AGLEY, J.; XIAO, Y. Misinformation about COVID-19: evidence for differential latent profiles and a strong association with trust in science. BMC Public Health., v. 21, n. 1, p. 89, Jan. 2021. Doi: 10.1186/s12889-020-10103-x. Disponível em: https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/33413219/
O artigo objetivou analisar, a partir de uma pesquisa transversal realizada com adultos norte-americanos, a crença em teorias conspiratórias a respeito da COVID-19 (transmissão do vírus por 5G, conspiração da vacina de Bill Gates, desenvolvimento laboratorial do vírus, restrições de liberdade e científica). 660 pessoas participaram da pesquisa, sendo todas questionadas sobre a credibilidade das cinco narrativas selecionadas, orientação política, compromisso religioso, confiança na ciência e itens sociodemográficos. Emergiram quatro perfis distintos de crença e uma das principais conclusões é de que a crença na narrativa que reflete o consenso científico pode não ser mutuamente excludente da crença em desinformação ou em conspirações.
A introdução foi dividida em quatro subitens. Inicialmente contextualizaram a pandemia, os esforços científicos para a divulgação das pesquisas relacionadas e a percepção da comunidade de pesquisadores a respeito da disseminação de desinformação, teorias conspiratórias e informações não verificadas sobre a COVID-19.
Para investigar o problema, identificaram perfis de crenças sobre as narrativas da COVID-19, a partir de Análise de Perfil Latente (LPA), e elencaram as duas hipóteses: (i) há perfis distintos de crenças nos indivíduos em diferentes narrativas relativas à COVID-19; e (ii) a confiança na ciência é menor entre os subgrupos endossadores da desinformação ou conspiração, mesmo após o controle das características sociodemográficas, de orientação política e religiosa.
Quanto aos métodos, a amostra foi de 660 usuários do mTurk dos Estados Unidos com 18 anos ou mais. Foram solicitadas as informações supramencionadas e a avaliação da credibilidade de cada narrativa foi feita a partir da escala tipo Likert, de 1 a 7 (extremamente inacreditável para extremamente confiável), no total de 21 questões. A análise estatística foi realizada em quatro etapas.
Os “Resultados” indicaram uma maior prevalência do sexo masculino (61,82%), de brancos (60,45%), idade média de 24,8 anos e 50,83% graduado. As pontuações médias de orientação política, compromisso religioso e confiança na ciência foram, respectivamente, 4,82, 4,82 e 3,65. Dentre os perfis de crenças em narrativas tivemos que o Perfil 1 (463 pessoas) geralmente acreditava na narrativa científica e tendia a não acreditar em outras. Foram os que menos acreditaram na narrativa 5G e os que mais credibilizaram a narrativa zoonótica para a origem da COVID-19.
O perfil 2 (54 pessoas) considerou todas as declarações altamente plausíveis; o perfil 3 (77 pessoas) relatou credibilidade de baixa a moderada para todas as quatro narrativas e a menor pontuação para a narrativa zoonótica; e o perfil 4 (66) apresentou credibilidade razoavelmente alta para a maioria das narrativas, diferindo-se do perfil 2 por indicar menos plausibilidade na narrativa 5G.
Na “Discussão” foi identificado que a confiança na ciência era menor entre os grupos que relataram alta credibilidade para informações incorretas sobre a COVID-19, o que foi parcialmente suportado pelos resultados.
A pesquisa confirmou outros achados, como o elevado índice de pessoas nos Estados Unidos que acreditam em pelo menos uma teoria da conspiração. Verificou-se ainda que as pessoas céticas em relação à desinformação tendem a acreditar na ciência, que a neutralidade sobre a credibilidade de narrativas mal-informadas não necessariamente se traduz em endosso à científica e que há grupos latentes para as quais a crença na ciência não mutuamente exclui a crença na desinformação.
A crença na ciência parece estar associada a uma menor probabilidade de expressar um padrão de crença endossador de narrativas definitivas ou provavelmente mal-informadas. Ou seja, não é necessariamente irracional para uma pessoa não inserida na pesquisa científica relatar nível mais baixo de confiança na ciência com base na ideia de que certas teorias estão erradas, foram fraudulentas ou estão em progresso.
A pesquisa sugere que construir sistematicamente a confiança na ciência pode ser uma maneira eficaz de proteger a população contra informações incorretas, mostrando como a ciência funciona e a sua confiabilidade.
Dentre as limitações apontadas estão: a irrepresentatividade nacional dos dados, possibilidade de o estudo estar sujeito a viés de variável omitida, e impossibilidade de afirmar qualquer causalidade.
A conclusão sugere que acreditar em desinformação sobre COVID-19 pode não ser mutuamente excludente de acreditar em explicação científica e que a maioria dos que acreditam em desinformação acredita em várias narrativas diferentes.
Por fim, os autores recomendam aumentar a amostra, aferir a possibilidade de replicação, estruturar estudos longitudinais e desenhar experimentos randomizados para determinar se as intervenções breves podem melhorar a confiança na ciência.