Evidências Covid 19

English French German Spain Italian Dutch
Russian Portuguese Japanese Korean Arabic Chinese Simplified

Como tem sido buscada a modulação do sistema imunológico para melhorar o tratamento e o controle clínico da COVID-19?

English French German Spain Italian Dutch
Russian Portuguese Japanese Korean Arabic Chinese Simplified

Terapia imunomodulatória para o manejo da COVID-19 severa. Além da terapia antiviral: uma revisão abrangente.

BARRETO, Jaqueline

ALIJOTAS-REIG, J. et al. Immunomodulatory therapy for the management of severe COVID-19. Beyond the anti-viral therapy: A comprehensive review. Autoimmunity Reviews, v.19, n.7, p. 102569, jul. 2020. DOI: 10.1016/j.autrev.2020.102569. Disponível em: https://www.sciencedirect.com/science/article/pii/S1568997220301312?via%3Dihub

Esse trabalho é resultado de um estudo multicêntrico englobando Espanha e França, e conta com uma revisão de 122 artigos; versa sobre as possíveis terapias imunomodulatórias no tratamento da forma grave da COVID-19.

A doença COVID-19, causada pelo coronavirus-2 (SARS-CoV-2), pode apresentar uma resposta inflamatória sistêmica exacerbada, chamada de “tempestade de citocinas”, síndrome respiratória aguda grave, e ativação do coágulo com estado pró trombótico, em cerca de 15 a 20% dos pacientes infectados, com uma taxa de mortalidade de 3,7%.

As síndromes hemofagocíticas e a ativação dos macrófagos poderiam explicar essa catástrofe inflamatória, por ativação descontrolada do sistema imunológico, provocando inflamação sistêmica extrema e falência multiorgânica, observando-se, no caso da COVID-19, um “tropismo” para o pulmão; os linfócitos ativam os macrófagos e histiócitos, que passam a fagocitar células do próprio organismo, e ainda há maciça produção de citocinas inflamatórias. Não há uma terapêutica antiviral específica para a COVID-19 e as propostas de tratamento estão embasadas na tentativa do controle dessas respostas inflamatórias.

Os antimaláricos (cloroquina e hidroxicloroquina) teriam um papel imunomodulatório, já sabido no uso das doenças reumáticas, além de um potencial efeito antiviral conhecido, mudando o pH da célula necessário para a fusão viral e interferindo na proteína viral. Seu efeito se potencializa quando usado com drogas antivirais e azitromicina. Tem ainda um papel anti-inflamatório e antiagregante.

Os bloqueadores da interleucina 6 (IL-6), o tocilizumabe e sarilumabe, são receptores de anticorpo monoclonal, usados para o tratamento de resposta inflamatória sistêmica. Em uma série de 20 chineses com alteração pulmonar importante, houve regressão nas imagens pulmonares de 19 chineses após o uso do tocilizumabe. Também estão incluídos como possibilidade terapêutica os bloqueadores da IL-1 (anakinra), IL-2 (ciclosporina) e outras interleucinas, 37 e 38, que tem ação anti-inflamatória.

Os inibidores de Janus Kinase (ruxolitinibe) exercem atividade anti-inflamatória e imunomodulatória, bem como as imunoglobulinas intravenosas em altas doses, devendo-se estar atentos a possíveis efeitos colaterais nas infusões das imunoglobulinas, a saber, injúria pulmonar pós transfusional e eventos trombóticos; por isso seu uso deve ser bem avaliado.

Anticoagulantes tais como heparina e fondaparinux também são drogas incorporadas ao tratamento das formas graves de COVID-19, que sabidamente apresentam hipercoagulabilidade, com risco de trombose venosa, tromboembolismo pulmonar e coagulação intravascular disseminada. Dados obtidos da autópsia de 50 pacientes com COVID-19 mostraram desde microtromboses a trombose de artéria pulmonar, da veia cava e até do átrio direito. Além do efeito antitrombótico a heparina tem efeito anti-inflamatório e propriedades imunomodulatórias.

Os glicocorticóides, com seu efeito anti-inflamatório e imunossupressor, têm sido usados em condições de risco de vida, tais como na coagulação intravascular disseminada, na sepsis e na síndrome da angústia respiratória aguda. O seu uso deve ser avaliado caso a caso nas infecções por COVID-19. A droga preconizada é a metilprednisolona.

Altos níveis da enzima conversora da angiotensina 2 funcionam como protetores pulmonares, por isso o uso dos inibidores da enzima de conversão da angiotensina pode estar relacionado com aumento da taxa de mortalidade em hipertensos e cardiopatas. As estatinas inibem a ativação e proliferação das células T, e em adição às enzimas conversora de angiotensina 2, poderiam conferir uma proteção aos pacientes com COVID-19.

A transfusão de anticorpos neutralizantes obtidos do soro de pacientes que tiveram COVID-19 e foram curados é especulativa.

A avaliação crítica dessas drogas citadas abre um leque de possibilidades terapêuticas quando se observa a gravidade dos pacientes com evolução desfavorável. A produção de mais trabalhos, frente ao grande número de mortes observadas ao longo da população mundial, e o uso dessas drogas, irão nos possibilitar uma avaliação mais acurada sobre as terapêuticas realmente eficazes no tratamento dessa nova doença.

Esta resenha pertence ao grupo sobre:

Quais drogas estão sendo testadas contra SARS-CoV-2 e COVID-19?

English French German Spain Italian Dutch
Russian Portuguese Japanese Korean Arabic Chinese Simplified

Drogas candidatas contra SARS-CoV-2 e COVID-19

D’AVILA, Joana

MCKEE, D.L. et al. Candidate Drugs Against SARS-CoV-2 and COVID-19. Pharmacological Research, v.157, p. 104859, jul. 2020. doi: 10.1016/j.phrs.2020.104859. Disponível em: https://www.sciencedirect.com/science/article/pii/S1043661820311671?via%3Dihub

Enquanto esperamos a vacina para a COVID-19, cresce a corrida por terapias capazes de eliminar o novo coronavírus (SARS-CoV-2) e impedir sua transmissão. Atualmente o tratamento da COVID-19 não é específico, e se baseia em controlar os sintomas e oferecer suporte respiratório. Esta revisão destaca alguns fármacos com atividade antiviral potencialmente eficaz para tratar a COVID-19.

A infeção acontece pela interação de proteínas da superfície do SARS-CoV-2 (a proteína S) com um receptor na célula hospedeira (a enzima conversora de angiotensina 2, ACE2). Para que o vírus consiga entrar na célula, é necessária ainda a ação de uma enzima do hospedeiro (a protease TMPRSS2) sobre a proteína S viral. O genoma do vírus é então liberado no interior da célula e novas partículas virais são produzidas (replicação), o que destrói as células infectadas causando a lesão pulmonar. O bloqueio de alguma destas etapas precocemente, impedindo a entrada do vírus ou sua replicação, é potencialmente eficaz para tratar a COVID-19.

A inibição farmacológica do receptor ACE2 ou a proteína recombinante ACE2 humana solúvel bloquearam a infecção do SARS-CoV-2 em modelos pré-clínicos. Agentes inibidores da protease TMPRSS2, como o camostato e o nafamostato, são fármacos que além de bloquearem a infecção do SARS-CoV-2 em células, já demonstraram ser seguros e bem tolerados em ensaios clínicos para pancreatite. Estas drogas estão atualmente em fase de testes clínicos para COVID-19.

Cloroquina e hidroxicloroquina são antimaláricos que mostraram atividade antiviral de amplo espectro em estudos pré-clínicos. Não são específicas para o SARS-CoV-2, mas alteram o pH de estruturas intracelulares utilizadas para a internalização do vírus (endossomos), e desta forma dificultam a entrada do vírus da célula hospedeira. Muitos estudos clínicos estão em andamento, porém alguns já foram descontinuados por não observarem a eficácia da hidroxicloroquina no tratamento ou prevenção da COVID-19.

Fármacos antiparasitários, como a ivermectina e a nitazoxanida, também são candidatos por terem demonstrado atividade antiviral de amplo espectro. Atualmente diversos estudos clínicos estão em andamento testando a eficácia destas drogas, sozinhas ou combinadas, em pacientes com COVID-19 (https://clinicaltrials.gov/ct2/results?term=ivermectin&cond=Covid-19).

Antivirais específicos são os candidatos mais promissores para a farmacoterapia da COVID-19. Atualmente, dezenas de estudos clínicos estão em andamento, incluindo dois grandes estudos internacionais, promovidos pela Organização Mundial da Saúde (SOLIDARITY) e pela União Europeia (DisCoVeRy), para testar a eficácia dos antivirais remdesivir (inibidor da RNA polimerase viral), lopinavir/ritonavir (inibidores da protease do vírus HIV) e lopinavir/ritonavir combinado a interferon-b1a em pacientes com COVID-19.

O remdesivir foi desenvolvido para combater o vírus Ebola e também demonstrou eficácia na infecção com SARS-CoV-2. Resultados preliminares com 1063 pacientes mostraram recentemente que o tratamento com remdesivir reduziu o tempo de recuperação de pacientes hospitalizados com COVID-19 (ACTT-1 ClinicalTrials.gov number, NCT04280705).

O umifenovir é um antiviral aprovado para o tratamento de influenza que impede a entrada do vírus. Estudos clínicos iniciais mostraram efeitos benéficos do umifenovir em reduzir a carga viral e os sintomas de pacientes com COVID-19. Já o favipiravir é um inibidor da replicação de vírus de RNA, que também está em fase de testes para SARS-CoV-2.

Ferramentas de desenho de fármacos in silico identificaram inibidores da protease do SARS-CoV-2 que têm potencial de funcionar in vivo, um chamado N3, e o outro, ebselen, um composto com atividade anti-inflamatória, além de antiviral.

Nesta corrida contra o tempo, o reaproveitamento de fármacos é uma estratégia mais promissora que a descoberta de novos fármacos – que podem levar anos até chegar ao paciente. O tratamento precoce e eficiente contra o SARS-CoV-2 contribuirá para a redução da carga viral e transmissão da COVID-19, freando o avanço da pandemia.

REFERÊNCIAS:

COVID-19 remedies. Nature Biomedical Engineering, v. 4, p.575–576, jun. 2020.  https://doi.org/10.1038/s41551-020-0579-9.

ACTT-1 ClinicalTrials.gov number, NCT04280705

Esta resenha pertence ao grupo sobre: