Evidências Covid 19

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Como os pacientes com câncer podem ser afetados pela COVID-19?

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Pacientes com Câncer e Pesquisa durante a Pandemia de COVID-19: uma revisão sistemática da evidência atual

GIESTA, Monica Maria da Silva

Moujaess, E.; Kourie, H. R.; Ghosn, M.  Cancer patients and research during COVID-19 pandemic: a systematic review of current evidence. Crit Rev Oncol Hematol. v. 150, Jun. 2020, p. 2 – 9. DOI: 10.1016/j.critrevonc.2020.102972 Disponível em: https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC7174983/pdf/main.pdf

Pacientes com patologias crônicas são mais susceptíveis a desenvolver complicações pela COVID-19. Dentre estes, portadores de câncer tem risco 39% mais elevado de desenvolver maior gravidade quando comparados aos 8% de chance na população geral. Entre as medidas de controle da epidemia está a redução de procedimentos não urgentes, porém, o acompanhamento dos pacientes oncológicos não deve interrompido, o que os coloca muitas vezes frente a uma maior ameaça. O artigo objetiva revisar na literatura os achados clínicos, epidemiológicos e radiológicos de pacientes oncológicos com COVID-19, assim como explanar sobre as estratégias diagnósticas e terapêuticas sugeridas pelas instituições das áreas endêmicas mundiais, com ênfase na China e Itália.

Os materiais e métodos do estudo consistiram em uma pesquisa eletrônica iniciada em dezembro de 2019 até 05 de abril de 2020, usando termos COVID-19 combinado a câncer, assim como os termos correlatos das duas condições. Foram eleitas 88 publicações, sendo 59% originárias da China e Itália e 7 estudos com colaboração multinacional. 

Em relação às pesquisas oncológicas, muitos pesquisadores tiveram que decidir entre a interrupção ou continuidade dos estudos. Entre aqueles que decidiram manter, houve adaptações de protocolos, redução das visitas presenciais, acompanhamento remoto e até avaliação das medicações antineoplásicas no tratamento da COVID-19.

Nas estratégias de manejo dos pacientes neoplásicos, a publicação chama a atenção para o risco de progressão do câncer quando o início da terapia específica é adiado por conta da pandemia, a falta de protocolos universais específicos,  a necessidade de proteção adequada dos profissionais que lidarão com estes pacientes e do remodelamento dos espaços que os receberão. Na seleção dos artigos chineses foi ressaltado que pacientes com câncer de pulmão podem ser mais vulneráveis ao acometimento por COVID-19 e sugerem que o rastreio deste vírus deve ser feito neste grupo mesmo com baixa suspeita de infecção. A experiência italiana mostra dados similares. Para pacientes com malignidades potencialmente cirúrgicas, como as urológicas e ginecológicas, foram criados algoritmos de rastreamento, enfatizando a notificação telefônica de sintomas sugestivos de COVID-19.

Em março de 2020 muitos artigos foram publicados pelas sociedades mundiais de oncologia, auxiliando a tomada de decisão para o tratamento de tumores malignos na epidemia. Hematologistas orientaram a maior parcimônia em transplantes, pelos riscos de infecção nos doadores e receptores imunossuprimidos. Para câncer de mama preconizou-se evitar radioterapia ou diminuição da carga. Três instituições americanas recomendaram priorizar o controle ambiental, abordagem multidisciplinar, telemedicina para acompanhamento, incremento das terapias adjuvantes, diminuição das admissões hospitalares, discutir a paliação quando não houver chance de cura e providenciar suporte psicológico para a equipe e pacientes. Cirurgias somente para os pacientes com evolução rápida do câncer.

Na conclusão, os autores ponderam que, apesar de todos os esforços feitos, ainda se busca um modelo ideal de tratamento dos pacientes com câncer durante a epidemia. A abordagem deve levar em conta a experiência profissional, condições do local de tratamento, particularidade de cada caso e atenção quanto ao adiamento de terapias de primeira linha se houver prolongamento da epidemia, pois este fator pode ser mais letal do que a infecção pela COVID-19.

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Qual a associação entre diabetes, inflamação crônica e COVID-19?

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Diabetes e síndrome metabólica como fatores de risco para COVID-19

PESSANHA, Katia Maria de Oliveira Gonçalves

Marhl, Marko; et al. Diabetes and metabolic syndrome as risk factors for COVID-19. Diabetes Metab Syndr., v. 14, n. 4; p. 671-677, Jul./aug. 2020. DOI: 10.1016/j.dsx.2020.05.013. Disponível em: https://doi.org/10.1016/j.dsx.2020.05.013

Baseado na observação clínica de que pacientes com Diabetes Mellitus (DM) têm maior risco de desenvolver COVID-19, o artigo apresenta um modelo de interligação com processos crônicos de adoecimento, abordando possíveis biomarcadores preditores de agravamento da doença viral.

Os autores objetivam demonstrar a existência de uma associação entre DM, síndrome metabólica (SM), processo inflamatório crônico e COVID-19. Propõem a utilização de quatro biomarcadores específicos para avaliação de pior desfecho nos pacientes: hipertensão arterial, diminuição da contagem de linfócitos, aumento da enzima hepática (ALT)  e aumento de interleucina 6 (IL-6).

O método utilizado foi a pesquisa de publicações no PubMed relacionadas a contextos fisiológicos comuns a Diabetes e COVID-19, utilizando a biblioteca Python Entrez, com seleção de 1.121.078 artigos. Destes foram extraídos gráficos específicos conectando Diabetes e COVID-19, nos quais 14 tópicos de interrelação foram observados e ressaltados os que demonstravam significância.

Os resultados revelaram três principais vias fisiopatológicas que ligam Diabetes e COVID-19: receptor ACE2, disfunção hepática e inflamação crônica. Deste modo a observância dos biomarcadores clínicos poderia prever a apresentação de complicações auxiliando nas decisões clínicas.

O receptor ACE2 foi identificado como ponto de entrada do vírus Sars-Cov2 na célula, e sua maior expressão em diabéticos e hipertensos, especialmente em pulmões e rins, demonstra a razão do maior acometimento destes órgãos na COVID-19. O ACE2 inativa a angiotensina II, responsável pela estimulação da resposta inflamatória, sendo a maior expressão  desses receptores um fator protetor. Porém, na presença de COVID-19,  esta expressão se torna um preditor de desfecho desfavorável, já que o vírus utiliza essa via para sua entrada e impede a inativação da angiotensina II.

 Os autores  analisaram gráficos cruzados demonstrando que a interseção em pacientes graves de hipertensão e COVID-19 é mais pronunciada que DM e COVID-19. Concluíram que a associação dessas doenças seria um importante fator de risco para morbidade e mortalidade em COVID-19, reconhecendo a hipertensão como biomarcador clínico mais importante.

No segundo eixo, a ALT foi identificada como biomarcador da fase inicial mais preditivo de evolução para síndrome do desconforto respiratório agudo (SDRA). O estudo demonstra estreita relação entre síndrome metabólica, pré-Diabetes, Diabetes, distúrbios hepáticos e a presença de elevação leve da ALT, sugerindo sua utilização como preditor de evolução desfavorável da COVID-19. De acordo com as análises realizadas, o vínculo entre aumento isolado de ALT e COVID-19 sem a presença de uma doença metabólica prévia não pode ser considerado preditor de gravidade, uma vez que não caracteriza lesão hepática inflamatória crônica.

A inflamação seria o terceiro eixo estudado e um elo importante entre as doenças citadas. Neste ponto, dois biomarcadores se destacam na interrelação Diabetes, Inflamação crônica, idade e COVID-19: IL-6  e linfócitos. A tempestade inflamatória da COVID-19 exacerba a inflamação crônica preexistente. Além disso, o DM tipo 2 e a obesidade compartilham o maior número de genes desregulados nas infecções com a COVID-19, o que explicaria do ponto de vista genético esta interrelação idade/DM/COVID-19.

Os autores concluíram haver uma interligação COVID-19 e DM a partir dos 3 eixos citados, justificando a utilização de biomarcadores que podem ser aplicados diretamente na prática clínica (IL6, ALT e contagem de linfócitos). Enfatizam o papel da síndrome metabólica, obesidade e Diabetes, onde já existe o processo inflamatório crônico e a desregulação genética, na pior evolução da COVID-19. Relatam ainda preocupação com uma pandemia associada a uma epidemia já em curso de doenças metabólicas.

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Quais drogas estão sendo testadas contra SARS-CoV-2 e COVID-19?

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Drogas candidatas contra SARS-CoV-2 e COVID-19

D’AVILA, Joana

MCKEE, D.L. et al. Candidate Drugs Against SARS-CoV-2 and COVID-19. Pharmacological Research, v.157, p. 104859, jul. 2020. doi: 10.1016/j.phrs.2020.104859. Disponível em: https://www.sciencedirect.com/science/article/pii/S1043661820311671?via%3Dihub

Enquanto esperamos a vacina para a COVID-19, cresce a corrida por terapias capazes de eliminar o novo coronavírus (SARS-CoV-2) e impedir sua transmissão. Atualmente o tratamento da COVID-19 não é específico, e se baseia em controlar os sintomas e oferecer suporte respiratório. Esta revisão destaca alguns fármacos com atividade antiviral potencialmente eficaz para tratar a COVID-19.

A infeção acontece pela interação de proteínas da superfície do SARS-CoV-2 (a proteína S) com um receptor na célula hospedeira (a enzima conversora de angiotensina 2, ACE2). Para que o vírus consiga entrar na célula, é necessária ainda a ação de uma enzima do hospedeiro (a protease TMPRSS2) sobre a proteína S viral. O genoma do vírus é então liberado no interior da célula e novas partículas virais são produzidas (replicação), o que destrói as células infectadas causando a lesão pulmonar. O bloqueio de alguma destas etapas precocemente, impedindo a entrada do vírus ou sua replicação, é potencialmente eficaz para tratar a COVID-19.

A inibição farmacológica do receptor ACE2 ou a proteína recombinante ACE2 humana solúvel bloquearam a infecção do SARS-CoV-2 em modelos pré-clínicos. Agentes inibidores da protease TMPRSS2, como o camostato e o nafamostato, são fármacos que além de bloquearem a infecção do SARS-CoV-2 em células, já demonstraram ser seguros e bem tolerados em ensaios clínicos para pancreatite. Estas drogas estão atualmente em fase de testes clínicos para COVID-19.

