Evidências Covid 19

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Quais as alterações mais frequentes após a COVID-19 e suas implicações?

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Perfil Metabólico Sérico em Pacientes com Síndrome de Pós-COVID (PASC): Implicações Clínicas

D’AVILA, Joana

PASINI, E. et al. Serum Metabolic Profile in Patients with Long-Covid (PASC) Syndrome: Clinical Implications.        Frontiers in Medicine, v. 8, n. 714426, Jul. 2021 Disponível em: https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/34368201/

A síndrome pós-COVID é uma condição clínica na qual alguns sintomas da infecção por coronavírus continuam a se manifestar mesmo após o vírus deixar o corpo, sendo as alterações mais comuns fadiga, fraqueza muscular e falta de ar. Os sintomas podem persistir por um período até seis meses após a recuperação total da fase aguda da infecção. No entanto, o conhecimento sobre a fisiopatologia e os biomarcadores desta síndrome que se desenvolve após a fase aguda da doença ainda é limitado, e o objetivo deste estudo foi investigar os marcadores no sangue de pacientes presentes na síndrome pós-COVID.

Os pesquisadores avaliaram setenta e cinco pacientes com idade média de 72 ± 7 anos, que foram hospitalizados com diagnóstico confirmado de COVID-19. Foram selecionados os pacientes que relataram os sintomas de fadiga, fraqueza muscular ou falta de ar, que se manifestavam após a COVID-19 e que estavam ausentes antes da infecção causada pelo vírus, e também que não estavam associados a outras doenças ou condições clínicas.

Os pacientes foram avaliados por um período de dois meses após receberem a alta hospitalar e os exames de sangue mostraram que todos apresentaram concentrações séricas muito altas de ferritina e D-dímero; a maioria dos pacientes tinha níveis baixos de hemoglobina e albumina, e também apresentavam elevações na velocidade de hemossedimentação e na PCR (proteína C reativa) – estes dois últimos constituindo marcadores da presença de inflamação. Os sintomas relatados coexistiam com os marcadores sanguíneos dos processos de coagulação e inflamação, que permaneceram elevados no período pós-COVID.

Os autores discutem sobre o fato de que a persistência de um estado inflamatório crônico altera o metabolismo dos pacientes e também está associado aos sintomas tardios da doença. Altos níveis de D-dímero no sangue aumentam o risco de doença tromboembólica a longo prazo. Portanto, os autores recomendam o monitoramento laboratorial precoce dos níveis sanguíneos desses marcadores para poder estabelecer a melhor conduta de profilaxia para cada paciente. A terapia pode envolver a utilização de anti-inflamatórios e / ou anticoagulantes, quando esses medicamentos forem indicados conforme cada caso clínico.

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A COVID-19 pode originar sequelas após a recuperação da fase aguda da doença?

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Sequelas Cardio-Pulmonares em Pacientes Recuperados de COVID-19: Considerações para a Atenção Primária

MARRA, Flavio Maciel

SARFRAZ, Z. et al. Cardio-Pulmonary Sequelae in Recovered COVID-19 Patients: Considerations for Primary Care. J Prim Care Community Health. v. 12, p. 1-14, Jun. 2021. Doi: 10.1177/21501327211023726. Disponível em:  https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/34096390/

A COVID-19 pode se apresentar de inúmeras formas clínicas, incluindo sequelas pós-recuperação, sobretudo as complicações respiratórias e cardiovasculares graves que podem cursar com alta mortalidade. 

Nesta revisão sistemática, realizada de dezembro de 2019 a dezembro de 2020, uma lista final de 29 artigos foi gerada, a partir de 1.091 estudos publicados. Predominaram os estudos da China (37,9%) e dos Estados Unidos (24,1%). O número total de pacientes incluídos foi 655, com idade média de 45 anos. 

Dos 29 artigos selecionados, 14 relataram o curso clínico com complicações pulmonares. A principal complicação durante a internação hospitalar foi uma insuficiência respiratória. A maioria dos pacientes descreveu falta de ar, sintomas semelhantes aos do trato respiratório superior e dispneia, como sendo as principais manifestações. O tratamento foi fornecido com detalhes em 12 estudos, abrangendo suporte de oxigênio, antivirais, antibióticos, corticosteroides e anticoagulantes.

