Evidências Covid 19

English French German Spain Italian Dutch
Russian Portuguese Japanese Korean Arabic Chinese Simplified

Como a COVID-19 afeta a conduta médica de anestesiologistas e intensivistas?

English French German Spain Italian Dutch
Russian Portuguese Japanese Korean Arabic Chinese Simplified

Implicações da Infecção por COVID-19 para Médicos Anestesiologistas e Intensivistas

SARMENTO, Rogério

GREENLAND, John R.; et al. COVID-19 Infection Implications for Perioperative and Critical Care Physicians. Anesthesiology, v.132, n. 6, p.1346-1361, jun. 2020. DOI: 10.1097/ALN.0000000000003303. Disponível em: http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/32195698

O presente artigo de revisão foi publicado no início da pandemia. Naquele momento eram 110.000 casos, com 3.800 mortes ocasionadas pelo coronavírus pelo mundo. O artigo visa atualizar os profissionais de saúde, especialmente anestesiologistas e intensivistas, sobre o vírus e suas implicações médicas, desde o diagnóstico, proteção individual, controle da disseminação e tratamento do paciente grave, com foco principal no componente respiratório.

O trabalho começa com um breve histórico da pandemia e traça um paralelo com outros vírus que causam doenças respiratórias, como o influenza e parainfluenza, o vírus respiratório sincicial, o citomegalovírus, e o hantavírus, que levam a doenças do trato respiratório superior (traqueobronquite), enquanto que o subtipo H5N1 do influenza e os betacoronavírus têm afinidade por receptores que ficam no epitélio do trato respiratório inferior, levando a pneumonia.

Os coronavírus responsáveis por casos graves de pneumonia, como o tipo 1, o tipo 2, responsável pela atual pandemia COVID 19 e a doença respiratória do Oriente Médio, foram inicialmente isolados em morcegos, mas utilizam diferentes mamíferos como hospedeiros intermediários, como o camelo e o pangolim. O coronavírus 2 exerce sua patogenia através de um tropismo pelos receptores da enzima conversora de angiotensina 1, presente no endotélio do trato respiratório inferior e responsável pela transformação da angiotensina 1 em angiotensina 2, enzima importante na regulação de várias funções cardiovasculares. A presença destes receptores no endotélio dos vasos sanguíneos, dos enterócitos  e dos miócitos, explicam outros sintomas que podem ocorrer na COVID 19 como, choque, diarreia e miocardite.

A replicação viral leva a uma resposta inflamatória, com a liberação de substâncias como interleucinas, interferons e outras que são, em grande parte, responsáveis pela doença que se instala nos humanos. Apesar da maioria dos infectados desenvolver uma forma leve da doença, em torno de 15% desenvolve uma forma grave manifestada principalmente por pneumonia com falta de ar, um achado típico na tomografia computadorizada de infiltrado em vidro fosco e necessidade de oxigênio suplementar que pode ser ofertado desde cateteres nasais até máscara com reservatório, o que aumenta a quantidade de oxigênio ofertada, assim como o cateter nasal de alto fluxo, e nos casos mais graves intubação traqueal e ventilação mecânica com parâmetros específicos, também descritos no artigo, para que a própria ventilação mecânica não seja mais prejudicial que benéfica ao paciente.

Esta resenha pertence ao grupo sobre:

Como a COVID-19 afeta o sistema cardiovascular?

English French German Spain Italian Dutch
Russian Portuguese Japanese Korean Arabic Chinese Simplified

COVID-19 e Doença Cardiovascular

BIOLCHINI, Larissa Dungs

Clerkin KJ, et al. COVID-19 and Cardiovascular Disease. Circulation. v.141, n.20, p.1648-1655, 2020. doi:10.1161/CIRCULATIONAHA.120.046941 Disponível em; https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/32200663/

O artigo discorre sobre a alta prevalência de doenças cardiovasculares (DCV) e a ocorrência de injúria miocárdica em pacientes infectados com a COVID-19, o papel dos inibidores da enzima de conversão de angiotensina (IECA) ou bloqueadores do receptor de angiotensina (BRA) e a necessidade de maior investigação quanto aos seus benefícios ou danos e sobre o desafio de transplantes cardíacos durante a pandemia.

As DCV são comorbidades frequentes em pacientes com COVID-19. Em uma coorte de 191 pacientes em Wuhan, China, comorbidades em geral eram presentes em 48% dos pacientes, hipertensão arterial em 30%, Diabetes Mellitus em 19% e DCV em 8%. Uma metanálise de 8 estudos da China, incluindo 46.248 pacientes infectados, mostrou maior prevalência de hipertensão e diabetes, seguidos por DCV. O mecanismo dessas associações permanece incerto.

Possíveis explicações seriam a maior prevalência de DCV em pacientes com idades mais avançadas, a funcionalidade prejudicada do sistema imunológico, níveis elevados de ACE2  ou maior predisposição à COVID-19 em pacientes com DCV.

A injúria miocárdica evidenciada pela elevação dos biomarcadores cardíacos foi reconhecida em casos recentes na China. O relatório da Comissão Nacional de Saúde da China aponta que quase 12% dos pacientes com DCV não conhecida apresentaram níveis elevados de troponina ou parada cardíaca durante a hospitalização. A lesão miocárdica pode resultar da tempestade de citocinas manifestada por níveis elevados de interleucina-6, ferritina, lactato desidrogenase (LDH) e D-dímero ou disfunção miocárdica pelo efeito direto do vírus no coração.

A entrada do SARS-CoV-2 nas células é dependente da ACE2, no entanto esta enzima parece ser protetora contra a lesão pulmonar aguda do vírus. A ligação da proteína do vírus aos receptores da ACE2 leva a um aumento de angiotensina 2 com consequente aumento da permeabilidade vascular pulmonar, induzindo edema pulmonar. A losartana está sendo estudada para potencial redução de lesão pulmonar em pacientes internados e ambulatoriais com COVID-19. Atualmente, quase todas as grandes sociedades recomendam não iniciar ou interromper inibidores do sistema renina-angiotensina-aldosterona, a menos que isso seja feito por razões clínicas independentes da COVID-19, devido à falta de evidências disponíveis sobre seus possíveis benefícios ou danos.

A pandemia levantou a questão sobre continuar oferecendo transplantes cardíacos devido a preocupações com o risco de exposição à COVID-19 durante a hospitalização, bem como os desafios no controle da infecção no contexto de altos níveis de imunossupressão. As recomendações atuais são de continuar o transplante cardíaco sem alterações na imunossupressão desde que o receptor do órgão não tenha testado positivo para SARS-CoV-2 e não tenha tido exposição ou sintomas de COVID-19 nas 2 a 4 semanas anteriores. Também é recomendado evitar doadores com COVID-19 confirmada ou suspeita e se um doador tiver COVID-19, ele deve estar livre do vírus por reação em cadeia de polimerase (PCR) por pelo menos 14 dias (devido ao período de incubação de aproximadamente 5 dias e início dos sintomas de aproximadamente 11,5 dias).

Vacinas e anticorpos monoclonais contra o SARS-CoV-2 estão em desenvolvimento. O ACE2 recombinante (APN01) foi desenvolvido em 2010 e pode potencialmente neutralizar o vírus e proteger contra lesões pulmonares agudas. Os autores também citam as seguintes drogas como tratamentos em estudo: inibidor da serina-protease mesilato de camostato, Remdesivir, Cloroquina, Hidroxicloroquina e Lopinavir/Ritonavir em combinação com Ribavirina e Tocilizumab, assim como as drogas utilizadas para o vírus influenza como Osetalmivir, Arbidol e Favipiravir.

Esta resenha pertence ao grupo sobre:

Quais as características da COVID-19?

