Evidências Covid 19

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Como têm evoluído as tecnologias que utilizam ondas luminosas para detectar vírus como o da COVID-19 ?

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Tecnologias ópticas para detecção de virus como COVID-19: Progresso e perspectivas

NACCACHE, Mônica

LUKOSE, J.; CHIDANGIL, S.; GEORGE, S. D. Optical technologies for the detection of viruses like COVID-19: Progress and prospects. Biosens Bioelectron., v. 178, p. 113004,  Apr. 2021. Epub 16 jan. 2021. DOI: 10.1016/j.bios.2021.113004. Disponível em: https://www.sciencedirect.com/science/article/pii/S0956566321000403?via%3Dihub#appsec1

Tendo em vista a incerteza dos resultados existentes nos métodos atuais para detecção do SARS-CoV-2, o artigo faz uma revisão de tecnologias fotônicas, utilizadas para detecção de vírus da família SARS-CoV.

Os autores argumentam que ferramentas de imagem vêm se tornando mais disponíveis e têm se tornado mais populares para detecção de vírus. Esta não é a realidade em muitos países, incluindo o Brasil, devido ao custo e acessibilidade dos equipamentos.

No trabalho são apresentados os métodos mais populares usados para detecção de vírus (em particular para o coronavirus), e descrita a aplicabilidade de algumas técnicas: espectroscopia de infra vermelho – FTIR (Fourier Transform Infrared Spectroscopy), técnicas de microscopia de super-resolução, espectroscopia Raman, técnicas baseadas em fluorescência. Vários destes métodos já são utilizados com sucesso na detecção de vírus causadores de outras doenças (por exemplo: Ebola, HIV).

Os métodos citados que são usados de forma mais popular não apresentam ainda resultados muito satisfatórios em comparação com os métodos normalmente utilizados.

Segundo os autores, o uso das técnicas fotônicas ainda têm grandes desafios a vencer, devido à diversidade dos vírus que circulam no corpo humano, mas este fator poderia ser contornado com o uso de Inteligência Artificial.

O tempo de aquisição e a precisão de resultados parecem adequados, porém o custo e a disponibilidade de equipamentos seriam ainda pontos contrários ao emprego da maioria destas técnicas. Porém, os autores ressaltam os avanços tecnológicos que surgem a cada dia, associados a estas técnicas, e no sentido de minimizar custo, tamanho e dificuldade de utilização. Dessa forma, as pesquisas neste sentido são de grande importância e irão certamente contribuir para a detecção e o estudo mais aprofundado de vírus como o da COVID-19.

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Como conduzir a abordagem e o manejo clínico de crianças com COVID-19 ?

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COVID-19 em Crianças: Abordagem Clínica e Manejo

FAULHABER, Maria Cristina Brito

SANKAR, J.; et al. COVID-19 in Children: Clinical Approach and Management. Indian J Pediatr., v. 87, n. 6, p. 433-442, Jun. 2020. Doi:10.1007/s12098-020-03292-1. Epub 2020 Apr 27. Disponível em: http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/32338347

O artigo revê os casos de COVID-19 até abril de 2020 na Índia, quando se procurava estabelecer a melhor forma de abordagem e manejo clínico da doença em crianças. Nelas as manifestações parecem ser mais brandas e os sintomas clínicos são semelhantes a qualquer infecção viral respiratória aguda. Os modos de transmissão são a inalação direta de gotículas infectadas (produzidas durante a tosse ou espirro por pessoa infectada) e contato direto com superfícies e fômites contaminados por secreções respiratórias infectadas. O vírus foi também isolado em amostras de fezes.

A COVID-19 deve ser suspeitada em crianças sintomáticas que viajaram nos últimos 14 dias, ou em crianças hospitalizadas com doença respiratória aguda grave, ou naquelas assintomáticas, e que tiveram contato direto com um caso que foi confirmado. Um caso confirmado é aquele em que o exame laboratorial para SARS-CoV-2 é positivo, independentemente dos sinais e sintomas.

As três series dos casos pediátricos iniciais no estudo relataram tosse (48,5%), eritema faríngeo (46,2%), febre (41,5%), respiração rápida (28,7%), diarreia (8,8%), rinorréia (7,6%), fadiga (7,6%) e vômitos (6,4%). A frequência de infecção assintomática, de infecção do trato respiratório superior e de pneumonia foi de 15,5%, 19,3% e 64,9%, respectivamente. Uma criança morreu. Pacientes com manifestações graves geralmente desenvolvem hipoxemia e hipoperfusão no final da primeira semana. As complicações da síndrome de dificuldade respiratória aguda incluem miocardite, choque séptico, coagulação intravascular disseminada, lesão renal e disfunção hepática. A mortalidade de crianças entre 0-9 anos e 10-19 foi 0% e 0,18% respectivamente.

O padrão ouro de diagnóstico é pelo teste RT-PCR para SARS-CoV-2 RNA, idealmente colhido por swab nasofaríngeo. Em crianças submetidas a ventilação mecânica, a coleta por lavagem bronco alveolar (BAL) mostrou sensibilidade de 93% quando comparada a coleta por expectoração (72%), esfregaço nasal (63%), escovado brônquico (46%), esfregaço faríngeo (32%), fezes (29%), sangue (1%) e urina (0%).

Indicações para internação: 1) dificuldade respiratória; 2) saturação O2 (Sat O2) < 92% em ar ambiente; 3) choque/má perfusão periférica; 4) pouca aceitação oral; 5) letargia e 6) convulsões/encefalopatia. A investigação em pacientes internados inclui exames de imagem como tomografia computadorizada de tórax, que em 32,7% dos casos mostrou opacidades de vidro fosco, hipotransparências irregulares localizadas (18,7%), hipotransparências irregulares bilaterais (12,3%) e anormalidades intersticiais (1,2%). O hemograma demonstra leucopenia e linfopenia, menos acentuados que em adultos.

O tratamento nos casos leves (as crianças não têm dificuldade respiratória, se alimentam bem e a SO2 é > 92%) consiste no isolamento domiciliar, uso de paracetamol SOS (10 – 15 mg/kg/dose) a cada 4-6 horas em caso de febre, evitar antinflamatórios não hormonais como ibuprofeno, hidratação oral, explicar aos pais os sinais de gravidade e usarem máscara quando tiverem contato.

O manejo dos casos hospitalizados consiste em: a) Suplementação de oxigênio para manter Sat O2> 92%; b) Hidratação venosa adequada; c) Paracetamol para febre; d) Hemocultura; e) Antimicrobianos empíricos (por exemplo, Ceftriaxona) / oseltamivir na suspeita de influenza; f) Monitorização clínica rigorosa. Era preconizado o uso de hidroxicloroquina por 5 dias e lopinavir / ritonavir por 14 dias, além de transfusão de plasma, azitromicina, interferon e ribavirina.

Os critérios para UTI são: a) necessidade de ventilação mecânica; b) choque exigindo suporte vasopressor; c) piora do estado mental e d) síndrome de disfunção de múltiplos órgãos.

São colocadas ainda no estudo as indicações de intubação, como realizar o procedimento e o tratamento de suporte em crianças gravemente enfermas.

É reforçada a orientação de manter a amamentação usando máscara, além de orientações sobre convivência doméstica com alguém com COVID-19 e medidas de saneamento ambiental.

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Quais os fatores que predizem a mortalidade de pessoas com diabetes e COVID-19 ?

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Preditores de Mortalidade em uma Coorte Urbana Multirracial de Pessoas com Diabetes Tipo 2 e Novo Coronavírus 19

BISOL, Tiago

MYERS, A.K.; et al. Predictors of Mortality in a Multi-Racial Urban Cohort of Persons with Type 2 Diabetes and Novel Coronavirus 19. J Diabetes. Epub ahead of print. DOI 10.1111/1753-0407.13158. Disponível em https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/33486896/

Os autores da pesquisa estudaram a correlação entre o estado do controle glicêmico recente e outras comorbidades à mortalidade em pacientes que necessitaram internação hospitalar pela COVID-19.

O Diabetes Mellitus (DM) tem sido associado a maior risco no desenvolvimento de Síndrome Respiratória Aguda em pacientes com COVID-19. Os mecanismos propostos são alterações da resposta imune e desregulação (downregulation) das enzimas conversoras de angiotensina (ECA) que levariam ao aumento dos níveis de angiotensina II. O próprio vírus pode também ter efeitos transitórios no pâncreas, levando à hiperglicemia e até à cetoacidose. Alguns estudos já associaram também o diagnóstico de DM à maior mortalidade em pacientes com COVID-19. O objetivo deste estudo foi avaliar se o mau controle glicêmico prévio à infecção, avaliado através da medida da hemoglobina glicosilada (HbA1c), está associado a uma pior evolução da COVID-19. A relação entre necessidade de intubação orotraqueal e presença de outras comorbidades também foi avaliada.

Foram estudados retrospectivamente pacientes com diagnóstico de DM e COVID-19, que foram admitidos para internação nos hospitais do Sistema de Saúde de Northwell, em Nova Iorque, EUA, entre janeiro e maio de 2020. A medida mais recente (dentro dos últimos 3 meses) de HbA1c do paciente foi utilizada para análise. Foram analisados 3.846 pacientes, 59% homens, média de idade de 68 anos, 33% eram brancos, 27% americano-africanos, e o restante de outras etnias ou raças.

A maioria (73%) dos pacientes admitidos tinham HbA1c menor que 9% e não foi observada diferença na mortalidade entre os que tinham níveis mais altos ou mais baixos. Porém, a glicemia medida quando da admissão ao hospital se correlacionou com maior mortalidade (glicemia média no grupo óbito de 195 mg/dl e não óbito 165mg/dl).

Maior mortalidade foi associada à idade mais avançada (idade média dos que foram a óbito, 72 anos, dos que não foram, 65 anos) e necessidade de intubação – dos 24,6% pacientes que precisaram de intubação orotraqueal, 64% foram à óbito. Não houve associação de mortalidade com etnia ou raça.

Óbito também se correlacionou com existência de comorbidades: DPOC (13,4% vs 8%, OR 1,63), Insuficiência cardíaca (18,2% vs 13,1%, OR 1,40), Doença arterial coronariana (32,7% vs 24,6%, OR 1,43), Insuficiência renal crônica (20,1% vs 13.1% OR 1,60), Hipertensão arterial (87% vs 82%, OR 1,23) e Infarto do miocárdio (11,7% vs 7,5%, OR 1,69). Em análise multivariada, permaneceram como fatores isolados de risco para mortalidade: idade, sexo masculino, necessidade de ventilação mecânica, DPOC e Infarto Agudo do Miocárdio.

O estudo não encontrou correlação entre o estado de controle prévio do DM, avaliado através da medida da HbA1c, e a mortalidade, porém evidenciou uma relação com a glicemia mais elevada quando da admissão, que pode ter relação com a própria manifestação do quadro infeccioso. Confirmou também a já descrita associação de idade, sexo masculino, comorbidades e necessidade de ventilação mecânica com uma mortalidade significativamente mais elevada.

 

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Qual a relação das respostas de produção de anticorpos com a imunidade protetora ?

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Imunidade protetora após a COVID-19 ser questionada: O que podemos fazer sem a detecção de SARS-CoV-2-IgG ?

MONTEIRO, Elisabeth Costa

MELGAÇO, Juliana Gil; AZAMOR, Tamiris; BOM, Ana Paula Dinis Ano. Protective immunity after COVID-19 has been questioned: What can we do without SARS-CoV-2-IgG detection? Cellular Immunology, v. 353, p. 104114, Jul. 2020. DOI: 10.1016/j.cellimm.2020.104114. Epub 2020 Apr 28. Disponível em: http://www.sciencedirect.com/science/article/pii/S0008874920302501

Os autores da pesquisa discutem questões relativas a marcadores de proteção imunológica, dentre as quais o fato de que resultados positivos em testes moleculares não evoluem com detecção SARS-CoV-2-IgG. O trabalho destaca a importância das células T de memória como possíveis biomarcadores, para avaliação da imunidade protetora em relação à

O mundo vivencia a infecção pelo coronavirus 2, com elevada transmissibilidade e alta mortalidade, que induz uma síndrome respiratória aguda grave, além de diarreia, pneumonia, linfopenia, exaustão de linfócitos e produção de citocinas pró-inflamatórias. A população não-hospitalar e profissionais de saúde assintomáticos podem se constituir em hospedeiros virais. O distanciamento social e ensaios clínicos massivos para detecção de anticorpos são empregados para deter a propagação viral. No entanto, resultados positivos em testes moleculares não se correlacionaram com detecção de IgG, e anticorpos neutralizantes estão ausentes mesmo em pacientes hospitalizados. Assim, emergem questões sobre a proteção imunológica e o tempo para quarentena.

Estudos realizados em pacientes sintomáticos e hospitalizados indicam que, durante a infecção, a resposta imunológica envolve a produção de anticorpos e a ativação de células T linfocitárias. Nestes pacientes, a produção de anticorpos aumentou após a primeira semana de início dos sintomas, com ativação das células T e maior exibição de fenótipo de memória após 14 dias de hospitalização.

A linfopenia induzida inicialmente pelo vírus causa atraso na ativação de células T. No entanto, após duas semanas de sintomas, começam a surgir fenótipos de linfócitos T específicos da SARS-CoV-2. Este processo pode proporcionar informações relevantes quanto à imunidade de proteção. Os estudos têm observado que a não-detecção de anticorpos após a vacinação não está relacionada à proteção, porque os linfócitos T de memória podem ser ativados e proteger as pessoas contra reinfecções subsequentes. O desenvolvimento de vacinas destinadas apenas à ativação das células T encontra-se em processo de investigação e poderá promover uma resposta robusta da célula T de memória.

Os autores levantam a hipótese de que o novo coronavírus tenha o poder de reduzir a atividade das células B. Uma resposta para este problema pode estar na realização de ensaios de resposta celular, cujos custos se assemelham aos dos testes de anticorpos neutralizantes. Os pesquisadores propõem avaliar uma pequena subpopulação que não produza anticorpos IgG, mas que ative as células T após a doença, garantindo, dessa forma, a imunidade protetora. Os ensaios de células T linfocitárias possuem elevada sensibilidade e especificidade, podendo utilizar partículas virais como estimuladores e serem otimizados em laboratórios com nível 2 de biossegurança.

Ensaios para linfócitos T de memória específica para SARS-CoV-2 podem fornecer informações úteis de eficácia em relação à imunidade protetora da população (estejam as pessoas hospitalizadas ou não). Essas análises podem ser realizadas em países com laboratórios especializados em imunologia. Estudos com as células T podem contribuir para o desenvolvimento de vacinas, terapias e diagnósticos para a COVID-19, preenchendo lacunas de conhecimento em imunologia.

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Como a epidemia tem afetado a saúde dos adolescentes ?

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A saúde do adolescente em tempos de COVID-19

FAULHABER, Maria Cristina Brito

OLIVEIRA, W. A.; et al. A saúde do adolescente em tempos da COVID-19: scoping review. Cad. Saúde Pública, v. 36, n. 8, p. e00150020, Epub Aug 28, 2020. Doi: 10.1590/0102-311X00150020 Disponível em: https://doi.org/10.1590/0102-311X00150020

A pesquisa consiste em uma revisão sistemática da literatura do tipo scoping review, modalidade de estudo que visa identificar e sintetizar evidências científicas sobre questões emergentes buscando acelerar a duração da investigação. Neste artigo o objetivo foi identificar o impacto ou os efeitos da pandemia da COVID-19 na saúde do adolescente. Foram considerados apenas artigos de 2020 em português, inglês ou espanhol, relativos a adolescentes e jovens adultos na faixa etária entre 10 e 24 anos e usadas as diretrizes do PRISMA (Preferred Reporting Items for Systematic Reviews and Meta-Analyses). A maior parte dos 11 artigos selecionados foram procedentes dos EUA (45,4%), a queixa clínica predominante foi tosse e febre, o prognóstico foi bom e houve apenas um óbito na faixa etária entre 10 e 19 anos.

A doença COVID-19 provocou uma pandemia cujas medidas de contenção da propagação levaram a alterações nos cotidianos das pessoas. O fechamento de instituições de ensino retirou cerca de 1,5 bilhão de crianças e adolescentes das escolas. A interrupção nas rotinas e o confinamento em casa pode gerar nos adolescentes medos, incertezas, ansiedades, distanciamento social dos pares ou amigos, afetando a qualidade de vida. Um dos artigos selecionados mostrou uma elevada prevalência de sintomas depressivos (43,7%) e de ansiedade (37,4%), tendo o sexo feminino apresentado maior prevalência desses sintomas. Foram considerados fatores de proteção contra a depressão e a ansiedade a conscientização sobre COVID-19 (acesso às informações, conhecimento sobre o processo de adoecimento e as medidas de prevenção).

Duas semanas após a Organização Mundial da Saúde declarar o estado de pandemia, um estudo com 584 adolescentes chineses revelou que 40,4% estavam propensos a apresentar problemas psicológicos e 14,4% manifestavam sintomas de transtorno de estresse pós-traumático. Outro aspecto importante evidenciado foi a violência doméstica (considerada um problema de saúde pública). A partir do momento que as escolas foram fechadas os adolescentes ficaram mais próximos de figuras parentais abusivas que utilizam práticas de punição física para controlar comportamentos indesejados. A convivência familiar pode também aumentar as tensões nas relações interpessoais e favorecer o surgimento de doenças mentais preexistentes.

Em relação às doenças respiratórias entre adolescentes ainda não há consenso, embora os dados coletados com adultos indiquem que a asma é um fator de risco para morbidade e mortalidade da COVID-19. No Brasil, a prevalência de asma em adolescentes é alta (estudo PeNSE de 2015: 17,92% entre 102.072 escolares do 9º ano do ensino fundamental). A medicação de adolescentes asmáticos deve ser mantida, assim como devem aumentar a higienização das mãos e o distanciamento social.

Com a epidemia observou-se um rápido período de transição do atendimento presencial para o virtual, sendo mais facilmente acompanhadas as queixas relacionadas a problemas dermatológicos, dores de cabeça crônicas e sintomas musculoesqueléticos. Outras ações percebidas como facilmente gerenciadas via telemedicina foram os transtornos do humor, manutenção de medicamentos para Transtorno do Deficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH), orientações relacionadas à saúde sexual e reprodutiva e monitoramento de casos de transtornos alimentares.

O adolescente e o processo de adolescer devem ser vistos como uma janela de oportunidades de um indivíduo em desenvolvimento, inserido nos contextos social, cultural e coletivo. Certamente essas experiências de adversidades repercutirão emocional e psicologicamente a longo prazo em sua saúde.

Entre as limitações dos estudos analisados estão o uso de questionários de autorrelato, o desenho do tipo transversal das pesquisas e amostras relativamente pequenas.

A contribuição original da pesquisa reside na abordagem da saúde do adolescente em tempos de pandemia, concluindo que este evento pode ser considerado um determinante que afeta diferentes dimensões da vida dos adolescentes.

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Como apoiar profissionais de saúde utilizando saúde mental e mídia social?

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Apoio de pares em epidemias e intervenção em crises via mídia social

FAGUNDES, Dorival

CHENG, P. ; et al. COVID-19 Epidemic Peer Support and Crisis Intervention Via Social Media. Community Ment Health J., v.56, n.5, p. 786-792, jul. 2020.  Doi:10.1007/s10597-020-00624-5 Disponível em: https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/32378126/

O artigo descreve um projeto de apoio psicológico aos profissionais de saúde atuantes na linha de frente da COVID-19 em Wuhan, China, formulado e efetivado por profissionais experientes em saúde mental. Identificou-se que a pandemia causou grande sofrimento psíquico aos profissionais da linha de frente. Os autores descreveram a infraestrutura da equipe, assim como um novo modelo de apoio mental aos colegas em tempos de crise, utilizando um aplicativo de mídia social (WeChat). Tal modelo de atenção e suporte pode ser implementado em outras localidades.

Resgata-se o histórico da pandemia, com ênfase nos momentos iniciais, quando médicos notaram um novo tipo de pneumonia causado por um patógeno desconhecido. Destaca-se ainda as crises de saúde mental desencadeadas nos profissionais de saúde. Quando Wuhan foi subitamente fechada os seus habitantes entraram em pânico caótico, com milhares de pessoas exigindo cuidados nos hospitais, deixando o sistema local à beira da ruptura e os profissionais da linha de frente enfrentaram esse momento com recursos inadequados. Dado esse contexto, um grupo de profissionais de saúde mental dos EUA, Austrália e Canadá reuniu uma equipe para fornecer apoio psicológico aos trabalhadores de saúde. Reconhecida a urgência do tratamento, foi imediatamente iniciado.

Descrevem o projeto de atendimento aos pares, dividindo a explicação em quatro tópicos: (i) infraestrutura e organização (uso do WeChat, explicitação dos critérios de recrutamento dos profissionais atendidos e especialidade dos membros de apoio); (ii) ambiente de trabalho, diretrizes, plataforma, operação e limites (pontuam a neutralidade política do grupo e apresentam as diretrizes de atuação, dentre as quais “não fazer mal” e garantir confidencialidade); (iii) dinâmica do funcionamento em grupo (dois grupos online: voluntários para discussão do trabalho; profissionais chineses); (iv) operações de serviço (rotina e modus operandi do apoio psicológico oferecido).

Oferecem mais quatro tópicos para discussão: (i) estratégia de saída e encaminhamento (como a intervenção é limitada no tempo, um plano de saída deve estar em vigor e em conexão com os recursos locais de saúde mental para encaminhamentos); (ii) o licenciamento precisa ser reconsiderado (pois o serviço de apoio entre pares não é considerado tratamento e não há relação paciente-profissional); (iii) seguro contra negligência médica (recomendam que os profissionais obtenham uma consulta jurídica antes de iniciar o serviço); (iv) conflito de interesses (não houve interesses, nem políticos ou monetários, apenas desejo de ajudar colegas).

Categorizam o estado dos pacientes em 10 estágios. 1) perplexidade, fruto das incertezas do momento inicial; 2) choque, relativamente breve e com mudança de humor; 3) raiva, aumentada à medida que mais profissionais morriam e devido à falta de informação; 4) ansiedade, é o mais longo e continuou durante todo o projeto, incluindo uma série de preocupações, como as relacionadas à família; 5) estafa, marcada pelo contexto sobrecarregado de problemas; 6) desespero, devido à sensação de desesperança e desamparo; 7) aceitação, com elevação da esperança e percepção das muitas medidas rapidamente tomadas de assistência; 8) esperança, com a chegada de mais recursos e recuperações; 9) recuperação, devido ao início do retorno da vida ao “normal”; 10) “após”, com muitos retornando à linha de base, mas alguns com doenças mentais de longo prazo.

Concluindo destacam a unicidade da experiência pandêmica, com pessoas expostas a perdas e traumas contínuos, e o sucesso considerável da experiência. Apontam a abordagem inovadora da pesquisa, pois poucas fazem uso das mídias sociais para intervenção em crises. Embora não tenha havido coleta de dados formais, evidências apontam a utilidade desse tipo de intervenção, e com grande relevância, pois mantiveram, estavelmente, cerca de 300 membros ativos, ao longo do projeto. Por fim, expõem limitações do estudo, como o caráter ímpar da China (infraestrutura política, crenças culturais e fuso horário) e a necessidade de se considerar especificidades locais de cada país ao instituir grupos de apoio.

A principal contribuição do estudo foi demonstrar o uso eficaz das tecnologias cibernéticas e do apoio humano dos profissionais de saúde para ajudar trabalhadores a lidarem com a pandemia de COVID-19; e as principais limitações foram o não registro das atividades de apoio para obtenção de mais dados e a dificuldade de lidar com as especificidades da China, diferente culturalmente do Ocidente.

Como analisar as águas residuais pode auxiliar no monitoramento de surtos e epidemias e trazer quais benefícios?

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Análise computacional da vigilância da SARS-CoV-2 / COVID-19 por epidemiologia baseada em análise de águas residuais local e globalmente: viabilidade, economia, oportunidades e desafios

DUARTE, Rosalia Maria

HART, O.E.; HALDEN, R. U. Computational analysis of SARS-CoV-2/COVID-19 surveillance by waste water-based epidemiology locally and globally: Feasibility, economy, opportunities and challenges. Sci Total Environ., v.730, Aug. 2020. Doi: 10.1016/j.scitotenv.2020.138875. Epub 2020 Apr 22. Disponível em https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/32371231/

O artigo discute as vantagens e desvantagens de se efetuar vigilância sanitária da evolução da contaminação por SARS-CoV-2 através da epidemiologia baseada na análise de águas residuais (water-based epidemiology/WBE).

Uma das mais complexas atividades da política de vigilância sanitária em caso de pandemias é o monitoramento e a detecção de novos casos de contaminação, para criar barreiras que evitem a propagação da doença. No caso da SARS-CoV-2, as altas taxas de subnotificação, fruto da dificuldade de produzir testagem em massa e do significativo número de indivíduos contaminados que permanecem assintomáticos, tornam ainda mais complexa a tarefa de monitorar a disseminação do vírus e reduzir os índices de contaminação. Face a isso, os autores argumentam que a epidemiologia baseada na análise de águas residuais (WBE), que vem se tornando uma ferramenta importante de vigilância de doenças infecciosas, com histórico comprovado na detecção de poliomielite e hepatite A, poderia auxiliar a vigilância populacional na pandemia da COVID-19.  Referenciam no artigo evidências preliminares de detecção bem-sucedida de SARS-CoV-2 em águas residuais municipais da Holanda, dos Estados Unidos e da Austrália, que confirmariam essa possibilidade. Alertam, no entanto, que ainda há incertezas quanto a se um ensaio baseado em WBE seria suficiente para orientar políticas sanitárias (como a aplicação de testes em massa ou a aplicação de medidas de contenção de mobilidade ou de isolamento social somente em áreas onde tenham sido detectados indivíduos contaminados) e indicam a necessidade de combinar WBE com aplicação posterior de testes clínicos.

Para avaliar a possibilidade da WBE ser utilizada em larga escala na detecção da SARS-CoV-2, o estudo relatado no artigo toma como base a realização de uma análise computadorizada que combina um grande volume de dados e cálculos estatísticos referentes a: 1) estimativa das cargas iniciais de SARS-CoV-2 em águas residuais; 2) estimativa de persistência de COVID-19 em águas residuais; 3) dados da área de estudo de caso (densidade populacional e condições espaciais da cidade de Tempe, no Arizona, EUA); modelo hidráulico (dados relacionados ao layout físico do sistema de coleta de esgoto); cálculos do tempo de deslocamento de águas residuais no sistema de coleta, taxas de fluxo volumétricas de águas residuais e velocidades); análise de custo para WBE e triagem médica de indivíduos. A partir dessa modelagem computacional, os autores concluíram que, dependendo das condições locais (modelagem hidráulica, temperatura e tempo de deslocamento das águas residuais, por exemplo) a epidemiologia baseada em águas residuais pode detectar um indivíduo infectado (sintomático ou assintomático) entre cada 100 a 2 milhões de pessoas. Argumentam que essa ferramenta permitiria monitorar 2,1 bilhões de pessoas globalmente, através de 105.600 estações de tratamento de esgoto e que, combinada com a realização de testes clínicos, poderia gerar uma economia de bilhões de dólares na detecção e no acompanhamento de surtos epidemiológicos.

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Como proceder e conduzir o manejo dos pacientes com transtornos gastrointestinais na pandemia da COVID-19 ?

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Covid-19 e aparelho digestivo: proteção e manejo na pandemia por SARS-CoV-2

FARHA, Jorge

CRESPO, J. et al. Covid-19 y aparato digestivo: protección y manejo en la pandemia por SARS-CoV-2 Revista Española de Enfermedades Digestivas, v.5, n. 112, p. 389-396, Apr. 2020, Doi: 17235/reed.2020.7128/2020. Disponível em: http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/32338017

A pandemia de SARS CoV-2 tem uma morbimortalidade considerável em relação às epidemias de SARS CoV e MERS, exigindo adoção de medidas globais de confinamento e isolamento social. O impacto dessa pandemia nos serviços de Gastroenterologia e Hepatologia, nos pacientes e na nova forma de trabalhar são abordados nessa curta revisão.

Uma linha do tempo sobre a disseminação do vírus é apresentada desde a primeira morte na China em 11 de janeiro até 10 de março de 2020.

O Tubo digestivo é um alvo potencial do SARS CoV-2, tal como demonstrado em estudos que revelam a afinidade do vírus pelos receptores da Enzima Conversora da Angiotensina 2 (ECA-2) em mucosa  do estômago, duodeno e reto.

Os procedimentos endoscópicos são, por essas razões, considerados de alto risco para transmissão do SARS CoV-2, e se propõe uma estratificação do risco conforme o procedimento a ser executado.

Tendo em conta as premissas acima e o fato de um grande número de infectados ser assintomático, medidas de rastreamento permanente são preconizadas para os integrantes da unidade de endoscopia digestiva e para todos os pacientes que apresentam indicação de procedimentos  endoscópicos.  

Na Doença Inflamatória Intestinal (DII), não foi demonstrado maior risco de infecção pelo SARS CoV-2 nos pacientes acometidos pela DII, ainda que a mucosa inflamada do intestino, especialmente na Doença de Crohn, exiba superexpressão do Receptor ECA-2, possivelmente devido ao aumento de sua forma solúvel, que compete com receptor de membrana na ligação com o SARS CoV-2, e assim contribuiria para limitar a infecção.

São estratificados aqueles pacientes com condições associadas que elevam o risco de evolução desfavorável, tais como doenças cardiorrespiratórias, diabetes, hipertensão arterial, entre outras,  para um monitoramento mais próximo.

Propõe-se que cada serviço elabore um plano de triagem para os infectados pelo SARS CoV-2, em especial para os que utilizam medicamentos que interferem na imunidade.

Nos pacientes com doença hepática crônica, observa-se que entre 14 e 50% dos infectados pelo SARS CoV-2 têm elevação das enzimas ALT e AST, não apenas em razão das doenças de base, mas também pela ação direta do vírus, tendo em vista a expressão do receptor da ECA-2 nas células hepáticas.

Constata-se a importância da enzima AST como elemento preditivo de evolução desfavorável nos pacientes com doenças hepáticas crônicas.

Discute-se a conduta frente aos pacientes com indicação de Transplante hepático em Lista de Espera, em especial quanto aos recursos necessários para garantir a segurança dos casos elegíveis. Nos transplantados propõe-se um seguimento próximo, e alteração da medicação nos pacientes com evolução mais grave.

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Qual o possível impacto de COVID-19 na gravidez e no risco de transmissão da mãe para o recém-nascido?

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Impacto da infecção de COVID-19 nos desfechos da gravidez e o risco de transmissão intraparto maternal-a-neonatal da COVID-19 durante o nascimento natural.

DAMASCENO, Patricia Salles

KHAN, Suliman; et al. Impact of COVID-19 infection on pregnancy outcomes and the risk of maternal-to-neonatal intrapartum transmission of COVID-19 during natural birth. Infection Control & Hospital Epidemiology. Cambridge, v. 41, n.6, p. 748-750, jun, 2020. doi: 10.1017/ice.2020.84. Disponível em: https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/32279693/.

Desde seu surgimento em Wuhan, China, em dezembro de 2019, a pneumonia atípica causada pelo vírus SARS-CoV-2 é altamente infecciosa e se espalhou rapidamente pelo planeta com perdas em todo o mundo. Estudos têm focado nos efeitos da COVID-19 na população em geral, tornando escassos dados na gravidez de mulheres portadoras. Estudos anteriores relataram os resultados materno-neonatais e o potencial de transmissão vertical da pneumonia por COVID-19 apenas em mulheres com partos cirúrgicos. Também foram excluídos os profissionais de saúde.

O estudo em tela selecionou três gestantes  (n = 3) com SARS-CoV-2 confirmado em 2020 por teste de swab nasal, e com partos vaginais no Hospital Renmin no dia da internação. Todas relataram contato com portador de COVID-19. Os pesquisadores mantiveram inclusos os profissionais de saúde. O estudo considerou para diagnóstico da pneumonia por COVID-19 a 4ª edição do Programa de Controle e Prevenção de Pneumonia por Coronavírus, publicado pela Comissão Nacional de Saúde da China. Os testes maternos positivos usaram reação em cadeia da polimerase da transcriptase reversa quantitativa (qRT-PCR), com amostras coletadas na nasofaringe e amostras de sangue. Para determinar a infecção neonatal com COVID-19, amostras de swabs de sangue do cordão e garganta neonatal foram coletadas até doze horas após o parto vaginal. O protocolo do estudo foi aprovado pelo comitê de ética do hospital Renmin, em Wuhan.

O caso 1 descreve primípara de 28 anos, com 34 semanas e 6 dias de gestação. Admissão em 28 de janeiro, com queixa de febre e tosse. Temperatura corporal de 37,3°C. Swab positivo para SARS-CoV-2. O bebê nasceu prematuro por via vaginal, com escores de Apgar de 8 e 9 no primeiro e quinto minutos, respectivamente. Pesava 2.890 gramas e media 48 cm. Com testagem negativa para SARS-CoV-2, ficou em observação em unidade neonatal. Para prevenir e controlar a infecção, a puérpera recebeu azitromicina endovenosa, cápsulas orais de Lianhua Qingwen (medicina chinesa) e antivirais de andoseltamivir.

 O caso 2 é relativo a uma primípara de 33 anos com 39 semanas de gestação. Ela foi internada em 22 de fevereiro, apresentando febre e tosse. Sua temperatura corporal era de 37,6°C. O bebê tinha índice de Apgar de 9 a 10, peso de 3.500 g, media 50 cm e testou negativo para SARS-CoV-2. A puérpera recebeu antibióticos, medicamentos antivirais e inalação intermitente.

O caso 3 corresponde a uma primípara com 27 anos e 38 semanas de gestação. Internou no hospital em 1º de março, com tosse e aperto no peito. Os batimentos cardíacos fetais e a ultrassonografia foram satisfatórios. Nasceu um bebê a termo, Apgar 9 e 10, peso de 3.730 g e medindo 51 cm. Com swab negativo, foi transferido para a enfermaria pediátrica para observação. A paciente recebeu antibióticos, medicamentos antivirais, fármaco da medicina chinesa e oxigenoterapia intermitente.

Nesse estudo de caso clínico com três grávidas com pneumonia sintomática por COVID-19, submetidas a partos vaginais, apenas o caso 1 teve um bebê prematuro. Entretanto, esse concepto apresentou resultado negativo para SARS-CoV-2, o que sugere que o parto prematuro não foi causado pela transmissão vertical da SARS-CoV-2. A prematuridade pode ter relação com o estresse psicológico associado a COVID-19. Não observou-se óbitos ou natimortos. Os pesos de nascimento neonatal variaram de 2.890 Kg  a 3.730 Kg; os comprimentos de nascimento neonatal variaram de 48 cm a 51 cm. Os três neonatos tiveram escores normais de Apgar e resultado negativo para SARS-CoV-2. Considerando o tamanho da amostra, incentiva-se estudos com amostras quantitativas mais significativas para identificar a possibilidade de transmissão vertical de COVID-19 no segundo e terceiro trimestre de gravidez e possíveis desfechos adversos na gravidez. Não observou-se nesse estudo transmissão vertical entre os bebês nascidos por via vaginal. Também não foram encontradas evidências de transmissão intra-parto vaginal materno-neonatal de COVID-19.

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Quais as consequências para os cuidados de HIV, tuberculose e malária, decorrentes da pandemia de COVID-19?

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O que a pandemia de COVID-19 significa para o controle de HIV, tuberculose e malária?

PALMEIRA, Vanila Faber

AMIMO, F.; LAMBERT, B.; MAGIT, A. What does the COVID-19 pandemic mean for HIV, tuberculosis, and malaria control? Tropical Medicine and Health, v. 48, n. 32, Mai. 2020. Doi: 10.1186/s41182-020-00219-6 Disponível em: https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC7218555/pdf/41182_2020_Article_219.pdf

Na atual pandemia pelo Coronavírus 2019 é importante ressaltar a população que já convive com outras doenças infecciosas, como HIV/AIDS, tuberculose e malária, principalmente em regiões de maior vulnerabilidade como o continente africano. Inclusive porque que na África essas doenças são endêmicas, ou seja, estão presentes em várias áreas de maneira permanente.

Na África, em comparação ao restante do mundo, o número de casos e/ou de óbitos pelo novo Coronavírus 2019 foi mais baixo. Isto ocorre provavelmente devido à presença maior de jovens, ou seja, a média da população africana é de 18,7 anos, enquanto a média global é de 30,2 anos. Pois é sabido que as formas mais graves e, a maioria dos óbitos causados pelo novo Coronavírus 2019, ocorrem, principalmente, em pessoas idosas. Além disso, como a maioria apresenta formas leves ou assintomáticas (sem sintomas), provavelmente nem procuram os serviços de saúde, o que pode estar gerando uma subnotificação dos casos.

No continente africano, a maioria dos países não possuem testes suficientes para fazer o diagnóstico da infecção pelo novo Coronavírus 2019. Além disso, existe uma incapacidade de rastreio de contatos, seja pelos pacientes não procurarem corretamente os serviços de saúde, seja por falta de pessoal capacitado. Apesar de terem um número oficial relativamente baixo de infecção pelo novo Coronavírus 2019, este representa um risco importante para a saúde pública deste continente, uma vez que existem muitas pessoas com outras doenças infecciosas, e que necessitam de acesso constante aos serviços públicos de saúde.

O isolamento social, uma das medidas mais adotadas pelos governos de todo o mundo, não funcionam bem na África, uma vez que este continente alberga a maioria dos casos de pessoas convivendo com HIV/AIDS do mundo, além de pessoas com tuberculose e malária, que precisam ir constantemente aos serviços públicos de saúde buscar seus fármacos para tratamento dessas infecções. Portanto, limitar o número de pessoas utilizando transporte público, por exemplo, só faz com que as outras patologias sejam negligenciadas. Ou seja, na África, a pandemia pelo novo Coronavírus 2019 está tornando o acesso aos serviços de saúde limitado, o que por sua vez leva as pessoas a fazerem o tratamento para HIV/AIDS, tuberculose e malária de maneira equivocada. Esse efeito, por sua vez, leva à disseminação da resistência microbiana, agravando ainda mais a condição de saúde da população.

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