Furukawa, Nathan W.; Brooks, John T.; Sobel, Jeremy. Evidence Supporting Transmission of Severe Acute Respiratory Syndrome Coronavirus 2 While Presymptomatic or Asymptomatic. Emerging Infectious Diseases, v. 26, n.7. DOI: 10.3201/eid2607.201595 . Disponível em : http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/32364890
Com o desenvolvimento da pandemia da Covid-19 foi observado que algumas pessoas infectadas podem não apresentar sinais e sintomas da doença, sendo identificadas como pré-sintomáticas (RNA do SARS-CoV-2 detectado antes do início dos sintomas) e assintomáticas (RNA do SARS-CoV-2 detectado, mas nunca desenvolvem sintomas). Esta revisão tem por objetivo apontar evidências da transmissão do SARS-CoV-2 pré-sintomática e assintomática. Relatórios epidemiológicos, virológicos e de modelagem recentes apoiam esta transmissão, e sua evidência seria de grande importância na prevenção do contágio. Porém, existem ainda incertezas sobre esta afirmação e o desenvolvimento de imunidade protetora.
Foram analisados, no PubMed, artigos publicados de 1 de janeiro a 2 de abril de 2020 relacionados a transmissão SARS-CoV-2 pré-sintomática e assintomática antes da obrigatoriedade do uso de máscaras. Foram incluídos artigos originais, relatórios breves e correspondências, com objetivo de relatar evidências epidemiológicas, virológicas ou de modelagem para transmissão pré-sintomática ou assintomática de SARS-CoV-2.
Este estudo considerou três pontos principais: evidência epidemiológica, evidência virológica e evidência de modelagem. As evidências epidemiológicas foram inicialmente identificadas na China, mas também na Alemanha e em Cingapura, onde pacientes primários pré-sintomáticos ou assintomáticos foram submetidos a contato durante viagem, encontros familiares ou visitas a parentes doentes. Esta transmissão ocorreu em famílias ou domicílios, com período de incubação nos casos pré-sintomáticos de 2 a 11 dias.
A infecção por SARS-CoV-2 é diagnosticada principalmente pela presença de RNA viral de transição reversa (RTP-PCR) ou por cultura viral. O RTP-PCR identifica a presença do RNA viral, mas não a presença do vírus infeccioso, porém os autores mostram que se o número de ciclos de PCR necessários para detectar o RNA SARS-CoV-2 (RT-PCRct) tiver valores mais baixos indicaria maior carga viral e maior poder de infecção. Embora os relatórios avaliados não identificassem a transmissão real do vírus enquanto pré-sintomático ou assintomático, os baixos valores de RT-PCRct (ou seja, alta carga viral) e a capacidade de isolar o SARS-CoV-2 infeccioso forneceram evidências virológicas para pensarmos em sua transmissão nestes grupos sem sintomas.
Demonstraram que relatos de casos primários (contato com contaminados sabidamente) e secundários (sem contato) sugerem que 13% das infecções podem ser transmitidas durante período pré-sintomático, a partir da identificação de que o intervalo para aparecimento de Covid-19 foi de 4 dias (menor que o período médio estimado de incubação de 5 dias). Outros estudos analisados mostraram que até metade das infecções foram transmitidas por pré-sintomáticos e 4/5 por assintomáticos ou com leves sintomas, sugerindo que muitos destes infectados não foram detectados contribuindo para o desenvolvimento da pandemia.
Os autores concluíram, a partir destas constatações, que provavelmente o número de infectados é maior do que o registrado, o que reforça a importância do distanciamento físico, uso de máscaras para diminuir a transmissão, e ainda testar e mapear os contatos interrompendo as cadeias de contágio. Precisamos estar atentos à incidência de infecção assintomática em relação aos sintomáticos, sendo cada vez mais necessários o rastreamento dos contatos, teste em massa e isolamento de contatos assintomáticos. Importante também identificar se estes assintomáticos ou com infecção leve podem ser capazes de desenvolver imunidade protetora, qual seu tempo de duração e se serão imunes a reinfecção, mas ainda assim capazes de transmitir. Estas respostas serão necessárias para orientação da retomada às funções normais da sociedade.