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Notícias rápidas ou notícias falsas? As vantagens e as armadilhas da publicação rápida através de servidores de preprints durante uma pandemia

PESSANHA, Pedro Gonçalves

King, Anthony. Fast news or fake news?: The advantages and the pitfalls of rapid publication through pre-print servers during a pandemic EMBO reports. V.21 n.6 p. e50817. 2020. Doi 10.15252/embr.202050817. Disponível em : http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/32496027

Desde o início da pandemia os servidores de preprints disponibilizam muitos textos e informação sobre  COVID-19. Em momento de crise a velocidade que esse meio possibilita foi vista como grande aliada. Porém muitos cientistas preocupam-se com a qualidade dessa informação divulgada. Principalmente com o grande potencial de espalhar notícias falsas.

A principal motivação para a criação de servidores de preprints foi agilizar a disseminação de dados de pesquisa. Quanto mais rápido os dados preliminares  circularem, mais rápido a ciência avançará. Segundo os criadores, a importância dos preprints nunca foi tão evidente, e pessoas na linha de frente do tratamento da pandemia fizeram coro. Porém, preprints são manuscritos, não uma pesquisa completa, fato nem sempre conhecido pelo público geral. Muita informação ali não é necessariamente correta, e não é um problema exclusivo; em tempos de crise o rigor científico de revistas especializadas tem diminuído também, e isso é um problema.

A preocupação com os preprints vai além da pandemia, evidencia o problema das notícias falsas e os desacordos criados entre grupos sociais. A preocupação principal é criar um veículo de desinformação e de deslegitimação da ciência e da pesquisa científica, dando força a teorias da conspiração. Todavia, existe uma preocupação dos servidores de preprints de garantir rigor científico nos artigos publicados. Há um processo de triagem que filtra plágios e opiniões não embasadas. Foi o que aconteceu com alguns artigos que propunham terapias para COVID-19, que foram enviadas para revisão, para não criar alarde em algo que não funciona.

A quantidade de preprints é enorme. Faz-se necessário uma curadoria para separar o que é realmente relevante do que não trará avanços. A Organização Europeia de Biologia Molecular  criou uma plataforma de curadoria para tornar os dados nas publicações mais facilmente pesquisáveis. Apesar da velocidade, as desvantagens do crescimento no número de preprints normalmente superam a velocidade. Os periódicos estão acelerando o processo de publicação em detrimento do rigor científico. Apesar da velocidade ter valor, não são todos que possuem a experiência necessária para avaliar os rascunhos e reconhecer erros; ao mesmo tempo acontece um excesso de informações, nem todas boas.

O público não entende de servidores de preprints,  revisão por pares, ou quão real é o conhecimento científico. Preprints são trabalhos em andamento e um dos objetivos é receber comentários de outros cientistas que ajudem na progressão. Toma-se como fato informações divulgadas, mesmo que não tenham sido revisadas, ou sejam apenas rascunhos. A revisão por pares serve para evitar que estudos sem comprovações ou testes sejam publicados. Nesse momento de pandemia continua sendo importante, para que não se espalhe rumores ou crie-se situações como a da publicidade da cloroquina como tratamento, que foi uma promessa exagerada e com poucas evidências.

A pressão por descobertas desencadeada pela pandemia encoraja pessoas a publicar e reclamar créditos por pesquisas incompletas. A imprensa divulga amplamente conteúdos de preprints, porém os pesquisadores que os escreveram são desencorajados a dar declarações a jornalistas sobre suas pesquisas. O compartilhamento de dados ocorre em tempo real, mas a qualidade diminui. Isso tem acontecido também em artigos revisados por pares. Os preprints não vão parar, são uma realidade. O que deve ser feito é ficar atento às limitações e aos problemas, e manter o rigor científico mesmo em situações de crise, como pandemias.

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