com aquelas de peso baixo a normal. Houve correlações positivas entre furina circulante, IMC, massa de gordura corporal total, massa de gordura do tronco, percentual de gordura corporal, triglicerídeos, adipocinas (A-FABP e leptina) e marcadores pró-inflamatórios (IL-6 e PCRus). Não se observou correlações estatisticamente significativas entre furina e IL-8.

A obesidade leva o organismo a um processo inflamatório crônico, o que reduz as defesas contra o vírus. Além disso, as células gordurosas têm uma tendência a capturar os vírus da COVID-19 e mantê-los presos na corrente sanguínea por mais tempo. Isso prolonga o tempo de infecção nos pacientes obesos. Frequentemente pacientes obesos têm menor capacidade respiratória (apnéia do sono, maior cansaço, etc.), aumentando a probabilidade de evolução para quadros respiratórios mais graves.

Os resultados do presente estudo sugerem que níveis mais elevados de furina circulante podem ser uma ligação entre obesidade, entrada do vírus nas células pulmonares e COVID-19 grave em crianças.

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