KATZ-AGRANOV, N.; ZANDMAN-GODDARD, G. Autoimmunity and COVID-19 – The microbiotal connection. Autoimmun Rev., v. 20, n. 8, p. 102865 Ago. 2021. [Epub 10 jun. 2021] DOI: 10.1016/j.autrev.2021.102865 Disponível em: https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC8189735/pdf/main.pdf
A pandemia pelo Coronavírus 2019, também chamado de SARS-CoV-2, é responsável por diversas manifestações clínicas, que coletivamente são denominadas de COVID-19. Sabe-se que a intensidade e/ou gravidade da doença, que pode ser assintomática, leve, moderada e severa, tem relação direta com a resposta imunológica do paciente.
Devido ao fato de pacientes com COVID-19 poderem apresentar manifestações gastrointestinais, como vômitos e diarreias, a interação entre o SARS-CoV-2 e o intestino foi investigada. A coleção de micro-organismos presentes no intestino, chamada de microbioma, participa de uma complexa interação com o sistema imune do paciente hospedeiro desses micro-organismos, podendo modular o perfil entre Th1 (pró inflamatório) ou Th2 (anti-inflamatório). O objetivo do trabalho foi tentar fazer uma relação entre a infecção pelo SARS-CoV-2 com o microbioma humano e com o perfil de resposta imune, através de similaridade com o Lupus, que é uma doença autoimune. O estudo foi feito visando a desenvolver potenciais terapias que poderiam prevenir a transmissão, a progressão, e manifestações relacionadas ao sistema imune na COVID-19, por meio da manipulação da microbiota intestinal.
A imunidade de mucosa é crucial para o equilíbrio imune no organismo humanos. Através de interações entre células imunes e microbioma, ocorre modulação local e sistêmica da imunidade. As infecções virais (incluindo a COVID-19) podem quebrar a tolerância imunológica, contribuição para a ativação de células T autorreativas, e o desenvolvimento de doenças autoimunes, como por exemplo o Lupus. Neste contexto, tanto a COVID-19 como o Lupus possuem algumas características em comum, tais como um processo de inflamação descontrolada. A quantidade e/ou os tipos de micro-organismos, no intestino e/ou no pulmão, podem estar relacionados a uma maior ou menor gravidade da COVID-19. Ao mesmo tempo, a infecção pelo SARS-CoV-2 pode alterar essa composição microbiana do paciente.
Os autores discutem a possível alteração do microbioma intestinal pela presença do SARS-CoV-2, mesmo em pacientes que não apresentaram manifestações gastrointestinais; pois existe uma correlação entre pulmão e intestino, no que diz respeito ao microbioma e sua modulação imune. A infecção pelo vírus, gerando a reação inflamatória, poderia levar a uma disbiose intestinal, e consequentemente a um maior potencial inflamatório, de forma auto-alimentada. Portanto, a modulação do microbioma intestinal poderia ser utilizada como recurso de prevenção à COVID-19, bem como no tratamento auxiliar, por poder modular a resposta imune exagerada por meio de funções anti-inflamatórias e antioxidantes. Essa abordagem vale a pena ser melhor investigada, uma vez que já vem sendo utilizada em doenças autoimunes como o Lupus como uma modalidade de tratamento adjuvante e conjugado.