MING, D. K.; et al. Continuous physiological monitoring using wearable technology to inform individual management of infectious diseases, public health and outbreak responses. International Journal of Infectious Diseases, v. 96, p. 648-654, Mai, 2020. DOI: 10.1016/j.ijid.2020.05.086. Disponível em: https://www.ijidonline.com/article/S1201-9712(20)30393-3/pdf
Este artigo descreve o uso de tecnologias vestíveis (wearable technologies) no monitoramento fisiológico contínuo de pacientes em ambientes hospitalares ou comunitários, com o objetivo de identificar aqueles com maior risco de agravamento da doença e deterioração clínica. O estudo é direcionado a infecções de importância global, incluindo pandemias como a COVID-19 e doenças endêmicas como a dengue.
Casos graves de doenças infecciosas como a COVID-19 podem levar a distúrbios fisiológicos como choque hemodinâmico ou hipóxia, e uma rápida identificação com intervenção médica são essenciais para reduzir eventos adversos e custos. O monitoramento fisiológico contínuo de pacientes envolve a medição de parâmetros como ECG, frequência cardíaca e respiratória, pressão sanguínea e oxigenação arterial, usando uma combinação de métodos invasivos e não-invasivos, que podem não estar disponíveis em países menos desenvolvidos. Simultaneamente, o avanço das tecnologias vestíveis, com custos relativamente baixos e potencial para conectividade, em conjunto com sistemas de diagnóstico rápido, pode ajudar a suprir tais necessidades.
Um dispositivo vestível na área da Saúde é uma tecnologia que pode ser adequadamente posicionada no corpo do paciente para monitorar aspectos fisiológicos relevantes, de forma não-invasiva ou minimamente invasiva. O artigo destaca as 3 principais modalidades cuja disponibilidade comercial tem crescido nos últimos anos: fotopletismografia, que utiliza a luz refletida na pele para caracterizar a circulação sanguínea, incluindo oxigenação, pressão, frequência respiratória e variação do pulso; detecção de atividade e impedância elétrica, que utiliza eletrodos para acompanhar a frequência respiratória e o eletrocardiograma; e biosensores, que utilizam diversos métodos enzimáticos, eletroquímicos e baseados em anticorpos para detectar substratos específicos no corpo.
O artigo apresenta então diversos exemplos concretos da aplicação de tecnologias vestíveis no setor da saúde, especialmente para a vigilância de doenças infecciosas como a COVID-19. As condições essenciais para tal aplicabilidade são um custo adequado e um desempenho com padrão clinicamente aceitável. Destaca também a importância da conectividade dos dispositivos, permitindo que múltiplos pacientes sejam acompanhados de um único ponto, melhorando a utilização de tempo e recursos e permitindo a identificação precoce das doenças. Tal conectividade também aumenta a eficiência de programas de vigilância epidemiológica e de modelos preditivos da disseminação de doenças infecciosas.
Em seguida, o artigo elenca os principais desafios à implementação das tecnologias vestíveis no setor da saúde. Inicia pela carência de estudos científicos que demonstrem seu uso em casos reais, enfatizando a necessidade de avaliar a aplicabilidade e o desempenho, em especial em países menos desenvolvidos. A maior disseminação do uso de tais dispositivos gerará grandes massas de dados, o que implicará em problemas de armazenamento, transparência e privacidade dos dados e dos pacientes. A OMS emitiu em 2018 diretrizes gerais sobre saúde digital, mas tal arcabouço regulatório precisa ser refinado. Quanto ao hardware, como o desenvolvimento dos dispositivos vestíveis está em suas primeiras fases, ainda há problemas relacionados ao consumo de energia, tempo de bateria e necessidade de recarga. Finalmente, o risco da geração de falsos positivos poderia comprometer a confiança da população na tecnologia.
O artigo conclui que a utilização de dispositivos vestíveis na área médica pode oferecer significativas vantagens, especialmente no gerenciamento de doenças infecciosas e na medicina de precisão. Uma vez que os principais desafios tenham sido superados, a disseminação de tais dispositivos no futuro próximo deverá melhorar a gestão dos pacientes, permitindo novas estratégias para o gerenciamento de infecções epidêmicas ou endêmicas.