Cloroquina e hidroxicloroquina são antimaláricos que mostraram atividade antiviral de amplo espectro em estudos pré-clínicos. Não são específicas para o SARS-CoV-2, mas alteram o pH de estruturas intracelulares utilizadas para a internalização do vírus (endossomos), e desta forma dificultam a entrada do vírus da célula hospedeira. Muitos estudos clínicos estão em andamento, porém alguns já foram descontinuados por não observarem a eficácia da hidroxicloroquina no tratamento ou prevenção da COVID-19.

Fármacos antiparasitários, como a ivermectina e a nitazoxanida, também são candidatos por terem demonstrado atividade antiviral de amplo espectro. Atualmente diversos estudos clínicos estão em andamento testando a eficácia destas drogas, sozinhas ou combinadas, em pacientes com COVID-19 (https://clinicaltrials.gov/ct2/results?term=ivermectin&cond=Covid-19).

Antivirais específicos são os candidatos mais promissores para a farmacoterapia da COVID-19. Atualmente, dezenas de estudos clínicos estão em andamento, incluindo dois grandes estudos internacionais, promovidos pela Organização Mundial da Saúde (SOLIDARITY) e pela União Europeia (DisCoVeRy), para testar a eficácia dos antivirais remdesivir (inibidor da RNA polimerase viral), lopinavir/ritonavir (inibidores da protease do vírus HIV) e lopinavir/ritonavir combinado a interferon-b1a em pacientes com COVID-19.

O remdesivir foi desenvolvido para combater o vírus Ebola e também demonstrou eficácia na infecção com SARS-CoV-2. Resultados preliminares com 1063 pacientes mostraram recentemente que o tratamento com remdesivir reduziu o tempo de recuperação de pacientes hospitalizados com COVID-19 (ACTT-1 ClinicalTrials.gov number, NCT04280705).

O umifenovir é um antiviral aprovado para o tratamento de influenza que impede a entrada do vírus. Estudos clínicos iniciais mostraram efeitos benéficos do umifenovir em reduzir a carga viral e os sintomas de pacientes com COVID-19. Já o favipiravir é um inibidor da replicação de vírus de RNA, que também está em fase de testes para SARS-CoV-2.

Ferramentas de desenho de fármacos in silico identificaram inibidores da protease do SARS-CoV-2 que têm potencial de funcionar in vivo, um chamado N3, e o outro, ebselen, um composto com atividade anti-inflamatória, além de antiviral.

Nesta corrida contra o tempo, o reaproveitamento de fármacos é uma estratégia mais promissora que a descoberta de novos fármacos – que podem levar anos até chegar ao paciente. O tratamento precoce e eficiente contra o SARS-CoV-2 contribuirá para a redução da carga viral e transmissão da COVID-19, freando o avanço da pandemia.

REFERÊNCIAS:

COVID-19 remedies. Nature Biomedical Engineering, v. 4, p.575–576, jun. 2020.  https://doi.org/10.1038/s41551-020-0579-9.

ACTT-1 ClinicalTrials.gov number, NCT04280705

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Como a Inteligência Artificial pode ajudar a detectar e diagnosticar o novo Coronavírus?

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Papel das técnicas da mineração de dados biológicos e da aprendizagem de máquina para detectar e diagnosticar o novo Coronavírus: uma revisão sistemática

BARBOSA, Carlos Roberto Hall

Albahri, A. S.; et al. Role of biological data mining and machine learning techniques in detecting and diagnosing the novel Coronavirus (COVID-19): a systematic review. Journal of Medical Systems, v. 44, n. 7, p. 122-135, May, 2020. DOI: 10.1007/s10916-020-01582-x Disponível em: https://link.springer.com/article/10.1007/s10916-020-01582-x

Este artigo apresenta uma revisão sistemática de Inteligência Artificial (IA) aplicada à detecção e diagnóstico da COVID-19, com base em algoritmos de Mineração de Dados (MD) e Aprendizado de Máquina (AM). A motivação é o crescente interesse no desenvolvimento de aplicações de IA para a área da Saúde e o potencial de tais técnicas na prevenção a pandemias.

A revisão sistemática foi baseada no modelo PRISMA, utilizando cinco bases de dados digitais que cobrem todos os aspectos acadêmicos relacionados à COVID-19: ScienceDirect, IEEE Xplore, Web of Science, PubMed e Scopus. Buscaram-se artigos em inglês, em periódicos ou congressos, de 2010 a 2020, utilizando diversas combinações de palavras-chave relacionadas a qualquer tipo de coronavírus e à detecção, diagnóstico e classificação de CoV por IA e AM. Inicialmente, identificaram-se 1239 artigos que atendiam aos critérios de inclusão, mas a revisão de títulos e resumos reduziu este número para 249 artigos, que foram lidos em sua totalidade. Após a aplicação dos critérios de exclusão (não descritos neste artigo de revisão), somente 8 artigos foram mantidos na análise.

Considerando os 8 artigos analisados na íntegra, identificaram-se 12 métodos de IA aplicados ao processamento de dados de CoV, sendo a árvore de decisão o mais frequente (5 vezes), seguido dos algoritmos Naive Bayes e SVM (4 vezes cada) e KNN (2 vezes). Todos os artigos foram publicados no período de 2016 a 2019 e dedicaram-se à pandemia MERS-CoV (tendo um artigo também considerado a SARS-CoV). Apresentam-se tabelas com os principais resultados dos artigos, principalmente em termos de exatidão de classificação, e com as bases de dados médicos usadas por cada artigo, incluindo os links de acesso quando disponíveis.

Em seguida, o artigo descreve brevemente cada um dos 8 artigos incluídos na revisão, indicando as principais conclusões e resultados. Independentemente da técnica de IA empregada, há uma clara prevalência da idade como fator de risco nas pandemias estudadas. O pequeno número de artigos identificados (todos dedicados à MERS-CoV) e a ausência de estudos e bases de dados relacionados à atual pandemia da COVID-19 indicam a necessidade e a oportunidade de aplicar IA à previsão de tais eventos. Outros métodos conhecidos de classificação, como Redes Neurais Artificiais, Aprendizado por Reforço e Clustering, bem como técnicas integradas de otimização, como Algoritmos Genéticos e Enxame de Partículas, ainda não foram aplicados à detecção e diagnóstico de CoV.

Analisando as características dos artigos revisados, a motivação principal reside no fato de que MD para diagnóstico médico é eficiente e pode ser utilizada para controlar a disseminação de pandemias, além de estimar e prever as taxas de infecção e recuperação, identificando os fatores dominantes. Alguns desafios já identificados são: complexidade dos mecanismos das pandemias; ausência de bases de dados médicos sobre as pandemias; necessidade de novos métodos de monitoramento, devido às diferentes reações de governos e populações; e grande variabilidade dos sintomas. Recomenda-se especificamente um método de pré-processamento para preenchimento de valores faltantes, o uso da linguagem R e o desenvolvimento de sistemas baseados em IoT.

O artigo conclui com a preocupação com a carência de estudos científicos de IA aplicada à COVID-19, que traz sérias implicações à detecção e minimização da disseminação de tais pandemias. O objetivo deve ser realizar novos estudos que possam guiar os governos e populações no controle precoce de tais eventos pandêmicos. Indica também a necessidade do desenvolvimento de tecnologias integradas de sensores para emprego em espaços abertos.

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Quais os resultados dos estudos com Cloroquina e Hidroxicloroquina?

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Revisão sistemática do papel profilático da cloroquina e da hidroxicloroquina na COVID‐19

MOURÃO, Talita

SHAH, S.; et al.. A systematic review of the prophylactic role of chloroquine and hydroxychloroquine in coronavirus disease‐19 (COVID‐19). Int J Rheum Dis, v. 23, n. 5, p. 613-619, May. 2020. DOI:10.1111/1756-185X.13842. Disponível em: http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/32281213

O artigo faz uma revisão do possível papel de dois medicamentos – a cloroquina (CQ) e a hidroxicloroquina (HCQ) – na prevenção da disseminação da doença pandêmica pelo novo coronavírus (COVID-19).

A COVID-19 levou o sistema global de saúde a uma crise e representa uma enorme carga econômica. Embora métodos como quarentena, isolamento e distanciamento social estejam sendo empregados para o controle da infecção, não são infalíveis. Assim, a prevenção medicamentosa parece ser a melhor estratégia para evitar maior propagação e “aliviar” o sistema de saúde. A profilaxia com a cloroquina e a hidroxicloroquina – medicamentos já tentados no tratamento da COVID-19 – tem sido agora avaliada. O principal desafio é replicar os resultados de estudos in vitro (em laboratório) para modelos in vivo. Este artigo busca revisar a literatura sobre o papel destes medicamentos na prevenção da disseminação da COVID‐19.

Foram pesquisados, nos principais bancos de dados, estudos pré-clínicos (ação sobre o vírus SARS-CoV-2, o causador da doença) e clínicos (ação nos doentes com COVID-19) que avaliaram o papel profilático de CQ ou HCQ. A literatura disponível até 30 de março do presente ano foi avaliada criticamente.

No total, foram selecionados 45 artigos, além de 3 estudos pré-clínicos e 2 opiniões clínicas. Não foram encontrados estudos clínicos originais sobre o papel profilático de CQ ou HCQ na COVID-19. Os estudos pré-clínicos mostraram os efeitos profiláticos de ambas as medicações contra o SARS-CoV-2, ao inibir a replicação viral. As opiniões clínicas defendiam o possível uso profilático de CQ e HCQ contra a COVID-19. As características pormenorizadas destes 5 estudos estão descritas em duas tabelas.

O primeiro estudo in vitro apontando para o papel da CQ e da HCQ como profilaxia pré-exposição na COVID-19 foi publicado como uma carta de pesquisa, envolveu uma linhagem de células de uma espécie de macaco africano, e mostrou que HCQ foi mais potente que CQ na atuação contra o vírus SARS-CoV-2. Outro estudo in vitro realizado por um grupo diferente de pesquisadores da China mostrou que os efeitos antivirais da HCQ pareciam ser menos potentes que os da CQ, especialmente com uma maior taxa de replicação viral – contradizendo o estudo anterior e sem conseguir explicar razões para tais achados. Um terceiro estudo avaliou o papel de vários medicamentos antivirais aprovados pela Food and Drug Administration dos EUA, incluindo a CQ, tendo mostrado que a mesma funcionava nos estágios de entrada e pós-entrada do vírus nas células. De forma geral, sugeriu-se cautela na extrapolação de evidências in vitro para a prática clínica sem dados clínicos robustos.

Embora os resultados pré-clínicos possam ser promissores, até o momento existem poucas evidências para apoiar a eficácia de cloroquina ou hidroxicloroquina na prevenção da COVID-19. Considerando possíveis problemas de segurança e a probabilidade de transmitir uma falsa sensação de segurança, a profilaxia com CQ ou HCQ contra a doença pelo novo coronavírus precisa ser cuidadosamente avaliada em estudos observacionais ou estudos controlados e randomizados de alta qualidade.

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Como a COVID-19 afeta o sistema de coagulação sanguínea dos pacientes?

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COVID-19 e eixo da coagulação: revisão dos aspectos emergentes da nova doença

GALHARDO, Maria Eulália Gouvêa

Boccia, M.; et al. COVID-19 and coagulative axis: review of emerging aspects in a novel disease. Monaldi Arch Chest Dis., v. 90, n.  2, May 2020. Doi:10.4081/monaldi.2020.1300. Disponível em: https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/32425013/

Trata-se de uma revisão de literatura acerca das coagulopatias da COVID-19 e sua abordagem terapêutica.

Em um dos estudos, indivíduos saudáveis foram comparados aos com SARS-COV2, evidenciando maiores valores de D-dímero e de produtos de degradação do fibrinogênio nos positivos. Outro estudo dividiu os pacientes em três grupos, conforme a gravidade, sendo o D-dímero maior em pacientes críticos. Estudos também mostraram um pior prognóstico em pacientes com câncer ativo, devido à produção de fatores pró-trombóticos pelas células cancerígenas.

A liberação de mediadores inflamatórios nesta doença, foi um tópico da revisão, mostrando que o SARS-CoV possui padrão genético de aumento da expressão do efeito procoagulante. Os vírus SARS-CoV e SARS-CoV-2 utilizam o mesmo receptor, a enzima de conversão de angiotensina-2 (ECA-2), desregulando o sistema renina-angiotensina-aldosterona, que está ligado à cascata da coagulação.

O estado de hipercoagulabilidade das infeções agudas também foi abordado na revisão de literatura, discutindo os diferentes mecanismos fisiopatológicos como, a liberação de mediadores inflamatórios, aumento dos níveis de fibrinogênio e outros fatores.

Observou-se que a maioria dos vírus comuns, o SARS-CoV e o SARS-COV-2 infectam diretamente as células do endotélio, as quais expressam ECA-2, resultando em maior permeabilidade vascular, aumento de trombina e inibição da fibrinólise. Assim, explica a gravidade da COVID-19 em pacientes com grau de disfunção endotelial prévio, como diabéticos, hipertensos e obesos.

Outro tópico abordado no trabalho foi a contribuição da ativação desregulada do sistema complemento e outros fatores clínicos, como hipoxemia, hipertermia e hipovolemia para o estado de hipercoagulação.

Discorreu-se também sobre o manejo clínico-terapêutico das coagulopatias por COVID-19. Enfatiza a recomendação da OMS, quanto a profilaxia diária com heparinas de baixo peso molecular (HBPM) ou  não-fracionada em pacientes com suspeita de pneumonia por COVID-19.

A mortalidade em 28 dias foi analisada, não apresentando diferença entre os grupos de HBPM, heparina não fracionada e não usuários.  Porém, avaliou-se a mortalidade também conforme os diferentes riscos de coagulopatia, através do escore de congulopatia induzida por sepse (SIC). Sendo associado o tratamento com heparina a menor mortalidade em SIC ≥ 4, mas não naqueles com SIC < 4.

Notou-se que os pacientes estratificados de acordo com o D-dímero, tiveram igual mortalidade em usuários de heparina, mas em não usuários apresentou-se maior, proporcionalmente ao nível de D-dímero. Observou-se uma redução de 20% na mortalidade no tratamento com heparina, quando D-dímero > 3 microgramas/mL.

Estudos analisam a possibilidade de risco do tratamento anticoagulante em pacientes sem coagulopatia significativa, logo só devem ser indicados àqueles que atendem aos critérios da SIC ou com D-dímero elevado.

Deve-se avaliar a estratificação de risco trombótico e hemorrágico, após a alta hospitalar. Sendo recomendada a profilaxia prolongada para trombose venosa profunda em pacientes com risco elevado.

Conclui-se que o SARS-CoV afeta o sistema de coagulação em diferentes níveis e por mecanismos fisiopatológicos ainda pouco conhecidos. Assim, a pesquisa mostra a necessidade de mais estudos, buscando bases biológicas para terapia de anticoagulação.

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Como a COVID-19 se apresenta nas imagens de tomografia computadorizada e em que são úteis?

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Pneumonia pela COVID-19: uma revisão dos achados típicos da tomografia computadorizada e diagnóstico diferencial

LOUREIRO, Sylvia

HANI, C.; et al. COVID-19 pneumonia: A review of typical CT findings and differential diagnosis. Diagn Interv Imaging, v.101,n.5, p.263-268, may 2020. Doi:10.1016/j.diii.2020.03.014. Disponível em: http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/32291197

A tomografia computadorizada do tórax consagrou-se como principal método de imagem para diagnóstico e acompanhamento da COVID-19.

A referência padrão para confirmar COVID-19 depende de testes microbiológicos, nem sempre disponíveis, e seus resultados podem demorar ou ser falsamente negativos. A tomografia computadorizada do tórax contribui mostrando anormalidades sugestivas da doença em tempo real e com 97% de sensibilidade no diagnóstico de COVID-19. O radiologista deve estar familiarizado com os aspectos típicos de imagem da pneumonia por COVID-19, assim como seus diagnósticos diferenciais.

Achados típicos de imagem

Uma grande variedade de achados de imagens podem ser encontrados na COVID-19, sendo o principal na pneumonia pelo vírus, a presença de opacidades em vidro fosco, tipicamente distribuídas perifericamente e nas regiões subpleurais O envolvimento de múltiplos lobos em particular os inferiores foi documentado na maioria dos pacientes. Áreas de consolidação focal  podem acompanhar estas imagens assim como reticulações intralobulares. Com a evolução da doença, surgem sinais de consolidação que denotam pneumonia em organização vista através do sinal do halo invertido.

Várias formas de severidade

Pacientes com pneumonia por COVID-19 apresentam extensões variáveis da doença, que vão desde envolvimento discreto de menos de 10% do parênquima pulmonar até doença severa extensa com aparência de “pulmão branco” na tomografia computadorizada. A gravidade dos pacientes guarda uma relação direta com o grau e o escore das imagens na tomografia computadorizada. Estes dados são preditores de mortalidade, assim como idade avançada e taxa de comorbidades. Em pacientes que apresentaram piora clínica não associada a aumento da extensão das opacidades pulmonares, deverá ser cogitado tromboembolismo pulmonar, devendo ser realizada tomografia computadorizada com contraste. Pacientes com pneumonia grave têm marcante elevação do dímero d, portanto este exame não auxilia a avaliar se existe tromboembolismo superposto.

Evolução durante o acompanhamento

Os aspectos da pneumonia por COVID-19 mudam com o tempo, conforme a fase e a severidade da infecção. Esta evolução foi documentada em pacientes que se recuperaram da COVID-19 e classificada em 4 estágios de acordo com o número de dias transcorridos. Variou desde aspecto progressivo nos primeiros 0-4 dias com pico entre 9-13 dias e absorção após 14 dias, assim como percentual de envolvimento de cada um dos 5 lobos pulmonares que mostrou aumento até o décimo dia dos sintomas da doença e gradualmente decresceu.

Aspectos de tomografia computadorizada que sugerem pneumonia de causa diferente de COVID-19

A pneumonia bacteriana é o principal diagnóstico diferencial. Esta geralmente apresenta consolidação do espaço aéreo num segmento ou lobo, limitada pelas superfícies pleurais, assim como atenuação em vidro fosco, espessamento da parede brônquica, nódulos centrolobulares e impactações mucóides. Estas duas últimas não são observadas na COVID-19, a menos que haja infecção bacteriana associada. Pneumonias por outros vírus tornam-se difíceis de serem distinguidas da causada pela COVID-19; para o diagnóstico, é de grande importância o contexto epidemiológico.

Pneumonia por Pneumocystis Jiroveci é uma outra causa de vidro fosco, porém este é difuso e tende a se agrupar e poupar as superfícies pleurais, ao contrário da observada na COVID-19.

Causas não infecciosas de opacidade em vidro fosco:

Edema pulmonar é uma causa muito comum, caracterizado por predominância central poupando a periferia, ao contrário da COVID-19, e outros sinais sugestivos: linhas septais, derrame pleural e linfadenopatia mediastinal. Há relatos de miocardite aguda por COVID-19 e estas imagens podem estar presentes. Hemorragia alveolar devida a vasculite, com hemoptise e insuficiência renal aguda, é associada à Síndrome de Goodpasture, não existindo predominância subpleural como na COVID-19. Pneumonia induzida por droga se manifesta como uma pneumonia intersticial não específica, constituindo também outra causa de vidro fosco que poupa o espaço subpleural. A história clínica de exposição a drogas auxilia este diagnóstico.

Diante de uma situação epidêmica, a tomografia computadorizada tem uma importante função na identificação precoce da pneumonia por COVID-19. Sua utilização é importante como forma de detecção precoce de complicações em pacientes que requerem ventilação mecânica. A presença de alterações que sugerem pneumonia causada por infecção bacteriana, associada ou não às da COVID-19, aponta a necessidade de confirmação laboratorial através do RT-PCR na existência de forte suspeita clínica.

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Quais os principais tipos de medicamentos estudados para possibilitar a melhora clínica da COVID-19 e como eles atuam?

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Revisão da farmacoterapia emergente para o tratamento da COVID-19

BIANCHI, Breno

Barlow A, Landolf KM, Barlow B, Yeung SYAY, Heavner JJ, Claassen CW, Heavner MS. Review of Emerging Pharmacotherapy for the Treatment of Coronavirus Disease 2019,  Pharmacotherapy, v. 40, n. 5, p. 416-437, may 2020. DOI: 10.1002/phar.2398. Disponível em: https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/32259313/

O artigo apresenta uma revisão dos possíveis tratamentos farmacológicos para o novo coronavírus 2019 (SARS-CoV-2) e para síndrome de angústia respiratória severa causada por ele (COVID-19), com o intuito de fundamentar decisões terapêuticas. O mecanismo de ação, esquema posológico e efeitos adversos, de cada medicamento citado, são discutidos no texto.

Podemos dividir os medicamentos entre antivirais e imunomoduladores. Os antivirais inibem a replicação viral atuando em diversas etapas do seu ciclo. Foram desenvolvidos para o tratamento de outras infecções virais como: HIV, Hepatite B e C e Ebola, bem como por infecções causadas por protozoários como os causadores da malária e giardíase. 

Os antivirais são subdivididos em análogos do nucleosídeo e inibidores de protease. Os primeiros interrompem a replicação viral em sua fase inicial através do bloqueio da enzima RNA polimerase e consequentemente inibem a síntese de RNA viral.  Estes são o Rendesivir e a Ribavirina.  Por outro lado, os inibidores de protease atuam através do bloqueio desta enzima, que é fundamental para síntese de RNA viral. Desta forma, seu bloqueio impede a replicação do vírus e a evolução da COVID-19. O Lopinavir/ritonavir e o nelfinavir se encontram nesta classe.

A Cloroquina e a hidroxicloroquina são medicamentos antimaláricos utilizados de longa data. Os antimaláricos reduzem o pH endossomal e lisossomal interferindo na entrada e saída do vírus nas células humanas e assim reduzindo também a replicação viral. A Nitazoxanida, inicialmente desenvolvida para tratamento de giardíase, também possui ação contra outros parasitas intestinais, bactérias e até outros vírus como influenza.  São diversos seus mecanismos de ação, variando de acordo com o patógeno envolvido. Seu efeito antiviral se baseia na estimulação de interferon tipo 1 que exerce fundamental papel em nossa resposta imunológica viral.

Os imunomoduladores atuam de duas formas, estimulando o sistema imunológico no combate à COVID 19 ou bloqueando vias inflamatórias. O interferon-α, utilizado no tratamento de hepatite B e C, é uma proteína responsável pela resposta imunológica a infecções virais. Tem ação no reconhecimento do vírus por células de defesa, assim como ativa linfócitos responsáveis pelo clearance viral. O plasma convalescente é um tratamento inovador, que consiste em retirar plasma de pessoas curadas e administrá-lo a pacientes com COVID-19. Nele há anticorpos que ajudam nosso sistema imunológico a reconhecer e inativar o vírus.

 A COVID-19 é resultado da resposta inflamatória descontrolada durante a infecção pelo SARS-CoV-2. Esta resposta resulta em danos em diversos sistemas do corpo humano, com predomínio na via respiratória inferior, e é associado com maior mortalidade. Alguns medicamentos que bloqueiam a resposta inflamatória podem ser utilizados na COVID-19. O baracitinibe, tocilizumabe e corticosteróides são medicamentos utilizados no tratamento de doenças autoimunes e alérgicas, entre elas artrite reumatóide, vasculite sistêmica e asma. Existem trabalhos sugerindo o uso destas medicações na COVID-19. Todavia o uso prolongado destas se associa ao aumento de infecções; assim devemos ter cautela na prescrição.

Todos os medicamentos propostos pelo artigo necessitam de estudos clínicos controlados e com maior número de participantes, para comprovar sua eficácia na COVID-19. 

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O que é o Coronavírus e como ele produz a COVID-19 no ser humano?

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Uma visão geral da COVID-19

PALMEIRA, Vanila Faber

REFERÊNCIA: SHI, Y. et al. An overview of COVID-19. Journal of Zhejiang University-SCIENCE B (Biomedicine & Biotechnology), v. 21, n. 5, p.343-360, DOI: 10.1631/jzus.B2000083 Disponível em: https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC7205601/pdf/JZUSB21-0343.pdf

Através dos conhecimentos acerca da estrutura viral é possível compreender a patogênese da infecção pelo Coronavírus 2019, bem como a clínica associada, investigação de técnicas diagnósticas, desenho de novos fármacos e desenvolvimento de vacinas.

Os Coronavírus são divididos nos subgrupos α, b, g e d, sendo que no tipo b estão a maioria dos Coronavírus patogênicos ao homem, incluindo o Coronavírus 2019. Existem algumas proteínas de superfície dos Coronavírus já conhecidas, sendo a proteína S a mais discutida, por ser a estrutura que o vírus utiliza para entrar nas células epiteliais humanas, principalmente nos pneumócitos do tipo II  pela ligação dessa estrutura viral ao receptor ACE-2, presente nessas células do hospedeiro. Esses pneumócitos são responsáveis pela secreção de surfactante, e a partir de sua destruição pelos Coronavírus pode-se entender a doença e pensar sobre possíveis tratamentos.

A epidemiologia das infecções pelo Coronavírus 2019 discute que no início, o vírus utilizou como hospedeiro primário o morcego (de onde o vírus de originou) e como hospedeiro intermediário o pangolim (mamífero onde o vírus se adapta ao mudar de hospedeiro), para só então infectar o Homem. Atualmente a transmissão ocorre de pessoa para pessoa através de fluídos corporais (principalmente de origem respiratória, como saliva e expectoração) em contato com mucosas (como boca e nariz). A taxa de transmissão do Coronavírus 2019 é de 3 a 10 vezes maior do que de outros Coronavírus, devido a mutações na proteína S, o que confere maior potencial de penetração nas células humanas.

Toda a pandemia por Coronavírus2019 começou na China e, mesmo o com todas as medidas de contenção do governo chinês, em três meses já havia se espalhado pelos cinco continentes. Clinicamente a infecção pelo Coronavírus 2019 possui gravidade clínica variada, sendo dividida em doença: leve (sem comprometimento pulmonar), moderada (com sintomas respiratórios pulmonares), grave (maior comprometimento pulmonar, com uma inflamação sistêmica descontrolada), e crítica (necessidade de ventilação mecânica e sinais de choque séptico). A conduta envolve monitoramento e suporte ao paciente, porém sem fármacos específicos, os quais estão sendo estudados, tanto com ação direta no vírus, bem como moduladores da resposta imune do hospedeiro. Já com as vacinas, existem alguns estudos e ensaios clínicos acontecendo em vários países, com alguns muito promissores.

