Probióticos, prebióticos e abordagens dietéticas durante a pandemia de COVID-19
FARHA, Jorge
HU, J.; et al. Review article: Probiotics, prebiotics and dietary approaches during COVID-19 pandemic. Trends in Food Science & Technology, v.108 p. 187–196, Fev. 2021 [Epub 14 dez. 2021]. DOI: 10.1016/j.tifs.2020.12.009. Disponível em: https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/33519087/
No presente trabalho os autores empreendem um estudo bibliográfico aprofundado sobre o tema Probióticos, Prebióticos e tipos de dieta, no esforço de identificar o impacto que essas abordagens exercem sobre a evolução e prognóstico da infecção pelo SARS Cov-2.
Probióticos são um conjunto de bactérias reconhecidamente benéficas ao organismo humano e prebióticos são nutrientes da dieta com propriedade de estimular o desenvolvimento e a função das bactérias probióticas.
No contexto atual da pandemia de COVID-19, onde as opções disponíveis de tratamento são muito limitadas, há uma demanda por intervenções efetivas que previnam ou reduzam a susceptibilidade à doença ou pelo menos diminuam a severidade da mesma.
O trato gastrointestinal é considerado o maior órgão imunológico do corpo humano, sendo local de residência de trilhões de microrganismos (denominados no seu conjunto de Microbiota Intestinal, incluindo bactérias, vírus, leveduras e fungos). Estes por sua vez têm papel chave no metabolismo e na resposta imune do hospedeiro e precisamente por isso tem se constituído num potencial alvo para novas terapias.
Em janeiro de 2020 a Comissão Nacional de Saúde da China e a Administração Nacional de Medicina Tradicional Chinesa passaram a recomendar o uso de probióticos nos pacientes com COVID-19, para melhorar a composição da microbiota intestinal e prevenir a ocorrência de infecções secundárias.
Diversas alterações na composição da microbiota intestinal são observadas nos pacientes obesos, diabéticos e idosos com COVID-19, e o uso de probióticos no combate ao SARS Cov-2 teria a finalidade de estimular a função dos linfócitos T e aumentar a atividade fagocitária dos leucócitos, além de preservar a permeabilidade da membrana basal. Em geral o mau prognóstico está associado ao aumento da permeabilidade da membrana basal, permitindo a passagem de microrganismos invasores e também a reduzida diversidade da microbiota intestinal.
Existe evidência de que na COVID-19 ocorre aumento do número de germes oportunistas e redução dos benéficos. Algumas bactérias, como Bacteroidetes species, atuam na eliminação do vírus dificultando o acesso do mesmo aos receptores ECA-2 (receptores da membrana onde se fixa o vírus para penetrar na célula). Por outro lado, algumas bactérias estão associadas aos casos de evolução mais severa da COVID-19. Os autores citam ainda 7 cepas bacterianas que podem ser consideradas como biomarcadores da COVID-19.
Os Prebióticos são fibras alimentares, cuja fermentação oferece nutrientes para o desenvolvimento e ativação das bactérias probióticas; essas fibras contribuem para a melhora de diversas doenças, como alterações de colesterol e triglicerídeos, doença cardiovascular, diabetes tipo II, resistência à insulina, obesidade, entre outras. Observou-se que Frutanos e Galactanos, subprodutos da fermentação dos prebióticos, reduzem infecções respiratórias em crianças quando acrescentados aos alimentos. Há citação de diversas evidências de interação dos prebióticos com o mecanismo de resposta imune do hospedeiro, impactando positivamente na evolução de várias doenças.
Nesse contexto, a abordagem nutricional e dietética assume importância crucial na restauração da microbiota saudável. Múltiplos alimentos são citados como fontes de prebióticos e outros são citados como estimuladores das bactérias patogênicas. Esses alimentos benéficos, além de agirem sobre as bactérias probióticas, têm ação anti-inflamatória e antioxidante. Nutricionistas canadenses, por exemplo, recomendam dieta à base de frutas, vegetais, proteínas e grãos integrais para fortalecer o sistema imunológico.
A resposta da microbiota intestinal à infecção pelo SARS-Cov-2, o papel dessa microbiota na imunidade pulmonar nos pacientes infectados, o papel dos probióticos nesse mesmo contexto e as abordagens dietéticas e nutricionais para restauração da microbiota saudável são abordados com detalhes.
Uma dezena de estudos em andamento em diversos centros de pesquisa na Europa, América do Norte e Asia são citados com tipo de estudo, sujeitos do estudo, tamanho de amostra, tipo de intervenção, duração e primeiros desfechos. Esta revisão traz ainda extensa referência bibliográfica sobre o tema, dando assim uma boa visão sobre a dimensão e complexidade desse vasto universo que começa a ser explorado.