Evidências Covid 19

English French German Spain Italian Dutch
Russian Portuguese Japanese Korean Arabic Chinese Simplified

Como a epidemia tem afetado a saúde dos adolescentes ?

English French German Spain Italian Dutch
Russian Portuguese Japanese Korean Arabic Chinese Simplified

A saúde do adolescente em tempos de COVID-19

FAULHABER, Maria Cristina Brito

OLIVEIRA, W. A.; et al. A saúde do adolescente em tempos da COVID-19: scoping review. Cad. Saúde Pública, v. 36, n. 8, p. e00150020, Epub Aug 28, 2020. Doi: 10.1590/0102-311X00150020 Disponível em: https://doi.org/10.1590/0102-311X00150020

A pesquisa consiste em uma revisão sistemática da literatura do tipo scoping review, modalidade de estudo que visa identificar e sintetizar evidências científicas sobre questões emergentes buscando acelerar a duração da investigação. Neste artigo o objetivo foi identificar o impacto ou os efeitos da pandemia da COVID-19 na saúde do adolescente. Foram considerados apenas artigos de 2020 em português, inglês ou espanhol, relativos a adolescentes e jovens adultos na faixa etária entre 10 e 24 anos e usadas as diretrizes do PRISMA (Preferred Reporting Items for Systematic Reviews and Meta-Analyses). A maior parte dos 11 artigos selecionados foram procedentes dos EUA (45,4%), a queixa clínica predominante foi tosse e febre, o prognóstico foi bom e houve apenas um óbito na faixa etária entre 10 e 19 anos.

A doença COVID-19 provocou uma pandemia cujas medidas de contenção da propagação levaram a alterações nos cotidianos das pessoas. O fechamento de instituições de ensino retirou cerca de 1,5 bilhão de crianças e adolescentes das escolas. A interrupção nas rotinas e o confinamento em casa pode gerar nos adolescentes medos, incertezas, ansiedades, distanciamento social dos pares ou amigos, afetando a qualidade de vida. Um dos artigos selecionados mostrou uma elevada prevalência de sintomas depressivos (43,7%) e de ansiedade (37,4%), tendo o sexo feminino apresentado maior prevalência desses sintomas. Foram considerados fatores de proteção contra a depressão e a ansiedade a conscientização sobre COVID-19 (acesso às informações, conhecimento sobre o processo de adoecimento e as medidas de prevenção).

Duas semanas após a Organização Mundial da Saúde declarar o estado de pandemia, um estudo com 584 adolescentes chineses revelou que 40,4% estavam propensos a apresentar problemas psicológicos e 14,4% manifestavam sintomas de transtorno de estresse pós-traumático. Outro aspecto importante evidenciado foi a violência doméstica (considerada um problema de saúde pública). A partir do momento que as escolas foram fechadas os adolescentes ficaram mais próximos de figuras parentais abusivas que utilizam práticas de punição física para controlar comportamentos indesejados. A convivência familiar pode também aumentar as tensões nas relações interpessoais e favorecer o surgimento de doenças mentais preexistentes.

Em relação às doenças respiratórias entre adolescentes ainda não há consenso, embora os dados coletados com adultos indiquem que a asma é um fator de risco para morbidade e mortalidade da COVID-19. No Brasil, a prevalência de asma em adolescentes é alta (estudo PeNSE de 2015: 17,92% entre 102.072 escolares do 9º ano do ensino fundamental). A medicação de adolescentes asmáticos deve ser mantida, assim como devem aumentar a higienização das mãos e o distanciamento social.

Com a epidemia observou-se um rápido período de transição do atendimento presencial para o virtual, sendo mais facilmente acompanhadas as queixas relacionadas a problemas dermatológicos, dores de cabeça crônicas e sintomas musculoesqueléticos. Outras ações percebidas como facilmente gerenciadas via telemedicina foram os transtornos do humor, manutenção de medicamentos para Transtorno do Deficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH), orientações relacionadas à saúde sexual e reprodutiva e monitoramento de casos de transtornos alimentares.

O adolescente e o processo de adolescer devem ser vistos como uma janela de oportunidades de um indivíduo em desenvolvimento, inserido nos contextos social, cultural e coletivo. Certamente essas experiências de adversidades repercutirão emocional e psicologicamente a longo prazo em sua saúde.

Entre as limitações dos estudos analisados estão o uso de questionários de autorrelato, o desenho do tipo transversal das pesquisas e amostras relativamente pequenas.

A contribuição original da pesquisa reside na abordagem da saúde do adolescente em tempos de pandemia, concluindo que este evento pode ser considerado um determinante que afeta diferentes dimensões da vida dos adolescentes.

Esta resenha pertence ao grupo sobre:

Como mudaram os comportamentos alimentares dos adolescentes durante o confinamento na pandemia?

English French German Spain Italian Dutch
Russian Portuguese Japanese Korean Arabic Chinese Simplified

Confinamento da Covid-19 e Mudanças nas Tendências Dietéticas de Adolescentes na Itália, Espanha, no Chile, Colômbia e Brasil

FAULHABER, Maria Cristina Brito

RUIZ-ROSO, M. B. et al. Covid-19 Confinement and Changes of Adolescent’s Dietary Trends in Italy, Spain, Chile, Colombia and Brazil. Nutrients, v. 12, n. 6,  p. 1807, Jun. 2020. Doi:10.3390/nu12061807. Disponível em: https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/32560550/

A Organização Mundial da Saúde define adolescência como período da vida que se inicia aos dez anos e termina aos dezenove anos completos. É um período essencial para adquirir bons hábitos alimentares que irão influenciar o estado de saúde na vida adulta, objetivando a prevenção de doenças como obesidade, patologias cardiovasculares, diabetes, etc. Sabe-se que o confinamento influencia o estilo de vida, principalmente a dieta e a atividade física.

O artigo avalia os efeitos das políticas de confinamento induzidos pela COVID-19 sobre mudanças de hábitos alimentares em adolescentes de 5 países: Espanha, Itália, Brasil, Chile e Colômbia, além de buscar identificar potenciais variáveis que possam ter influenciado essa mudança.

Trata-se de um estudo transversal que utilizou um questionário anônimo com mais de 30 perguntas, distribuído em redes sociais como Twitter, WhatsApp, Facebook e outras. Baseado na Pesquisa Nacional de Saúde do Escolar (PeNSE), o questionário avaliou aspectos sociodemográficos, características familiares e práticas alimentares antes e durante o confinamento, no período de 17 de abril a 25 de maio de 2020.  Os alimentos/grupos de alimentos analisados foram: legumes, verduras, frutas, doces, frituras, carne processada (hamburguer, salsicha, mortadela, salame, presunto, nuggets), bebidas adoçadas com açúcar (BAA) (do inglês SSB: sugar-sweetened beverages) e fast food.

A análise de dados foi realizada usando o teste estatístico t pareado e análise de variância (ANOVA), além do GraphPad Prism8 (versão 8.3.0) Software Inc., San Diego, CA, EUA, nas análises estatísticas.

O estudo está em acordo com os princípios éticos contidos nas resoluções de cada país.

 A idade média dos 820 adolescentes participantes foi 15 anos, 61,1% meninas; 43,3% das mães não tinha diploma universitário.

O consumo de legumes, verduras e frutas aumentou significativamente durante o confinamento; 43% consumiram verduras todos os dias versus 35,2% dos que o faziam antes. Apenas 25,5% dos adolescentes consumia pelo menos 1 fruta por dia em comparação com 33,2% durante. Houve uma drástica redução no consumo de fast food (44,6% antes e 64,0% após o confinamento). Por outro lado, houve um significativo aumento do consumo médio de frituras e alimentos doces (14% e 20,7% após).

Quanto ao gênero as meninas aumentaram um pouco o consumo de verduras (4,8% antes e 5,1% após) e frutas (4,0 e 4,4%). Os meninos também apresentaram aumento no consumo de verduras (4,0% antes e 4,4% após) e de carne processada (2,9% e 3%), mas não houve alteração no consumo de frutas. A diferença mais significativa na dieta entre meninos e meninas foi o aumento de BAA (42,9% e 57,2% respectivamente).

Os adolescentes brasileiros consumiram mais leguminosas do que os demais países; adolescentes colombianos tiveram menor consumo de frutas e verduras, apesar de terem aumentado significativamente o consumo de frutas durante o confinamento. O maior consumo de frutas ocorreu na Espanha e na Itália.

Adolescentes cujas mães tinham níveis superiores ao ensino médio mostraram aumento no consumo de frutas e verduras; e o consumo de BAA entre aqueles com mães com nível universitário foi menor.

Assistir TV durante as refeições foi relacionado com menor consumo de frutas e verduras, maior consumo de alimentos fritos, alimentos doces e BAA, demonstrando piora da qualidade da dieta entre os adolescentes.

O confinamento pode levar a padrões alimentares irregulares e lanches frequentes, por parte dos adolescentes, devido ao tédio e ao estresse.

A pandemia pela COVID-19 tornou visível e ampliou as desigualdades sociais, sendo as famílias mais pobres as mais afetadas.

Esta resenha pertence ao grupo sobre:

Quais as características e os riscos da síndrome inflamatória de múltiplos sistemas derivada da COVID-19 em crianças e adolescentes?

English French German Spain Italian Dutch
Russian Portuguese Japanese Korean Arabic Chinese Simplified

Síndrome Inflamatória Multissistêmica em Crianças e Adolescentes nos EUA

FAULHABER, Maria Cristina Brito

FELDSTEIN, L. R. ;  et al. Multisystem Inflammatory Syndrome in US Children and Adolescents. N Engl J Med, Jul. 2020; DOI: 10.1056/NEJMoa2021680. Disponível em: https://www.nejm.org/doi/full/10.1056/NEJMoa2021680

Constatada a importância epidemiológica e o curso clínico dos processos inflamatórios multissistêmicos em crianças (síndrome inflamatória multissistêmica em crianças – SIM-C), com uma significativa associação temporal à doença COVID-19, os autores buscam neste artigo avaliar as implicações clínicas e na saúde pública desta síndrome.

Foram aplicados questionários padrão de março a maio de 2020 em centros de saúde pediátricos de 26 estados nos EUA, tendo como definição de caso a presença de seis critérios: doença grave que levou à hospitalização; idade inferior a 21 anos; febre > 38.0ºC ou com duração de pelo menos 24 horas; evidência laboratorial de processo inflamatório; envolvimento sistêmico de múltiplos órgãos (pelo menos dois) e evidência de infecção com síndrome respiratória aguda severa, causada pelo coronavírus 2 (SARS-CoV-2: PCR transcriptase reversa positiva; ou teste para anticorpos positivo; ou exposição a indivíduos com COVD-19 no mês anterior) {30 % mostraram evidências epidemiológicas de contato com pessoa com COVID-19}.  

A análise estatística foi feita usando o software R, versão 3.6.1 (Projeto R para computação estatística).

A idade média das 186 crianças com SIM-C foi 8,3 anos, 62% meninos, 73% previamente saudáveis, 70% com exames laboratoriais positivos para SARS-CoV-2 e 88% foram hospitalizadas após 16 de abril. O envolvimento do trato gastrointestinal ocorreu em 92% das crianças, do sistema cardiovascular em 80% (91% realizou ecocardiograma e 73% teve alterações de BNP – peptídio natriurético do tipo B, hormônio liberado pelos ventrículos sempre que há agressão cardíaca), do sistema hematológico em 76%, do muco-cutâneo em 74% e do sistema respiratório em 70%. A média de internação foi 7 dias, com 80% das crianças necessitando de cuidados de centro de tratamento intensivo, 20% de ventilação mecânica, 48% de drogas vasoativas e 2% faleceram (4 pacientes entre 10 a 16 anos de idade, dois deles previamente hígidos). Aneurismas da artéria coronária ocorreram em 8%, e 40% mostraram características semelhantes à doença de Kawasaki – vasculite que ocorre predominantemente na infância, caracterizada pela possibilidade de formação de aneurismas. Embora sua causa seja ainda desconhecida, há fortes evidências de alguma infecção prévia ou em atividade. A SIM-C é considerada uma doença Kawasaki “like”. Alguns dos sinais e sintomas desta doença como febre, eritrodermia e descamação tardia também podem ser vistos na síndrome do choque tóxico, podem envolver múltiplos órgãos e podem estar associados a outros vírus.  Nos EUA cerca de 5% das crianças com Kawasaki apresentam choque cardiovascular, levando à necessidade do uso de drogas vasoativas em comparação aos 50% dos pacientes com SARS-CoV-2 avaliados neste artigo. O início de uma infecção grave por COVID-19 coincide com o declínio da carga viral no trato respiratório e aumento dos marcadores inflamatórios.

Cerca de 92% das crianças apresentaram elevações em pelo menos quatro marcadores indicativos de processo inflamatório. O uso de terapias imunomoduladoras foi comum: imunoglobulina intravenosa em 77%, glicocorticoides em 49% e inibidores da interleucina 6 ou 1RA em 20%, estas últimas substâncias sabidamente envolvidas na evolução da resposta imune inflamatória que ocorre em pacientes com comprometimento respiratório grave.

Embora ainda não se possa estabelecer causalidade, o estudo mostrou fortes evidências que as crianças foram infectadas pelo SARS-CoV-2 no mínimo 1 a 2 semanas antes do início da SIM-C.

Os autores concluem que SIM-C em crianças associada à SARS-CoV-2 pode levar a doença grave potencialmente fatal em crianças e adolescentes previamente hígidos.

Esta resenha pertence ao grupo sobre: