MICHARD, Frederic; SHELLEY, Kirk. Should We Monitor Pulsus Paradoxus via Pulse Oximetry in COVID-19 Patients with Acute Respiratory Failure? Am J Respir Crit Care Med. v. 202, n.5, p. 770, Sep. 2020. DOI: 10.1164/rccm.202004-1504LE. Disponível em: https://www.atsjournals.org/doi/full/10.1164/rccm.202004-1504LE
Discute-se uma proposta da literatura que aborda a determinação precoce de insucesso da ventilação não-invasiva (VNI), evitando atrasos na intubação traqueal. Associando às demandas para COVID-19, sugere-se abordagem alternativa à manometria esofágica, utilizando a forma de onda do registro da oximetria de pulso para previsão de insucesso da VNI.
Na literatura propõe-se a análise das oscilações respiratórias da pressão esofágica (ΔPes), para avaliação do esforço inspiratório na insuficiência respiratória, como indicador precoce de insucesso da ventilação não-invasiva (VNI) e da necessidade de intubação traqueal. Reconhecendo sua aplicação na abordagem de pacientes com COVID-19 e considerando as potenciais limitações clínicas associadas à manometria esofágica, propõe-se uma abordagem alternativa para avaliação do esforço respiratório, baseada na análise da forma de onda do registro da oximetria de pulso.
A identificação tardia de insucesso da VNI e da necessidade de intubação traqueal resulta em alterações pulmonares que vêm sendo associadas à acelerada deterioração da função pulmonar em pacientes com COVID-19. Embora a avaliação do esforço respiratório por meio da ΔPes seja um indicador precoce e robusto de insucesso da VNI, a abordagem pode ser pouco tolerada em alguns pacientes. Por outro lado, as alterações respiratórias cíclicas no pulso arterial também determinam alterações proporcionais na forma de onda de oximetria de pulso, uma modalidade de medição rotineiramente empregada para monitoramento da saturação de oxigênio de pacientes internados com COVID-19.
As oscilações respiratórias da pressão pleural induzem oscilações no pulso arterial, como no Pulso Paradoxal, observado em distúrbios cardíacos e respiratórios, como na crise da asma brônquica. Em pacientes com insuficiência respiratória aguda, a magnitude dessas oscilações da forma de onda da oximetria de pulso, conhecida como índice de variabilidade pletismográfica (PVI-Pleth Variability Index), depende quase exclusivamente da magnitude das alterações na pressão pleural, associadas ao esforço respiratório. Assim, considerando ainda que PVI é rotineiramente empregada na abordagem hospitalar, apresenta potencial aplicação para avaliação do esforço inspiratório durante a insuficiência respiratória aguda, relacionada com pneumonia bacteriana ou viral, como COVID-19.
Propõe-se o monitoramento do índice de variabilidade pletismográfica como estratégia de fácil acesso e praticidade para avaliação do esforço inspiratório em pacientes em ventilação não-invasiva, contribuindo como indicador precoce da necessidade de intubação traqueal. O emprego do oxímetro de pulso para medição de PVI, com potencial relevância na abordagem de pacientes internados com COVID-19, é proposto como alternativa à manometria esofágica, recentemente descrita na literatura.
Os estudos na literatura sugerem que a falta de alívio do esforço inspiratório nas primeiras 2 horas de ventilação não-invasiva, quantificado pela ΔPes, que não se reduza em valor > 10 cm H2O, é um preditor precoce e preciso de falha da VNI após 24 horas, requerendo intubação traqueal. A monitorização da PVI pode representar uma alternativa prática à quantificação da ΔPes. Entretanto, ainda são necessários estudos para confirmar esta hipótese e determinar o valor de corte da PVI que equivaleria ao valor discriminatório de até 10 cm H2O de redução da ΔPes, como indicador precoce para intubação traqueal.