Deveríamos estimular ou suprimir respostas imunes na COVID-19 ? Intervenções com citocinas e anti-citocinas
GIESTA, Monica Maria da Silva
JAMILLOUX, Y. ; et al. Should we stimulate or suppress immune responses in COVID-19? Cytokine and anti-cytokine interventions. Autoimmunity Reviews, v. 19, n. 7, Jul. 2020. DOI: 10.1016/j.autrev.2020.102567 Disponível em: https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC7196557/
Embora a infecção por COVID-19 seja uma condição benigna em 80% dos casos, ocorrem formas severas em 15% e fatais em 5% dos pacientes. As proteínas chamadas citocinas, produzidas por várias células humanas, têm papel central na geração da resposta imunológica na COVID-19: enquanto os subtipos Interferon 1 (INF1) e Interleucina 7 ( IL7) parecem ter um papel favorável na resposta imunológica, outros subtipos como Interleucina 1ß ( IL ß) e Fator de Necrose Tumoral α (TNF α) estão envolvidos na resposta deletéria chamada de “tempestade de citocinas”. Os autores fazem uma revisão da patogenia desta infecção viral discutindo os modelos teóricos sobre quais papéis estas substâncias teriam na evolução da doença, além de uma revisão das terapias anti-inflamatórias.
Na primeira parte do artigo é feita uma revisão sobre os mecanismos de infecção desde a entrada do vírus pelas vias aéreas, sua ligação através de uma espícula S às células cujas membranas possuem uma proteína receptora denominada Enzima Conversora de Angiotensina 2 (ECA2), encontradas principalmente nos alvéolos pulmonares. Postula-se que altas cargas virais podem levar a destruição celular e inflamação exacerbada, além de provocar a morte de outra célula de defesa: os linfócitos B. Como resposta, o hospedeiro promove rapidamente uma resposta imunológica inata produzindo uma série de mediadores inflamatórios, entre eles citocinas que em quantidade exuberante promovem uma reação inflamatória descontrolada levando a síndrome respiratória aguda, coagulação intravascular disseminada e falência de órgãos.
O INF1 é essencial para a proteção das infecções virais pois induz a reparação dos tecidos lesados e prolonga a resposta imune adaptativa. Quando a produção é incrementada a patologia se desenvolve de maneira leve ou moderada. Por outro lado, se a resposta imunológica não for efetiva, somando-se a exposição a carga viral maior, ocorre uma tendência ao desenvolvimento de formas críticas. Tal fato explicaria maior gravidade em pacientes idosos ou com patologias crônicas concomitantes.
Em relação às terapias os autores fazem uma ampla revisão. Tratamentos com INFα e ß evidenciaram eficácia in vitro mas não in vivo. Não houve estudos para tratamento com IL7. Foi feita a revisão dos estudos disponíveis com inibidores de IL6 e receptores de IL6 que se mostraram promissores, entretanto, feitos sem grupo controle. Outras terapias com Inibidores de IL1ß e Inibidores de TFN e inibidores da Janus Kinase (JAK) são citados teoricamente pelos seus mecanismos de ação, embora não tenha havido até a data de publicação trabalhos concluídos. A revisão sistemática sobre terapia com corticoides, colchicina e antimaláricos mostrou-se inconclusiva.
Como pontos negativos, os próprios autores apontam o tipo, delineamento e tamanho das amostras dos estudos. Criticam também as diferentes vias de administração das medicações, o tempo de início das terapias e uso concomitante de outras drogas além daquelas citadas.
Como ponto positivo, ressalta-se um grande detalhamento dos mecanismos do processo de infecção em gráficos e imagens facilitando compreensão do leitor. Observa-se, entretanto, que pela grande complexidade a leitura deste artigo será mais bem assimilada por profissionais que tenham entendimento prévio da fisiopatologia do processo inflamatório.