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Lesão renal aguda em pacientes criticamente enfermos com COVID-19

SARMENTO, Rogério

GABARRE, P. et al. Acute kidney injury in critically ill patients with COVID‑19. Intensive Care Med , v.46, n. 7, p. 1339-1348, Jul. 2020. DOI: 10.1007/s00134-020-06153-9. Disponível em: https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/32533197/

O trabalho aqui apresentado é um artigo de revisão, que analisa a incidência e possíveis causas da lesão renal aguda em pacientes com COVID-19.

A incidência de lesão renal aguda, levando à insuficiência renal aguda em pacientes com COVID-19, é muito variável de acordo com as publicações analisadas neste artigo, porém fica em torno de 11% com oscilações entre 8 e 17%. O que chama atenção é que essa incidência aumenta muito nos casos de pacientes graves, ou seja, aqueles que necessitam de unidades de terapia intensiva, intubação orotraqueal e ventilação mecânica. Nesses casos de maior gravidade, a incidência aumenta para 23% com oscilações entre 14 e 35%. Dentro do conjunto desses pacientes graves, 5% necessitaram de terapia com diálise, por decorrência de uma condição de falência total da função renal.

As hipóteses para as causas da insuficiência renal na COVID-19 abrangem mecanismos diretos e mecanismos indiretos.

Os mecanismos diretos da lesão renal provocada pelo vírus envolvem a sua ação direta em receptores muito presentes nos rins, como o ACE2 (receptor da enzima conversora de angiotensina), ocasionando lesão renal provocada pelas citocinas inflamatórias que são liberadas durante a infecção e também pela trombose microvascular que provoca uma diminuição da chegada de sangue nos glomérulos, os quais são responsáveis pela produção de urina. É bom lembrar que a infecção por COVID-19 leva a um estado de hipercoagulabilidade, ou seja, aumento da produção de trombos e, por isso, muitos pacientes têm que utilizar anticoagulantes em doses altas durante o tratamento.

Dentre os mecanismos indiretos, em pacientes com as formas graves de COVID-19, destacam-se: a alta incidência de doenças, como a hipertensão arterial sistêmica e a diabetes mellitus que, por si só, já levam a lesão renal; as alterações no sistema cardiovascular provocadas pela lesão cardíaca; e diminuição da perfusão de todos os órgãos, que ocorre durante a ventilação mecânica. Nesses casos, a diminuição do sangue que chega aos rins contribuiria para o desenvolvimento da insuficiência renal. As consequências da ventilação mecânica nas formas graves da COVID-19 são muito agressivas tanto para o pulmão quanto para o sistema cardiovascular, devido à gravidade e à complexidade do acometimento pulmonar desta doença. O uso de drogas nefrotóxicas, durante o tratamento, também é um importante componente para produzir a lesão renal indireta. Dentre essas drogas, os antibióticos, muito utilizados em função da pneumonia bacteriana secundária que ocorre na evolução das formas graves da doença, se destacam na intensificação da nefrotoxicidade.

A importância dessa revisão foi evidenciar a alta incidência de insuficiência renal aguda nas formas graves de COVID-19, o que aumenta o tempo de internação, os custos do tratamento e a mortalidade dos pacientes. Outras importantes informações são a certeza da lesão renal direta pelo vírus, e também o fato de que, apesar do RNA viral ser encontrado na urina, não existem evidências de transmissão da doença através dela.

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