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Qual a confiabilidade das medidas de oxigênio no sangue de pacientes com COVID-19 para monitorá-los em suas casas?

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Oximetria de pulso para monitorar pacientes com COVID-19 em casa: possíveis armadilhas e orientações práticas

BARBOSA, Carlos Roberto Hall

LUKS, Andrew M.; SWENSON, Erik R. Pulse Oximetry for Monitoring Patients with COVID-19 at Home: Potential Pitfalls and Practical Guidance. Annals of the American Thoracic Society, Jun, 2020. DOI: 10.1513/AnnalsATS.202005-418FR Disponível em: https://www.atsjournals.org/doi/abs/10.1513/AnnalsATS.202005-418FR

Este artigo apresenta uma revisão de artigos que avaliam a confiabilidade metrológica de oxímetros de pulso de diversos tipos e marcas. A motivação é sua recente utilização para monitoramento doméstico de pacientes diagnosticados com COVID-19, visando à detecção da chamada “hipóxia silenciosa” (ou seja, na ausência de dispneia) em ambiente doméstico.

Inicialmente, apresenta-se uma breve descrição dos princípios de medição da saturação de oxigênio no sangue arterial, definindo a medição direta por co-oximetria como o padrão de medida, e então descrevendo os 2 métodos ópticos de medição por oximetria de pulso. O primeiro método baseia-se na transmissão da luz através do tecido cutâneo, parcialmente absorvida pela hemoglobina, sendo o empregado por monitores hospitalares e também pelos oxímetros de dedo comercialmente disponíveis para a população em geral. O segundo método utiliza a reflexão da luz pela hemoglobina, sendo usado por aplicativos disponíveis em alguns smartphones.

Em seguida, apresenta a metodologia usual para avaliar a exatidão de tais dispositivos de medição, considerando os parâmetros metrológicos exatidão (accuracy), precisão (precision) e tendência (bias), os quais podem ser qualitativamente avaliados em conjunto pela análise gráfica de Bland-Altman modificada. Tais gráficos apresentam no eixo horizontal os valores fornecidos pelo padrão (co-oximetria) ao longo da faixa de medição, e no eixo vertical os erros médios correspondentes entre a oximetria de pulso e a co-oximetria, permitindo avaliar a magnitude (exatidão), espalhamento (precisão) e tendência destes em toda a faixa de medição. Encerra a seção com uma crítica à falta de padronização da documentação dos oxímetros comerciais.

A seção seguinte é uma revisão bibliográfica de estudos prévios sobre a confiabilidade metrológica de oxímetros portáteis de dedo e de oxímetros baseados em smartphones. Inicialmente faz uma crítica das informações prestadas pelos fabricantes, na maioria das vezes falha ou incompleta, além da calibração em geral ser baseada em indivíduos saudáveis. Analisa então 4 artigos que realizaram medições com oxímetros de dedo e 3 artigos dedicados a smartphones, sendo diferentes situações consideradas em cada estudo. Os dados mostram que a maioria dos dispositivos testados não atende aos critérios de exatidão da ISO, que preconiza um erro médio quadrático percentual total menor que 3 %. Constata, ainda, que o erro em geral aumenta na faixa mais crítica, correspondente à hipóxia.

O artigo passa então a analisar as principais fontes de erro na oximetria de pulso. A primeira é a posição do paciente na curva de dissociação da oxi-hemoglobina, que depende principalmente da altitude, da atividade física recente e do equilíbrio ácido-base do paciente. A ausência de fluxo pulsátil no dedo também afeta severamente a medição, podendo ser causada por hipotensão, uso de vasoconstritores, doença vascular periférica ou síndrome de Raynaud. A baixa exatidão em valores abaixo de 75 % decorre do processo de calibração dos equipamentos, que é baseado em voluntários com níveis moderados de hipóxia. A dishemoglobinemia, seja carboxihemoglobinemia ou metahemoglobinemia (que pode ser induzida por medicações como a cloroquina), também interfere na medição, pois os oxímetros de pulso não distinguem entre os tipos de hemoglobina. Finalmente, movimentos do dedo, luz ambiente, esmalte de unha, cor da pele mais escura e IMC elevado são todos fatores de interferência nas medições.

O artigo é encerrado com recomendações práticas para reduzir o risco de problemas com a oximetria de pulso e facilitar a implementação do monitoramento domiciliar: evitar o uso de oxímetros de smartphone; utilizar dispositivos que informem a intensidade medida do sinal; para pacientes com doença vascular periférica, inicialmente comparar as medidas do oxímetro de pulso com as obtidas no ambiente hospitalar; realizar as medições em ambiente fechado, em repouso, após ter respirado calmamente, sem falar, por alguns minutos; remover esmalte das unhas; aquecer as mãos; observar as leituras por 30-60 s e identificar o valor mais comum; somente considerar valores associados a um sinal intenso (caso o oxímetro tenha esta informação); realizar diversas medições ao longo do dia, para avaliar a tendência da oxigenação, buscando auxílio médico caso seja decrescente ou ultrapasse um limiar a ser definido pelo médico.

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