Evidências Covid 19

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Quais os motivos de preocupação decorrentes das manifestações do Coronavírus 2019 no sistema cardiovascular?

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Complicações Cardiovasculares da COVID-19 e Preocupações Associadas: Uma Revisão

PALMEIRA, Vanila Faber

YU, W. L.; et al. Cardiovascular Complications of COVID-19 and Associated Concerns: A Review. Acta Cardiol Sin. v. 37. n. 1. p. 9-17. Jan. 2021. DOI: 10.6515/ACS.202101_37(1).20200913A Disponível em: https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC7814323/pdf/acs-37-009.pdf

A infecção causada pelo Coronavírus 2019, que origina clinicamente a COVID-19, pode apresentar manifestações cardiovasculares, como dor torácica e arritmias, além de outros sintomas. Pacientes com morbidades cardiovasculares prévias são grupo de risco para manifestações graves da COVID-19. Além disso, vários pacientes passaram a apresentar alterações cardiovasculares após recuperação da infecção pelo Coronavírus 2019, mesmo não tendo manifestado nada previamente.

O Coronavírus 2019 liga sua proteína de superfície, chamada de proteína S, à ECA2 (Enzima Conversora de Angiotensina 2), que está presente na superfície de células humanas, para desta forma se tornar intracelular e, assim poder se replicar, gerando novos vírus. A ECA2 está presente em uma grande variedade de tecidos, como pulmonar, cardíaco e endotelial (vasos sanguíneos). Muitos dados acerca de manifestações cardiovasculares em pacientes com COVID-19 têm sido publicados, envolvendo pessoas com morbidades cardiovasculares subjacentes, que apresentam formas mais graves da doença, bem como pessoas que previamente não possuíam nenhuma alteração cardiovascular e ficaram com sequelas após COVID-19. Portanto, o objetivo dos autores foi tentar resumir esses dados sobre alterações cardiovasculares decorrentes da virose, incluindo mecanismos de lesão miocárdica e tratamentos.

Muitos dados publicados desde o início da pandemia de COVID-19 têm demonstrado o envolvimento do sistema cardiovascular (coração e vasos sanguíneos), seja como fator de risco para as formas mais graves de COVID-19 naqueles pacientes com doenças cardiovasculares prévias, seja como uma consequência de sequela em pessoas sem nenhuma morbidade anterior à COVID-19. O que se sabe é que o Coronavírus 2019 consegue se replicar no interior dos miócitos e das células endoteliais, causando lesão direta nessas células. Além disso, a tempestade de citocinas causada pelo Coronavírus 2019 também leva a uma disfunção cardiovascular, que pode inclusive deixar sequelas posteriores.

A capacidade de lesionar células do coração e dos vasos sanguíneos precisa ser mais bem analisada e compreendida pela comunidade científica, pois os dados ainda estão muito controversos em determinados pontos. A compreensão acerca das alterações cardiovasculares faz-se necessária, não somente pela fisiopatologia do Coronavírus 2019, mas também no que tange aos tratamentos propostos para COVID-19, todos ainda em estudo. Já foi discutido em vários trabalhos que muitos tratamentos, seja com antivirais ou imunomoduladores, podem ter efeitos adversos no sistema cardiovascular, podendo potencializar os danos causados pela COVID-19.

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Como a conexão entre os micro-organismos do intestino e o sistema imune pode influenciar na progressão da infecção da COVID-19 ?

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Autoimunidade e COVID-19 – A conexão microbiótica

PALMEIRA, Vanila Faber

KATZ-AGRANOV, N.; ZANDMAN-GODDARD, G. Autoimmunity and COVID-19 – The microbiotal connection. Autoimmun Rev., v. 20, n. 8, p. 102865 Ago. 2021. [Epub 10 jun. 2021] DOI: 10.1016/j.autrev.2021.102865 Disponível em: https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC8189735/pdf/main.pdf

A pandemia pelo Coronavírus 2019, também chamado de SARS-CoV-2, é responsável por diversas manifestações clínicas, que coletivamente são denominadas de COVID-19. Sabe-se que a intensidade e/ou gravidade da doença, que pode ser assintomática, leve, moderada e severa, tem relação direta com a resposta imunológica do paciente.