English French German Spain Italian Dutch
Russian Portuguese Japanese Korean Arabic Chinese Simplified

Doença do Coronavírus 2019 (COVID-19): uma revisão de literatura

LASSANCE, André

Harapan, Harapan et al. Coronavirus disease 2019 (COVID-19): a literature review. Journal of infection and public health. vol. 13,n.5, p. 667-673, mai. 2020. Doi:10.1016/j.jiph.2020.03.019 Disponível em: https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC7142680/

Os autores realizaram uma revisão na literatura sobre o novo Coronavírus, com objetivo de resumir as informações até então disponíveis.

Em 31 de dezembro de 2019 a China alertou a Organização Mundial de Saúde (OMS) sobre uma nova epidemia de pneumonia de origem desconhecida em pessoas que tinham frequentado um mercado de frutos do mar (Huanan Seafood Wholesale Market) na cidade de Wuhan, China.

O vírus foi nomeado como SARS-CoV-2 e possui grande semelhança genética com dois patógenos: SARS-CoV e MERS-CoV, responsáveis por duas epidemias importantes. O nome da doença é COVID 19. As análises genéticas do vírus demonstraram que os morcegos provavelmente foram os primeiros hospedeiros. Apesar dessa evidência, há muitas razões para não se acreditar que os morcegos transmitam diretamente aos humanos.

Inicialmente os casos foram atribuídos aos que tiveram contato direto com o mercado de frutos do mar. Após alguns dias, a transmissão  entre pessoas ficou bem estabelecida, ocorrendo através da fala e espirros, bem como utensílios de uso pessoal. Os coronavirus podem sobreviver em superfícies por até 9 dias. O período médio de incubação é de 5 dias.

A incidência da infecção por SARS-CoV-2 é observada com mais frequência em pacientes adultos do sexo masculino com idade média entre 34 e 59 anos. A SARS-CoV-2 também tem maior probabilidade de infectar com gravidade pessoas com comorbidades crônicas, como doenças cardiovasculares e cerebrovasculares e diabetes. Poucos casos de COVID-19 foram relatados em crianças com menos de 15 anos. 

A progressão para Síndrome da angústia respiratória do adulto na COVID-19 é  indicação de que a enzima conversora de angiotensina (ECA 2) pode ser uma via de entrada para o SARS-CoV-2, pois ela é  abundantemente presente nas células ciliadas do epitélio das vias aéreas e dos pneumócitos tipo II  em humanos. É relatado que pacientes infectados com SARS-CoV-2 apresentam níveis plasmáticos mais elevados de citocinas pró-inflamatórias do que adultos saudáveis. É importante ressaltar que os pacientes na unidade de terapia intensiva (UTI) têm um nível significativamente mais alto dessas citocinas do que aqueles não pertencentes à UTI.

Os sintomas mais comuns incluem febre, tosse seca, dispneia, dor no peito, fadiga e mialgia. Os casos suspeitos de SARS-CoV-2, segundo a OMS, são basicamente aqueles que apresentam sintomas respiratórios/gripais e tiveram contato com outras pessoas com COVID 19. Um caso confirmado como positivo é aquele com confirmação laboratorial da infecção por SARS-CoV-2, independentemente de sinais e sintomas clínicos. As alterações laboratoriais incluem danos renais e  hepáticos, coagulopatias e inflamação. Os níveis de pró-calcitonina têm se mostrado normais. Dados de estudos indicam que os achados típicos da tomografia computadorizada de tórax são infiltrado em vidro fosco pulmonar bilateral e opacidades pulmonares com consolidação.

Ainda não há tratamento específico validado. Recomenda-se isolamento e cuidados de suporte, incluindo oxigenoterapia, hidratação oral e tratamento com antibióticos para infecções bacterianas secundárias. O uso de imunoglobulina intravenosa pode ajudar em pacientes graves.

A COVID-19 é claramente uma doença séria de preocupação internacional. Semelhante ao SARS-CoV e MERS-CoV, interromper a cadeia de transmissão é considerado essencial para interromper a propagação da doença. Diferentes estratégias devem ser implementadas nos contextos de assistência à saúde e nos níveis local e global.

Esta resenha pertence ao grupo sobre:

Como a Covid-19 afeta neurologicamente?

English French German Spain Italian Dutch
Russian Portuguese Japanese Korean Arabic Chinese Simplified

Manifestações neurológicas associadas a Covid-19

GIESTA, Monica Maria da Silva

 Leonardi M ; Padovani A ; McArthur J C. Neurological manifestations associated with COVID-19: a review and a call for action. J Neurol. v. 267, n. 6, p.1573-1576, jun. 2020 . Disponível em: https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC7238392/

As manifestações neurológicas têm sido observadas desde o aparecimento da pandemia de COVID 19 e sua disseminação em nível mundial. O fato levou a descrições de acometimentos no Sistema Nervoso Central e Periférico, embora até o presente momento permaneçam interrogações sobre a severidade, frequência e gravidade do acometimento, assim como quais fatores possam predispor ao quadro neurológico.

Os autores realizaram uma revisão sistemática de publicações chinesas e italianas, após suas próprias observações de que um grande número de pacientes apresentava ausência ou diminuição do olfato, assim como outras alterações possíveis de acometimento do Sistema Nervoso, inclusive manifestações respiratórias de origem possivelmente neurológica.

A  metodologia usada foi a busca bibliográfica em língua inglesa através do Pubmed cruzando os termos COVID 19 ou correlatos ( novo COVID, n COV, COV2)  com termos relacionados a neurotropismo ou sintomas neurológicos. Dos 198 artigos resultantes da busca, apenas 29 foram avaliados na íntegra e os demais excluídos pelos seguintes motivos: dificuldade de acesso ao texto integral, análise dos resultados e assunto abordado no texto integral.

Os achados relacionados as manifestações neurológicas da COVID 19 foram divididos em três grandes categorias: Central, Periférica e Musculoesquelética. As ocorrências relativas ao Sistema Nervoso Central mais observadas foram perda da consciência, tonteira, Acidente Vascular Cerebral (AVC) por isquemia ou hemorragia, convulsões e movimentos desordenados como ataxia e inflamação cerebral. Em um dos sobreviventes de Wuhan citam ainda a ocorrência de hipoventilação de causa neurológica. Os autores destacam a presença de delírio em 22% dos pacientes chineses que evoluíram para óbito, enquanto a frequência foi apenas de 1% naqueles que se curaram nos pacientes chineses. Na Itália houve relato de Síndrome de Guillain-Barré.

 Os fenômenos relativos ao Sistema Nervoso Periférico foram alteração ou ausência de olfato em 5% dos pacientes, dormência e dor espontânea.

Os eventos relativos ao sistema musculoesquelético ocorreram em aproximadamente 10% dos pacientes chineses, constituindo-se de dor e lesões musculares.

Na discussão, o artigo chama a atenção para o acometimento do sistema nervoso em vários níveis, ressaltando a necessidade de melhor compreensão da frequência, severidade, mecanismo de ação e relação entre estes sintomas e a gravidade da evolução da doença. Fazem questionamentos em três linhas:
Estes achados são frequentes em outros países? A inflamação causada pelo vírus seria o fator desencadeante? O vírus teria afinidade por células do sistema nervoso?

A conclusão aponta para a necessidade de um estudo mais bem elaborado e estruturado para estas respostas e, entendendo a limitação de sua própria revisão, os autores clamam a comunidade científica para a contribuição e notificação das evidências.

Esta resenha pertence ao grupo sobre:

Como as terapias de purificação corporal podem melhorar a evolução de pacientes com sepse decorrente de Covid-19?