Apenas 5 estudos relataram complicações cardiovasculares, sendo um deles relativo a uma população de COVID-19 grave. Dor torácica, falta de ar e dor torácica foram observadas em pacientes desses grupos com idade equivalente a 50 anos ou menos. Os pacientes também apresentavam marcadores inflamatórios cardíacos elevados, de forma recorrente, e 60% dos casos apresentavam lesões visíveis por Ressonância Magnética Cardíaca, com diagnóstico de miocardite em 3 estudos.  Tratamentos durante a internação hospitalar não foram relatados, exceto em um deles, que relatou gerenciamento de suporte antiviral, de antibiótico e de oxigênio durante a internação. 

As complicações cardiopulmonares precisam de cuidados multi-especializados e acompanhamento, também no período pós-agudo da COVID-19.  O acompanhamento de pacientes clinicamente recuperados com estudos de imagem cardiopulmonar pode ser crucial para a avaliação de eventos adversos causados ​​pela infecção por SARS-CoV-2. Os cuidados de saúde primários constituem uma base crítica para a manutenção do apoio oportuno e eficaz durante a pandemia COVID-19.

O artigo conclui que as complicações são frequentemente observadas em pacientes em processo de recuperação de COVID-19, variando de condições leves a estados de saúde com risco de vida. Os sintomas podem se manifestar em qualquer órgão do corpo; no entanto, os mais comuns incluem tosse (seca versus produtiva), febre e fadiga. Para melhorar os resultados dos pacientes, é essencial adotar um padrão de atendimento de reabilitação interprofissional, promovendo tecnologias remotas, consultas de telessaúde com um médico de atenção primária, e adotando soluções de outra forma localmente relevantes.

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Quais os motivos de preocupação decorrentes das manifestações do Coronavírus 2019 no sistema cardiovascular?

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Complicações Cardiovasculares da COVID-19 e Preocupações Associadas: Uma Revisão

PALMEIRA, Vanila Faber

YU, W. L.; et al. Cardiovascular Complications of COVID-19 and Associated Concerns: A Review. Acta Cardiol Sin. v. 37. n. 1. p. 9-17. Jan. 2021. DOI: 10.6515/ACS.202101_37(1).20200913A Disponível em: https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC7814323/pdf/acs-37-009.pdf

A infecção causada pelo Coronavírus 2019, que origina clinicamente a COVID-19, pode apresentar manifestações cardiovasculares, como dor torácica e arritmias, além de outros sintomas. Pacientes com morbidades cardiovasculares prévias são grupo de risco para manifestações graves da COVID-19. Além disso, vários pacientes passaram a apresentar alterações cardiovasculares após recuperação da infecção pelo Coronavírus 2019, mesmo não tendo manifestado nada previamente.

O Coronavírus 2019 liga sua proteína de superfície, chamada de proteína S, à ECA2 (Enzima Conversora de Angiotensina 2), que está presente na superfície de células humanas, para desta forma se tornar intracelular e, assim poder se replicar, gerando novos vírus. A ECA2 está presente em uma grande variedade de tecidos, como pulmonar, cardíaco e endotelial (vasos sanguíneos). Muitos dados acerca de manifestações cardiovasculares em pacientes com COVID-19 têm sido publicados, envolvendo pessoas com morbidades cardiovasculares subjacentes, que apresentam formas mais graves da doença, bem como pessoas que previamente não possuíam nenhuma alteração cardiovascular e ficaram com sequelas após COVID-19. Portanto, o objetivo dos autores foi tentar resumir esses dados sobre alterações cardiovasculares decorrentes da virose, incluindo mecanismos de lesão miocárdica e tratamentos.

Muitos dados publicados desde o início da pandemia de COVID-19 têm demonstrado o envolvimento do sistema cardiovascular (coração e vasos sanguíneos), seja como fator de risco para as formas mais graves de COVID-19 naqueles pacientes com doenças cardiovasculares prévias, seja como uma consequência de sequela em pessoas sem nenhuma morbidade anterior à COVID-19. O que se sabe é que o Coronavírus 2019 consegue se replicar no interior dos miócitos e das células endoteliais, causando lesão direta nessas células. Além disso, a tempestade de citocinas causada pelo Coronavírus 2019 também leva a uma disfunção cardiovascular, que pode inclusive deixar sequelas posteriores.

A capacidade de lesionar células do coração e dos vasos sanguíneos precisa ser mais bem analisada e compreendida pela comunidade científica, pois os dados ainda estão muito controversos em determinados pontos. A compreensão acerca das alterações cardiovasculares faz-se necessária, não somente pela fisiopatologia do Coronavírus 2019, mas também no que tange aos tratamentos propostos para COVID-19, todos ainda em estudo. Já foi discutido em vários trabalhos que muitos tratamentos, seja com antivirais ou imunomoduladores, podem ter efeitos adversos no sistema cardiovascular, podendo potencializar os danos causados pela COVID-19.

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Como está evoluindo a inovação tecnológica para diagnóstico rápido da COVID-19 ?

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Um diagnóstico rápido de SARS-CoV-2 usando formação de hidrogel de DNA em poros microfluídicos

MONTEIRO, Elisabeth Costa

KIM, Hwang-soo; ABBAS, Naseem; SHIN, Sehyun. A rapid diagnosis of SARS-CoV-2 using DNA hydrogel formation on microfluidic pores. Biosensors and Bioelectronics., v. 177, p. 113005, Apr. 2021, [Epub 18 Jan. 2021]. DOI: 10.1016/j.bios.2021.113005. Disponível em:  https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/33486135/ 

Para atender às demandas relativas ao enfrentamento da COVID-19, o trabalho apresenta um biossensor microfluídico, portátil, rápido e ultrassensível. O sistema pode ser utilizado no local de atendimento e é capaz de detectar seletivamente SARS-CoV-2 em poucos minutos, com excelente limite de detecção (LOD).

Com a semelhança entre sintomas da COVID-19 e da gripe comum, o diagnóstico precoce requer análises laboratoriais rápidas, de alta precisão molecular e de baixo custo. Muitas estratégias que foram introduzidas, como a transcrição reversa seguida de reação em cadeia da polimerase quantitativa em tempo real (RT-qPCR) e a detecção baseada em anticorpos, apresentam limitações, tais como a baixa sensibilidade dos imunoensaios e sua dependência de anticorpo específico, além da complexidade laboratorial da RT-qPCR. Assim, o desenvolvimento de metodologia para detecção rápida, precisa, de baixo custo, para diagnóstico no local de atendimento, é uma demanda relevante para o manejo da COVID-19.

O desenvolvimento de várias técnicas de amplificação isotérmica, como a mediada por loop (LAMP), o processo de amplificação inteligente, a amplificação em círculo rolante (RCA), foi impulsionado devido ao desempenho, rapidez, sensibilidade, e quantificação confiável. Estudos recentes usando LAMP para detecção de COVID-19 indicaram duração e LOD inadequados. Apesar de progressos do RCA com o emprego de sonda cadeado, em forma de haltere, as investigações apresentaram limitações de tempo e de LOD. O presente trabalho descreve um sistema microfluídico inovador, para detecção rápida e ultrassensível de SARS-CoV-2 em tempo curto, utilizando muito baixas concentrações de DNA.

O estudo envolve várias etapas validadas. A imobilização de primers na superfície de uma rede de náilon permitiu sua combinação a uma sonda fluorescente, produzindo imagens brilhantes. O tubo ao qual a rede é afixada conecta-se à plataforma microfluídica e, via RCA, forma-se um hidrogel de DNA que bloqueia os microporos da malha fina e interrompe o fluxo de microflúidos hidrostáticos sensíveis. A viscosidade foi avaliada por reometria microfluídica. Para confirmar a especificidade da detecção do patógeno, dois modelos de vírus diferentes (SARS-CoV-2 e vírus da dengue) foram examinados com a sonda cadeado.

Um biossensor microfluídico portátil, rápido e ultrassensível foi projetado para detecção específica de COVID-19.  O sistema microfluídico equipado com um tubo contendo modelo de DNA de SARS-CoV-2, com incubação do patógeno COVID-19 por 30 min, gerou, por RCA, hidrogel de DNA suficiente para interromper o fluxo, que não se alterou para outros patógenos comparativamente mediante o mesmo tempo de incubação. Os resultados indicam que o sistema desenvolvido pode detectar seletivamente SARS-CoV-2, sem reação cruzada com DNA de outros patógenos, alcançando LOD de 3 attomols de DNA por litro após 15 min de análise, ou 30 attomols por litro após 5 min.

O desempenho da técnica RCA foi maximizada para detectar COVID-19 com o emprego de uma rede onde o gel de DNA é formado, bloqueando rápida e facilmente o fluxo no tubo conectado à malha. Com área de superfície mínima e homogeneização contínua, maior número de moléculas do patógeno são anexadas. A alta densidade da rede reduz drasticamente a quantidade de hidrogel de DNA necessária para bloquear o fluxo, possibilitando detectar SARS-CoV-2 com LOD excelente em poucos minutos. O sistema microfluídico portátil desenvolvido pode ser utilizado em aeroportos e outros locais de maior disseminação de doenças infecciosas.

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Como a conexão entre os micro-organismos do intestino e o sistema imune pode influenciar na progressão da infecção da COVID-19 ?

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Autoimunidade e COVID-19 – A conexão microbiótica

PALMEIRA, Vanila Faber

KATZ-AGRANOV, N.; ZANDMAN-GODDARD, G. Autoimmunity and COVID-19 – The microbiotal connection. Autoimmun Rev., v. 20, n. 8, p. 102865 Ago. 2021. [Epub 10 jun. 2021] DOI: 10.1016/j.autrev.2021.102865 Disponível em: https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC8189735/pdf/main.pdf

A pandemia pelo Coronavírus 2019, também chamado de SARS-CoV-2, é responsável por diversas manifestações clínicas, que coletivamente são denominadas de COVID-19. Sabe-se que a intensidade e/ou gravidade da doença, que pode ser assintomática, leve, moderada e severa, tem relação direta com a resposta imunológica do paciente.

Devido ao fato de pacientes com COVID-19 poderem apresentar manifestações gastrointestinais, como vômitos e diarreias, a interação entre o SARS-CoV-2 e o intestino foi investigada. A coleção de micro-organismos presentes no intestino, chamada de microbioma, participa de uma complexa interação com o sistema imune do paciente hospedeiro desses micro-organismos, podendo modular o perfil entre Th1 (pró inflamatório) ou Th2 (anti-inflamatório). O objetivo do trabalho foi tentar fazer uma relação entre a infecção pelo SARS-CoV-2 com o microbioma humano e com o perfil de resposta imune, através de similaridade com o Lupus, que é uma doença autoimune. O estudo foi feito visando a desenvolver potenciais terapias que poderiam prevenir a transmissão, a progressão, e manifestações relacionadas ao sistema imune na COVID-19, por meio da manipulação da microbiota intestinal.

A imunidade de mucosa é crucial para o equilíbrio imune no organismo humanos. Através de interações entre células imunes e microbioma, ocorre modulação local e sistêmica da imunidade. As infecções virais (incluindo a COVID-19) podem quebrar a tolerância imunológica, contribuição para a ativação de células T autorreativas, e o desenvolvimento de doenças autoimunes, como por exemplo o Lupus. Neste contexto, tanto a COVID-19 como o Lupus possuem algumas características em comum, tais como um processo de inflamação descontrolada. A quantidade e/ou os tipos de micro-organismos, no intestino e/ou no pulmão, podem estar relacionados a uma maior ou menor gravidade da COVID-19. Ao mesmo tempo, a infecção pelo SARS-CoV-2 pode alterar essa composição microbiana do paciente.

Os autores discutem a possível alteração do microbioma intestinal pela presença do SARS-CoV-2, mesmo em pacientes que não apresentaram manifestações gastrointestinais; pois existe uma correlação entre pulmão e intestino, no que diz respeito ao microbioma e sua modulação imune. A infecção pelo vírus, gerando a reação inflamatória, poderia levar a uma disbiose intestinal, e consequentemente a um maior potencial inflamatório, de forma auto-alimentada. Portanto, a modulação do microbioma intestinal poderia ser utilizada como recurso de prevenção à COVID-19, bem como no tratamento auxiliar, por poder modular a resposta imune exagerada por meio de funções anti-inflamatórias e antioxidantes. Essa abordagem vale a pena ser melhor investigada, uma vez que já vem sendo utilizada em doenças autoimunes como o Lupus como uma modalidade de tratamento adjuvante e conjugado.

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Como a análise das evidências de fatores populacionais pode contribuir para aprimorar as estratégias das intervenções sociais de saúde pública?

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Análise ajustada da população idade-sexo da gravidade da doença em epidemias como ferramenta para elaborar políticas de saúde pública para COVID-19

LETICHEVSKY, Sonia

CANNISTRACI, C. V.; VALSECCHI, M. G.; CAPUA, I. Age‑sex population adjusted analysis of disease severity in epidemics as a tool to devise public health policies for COVID‑19. Scientific Reports v. 11, n.1, p. 11787, Jun. 2021. DOI: 10.1038/s41598-021-89615-4 Disponível em: https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/34083555/

No início do surto de COVID-19, não existiam conhecimentos sobre a natureza do patógeno, taxa de disseminação e progressão clínica da doença. A estratégia de lockdown, caracterizada por restrições intensas da população em geral, era a solução disponível para evitar a disseminação do vírus. Este método foi aplicado por diversos países e se mostrou determinante, porém causou consequências que ainda nem são totalmente conhecidas, tornando difícil planejar uma estratégia de retorno e recuperação pós lockdown. A velocidade e a extensão da disseminação da COVID-19 que levou ao status de pandemia desafiou muitos sistemas de saúde; alguns países, ainda em 2021, estavam enfrentando uma crise sanitária.