Devido ao fato de pacientes com COVID-19 poderem apresentar manifestações gastrointestinais, como vômitos e diarreias, a interação entre o SARS-CoV-2 e o intestino foi investigada. A coleção de micro-organismos presentes no intestino, chamada de microbioma, participa de uma complexa interação com o sistema imune do paciente hospedeiro desses micro-organismos, podendo modular o perfil entre Th1 (pró inflamatório) ou Th2 (anti-inflamatório). O objetivo do trabalho foi tentar fazer uma relação entre a infecção pelo SARS-CoV-2 com o microbioma humano e com o perfil de resposta imune, através de similaridade com o Lupus, que é uma doença autoimune. O estudo foi feito visando a desenvolver potenciais terapias que poderiam prevenir a transmissão, a progressão, e manifestações relacionadas ao sistema imune na COVID-19, por meio da manipulação da microbiota intestinal.

A imunidade de mucosa é crucial para o equilíbrio imune no organismo humanos. Através de interações entre células imunes e microbioma, ocorre modulação local e sistêmica da imunidade. As infecções virais (incluindo a COVID-19) podem quebrar a tolerância imunológica, contribuição para a ativação de células T autorreativas, e o desenvolvimento de doenças autoimunes, como por exemplo o Lupus. Neste contexto, tanto a COVID-19 como o Lupus possuem algumas características em comum, tais como um processo de inflamação descontrolada. A quantidade e/ou os tipos de micro-organismos, no intestino e/ou no pulmão, podem estar relacionados a uma maior ou menor gravidade da COVID-19. Ao mesmo tempo, a infecção pelo SARS-CoV-2 pode alterar essa composição microbiana do paciente.

Os autores discutem a possível alteração do microbioma intestinal pela presença do SARS-CoV-2, mesmo em pacientes que não apresentaram manifestações gastrointestinais; pois existe uma correlação entre pulmão e intestino, no que diz respeito ao microbioma e sua modulação imune. A infecção pelo vírus, gerando a reação inflamatória, poderia levar a uma disbiose intestinal, e consequentemente a um maior potencial inflamatório, de forma auto-alimentada. Portanto, a modulação do microbioma intestinal poderia ser utilizada como recurso de prevenção à COVID-19, bem como no tratamento auxiliar, por poder modular a resposta imune exagerada por meio de funções anti-inflamatórias e antioxidantes. Essa abordagem vale a pena ser melhor investigada, uma vez que já vem sendo utilizada em doenças autoimunes como o Lupus como uma modalidade de tratamento adjuvante e conjugado.

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Como a pandemia da COVID-19 afetou a saúde das grávidas e dos seus bebês?

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Efeitos da pandemia de COVID-19 nos desfechos maternos e perinatais: uma revisão sistemática e meta-análise

D’AVILA, Joana

CHMIELEWSKA, B. et al.   Effects of the COVID-19 pandemic on maternal and perinatal outcomes: a systematic review and meta-analysis. The Lancet Global Health v. 9, n. 6, p. E759-E772       Jun. 2021    Disponível em: https://www.thelancet.com/journals/langlo/article/PIIS2214-109X(21)00079-6/fulltext

A pandemia da COVID-19 teve um impacto profundo nos sistemas de saúde, nas estruturas sociais e na economia mundial, afetando negativamente a qualidade de vida da população como um todo em inúmeros países de todos os continentes. A interrupção de serviços e o medo de se dirigir a centros de saúde também podem ter afetado de modo importante a qualidade de vida das gestantes e de seus respectivos bebês.

O objetivo do presente estudo foi avaliar os efeitos colaterais da pandemia da COVID-19 sobre a saúde materna, fetal e neonatal.

Para realizar essa investigação foi desenvolvida uma revisão sistemática da literatura acompanhada de uma meta-análise dos estudos selecionados sobre os efeitos da pandemia de COVID-19 na saúde das mães e dos seus bebês. Foram avaliados após a seleção um total de 40 estudos, incluindo pesquisas com desenho metodológico de caso-controle, de estudos de coorte e de relatórios breves, considerando os resultados de mortalidade materna e perinatal, de morbidade materna, de complicações na gravidez e também de desfechos intraparto e neonatais, no período de 1º de janeiro de 2020 a 8 de janeiro de 2021.

A revisão sistemática identificou aumentos significativos de morte materna (identificados em 2 estudos, ambos de países de baixa e média renda) e de natimortos (em 12 estudos) durante a pandemia. Houve piora da saúde mental materna durante a pandemia, indicada pelo aumento das pontuações médias da Escala de Depressão Pós-natal de Edimburgo com taxas mais altas. As gestações ectópicas que foram tratadas cirurgicamente também sofreram um aumento durante a pandemia (em 3 estudos). Entretanto, os nascimentos prematuros diminuíram em países de alta renda (em 12 estudos).

A saúde global, tanto materna quanto fetal, piorou durante a pandemia da COVID-19, com um aumento de mortes maternas e de natimortos, com a presença de rupturas de gravidez ectópica e também depressão materna, especialmente em populações de mais baixa renda. O presente estudo chama a atenção para a necessidade urgente de se priorizar os cuidados maternos, para aumentar a segurança, a acessibilidade e a equidade do acesso à saúde nessa população.

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Quais as consequências no coração provocadas após a Covid-19 ?

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Sequelas cardíacas após a recuperação da doença coronavírus em 2019: uma revisão sistemática

LASSANCE, Marcio

RAMADAN, M. S. et al. Cardiac sequelae after coronavirus disease 2019 recovery: a systematic review. Clinical Microbiology and Infection., v. 27, n. 9, p. 1250-1261, Set. 2021 [Epub 23 jun. 2021] DOI: 10.1016/j.cmi.2021.06.015 Disponível em: https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/34171458/

Não obstante a infecção pelo vírus SARS-CoV-2 seja responsável pela síndrome respiratória aguda grave, sabe-se que pode desencadear manifestações extrapulmonares, mormente problemas cardiovasculares. Isto pode ocorrer em qualquer momento da infecção pelo vírus, perdurando, por vezes, várias semanas após a recuperação do COVID-19. No presente artigo realiza-se revisão sistemática com foco nas sequelas cardíacas em adultos recuperados da COVID-19.

Acredita-se que os mecanismos pelos quais o vírus pode afetar o coração resultam de ação direta no músculo cardíaco e no endotélio dos vasos que os nutrem, assim como indireta, resultado da “tempestade de citocinas inflamatórias”, hipercoagulabilidade e hipóxia. Há, no entanto, questões acerca da reversibilidade das lesões cardíacas, o que, em última análise, resultaria em sequelas permanentes.

O estudo caracteriza-se por uma revisão sistemática da literatura com estudos extraídos de diversas bases, incluindo pesquisas realizadas de 2019 e 2021. Os desfechos investigados limitaram-se ao período pós-recuperação. Foram colhidas informações relativas a sintomas cardiovasculares referidos (dados subjetivos), assim como alterações estruturais ou funcionais (dados objetivos).

A análise foi realizada com 35 estudos, selecionados de um total de 2.867 estudos, o que englobou 52.609 pacientes com idade entre 19 e 74 anos. Os desfechos objetivos foram avaliados por meios de ressonância magnética nuclear cardíaca, ecocardiograma, eletrocardiograma, exames de sangue (NT-proBNP, Troponina) e cateterismo cardíaco (cineangiocoronariografia e biópsia miocárdica). Em contrapartida, os dados dos desfechos subjetivos foram extraídos de questionários.

Os doze estudos que avaliaram pacientes submetidos à ressonância magnética nuclear mostraram alterações estruturais do coração em todos os pacientes infectados. Variavam desde variações na intensidade do sinal e captação do gadolínio (contraste paramagnético) até envolvimento miocárdico e pericárdico (miocardite e pericardite).

Os estudos que se utilizaram de ecocardiografia para avaliação cardíaca mostraram, entre outras alterações, redução da fração de ejeção (função cardíaca), derrame pericárdico e hipertensão pulmonar em até 16% dos pacientes.

Mudanças vistas no eletrocardiograma ocorreram em até 27% e contemplavam mudanças na onda T, segmento ST, bloqueio do ramo direito e taquicardia sinusal. Enzimas cardíacas aumentadas (Troponina) foram detectadas em até 20% dos casos e os níveis de NT-pro-BNP, marcador de insuficiência cardíaca, aumentaram em até 23% dos pacientes.

Em todos os pacientes submetidos à biópsia miocárdica foi vista inflamação sem, no entanto, a presença de genoma viral. Doença arterial coronariana foi vista em até um quarto dos pacientes que realizaram cineangiocoronariografia.

Com relação aos sintomas cardiovasculares, houve, em vinte estudos, relatos de dor torácica, palpitações e dispneia em até 88% dos pacientes.

Este estudo nos mostra que o acometimento cardiovascular da COVID-19 é frequente e pode deixar sequelas. No entanto, há de se ter cuidado ao se interpretar os dados obtidos: quanto maior a acurácia diagnóstica, mais frequentemente são detectadas alterações estruturais do coração. Vimos que todos os pacientes que realizaram ressonância magnética nuclear tiveram algum grau de anormalidade e isto pode não ser clinicamente relevante. Da mesma forma, os sintomas relatados pelos pacientes podem ter outras causas não cardíacas. Podemos então concluir que, à luz dos estudos analisados, a infecção pelo SARS-CoV-2 podem associar-se a sequelas cardíacas, clínicas ou subclínicas, que incluem miocardite, pericardite, infarto do miocárdio, arritmias e hipertensão pulmonar. Cronologicamente, as sequelas que ocorrem nos primeiros três meses tendem a ser mais graves do que aquelas ocorrendo após este período.

Concluindo: para melhor compreensão do real impacto clínico do acometimento cardiovascular da COVID-19 seriam necessários estudos controlados com desfechos mais definidos.

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O que sabemos até o momento sobre a fisiopatologia e a clínica da COVID-19 ?

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Uma revisão abrangente sobre os aspectos fisiopatológicos clínicos e mecanísticos da Doença COVID-19: Até onde chegamos?

PALMEIRA, Vanila Faber

SHAKAIB, B et al. A comprehensive review on clinical and mechanistic pathophysiological aspects of COVID‑19 Malady: How far have we come? Virol J., v. 18, p. 120, Jun. 2021.  DOI: 10.1186/s12985-021-01578-0 Disponível em: https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC8182739/pdf/12985_2021_Article_1578.pdf

A atual pandemia pelo Coronavírus 2019 foi incialmente comparada à gripe pelo vírus Influenza. Entretanto, logo se percebeu que se tratava de uma doença multissistêmica (que acomete vários sistemas do corpo), que foi denominada de COVID-19. Essa doença passou a ser dividida de acordo com a gravidade do quadro clínico apresentado, podendo ser leve, moderada, severa ou crítica.

O objetivo do trabalho foi discutir a ampla gama de manifestações clínicas da COVID-19 registradas na literatura, incluindo a fisiopatologia da doença, e as medidas de combate. Para isso vários trabalhos foram analisados pelos autores, e os resultados mostraram que a COVID-19 possui uma enorme variedade de sinais e sintomas, sendo que nenhum deles é patognomônico (sinal característico, específico) da doença. Essa variedade clínica está relacionada com a capacidade do Coronavírus 2019 (SARS-CoV-2) poder infectar diferentes células do corpo humano. Para isto, o vírus utiliza o receptor ECA2 (Enzima Conversora de Angiotensina 2), que está presente nas membranas de vários tipos celulares no corpo do hospedeiro. E algumas comorbidades podem piorar o quadro clínico, justamente porque ou facilitam a entrada do vírus nas células ou interferem na resposta imune do indivíduo.

No início da pandemia pelo Coronavírus 2019, os quadros clínicos detectados eram pneumonias com sintomas semelhantes à infecção pelo vírus Influenza: febre, tosse seca (sem expectoração), fadiga (cansaço). Entretanto, logo foi identificado o agente causador, um Beta Coronavírus, denominado de SARS-CoV-2, devido à semelhança genética com o SARS-CoV, que foi associado à Síndrome da Angústia Respiratória Aguda (SARA) em 2002. Logo após, outros casos foram sendo identificados, entretanto expressando diferentes apresentações clínicas, e rapidamente foi percebido pelos profissionais que este Coronavírus 2019 era capaz de infectar diferentes células do corpo humano. Desta forma, portanto, o vírus pode causar diferentes tipos de manifestações (penetração direta do vírus e/ou ativação imune, com inflamação associada), que incluem desde ausência de sintomas, até quadros muito graves, com evolução para o óbito.

Apesar da COVID-19 ser uma doença multissistêmica, e poder se apresentar com sinais e sintomas mais frequentes, ainda sim, não existe nenhum sintoma que seja típico, ou exclusivo, desta enfermidade. Isto torna imperativo que seja sempre investigada a possibilidade de ser uma infecção causada pelo Coronavírus 2019. Além disso, ainda não há medicamentos liberados para tratamento da COVID-19, sendo a prevenção e o controle da infecção os pilares da gestão da pandemia atual. As vacinas estão no centro desta discussão, desde futuras candidatas (ainda em estudos) até as que já foram aprovadas e estão em uso em todo o mundo.

A contribuição positiva do trabalho foi mostrar ao leitor a variedade de sinais e sintomas associados à COVID-19, mostrando que nenhum deles é específico da doença. Além disso, foi extremamente bem pensado colocar os endereços de consulta para o leitor sobre o manejo da doença, incluindo controle e prevenção da COVID-19, tratamento e vacinas.

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Como as epidemias e pandemias em geral afetam a saúde mental dos profissionais de saúde?

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O que aprendemos com duas décadas de epidemias e pandemias: uma revisão sistemática e meta-análise da carga psicológica dos profissionais de saúde da linha de frente

CARVALHO, Milena Maciel de

BUSCH, I. M. et al. What We Have Learned from Two Decades of Epidemics and Pandemics: A Systematic Review and Meta-Analysis of the Psychological Burden of Frontline Healthcare Workers. Psychotherapy and psychosomatics, v. 90, n. 3, p. 178-190,  feb.  2021. Doi:10.1159/000513733. Disponível em: https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/33524983/

Surtos de doenças infecciosas emergentes e reemergentes são considerados uma ameaça recorrente em todo o mundo, impactando diretamente os sistemas de saúde e os profissionais que neles atuam.

Considerando a alta carga psicológica de profissionais de saúde em situações de surtos de grande proporção, o artigo apresenta resultados de estudos sobre os impactos desses contextos na saúde mental e no desempenho no trabalho desse grupo. A partir de uma revisão sistemática e de meta-análise, os autores apresentam um levantamento dos sintomas psicológicos e/ou psicossomáticos de profissionais de saúde na linha de frente em epidemias e/ou pandemias ocorridas nos últimos vinte anos.

Para tanto, elegeram como critérios de inclusão para a seleção de artigos: 1) estudos que abordassem tais sintomas em profissionais de saúde que atuaram com pacientes infectados ou com suspeita de H1N1, Ebola, doença respiratória aguda grave (SARS), síndrome respiratória do Oriente Médio (MERS) e/ou Covid-19; 2)  profissionais que trabalharam em ambientes de alto risco de exposição a essas doenças; 3) estudos que apresentassem resultados originais; e 4) estudos que relatassem quantitativamente os impactos psicológicos nesses surtos específicos.

A análise dos 86 estudos incluídos na revisão evidenciou um alto índice de prevalência dos seguintes sintomas: preocupação em transmitir o vírus para a família, estresse percebido, preocupações com a própria saúde, dificuldades para dormir, burnout, sintomas de depressão, sintomas de ansiedade, sintomas de transtorno de estresse pós-traumático, problemas de saúde mental e sintomas de somatização.

A percepção de falta de controle da vida profissional e pessoal é levantada como aspecto gerador de sofrimento psicológico, reforçado pelo número alto de infecções entre profissionais nessas epidemias.

Um dado que chama a atenção em alguns estudos sobre a Covid-19 é o relato de níveis maiores de sintomas de transtorno de estresse pós traumático, esgotamento, ansiedade e traumatização entre os que não atuavam na linha de frente. Os autores sugerem, além de outros aspectos, que isso pode ser explicado pela maior disponibilidade de apoio, informações e equipamentos para esse grupo.

Citam descobertas de estudos sobre a importância do reconhecimento e administração de sintomas de estresse, sensação de falta de controle, ansiedade, depressão e insônia. Se não administrados e bem conduzidos, esses sintomas podem levar a sobrecarga alostática  e  burnout.

Esses e outros achados indicam evidências dos impactos desses surtos na saúde mental desses profissionais, reforçando a necessidade de se pensar em estratégias de suporte para os que atuam e já atuaram na atual pandemia de Covid-19. Os autores citam como desafios no contexto pandêmico atual, os altos níveis de estresse, questões éticas que atravessam a atuação desses profissionais (como a decisão de alocação de ventiladores pulmonares) e casos de suicídio. Como ações para minimizar tais impactos, citam a assistência familiar, informações atualizadas e claras às equipes, apoio psicológico, flexibilização dos horários de trabalho pelos gestores, primeiros cuidados psicológicos, além de atividades que aumentem a resiliência, senso de auto eficácia e pertencimento.

A principal contribuição do artigo é apresentar ações de saúde mental para o pós pandemia, reconhecendo os impactos a longo prazo.

Como limitação, destaca-se a afirmação de que a pandemia de Covid-19 não pode ser comparada a outros desastres, por não estar “confinada no tempo e no espaço”. Essa demarcação acaba deslocando o desastre de seus impactos subsequentes e causas sócio históricas, atribuindo sua ocorrência a eventos naturais, ou seja, naturalizando-o. A  atemporalidade dos desastres demanda estratégias duradouras e o reconhecimento de que seus impactos repercutem em dimensões e períodos que não podemos mensurar.