English French German Spain Italian Dutch
Russian Portuguese Japanese Korean Arabic Chinese Simplified

Terapia renal substitutiva e imunoadsorção nos pacientes graves com COVID-19

MOURÃO, Talita

CHEN, G.; et al. Is there a role for blood purification therapies targeting cytokine storm syndrome in critically severe COVID-19 patients? Renal Failure, v. 42, n.1, p. 483-488, nov. 2020. DOI: 10.1080/0886022X.2020.1764369. Disponível em: http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/32438839

O artigo revisa diferentes aspectos das terapias de purificação do sangue e seu potencial papel no tratamento de casos críticos de COVID-19, com envolvimento renal, nos quais a tempestade de citocinas parece envolvida na patogênese. A terapia de substituição renal  na modalidade contínua e a imunoadsorção  são as técnicas discutidas.

As manifestações clínicas típicas da COVID-19 incluem febre e sintomas respiratórios, mas cerca de 5 a 6% dos pacientes evoluem para casos criticamente graves – quando desenvolvem insuficiência respiratória, ou falência circulatória ou ainda combinação de outra insuficiência orgânica. Neste grupo de pacientes, o acometimento renal pode chegar a 29% e eleva sobremaneira a mortalidade.

A síndrome da tempestade de citocinas, caracterizada por liberação maciça delas e resposta imune exacerbada, tem sido envolvida na patogênese da COVID-19 grave como responsável pelo dano aos órgãos. Com base nestas evidências, foram propostas terapias de purificação sanguínea para pacientes com alta resposta inflamatória, com recomendação de intervenção precoce através da terapia de substituição renal na modalidade contínua e imunoadsorção.

A diálise contínua, além de melhorar a sobrecarga de água, é também benéfica ao remover fatores inflamatórios e poderia melhorar o prognóstico de pacientes graves. Os resultados de estudos que avaliaram a mortalidade em pacientes com sepse, entretanto, foram conflituantes, tanto em determinar o melhor momento para início da terapia, como a dose ideal de diálise a ser fornecida ao paciente. Ainda assim, a segurança destas terapias em pacientes críticos, com estado circulatório instável, sugere que tratamentos semelhantes são aplicáveis aos paciente com COVID-19 grave, devendo-se considerar a combinação de outras técnicas.

O potencial valor das membranas de alto rendimento com função de adsorção  também tem sido estudada em pacientes críticos com lesão renal aguda. A maior adsorção pode aumentar a remoção de solutos  como mediadores inflamatórios e endotoxinas. Resultados positivos, como melhoria nas escalas que avaliam a falência de órgãos e redução de mortalidade, são descritos.

Estudos para avaliar a terapia híbrida, que combina filtração do plasma e adsorção de citocinas – adsorção de filtração de plasma acoplada (CPFA) – em pacientes com choque séptico não foram adiante pela falta de resultados positivos imediatos.  Entretanto, o surgimento de um novo dispositivo, que permite adsorção mais eficaz de citocinas e que mostrou redução de mortalidade em doentes com sepse, poderia melhorar o prognóstico dos pacientes com COVID-19 no estágio inicial da tempestade de citocinas.

Assim, a aplicação precoce de terapias de purificação do sangue com doses intensas em pacientes graves com COVID-19 poderia alcançar melhor eficácia terapêutica, como estabilização hemodinâmica e melhoria na disfunção de órgãos.

Como conclusão, os autores descrevem que, com base na experiência derivada de outras doenças graves mediadas por vírus que podem evoluir para sepse, as terapias de purificação de sangue parecem ter papel benéfico no tratamento de pacientes com COVID-19 grave e lesão renal aguda. Novas tecnologias de membrana direcionadas à remoção de citocinas podem melhorar os resultados e deve-se dar atenção à “janela de oportunidade” para aplicação precoce de terapias de purificação do sangue.