Os autores investigaram o efeito sinergético de idade e sexo na severidade da COVID-19, usando dados da Itália, Espanha e Alemanha. Foi proposta uma categorização de risco para a propensão em desenvolver a forma severa de COVID-19 que requeira internação ou um indicativo de maior risco de morte. O estudo visou fornecer um guia sobre elementos que podem suportar uma estratégia baseada em evidências e identificar lacunas de conhecimentos que podem ser preenchidas através de uma coleta e uma análise de dados otimizadas e aceleradas. O método proposto tem a vantagem de usar variáveis disponíveis diariamente ou semanalmente, permitindo o monitoramento do efeito das decisões de saúde pública a curto prazo, com a possibilidade de repetir estas medidas ao longo do tempo para avaliar a dinâmica e o impacto epidêmicos e enfrentar as próximas fases da pandemia de COVID-19.

Os autores sugerem equilibrar a necessidade de manter as pessoas seguras e reduzir a restrição generalizada para evitar efeitos socioeconômicos negativos. Sendo assim, os autores propõem que as intervenções sociais devem ser adaptadas, isto é, categorias de idade com maior risco devem ser protegidas com intervenções sociais diferentes daquelas de outras categorias com menor risco. Os autores consideram que lockdown generalizado é inapropriado do ponto de vista de custo-benefício, porque restringem todos os indivíduos independentemente do risco de serem afetados por uma forma severa de COVID-19. Além disso, defendem que o design de novas estratégias de intervenções para a COVID-19 pode contribuir para salvar vidas humanas e reduzir os custos de saúde, além de facilitar um retorno mais rápido visando à sustentabilidade econômica.

Os autores concluíram que indivíduos de 0 a 40 anos e mulheres com menos de 60 anos estão menos propensos a desenvolver casos graves e morrer, enquanto homens de 60 anos ou mais têm maior risco de gravidade e morte. Além disso, as necessidades dos homens são significativamente maiores do que das mulheres, independentemente da idade. Isto se reflete nos maiores custos com saúde. Sendo assim, implementar protocolos mais específicos é uma ótima oportunidade para a saúde pública.

Os autores mencionam que, para aprimorar o estudo, mais países deveriam ser analisados, já que se trata de uma pandemia. O problema é que os dados usados nem sempre estão disponíveis e na forma adequada para este estudo. Os autores reforçam o uso de dados contendo idade e sexo, pois o microbioma humano é significativamente dependente destes fatores.

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Como evolui no tempo a capacidade dos anticorpos induzirem nos pacientes a destruição das células infectadas pelo virus?

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O desenvolvimento e a cinética da citotoxicidade mediada por células dependente de anticorpos funcionais (ADCC) para a proteína spike SARS-CoV-2

PALMEIRA, Vanila Faber

CHEN, X. et al. The development and kinetics of functional antibody-dependent cell-mediated cytotoxicity (ADCC) to SARS-CoV-2 spike protein. Virology., v. 559, p. 1-9, mar. 2021. DOI: 10.1016/j.virol.2021.03.009 Disponível: https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC7975276/pdf/main.pdf

A pandemia atual é causada por um Beta Coronavírus intitulado de Coronavírus 2019 (SARS-CoV-2), que é o responsável pela doença COVID-19. Esta infecção viral é capaz de induzir no hospedeiro uma resposta imunológica completa, com geração de memória através da produção de anticorpos, os quais são glicoproteínas específicas para estruturas microbianas, incluindo os vírus.

Os anticorpos representam uma forma de defesa importante contra todo tipo de infecção, incluindo as infecções virais, como a COVID-19. Dentre os papéis que os anticorpos podem desempenhar estão: neutralização, fagocitose dependente de anticorpo (tanto para células mononucleares, como os macrófagos, quanto para as células polimorfonucleares, como os neutrófilos), e também a citotoxicidade (capacidade de causar lise em células) mediada por anticorpos (tanto para célula do tipo Natural Killer {NK} quanto para linfócitos do tipo TCD8). Os autores tiveram como objetivo avaliar o desenvolvimento da citotoxicidade mediada por anticorpos contra SARS-CoV-2, através de experimentos utilizando células com super expressão da proteína S do vírus, soro de pacientes positivos para o Coronavírus 2019, e células NK de linhagens modificadas.

A citotoxicidade mediada por anticorpo (CMA) leva as células NK a liberarem substâncias, como as granzimas e as perforinas, que causam a destruição celular, a partir de seu reconhecimento de anticorpos aderidos à superfície celular. Nos experimentos conduzidos pelos autores do trabalho, as análises avaliaram, dentre outras coisas, a lise de células expressando a proteína S do SARS-CoV-2, a partir de anticorpos do soro de pacientes positivos para SARS-CoV-2. Do total de 61 pacientes positivos para SARS-CoV-2 com forma leve ou moderada de COVID-19, 56 tinham anticorpos com propriedades de CMA, e 5 deles não tinham essa propriedade, indicando que nem todo anticorpo neutralizante possui capacidade de CMA.

Os dados apresentados no trabalho mostram que a capacidade de CMA dos anticorpos contra SARS-CoV-2 começa a aumentar a partir do sétimo dia de início dos sintomas, continuando a subir até a fase de convalescência precoce (15–90 dias), e começando a diminuir após um período de 3 a 4 meses. Esses dados são consistentes com outros trabalhos que mostram essa mesma dinâmica de quantidade de anticorpo versus tempo. Esse conhecimento acerca da CMA ajuda a compreender a imunidade contra SARS-CoV-2, bem como sua proteção, podendo ser utilizado para o desenvolvimento de terapêutica e vacinas mais eficazes.

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Como a pandemia da COVID-19 afetou a saúde das grávidas e dos seus bebês?

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Efeitos da pandemia de COVID-19 nos desfechos maternos e perinatais: uma revisão sistemática e meta-análise

D’AVILA, Joana

CHMIELEWSKA, B. et al.   Effects of the COVID-19 pandemic on maternal and perinatal outcomes: a systematic review and meta-analysis. The Lancet Global Health v. 9, n. 6, p. E759-E772       Jun. 2021    Disponível em: https://www.thelancet.com/journals/langlo/article/PIIS2214-109X(21)00079-6/fulltext

A pandemia da COVID-19 teve um impacto profundo nos sistemas de saúde, nas estruturas sociais e na economia mundial, afetando negativamente a qualidade de vida da população como um todo em inúmeros países de todos os continentes. A interrupção de serviços e o medo de se dirigir a centros de saúde também podem ter afetado de modo importante a qualidade de vida das gestantes e de seus respectivos bebês.

O objetivo do presente estudo foi avaliar os efeitos colaterais da pandemia da COVID-19 sobre a saúde materna, fetal e neonatal.

Para realizar essa investigação foi desenvolvida uma revisão sistemática da literatura acompanhada de uma meta-análise dos estudos selecionados sobre os efeitos da pandemia de COVID-19 na saúde das mães e dos seus bebês. Foram avaliados após a seleção um total de 40 estudos, incluindo pesquisas com desenho metodológico de caso-controle, de estudos de coorte e de relatórios breves, considerando os resultados de mortalidade materna e perinatal, de morbidade materna, de complicações na gravidez e também de desfechos intraparto e neonatais, no período de 1º de janeiro de 2020 a 8 de janeiro de 2021.

A revisão sistemática identificou aumentos significativos de morte materna (identificados em 2 estudos, ambos de países de baixa e média renda) e de natimortos (em 12 estudos) durante a pandemia. Houve piora da saúde mental materna durante a pandemia, indicada pelo aumento das pontuações médias da Escala de Depressão Pós-natal de Edimburgo com taxas mais altas. As gestações ectópicas que foram tratadas cirurgicamente também sofreram um aumento durante a pandemia (em 3 estudos). Entretanto, os nascimentos prematuros diminuíram em países de alta renda (em 12 estudos).

A saúde global, tanto materna quanto fetal, piorou durante a pandemia da COVID-19, com um aumento de mortes maternas e de natimortos, com a presença de rupturas de gravidez ectópica e também depressão materna, especialmente em populações de mais baixa renda. O presente estudo chama a atenção para a necessidade urgente de se priorizar os cuidados maternos, para aumentar a segurança, a acessibilidade e a equidade do acesso à saúde nessa população.

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Como a perda de olfato e paladar pode afetar emocionalmente as pessoas acometidas por COVID-19 ?

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Investigação sobre a perda do paladar e do olfato e os efeitos psicológicos consequentes: um estudo transversal em profissionais da saúde que contraíram a infecção COVID-19

DOLINSKY, Luciana

DUDINE, L. et al. Investigation on the Loss of Taste and Smell and Consequent Psychological Effects: A Cross-Sectional Study on Healthcare Workers Who Contracted the COVID-19 Infection. Front Public Health, v.9, article 666442, May 2021. DOI:10.3389/fpubh.2021.666442. Disponível em: https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/34123991

O artigo analisa a correlação entre o estresse e as alterações no olfato e paladar de trabalhadores da saúde, da região norte da Itália, que contraíram a COVID-19 no meio do surto da patologia em 2020.

A infecção pelo SARS-Cov-2 é caracterizada por diversos sintomas, com quadros clínicos variando de assintomáticos ou com sintomas leves até doença severa e óbito. Dentre as manifestações neurológicas mais comuns da patologia situam-se as alterações no olfato e no paladar relatadas por inúmeras publicações. Também é fator conhecido que pandemias estão associadas com consequências diversas para a saúde mental e existem estudos relatando aumento nos sintomas de ansiedade e depressão na pandemia da COVID-19. No entanto, raros são os estudos que têm como foco os sintomas da patologia como determinantes do estresse psicológico.

Como as disfunções de olfato e paladar podem impactar negativamente o bem-estar, com indivíduos relatando sensações de solidão, medo e depressão, além de dificuldades sociais devido a preocupações com a higiene pessoal, no caso da alteração no olfato, e impactos na nutrição e desenvolvimento de depressão, nos casos de alterações no paladar, pesquisadores consideraram a possibilidade destes sintomas amplificarem o estresse psicológico já determinado por outros fatores.

Para verificar esta hipótese, 104 trabalhadores da saúde, homens e mulheres, com idades entre 18 e 70 anos, que haviam contraído a COVID-19, foram avaliados por entrevistas semiestruturadas que envolviam questões sobre sintomatologia, incluindo alterações de olfato e paladar, termômetro de estresse (DT) e escala de ansiedade e depressão hospitalar (HADS). Os questionários referentes a estresse, ansiedade e depressão são validados em diversos países, culturas e populações patológicas. O questionário sobre estresse abordou percepção durante a infecção e no momento da entrevista e o HADS apenas no momento da entrevista. A análise de dados foi robusta com p 0.05.

Os sintomas mais frequentes foram fadiga, alterações no olfato e alterações no paladar. 68%, dos entrevistados declararam estresse moderado a alto, com ansiedade, irritabilidade, mau humor e solidão. Há correlação com os sintomas, com maior quantidade de sintomas estando relacionada a maior grau de estresse. Perda de olfato não mostrou relação com altos níveis de estresse, mas a perda de paladar sim.

A ansiedade é maior nos pacientes com perda de ambos os sentidos, olfativo e gustativo, enquanto a depressão é mais evidente na perda do paladar. A despeito deste resultado, 29% dos entrevistados precisam de intervenção psicológica clínica, segundo os dados obtidos.  

O estudo evidencia que alterações no olfato e no paladar em pessoas sintomáticas estão associadas com maiores níveis de estresse, comparando com aqueles sem alterações nesses sentidos da percepção. Ansiedade e depressão são respostas frequentes, que estão mais associadas a perda do paladar e tendem a persistir por mais tempo. No entanto, risco de reinfecção, excesso de trabalho, frustração, equipamentos de proteção inadequados, isolamento, exaustão, etc., também influenciam a situação emocional dos trabalhadores da saúde. A coexistência com sintomas da COVID-19 intensifica a reação. Mesmo as pessoas curadas continuam a experimentar estresse, devido ao medo de reinfecção. Essa condição aponta a necessidade de intervenção psicológica.

Há limitações metodológicas citadas pelos autores, incluindo análise retrospectiva não randomizada, tendência de aceite de participação por profissionais mais impactados, questionários não desenhados para reações emocionais em pandemias e ausência de dados sobre a duração das alterações de sentido. No entanto, a temática relevante merece continuar sendo alvo de pesquisas.

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Quais as consequências no coração provocadas após a Covid-19 ?

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Sequelas cardíacas após a recuperação da doença coronavírus em 2019: uma revisão sistemática

LASSANCE, Marcio

RAMADAN, M. S. et al. Cardiac sequelae after coronavirus disease 2019 recovery: a systematic review. Clinical Microbiology and Infection., v. 27, n. 9, p. 1250-1261, Set. 2021 [Epub 23 jun. 2021] DOI: 10.1016/j.cmi.2021.06.015 Disponível em: https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/34171458/

Não obstante a infecção pelo vírus SARS-CoV-2 seja responsável pela síndrome respiratória aguda grave, sabe-se que pode desencadear manifestações extrapulmonares, mormente problemas cardiovasculares. Isto pode ocorrer em qualquer momento da infecção pelo vírus, perdurando, por vezes, várias semanas após a recuperação do COVID-19. No presente artigo realiza-se revisão sistemática com foco nas sequelas cardíacas em adultos recuperados da COVID-19.

Acredita-se que os mecanismos pelos quais o vírus pode afetar o coração resultam de ação direta no músculo cardíaco e no endotélio dos vasos que os nutrem, assim como indireta, resultado da “tempestade de citocinas inflamatórias”, hipercoagulabilidade e hipóxia. Há, no entanto, questões acerca da reversibilidade das lesões cardíacas, o que, em última análise, resultaria em sequelas permanentes.

O estudo caracteriza-se por uma revisão sistemática da literatura com estudos extraídos de diversas bases, incluindo pesquisas realizadas de 2019 e 2021. Os desfechos investigados limitaram-se ao período pós-recuperação. Foram colhidas informações relativas a sintomas cardiovasculares referidos (dados subjetivos), assim como alterações estruturais ou funcionais (dados objetivos).

A análise foi realizada com 35 estudos, selecionados de um total de 2.867 estudos, o que englobou 52.609 pacientes com idade entre 19 e 74 anos. Os desfechos objetivos foram avaliados por meios de ressonância magnética nuclear cardíaca, ecocardiograma, eletrocardiograma, exames de sangue (NT-proBNP, Troponina) e cateterismo cardíaco (cineangiocoronariografia e biópsia miocárdica). Em contrapartida, os dados dos desfechos subjetivos foram extraídos de questionários.

Os doze estudos que avaliaram pacientes submetidos à ressonância magnética nuclear mostraram alterações estruturais do coração em todos os pacientes infectados. Variavam desde variações na intensidade do sinal e captação do gadolínio (contraste paramagnético) até envolvimento miocárdico e pericárdico (miocardite e pericardite).

Os estudos que se utilizaram de ecocardiografia para avaliação cardíaca mostraram, entre outras alterações, redução da fração de ejeção (função cardíaca), derrame pericárdico e hipertensão pulmonar em até 16% dos pacientes.

Mudanças vistas no eletrocardiograma ocorreram em até 27% e contemplavam mudanças na onda T, segmento ST, bloqueio do ramo direito e taquicardia sinusal. Enzimas cardíacas aumentadas (Troponina) foram detectadas em até 20% dos casos e os níveis de NT-pro-BNP, marcador de insuficiência cardíaca, aumentaram em até 23% dos pacientes.

Em todos os pacientes submetidos à biópsia miocárdica foi vista inflamação sem, no entanto, a presença de genoma viral. Doença arterial coronariana foi vista em até um quarto dos pacientes que realizaram cineangiocoronariografia.

Com relação aos sintomas cardiovasculares, houve, em vinte estudos, relatos de dor torácica, palpitações e dispneia em até 88% dos pacientes.

Este estudo nos mostra que o acometimento cardiovascular da COVID-19 é frequente e pode deixar sequelas. No entanto, há de se ter cuidado ao se interpretar os dados obtidos: quanto maior a acurácia diagnóstica, mais frequentemente são detectadas alterações estruturais do coração. Vimos que todos os pacientes que realizaram ressonância magnética nuclear tiveram algum grau de anormalidade e isto pode não ser clinicamente relevante. Da mesma forma, os sintomas relatados pelos pacientes podem ter outras causas não cardíacas. Podemos então concluir que, à luz dos estudos analisados, a infecção pelo SARS-CoV-2 podem associar-se a sequelas cardíacas, clínicas ou subclínicas, que incluem miocardite, pericardite, infarto do miocárdio, arritmias e hipertensão pulmonar. Cronologicamente, as sequelas que ocorrem nos primeiros três meses tendem a ser mais graves do que aquelas ocorrendo após este período.

Concluindo: para melhor compreensão do real impacto clínico do acometimento cardiovascular da COVID-19 seriam necessários estudos controlados com desfechos mais definidos.

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