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Qual o papel das diferentes modalidades de vacina para a prevenção da COVID-19 ?

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Princípios e Desafios no Desenvolvimento da Vacina anti-COVID-19

PALMEIRA, Vanila Faber

STRIZOVA, Z. et al. Principles and Challenges in anti-COVID-19 Vaccine Development. Int Arch Allergy Immunol., v. 11, n. 4, p. 1690-1702, Feb. 2021. DOI: 10.1159/000514225 Disponível em: https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC7778607/pdf/thnov11p1690.pdf

A infecção pelo Coronavírus 2019 (COVID-19) foi declarada como uma pandemia pela Organização Mundial da Saúde (OMS) em março de 2020. Medidas como o uso de máscaras e o isolamento social foram adotadas na tentativa de conter o avanço do vírus na população. Porém, sabe-se que somente com vacinas eficazes é que o controle da COVID-19 terá sucesso na sua redução.

Como os tratamentos para COVID-19 são muito restritos e pouco eficazes, sabe-se que o melhor caminho para conter a pandemia é investir na prevenção. Neste contexto as vacinas ganham um destaque enorme, uma vez que são capazes de estimular as defesas do nosso organismo sem que precisemos ficar doentes. Essas defesas são capazes de conter o vírus logo no início da infecção, reduzindo assim o risco de a pessoa evoluir para as formas graves de COVID-19. Os autores revisaram o status das vacinas contra COVID-19, que chegaram à fase de realização de ensaios clínicos em humanos, e que foram registradas até dezembro de 2020, discutindo as mais promissoras.

Vacinas são uma forma de imunidade que é adquirida artificialmente, normalmente pela introdução de um antígeno microbiano no organismo. A partir daí, o sistema imune segue sequências de ativação de resposta, gerando memória imunológica, sem que para isso o indivíduo precise ter a doença. Existem vacinas com princípios diferentes, tais como inativada, atenuada, de RNA, de DNA, de subunidades, de vetor viral. Cada uma dessas tecnologias de vacinas é diferente, porém tem o mesmo objetivo, que é levar à geração de memória imune, principalmente através da produção de anticorpos, assim como da imunidade celular, e desta forma proteger o indivíduo em encontros posteriores com o antígeno.

 

Devido ao fato da COVID-19 ser causada por um vírus de RNA, que é uma molécula muito instável, e com uma alta probabilidade de sofrer mutações, as vacinas para a COVID-19 provavelmente devem se tornar sazonais no futuro, assim como ocorre com a vacina para a gripe. A ativação imune gera memória seguindo vários caminhos, sendo os principais o caminho Th2 (que leva a produção de anticorpos) e o caminho Th1 (que leva à ativação de linfócito TCD8 com ação citotóxica). As vacinas podem ativar esses dois caminhos, porém, só se testa memória pela dosagem de anticorpos, e os autores discutem que se deve incluir testes de imunidade celular para verificar se a vacina foi de fato eficaz na geração de memória do indivíduo.

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Como a condição nutricional pode influir na evolução clínica de pacientes com COVID-19 ?

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Doença por coronavírus 2019 (COVID-19) e estado nutricional: o elo perdido?

FAULHABER, Maria Cristina Brito

SILVERIO, R. et al. Coronavirus Disease 2019 (COVID-19) and Nutritional Status: The Missing Link? Adv Nutr., v. 12, n. 3, p. 682-692, Jun.  2021. DOI: 10.1093/advances/nmaa125. Disponível em: https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/32975565/

COVID-19 é uma doença emergente que alcançou níveis pandêmicos. Indivíduos idosos e pacientes com comorbidades, como obesidade, diabetes e hipertensão, mostram maior risco de hospitalização, maior severidade da doença e maior mortalidade pela infecção por SARS-CoV-2. O objetivo do artigo é discutir o papel do estado nutricional em pacientes com COVID-19, além de ressaltar a importância da nutrição adequada.

Durante a doença, frequentemente ocorre aumento da produção de citocinas pró-inflamatórias, associada a uma reação exagerada do sistema imunológico, a chamada tempestade de citocinas. O espectro clínico é amplo, variando de assintomático ao desenvolvimento de pneumonia grave, síndrome de angústia respiratória aguda e morte. Febre, tosse, fadiga, dores musculares, diarreia e pneumonia são as manifestações mais comuns, podendo progredir, desde síndrome de dificuldade respiratória aguda até falência de órgãos.

O estado nutricional desempenha importante papel no resultado de uma variedade de doenças infecciosas. O sistema imunológico é afetado pela desnutrição, com diminuição das respostas imunes, aumentando risco de infecção e gravidade da doença. A composição corporal, especialmente baixa massa magra e alta adiposidade, é associada à piora do prognóstico.

A alta prevalência de obesidade é descrita entre pacientes hospitalizados. Estatísticas mostram que em unidades de terapia intensiva (UTI) da Espanha 48% dos primeiros pacientes admitidos com COVID-19 eram obesos; entre 1482 dos pacientes hospitalizados nos EUA com COVID-19 48,3% foram obesos; e um estudo da China mostrou que 43% dos pacientes hospitalizados com COVID-19 eram obesos ou tinham sobrepeso. A obesidade também foi associada a maior mortalidade e aumento de gravidade de doenças. IMC de pacientes com doenças cardiovasculares e infecção por SARS-CoV-2 na UTI é maior do que a de pacientes sem necessidade de cuidados intensivos. Esse mesmo estudo também demonstrou prevalência maior de sobrepeso e obesidade entre não sobreviventes.

Mesmo que os jovens estejam em menor risco de COVID-19 grave, se a obesidade for uma condição concomitante, os pacientes têm cerca de 2,0 vezes mais probabilidade de precisar de cuidados intensivos na internação. A associação entre pacientes mais jovens com um IMC ≥25 kg/m2 e pneumonia na admissão também foi descrita. A obesidade acomete também os pulmões: a ventilação mecânica invasiva em pacientes com COVID-19 foi positivamente correlacionada com obesidade, independentemente da idade. Células adiposas viscerais aumentadas em obesos podem atuar como reservatório para vírus, aumentando assim a carga total de vírus. Ainda não se conhece a razão pela qual os indivíduos com obesidade com comorbidades estão em maior risco de COVID-19 grave.

Desnutrição proteico-energética está relacionada ao aumento do risco de ocorrência principalmente de doenças infecciosas e, assim como na obesidade, ela impacta também na replicação viral e na patogenicidade. Anorexia, diarreia, vômitos, náuseas e dor abdominal leve são frequentes em pacientes com COVID-19, podendo agravar o quadro.

O envelhecimento está associado a alterações no sistema imune inato e resposta adaptativa, processo conhecido como imunossenescência, evento associado a um aumento da suscetibilidade às infecções virais. Idosos com frequência apresentam sarcopenia, que consiste na perda de força muscular; sua patogênese está associada à presença de citocinas pró inflamatórias. Obesidade sarcopênica consiste em indivíduos com maior massa gorda associada a baixa massa muscular. O fenótipo sarcopênico está associado com a diminuição da atividade física.

Hábitos saudáveis são importantes não apenas para garantir uma resposta imunológica ideal, mas também para prevenir e / ou tratar a desnutrição, a obesidade e comorbidades relacionadas à obesidade em pacientes com COVID-19.

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Como os nutrientes com propriedades farmacêuticas podem ajudar a proteger as pessoas da evolução da COVID-19 ?

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A estratégia de impulsionar o sistema imunológico sob a pandemia COVID-19

PALMEIRA, Vanila Faber

ALAGAWANY, M. et al. The Strategy of Boosting the Immune System Under the COVID-19 Pandemic. Front Vet Sci. V. 7, Jan. 2021. DOI: 10.3389/fvets.2020.570748 Disponível em: https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC7820179/pdf/fvets-07-570748.pdf

A influência dos micronutrientes (vitaminas e minerais) na resposta imune já é bem conhecida. Por isto, durante a atual pandemia do Coronavírus 2019, vem sendo discutido como os nutracêuticos, que seriam uma combinação de nutrientes com propriedades farmacêuticas (compostos bioativos dos alimentos com benefícios ao organismo) poderiam prevenir e até mesmo ajudar a tratar a COVID-19.

Devido à indisponibilidade de tratamentos específicos para combater o SARS-CoV-2, e pelo fato das vacinas ainda serem insuficientes em todo o mundo, a comunidade científica vem buscando auxílios alternativos, como por exemplo, nos alimentos. Sabe-se que a desnutrição (nutrientes insuficientes ao bom funcionamento do organismo) é responsável por taxas aumentadas de infecção e pelo aumento de recuperação retardada após a ocorrência de uma infecção.

Tendo em vista que os casos mais graves de COVID-19 têm relação com um sistema imune descompensado, levando a uma inflamação descontrolada, e como vitaminas e minerais interferem diretamente na resposta imune, os autores discutem como os nutracêuticos podem contribuir diretamente para a prevenção e o combate à COVID-19.

A maior gravidade da COVID-19 está associada principalmente a pessoas com alguma alteração da resposta imunológica, como idosos e obesos. O primeiro grupo de pessoas tem total relação com a senescência, que é a possibilidade do envelhecimento sadio. Dentre as alterações esperadas do envelhecimento está a imunossenescência, que é uma resposta imune diferente, com alteração nos perfis funcionais das células do sistema imunológico. Já a obesidade é uma doença inflamatória crônica; ou seja, nos dois casos de evolução existe uma desregulação prévia do sistema imune do hospedeiro. Além disso, esses dois grupos têm a tendência natural de ter um desequilíbrio nos micronutrientes, como vitaminas e minerais.

As vitaminas C, D e E são de suma importância na resposta imune, possuindo desde uma ação na secreção de citocinas, até um potencial antioxidante, o que contribui, dentre outras coisas, para manter a integridade de células de mucosa. Reforça dessa maneira as barreiras naturais do corpo, bem como auxilia a controlar o potencial de reação pró-inflamatória. Com os minerais, os fitogênicos e os probióticos não é diferente, porque todos têm potencial efeito no controle do perfil inflamatório do hospedeiro, além de terem ações antimicrobianas diretas. Por isso, os nutracêuticos vêm sendo apontados como potenciais auxiliares ao combate da atual pandemia pelo Coronavírus 2019.

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Como a Vitamina D pode proteger os pacientes com COVID-19 na sua evolução clínica?

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Efeitos da vitamina D na infecção e no prognóstico por COVID-19: uma revisão sistemática

PALMEIRA, Vanila Faber

YISAK, H. et al. Effects of Vitamin D on COVID-19 Infection and Prognosis: A Systematic Review. Risk Manag Healthc Policy, v. 14, p. 31. Jan. 2021. DOI: 10.2147/RMHP.S291584 Disponível em: https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC7800698/pdf/rmhp-14-31.pdf

A vitamina D já é bem conhecida como sendo muito importante para a saúde de ossos, além de interferir na saúde do sistema cardiovascular e do sistema imunológico. Devido à grande dificuldade de se formular um tratamento específico e definitivo para a COVID-19, o uso de vitamina D como possível auxílio ao combate à pandemia pelo Coronavírus 2019 vem sendo discutido.

A maior parte da vitamina D no nosso corpo vem da exposição da pele ao sol, sendo que só uma pequena parcela vem da alimentação. A vitamina D é uma substância lipossolúvel, e, portanto, para ser absorvida, é necessária a presença de lipídios, além de bile e suco pancreático. A cada dia mais, as pessoas apresentam redução nos seus níveis séricos de vitamina D, o que pode estar envolvido com várias patologias, como doenças cardiovasculares, e maior risco de adquirir infecções, principalmente do trato respiratório, como gripe, e também atualmente contrair COVID-19. Por este motivo, os autores buscaram resumir e relacionar a concentração sérica de vitamina D com a COVID-19 através de revisão da literatura.

Em todo o mundo os benefícios da vitamina D, para além dos já conhecidos efeitos ósseos, vêm sendo muito discutidos pela sociedade científica. Sabe-se que esta vitamina modula a produção de citocinas, a ativação de linfócitos T e de células fagocíticas, tendo por este motivo um perfil anti-inflamatório, ajudando desta forma a equilibrar a resposta imune. Assim, ela pode ajudar a manter a resposta imune sob controle durante a evolução da COVID-19. Pessoas obesas e com idade avançada têm, naturalmente, sua vitamina D sanguínea reduzida e, este pode ser um, dentre vários motivos, para que as formas graves e, eventualmente, os óbitos na COVID-19 estejam relacionados a este grupo.

Os autores discutem quais trabalhos mostraram a redução da incidência das formas graves da COVID-19 em pacientes com níveis normais de vitamina D, em comparação com aqueles com presença de hipovitaminose. Também foi levantado na pesquisa da revisão sistemática que pacientes que foram suplementados com altas doses da forma ativa da vitamina D (calcitriol) tiveram menos necessidade de internação em unidade de terapia intensiva (UTI). Como parece haver uma relação entre COVID-19, gravidade e mortalidade com respeito à dose de vitamina D no sangue dos pacientes, deve-se pensar em manter essa concentração normalizada, seja de maneira natural ou por meio de suplementação, para auxiliar ao combate dessa pandemia por COVID-19.

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