O artigo, ainda que apresente como potencialmente benéfico o início precoce e intenso das técnicas purificativas nos casos graves de COVID-19, baseia-se em estudos de pacientes com sepse grave – nem sempre relacionada à tempestade de citocinas ora referida como na patogênese desta nova doença. Não há referência a estudos que já tenham avaliado estas técnicas na COVID-19 grave.

Esta resenha pertence ao grupo sobre:

A saúde intestinal pode afetar a evolução da Covid-19?

English French German Spain Italian Dutch
Russian Portuguese Japanese Korean Arabic Chinese Simplified

Microbiota intestinal e Covid-19: possíveis vínculos e implicações

PALMEIRA, Vanila Faber

DHAR, Debojyoti;  MOHANTY, Abhishek. Gut microbiota and Covid-19- possible link and implications. Virus Research, v. 285, p. 198018, Mai. 2020. Disponível em: https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC7217790/pdf/main.pdf

Existe uma relação entre a composição da microbiota intestinal  e o perfil imunológico dos indivíduos. O presente estudo fez uma correlação entre a infecção pelo Coronavírus 2019 com a alteração da microbiota intestinal e sobre o possível uso da alimentação como profilaxia e/ou complemento do tratamento em paciente com Coronavírus.

A composição da microbiota intestinal modula o perfil imunológico do organismo humano, entre os perfis pró-inflamatórios  e os anti-inflamatórios . O tipo de micro-organismo presente no intestino pode jogar esse balanço para um polo ou para o outro polo. Sabendo que os pulmões também possuem microbiota, o artigo procurou fazer uma relação do eixo intestino-pulmão, sugerindo o potencial da alimentação como uso profilático e/ou complementar ao tratamento dos pacientes com infecção pelo novo Coronavírus. Ou seja, que a alimentação poderia contribuir para se evitar ou para se recuperar de uma infecção pelo Coronavírus.

A Disbiose intestinal, desequilíbrio da flora bacteriana intestinal, ocorre quando existe um predomínio de micro-organismos das famílias Enterobacteriaceae e Clostridiaceae (bactérias do “mal”) e uma redução dos micro-organismos das famílias Bifidobacteriaceae e Lactobacillaceae (bactérias do “bem”). As bactérias ditas do “bem” são assim chamadas porque conseguem converter os carboidratos não digeríveis (como as fibras vegetais) em ácidos graxos de cadeia curta (como o butirato), os quais reduzem o perfil inflamatório do ser humano hospedeiro. Os alimentos podem auxiliar na manutenção e/ou na substituição de um tipo de microbiota intestinal, podendo interferir no equilíbrio entre os perfis pró e anti-inflamatórios.

Devido à existência do eixo intestino-pulmão, a inflamação em um desses órgãos interfere diretamente no perfil inflamatório no outro. Por exemplo, a infecção pelo novo Coronavírus teria potencial de alterar a microbiota intestinal, sendo perceptível através dos quadros de diarreia que alguns pacientes apresentam. Além disso, pacientes que possuam algum grau de disbiose intestinal, como idosos, e pacientes com Diabetes Mellitus tipo 2 são considerados grupo de risco para a infecção pelo novo Corornavírus. O tipo de microbiota intestinal pode ser alterada através do consumo de pró-bióticos  e pré-bióticos. Por isso, o artigo defende que através de alimentos funcionais possa ser feita uma profilaxia, e até um complemento do tratamento em pessoas com o novo Coronavírus.

Esta resenha pertence ao grupo sobre:

Quais os efeitos da Covid-19 na gravidez e no parto?

English French German Spain Italian Dutch
Russian Portuguese Japanese Korean Arabic Chinese Simplified

Coronavírus na Gravidez e no Parto

ALMEIDA, Monica Gomes de

MULLINS E et al. Coronavirus in pregnancy and delivery: rapid review. Ultrasound Obstet Gynecol, v. 55, n. 5, p.586-592, 2020. DOI: 10.1002/uog.22014  Disponível em: http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/32180292

O artigo apresenta uma revisão da literatura sobre os efeitos da infecção por coronavírus na gestação, causadores da COVID-19 (SARS-CoV2), da Síndrome Respiratória do Oriente Médio (MERS-CoV) e da síndrome respiratória aguda grave (SARS-CoV). Considerando as limitações das evidências disponíveis, apresenta diretrizes para a condução dos casos de COVID-19 na gestação. 

