LI, Zhi; et. al. From the insight of glucose metabolism disorder: Oxygen therapy and blood glucose monitoring are crucial for quarantined COVID-19 patients. Ecotoxicol Environ Saf v. 197, p. 110614, jul 2020. DOI: 10.1016/j.ecoenv.2020.110614. Disponível em: http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/32298856
Os autores radicados em Wuhan e Pequim, China, descrevem o impacto da hipóxia decorrente da infecção por COVID-19 no metabolismo da glicose, seu possível papel na evolução desfavorável da doença e sugerem monitorização glicêmica e oxigenioterapia nos casos leves em acompanhamento domiciliar.
A inflamação pulmonar decorrente da infecção pela COVID-19 compromete a troca de oxigênio e gera hipoxemia, que tem se manifestado acompanhada de distúrbios no metabolismo da glicose. A maioria dos pacientes com agravamento clínico da doença apresentam níveis elevados de Lactato Desidrogenase (LDH), hiperglicemia e aumento do lactato sanguíneo, sugerindo que o descontrole do metabolismo glicêmico pode estar relacionado a uma pior evolução da doença.
O metabolismo aeróbico da glicose produz ATP, fonte de energia essencial para os processos biológicos. Na ausência de oxigênio, o metabolismo anaeróbico da glicose leva a consequências importantes: 1) redução da produção de NADPH, que tem papel importante no equilíbrio do sistema antioxidativo e no controle do sistema imunológico; e 2) formação de piruvato, que é fermentado a lactato, que é menos eficaz em produzir ATP.
Durante o processo de replicação do vírus nas células, há aumento do consumo de ATP, produzindo-se ainda mais lactato, o que sobrecarrega as vias hepáticas de metabolismo e leva ao aumento dos níveis circulantes de lactato e LDH. Além disso, a deficiente produção de ATP sob estado de hipóxia compromete diversos processos celulares no organismo, como a absorção de glicose pelas células, a decomposição do glicogênio hepático e a conversão de glicose em aminoácidos e ácidos graxos. Por isso, pacientes com infecção por COVID-19 apresentam hiperglicemia secundária à hipoxemia e queda do desempenho das funções a nível celular, além de comprometimento do sistema de proteção antioxidativo.
A suplementação com oxigênio é parte do tratamento hospitalar oferecido aos pacientes mais graves. Porém, casos leves que são usualmente tratados em casa podem evoluir para quadros graves em poucos dias.
Os autores avaliaram 65 pacientes admitidos para internação, 23 graves e 42 leves. Os mais graves tinham índices laboratoriais de LDH sanguíneo, glicemia e lactato sanguíneo mais elevados que os casos mais leves. A suplementação de oxigênio se relacionou com melhora significativa dos indicadores laboratoriais, e 35 dos 42 doentes mais leves evoluíram sem piora do quadro, sugerindo que a oxigenioterapia em pacientes com quadros mais leves pode ter um papel em reduzir o risco de progressão para quadros mais graves.
Baseado nesta observação, os autores sugerem que os pacientes com quadros leves que não necessitem internação e sejam mantidos em quarentena domiciliar também devam ter monitoramento da glicose sanguínea e garantia de um suporte adequado de oxigênio para reduzir o risco de progressão da doença para estágio de maior gravidade.