Há pouca informação na literatura sobre o impacto da infecção por coronavírus na gestação. No caso das infecções por MERS-CoV e SARS-CoV, a letalidade parece maior em gestantes, quando comparada à de mulheres não grávidas. A pesquisa buscou, através de uma revisão rápida da literatura, elementos para subsidiar o Royal College of Obstetricians and Gynaecologists na elaboração de políticas de saúde e diretrizes clínicas para atendimento a gestantes com COVID-19.

A pesquisa foi realizada nas bases de dados PubMed e MedRxiv em 25 de fevereiro de 2020 e atualizada em 10 de março de 2020. Foram pesquisados relatos de casos, séries de casos e ensaios clínicos randomizados, descrevendo casos de coronavírus em mulheres durante a gestação e no pós-parto. Foram feitas comparações entre os resultados gestacionais com os três tipos de coronavírus. Nas áreas em que não havia informação disponível, foi estabelecido um consenso para a elaboração das diretrizes, baseado na opinião de especialistas do Royal College of Paediatrics and Child Health e do Royal College of Obstetricians and Gynaecologists

Foram selecionados 21 relatos ou série de casos. Havia 32 mulheres afetadas por COVID-19, 20 por SARS e 11 por MERS. Das gestantes com COVID-19, 27 tiveram parto cesáreo e duas realizaram parto vaginal (três gestações permaneciam em curso). Duas gestantes necessitaram de ventilação mecânica. Não houve relato de óbitos na COVID-19, embora uma das gestantes permanecesse em oxigenação extracorpórea no momento do relato. A taxa de óbito materno foi de 15% na infecção por SARS e 27% na infecção por MERS. Em relação aos bebês, houve um caso de óbito intraútero e um outro em recém-nascido na COVID-19. Na SARS houve abortamento ou óbito fetal em 5 casos. Em relação a prematuridade, 47% das gestantes com COVID-19, 31% com SARS e 27% com MERS tiveram parto prematuro. As análises das placentas de gestantes com SARS mostraram alterações compatíveis com uma evolução levando a restrição do crescimento fetal. Não houve relato de transmissão vertical, de mãe para recém-nascido, nas infecções por SARS, MERS e COVID-19. No entanto, há notícias de um caso de transmissão vertical na COVID-19, que não havia sido publicado em revista científica no momento do estudo.

A infecção por COVID-19 parece exibir menor letalidade, quando comparada a casos de MERS ou SARS. O Royal College of Obstetricians and Gynaecologists recomenda o seguimento das gestações com ultrassonografia seriada, para avaliação de uma potencial restrição de crescimento fetal. Nas infecções por SARS e MERS, a indicação do parto frequentemente foi devida a uma redução da oxigenação materna. Na COVID-19, se a manifestação clínica for leve, o parto deve ser por indicação obstétrica. No momento não há dados para recomendar o parto cesáreo para redução de transmissão vertical. O recém-nascido não deve ser separado da mãe após o parto. O percentual de prematuridade observado na COVID-19 tem potencial para exercer uma grande pressão sobre o sistema de saúde. Os autores ressaltam as limitações do estudo, em função do pequeno número de casos, e em função de todos os trabalhos analisados serem relatos ou séries de casos como métodos de estudo. Concluem observando a necessidade de coleta sistemática e de publicação de dados sobre gestantes com COVID-19, para possibilitar a produção de evidências que subsidiem a prevenção, o diagnóstico e o tratamento, viabilizando a alocação adequada de recursos durante a pandemia.

Esta resenha pertence ao grupo sobre: