Evidências Covid 19

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Em casos graves de COVID-19 qual o possível auxílio da oxigenação feita externamente ao corpo?

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COVID-19 e ECMO: a interação entre coagulação e inflamação – uma revisão narrativa

BARRETO, Carlos Michiles

KOWALEWSKI, M. et al. COVID-19 and ECMO: the interplay between coagulation and inflammation-a narrative review. Crit Care, v. 24, n.1, p. 205, may. 2020. DOI:  10.1186/s13054-020-02925-3 Disponível em: http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/32384917

Estamos em um cenário de pandemia mundial da COVID-19, causada pelo vírus SARS-CoV-2, onde as formas graves da doença, com síndrome da angústia respiratória aguda, se devem basicamente a respostas inflamatórias local e sistêmica severas além de um estado de hipercoagulabilidade. A oxigenação por membrana em circuito extracorpóreo (ECMO) se apresenta como uma alternativa de suporte de resgate em pacientes com falência respiratória refratária.

Ainda que a maioria dos pacientes com COVID-19 seja assintomática ou apresente sintomas leves a moderados, alguns pacientes evoluem com a forma grave de síndrome respiratória, necessitando de cuidados intensivos e ventilação mecânica. O SARS-CoV-2 penetra nas células via enzima conversora de angiotensina 2 (ACE2) por endocitose, mediada por receptor que está presente em vários tecidos, tais como pulmão, trato gastrointestinal, coração, rim, sistema nervoso e endotélio; daí a multiplicidade de apresentações clínicas. Através do sistema renina angiotensina o vírus pode impactar tanto na circulação pulmonar quanto sistêmica, levando a um estado pró-trombótico. Na fase grave da doença se observa um estado hiperinflamatório, denominado de “tempestade de citocinas”, caracterizado por falência multiorgânica fulminante e elevação dos níveis de citocinas. Em última análise, a reação inflamatória criada inclui um sistema complexo que envolve leucócitos, células endoteliais e plaquetárias, pelas vias intrínseca e extrínseca da coagulação, com citocinas e o sistema complemento. A resposta imune a essa agressão depende da condição individual do paciente, de doenças preexistentes, além da carga e da patogenicidade do agente causador. Nesse cenário, várias drogas, tais como antivirais, antimaláricos, antibióticos, antiinflamatórios, anticorpos monoclonais, anticoagulantes, estão sendo empregadas, porém sem consenso e com respostas variadas.

A ECMO já é utilizado para tratamento da síndrome da angustia respiratória aguda grave produzida pelo vírus influenza sazonal, que apresenta similaridades com a COVID-19 com relação à instalação aguda, aos sintomas iniciais e algumas complicações, daí a indicação dessa terapia de suporte, também na COVID-19, em casos refratários. 

A ECMO pode ser configurada basicamente de duas formas, de acordo com o comprometimento orgânico ao paciente: Veno-Venosa e Veno-Arterial.

A ECMO Veno-Venosa é utilizada quando o comprometimento é apenas pulmonar, com parâmetros de oxigenação ruins, tais como PaO2/FiO2<100mmHg, pH<7,2, PaCO2>60mmHg; o sangue é drenado através de uma cânula, instalada em uma grande veia, passa por um circuito de tubos extracorpóreos, é oxigenado em membrana e devolvido por bomba propulsora para o corpo através de outra cânula venosa; esse é um sistema que produz menos complicações. A ECMO veno-arterial é utilizada quando há comprometimento cardíaco direto, miocardite, ou outros fatores que interfiram na função cardíaca, como no caso do choque séptico.

Esta terapêutica pode levar a alterações inflamatórias, imunológicas, hemorrágicas, circulatórias, favorecendo fenômenos embólicos e estado de hipercoagulabilidade, além de induzir a discrasias sanguíneas, por mecanismos diversos, mas principalmente pelo extenso e contínuo contato com circuitos extracorpóreos que tendem a ativar a cascata de coagulação e a resposta inflamatória, e também pela tensão de cisalhamento causado pelo trauma do sangue nesses circuitos.

Os resultados com terapia por ECMO não mostram evidência relevante de benefício, porém está recomendada para aqueles pacientes com idade inferior a 65 anos, nos quais as terapias com oxigenoterapia, pronação, ventilação mecânica, não conseguem manter parâmetros ventilatórios satisfatórios e nos casos de insuficiência cardíaca por sepse e/ou miocardite. Esta oxigenação por membrana extracorpórea ainda não é disponível em larga escala e deve ser realizada em centros estruturados e com profissionais experientes.

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Como nutrir adequadamente os pacientes graves com COVID-19?

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Terapia Nutricional em Pacientes Criticamente Enfermos com Doença do Coronavirus

FREITAS, Márcia

MARTINDALE, R et al. Nutrition Therapy in Critically Ill Patients with Coronavirus Disease (COVID-19). JPEN. Journal of parenteral and enteral nutrition, May, 2020 [publicado antes da impressão]. Doi: 10.1002/jpen.1930. Disponível em: https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/32462719/

O artigo traz uma revisão prática do conhecimento consolidado sobre o fornecimento de suporte nutricional ao paciente grave e a partir daí extrapola algumas recomendações no cenário da COVID-19, reforçando também a utilização de medidas simples que minimizem a exposição dos profissionais de saúde ao risco de contaminação.

Não há evidências científicas sólidas para embasar cuidados nutricionais específicos para pacientes com COVID-19 na sua forma grave. Podem ser realizadas algumas sugestões para o manejo destes pacientes, a partir das recomendações das diretrizes americana (2106) e europeia (2018) bem como da síntese de evidências derivadas de estudos realizados em pacientes com sepse e síndrome do desconforto respiratório agudo. Paralelamente é fato que há necessidade da adoção de medidas simples, para minimizar a exposição dos profissionais de saúde ao risco de contaminação e otimizar a utilização dos equipamentos de proteção individual (EPI) e recursos materiais em ambiente de possível escassez.

Nos pacientes graves, com COVID-19, a administração de nutrientes é feita preferencialmente através de cateter introduzido no tubo digestivo, denominada nutrição enteral (NE). O fornecimento de calorias e proteínas através deste método deve ser planejado no que tange ao tempo de início, volume, tipo de fórmula, posicionamento do cateter, cálculo das necessidades energéticas, monitorização de complicações e da tolerância gastrointestinal a dieta e avaliação do estado nutricional pela equipe multidisciplinar. Estes cuidados devem ser guiados por princípios, tais como agrupar tarefas, utilizar EPI e higienizar as mãos adequadamente, minimizando a exposição dos profissionais.

Na ausência de evidências científicas para recomendação específica  com relação ao suporte nutricional aos pacientes graves com COVID-19, os autores realizaram uma revisão narrativa das evidências disponíveis para sepse e síndrome do desconforto respiratório agudo, bem como das diretrizes internacionais vigentes, formulando algumas recomendações adaptadas para a prática no cenário de inflamação e grave distúrbio na oxigenação induzidos pelo SARS-CoV-2, risco elevado de intolerância gastrointestinal a nutrição enteral e de desnutrição. Houve também uma descrição de métodos para minimizar a exposição de profissionais de saúde aos aerossóis contaminados com o vírus, baseados na experiência de campo.

As principais recomendações emitidas pelos autores são: 1) considerar o uso da telemedicina para realizar a avaliação nutricional e envolver não especialistas; 2) iniciar a NE em 24-36h da admissão ou dentro de 12h da intubação, com cateter de 10-12Fr, em posição gástrica, de modo contínuo; 3) monitorar a tolerância a dieta e considerar administração de nutrientes por via intravenosa precocemente (nutrição parenteral), caso não seja possível progredir a NE; 4) iniciar a NE com baixo volume, em geral com objetivo de alcançar 20-25kcal/kg de peso atual na primeira semana, em pacientes com IMC<30; 5) oferecer 1,2 a 2 g/kg de peso atual por dia.

A terapia nutricional no paciente crítico com Covid-19 deve acompanhar as diretrizes americana e europeia vigentes. A recomendação específica para estes pacientes se refere a promoção de estratégias que minimizem o risco de exposição dos profissionais de saúde, durante o cuidado com o paciente ou na manipulação do cateter enteral. O início do suporte nutricional deve ser precoce, a progressão lenta, a monitorização para sinais de intolerância digestiva frequente e o limiar para utilizar a nutrição parenteral deve ser reduzido caso a progressão da nutrição enteral não seja possível.

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Como as proteínas envolvidas na resposta imunológica na COVID-19 afetam sua evolução clínica?

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Deveríamos estimular ou suprimir respostas imunes na COVID-19 ? Intervenções com citocinas e anti-citocinas

GIESTA, Monica Maria da Silva

JAMILLOUX, Y. ; et al. Should we stimulate or suppress immune responses in COVID-19? Cytokine and anti-cytokine interventions. Autoimmunity Reviews, v. 19, n. 7, Jul. 2020.  DOI: 10.1016/j.autrev.2020.102567 Disponível em: https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC7196557/

Embora a infecção por COVID-19 seja uma condição benigna em 80% dos casos, ocorrem formas severas em 15% e fatais em 5% dos pacientes. As proteínas chamadas citocinas, produzidas por várias células humanas, têm papel central na geração da resposta imunológica na COVID-19: enquanto os subtipos Interferon 1 (INF1) e Interleucina 7 ( IL7) parecem ter um papel favorável na resposta imunológica, outros subtipos como Interleucina 1ß ( IL ß) e Fator de Necrose Tumoral α (TNF α) estão envolvidos na resposta deletéria chamada de “tempestade de citocinas”. Os autores fazem uma revisão da patogenia desta infecção viral discutindo os modelos teóricos sobre quais papéis estas substâncias teriam na evolução da doença, além de uma revisão das terapias anti-inflamatórias.

Na primeira parte do artigo é feita uma revisão sobre os mecanismos de infecção desde a entrada do vírus pelas vias aéreas, sua ligação através de uma espícula S às células cujas membranas possuem uma proteína receptora denominada Enzima Conversora de Angiotensina 2 (ECA2), encontradas principalmente nos alvéolos pulmonares. Postula-se que altas cargas virais podem levar a destruição celular e inflamação exacerbada, além de provocar a morte de outra célula de defesa: os linfócitos B. Como resposta, o hospedeiro promove rapidamente uma resposta imunológica inata produzindo uma série de mediadores inflamatórios, entre eles citocinas que em quantidade exuberante promovem uma reação inflamatória descontrolada levando a síndrome respiratória aguda, coagulação intravascular disseminada e falência de órgãos.

O INF1 é essencial para a proteção das infecções virais pois induz a reparação dos tecidos lesados e prolonga a resposta imune adaptativa. Quando a produção é incrementada a patologia se desenvolve de maneira leve ou moderada. Por outro lado, se a resposta imunológica não for efetiva, somando-se a exposição a carga viral maior, ocorre uma tendência ao desenvolvimento de formas críticas. Tal fato explicaria maior gravidade em pacientes idosos ou com patologias crônicas concomitantes.

Em relação às terapias os autores fazem uma ampla revisão. Tratamentos com INFα e ß evidenciaram eficácia in vitro mas não in vivo. Não houve estudos para tratamento com IL7. Foi feita a revisão dos estudos disponíveis com inibidores de IL6 e receptores de IL6 que se mostraram promissores, entretanto, feitos sem grupo controle. Outras terapias com Inibidores de IL1ß e Inibidores de TFN e inibidores da Janus Kinase (JAK) são citados teoricamente pelos seus mecanismos de ação, embora não tenha havido até a data de publicação trabalhos concluídos. A revisão sistemática sobre terapia com corticoides, colchicina e antimaláricos mostrou-se inconclusiva.

Como pontos negativos, os próprios autores apontam o tipo, delineamento e tamanho das amostras dos estudos. Criticam também as diferentes vias de administração das medicações, o tempo de início das terapias e uso concomitante de outras drogas além daquelas citadas.

Como ponto positivo, ressalta-se um grande detalhamento dos mecanismos do processo de infecção em gráficos e imagens facilitando compreensão do leitor. Observa-se, entretanto, que pela grande complexidade a leitura deste artigo será mais bem assimilada por profissionais que tenham entendimento prévio da fisiopatologia do processo inflamatório.

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Como tem sido buscada a modulação do sistema imunológico para melhorar o tratamento e o controle clínico da COVID-19?

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Terapia imunomodulatória para o manejo da COVID-19 severa. Além da terapia antiviral: uma revisão abrangente.

BARRETO, Jaqueline

ALIJOTAS-REIG, J. et al. Immunomodulatory therapy for the management of severe COVID-19. Beyond the anti-viral therapy: A comprehensive review. Autoimmunity Reviews, v.19, n.7, p. 102569, jul. 2020. DOI: 10.1016/j.autrev.2020.102569. Disponível em: https://www.sciencedirect.com/science/article/pii/S1568997220301312?via%3Dihub

Esse trabalho é resultado de um estudo multicêntrico englobando Espanha e França, e conta com uma revisão de 122 artigos; versa sobre as possíveis terapias imunomodulatórias no tratamento da forma grave da COVID-19.

A doença COVID-19, causada pelo coronavirus-2 (SARS-CoV-2), pode apresentar uma resposta inflamatória sistêmica exacerbada, chamada de “tempestade de citocinas”, síndrome respiratória aguda grave, e ativação do coágulo com estado pró trombótico, em cerca de 15 a 20% dos pacientes infectados, com uma taxa de mortalidade de 3,7%.

As síndromes hemofagocíticas e a ativação dos macrófagos poderiam explicar essa catástrofe inflamatória, por ativação descontrolada do sistema imunológico, provocando inflamação sistêmica extrema e falência multiorgânica, observando-se, no caso da COVID-19, um “tropismo” para o pulmão; os linfócitos ativam os macrófagos e histiócitos, que passam a fagocitar células do próprio organismo, e ainda há maciça produção de citocinas inflamatórias. Não há uma terapêutica antiviral específica para a COVID-19 e as propostas de tratamento estão embasadas na tentativa do controle dessas respostas inflamatórias.

Os antimaláricos (cloroquina e hidroxicloroquina) teriam um papel imunomodulatório, já sabido no uso das doenças reumáticas, além de um potencial efeito antiviral conhecido, mudando o pH da célula necessário para a fusão viral e interferindo na proteína viral. Seu efeito se potencializa quando usado com drogas antivirais e azitromicina. Tem ainda um papel anti-inflamatório e antiagregante.

Os bloqueadores da interleucina 6 (IL-6), o tocilizumabe e sarilumabe, são receptores de anticorpo monoclonal, usados para o tratamento de resposta inflamatória sistêmica. Em uma série de 20 chineses com alteração pulmonar importante, houve regressão nas imagens pulmonares de 19 chineses após o uso do tocilizumabe. Também estão incluídos como possibilidade terapêutica os bloqueadores da IL-1 (anakinra), IL-2 (ciclosporina) e outras interleucinas, 37 e 38, que tem ação anti-inflamatória.

Os inibidores de Janus Kinase (ruxolitinibe) exercem atividade anti-inflamatória e imunomodulatória, bem como as imunoglobulinas intravenosas em altas doses, devendo-se estar atentos a possíveis efeitos colaterais nas infusões das imunoglobulinas, a saber, injúria pulmonar pós transfusional e eventos trombóticos; por isso seu uso deve ser bem avaliado.

Anticoagulantes tais como heparina e fondaparinux também são drogas incorporadas ao tratamento das formas graves de COVID-19, que sabidamente apresentam hipercoagulabilidade, com risco de trombose venosa, tromboembolismo pulmonar e coagulação intravascular disseminada. Dados obtidos da autópsia de 50 pacientes com COVID-19 mostraram desde microtromboses a trombose de artéria pulmonar, da veia cava e até do átrio direito. Além do efeito antitrombótico a heparina tem efeito anti-inflamatório e propriedades imunomodulatórias.

Os glicocorticóides, com seu efeito anti-inflamatório e imunossupressor, têm sido usados em condições de risco de vida, tais como na coagulação intravascular disseminada, na sepsis e na síndrome da angústia respiratória aguda. O seu uso deve ser avaliado caso a caso nas infecções por COVID-19. A droga preconizada é a metilprednisolona.

Altos níveis da enzima conversora da angiotensina 2 funcionam como protetores pulmonares, por isso o uso dos inibidores da enzima de conversão da angiotensina pode estar relacionado com aumento da taxa de mortalidade em hipertensos e cardiopatas. As estatinas inibem a ativação e proliferação das células T, e em adição às enzimas conversora de angiotensina 2, poderiam conferir uma proteção aos pacientes com COVID-19.

A transfusão de anticorpos neutralizantes obtidos do soro de pacientes que tiveram COVID-19 e foram curados é especulativa.

A avaliação crítica dessas drogas citadas abre um leque de possibilidades terapêuticas quando se observa a gravidade dos pacientes com evolução desfavorável. A produção de mais trabalhos, frente ao grande número de mortes observadas ao longo da população mundial, e o uso dessas drogas, irão nos possibilitar uma avaliação mais acurada sobre as terapêuticas realmente eficazes no tratamento dessa nova doença.

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Quais procedimentos logísticos foram criados para atender os diferentes tipos de pacientes com COVID-19 ?

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Adaptação dinâmica à COVID-19 num departamento de emergência pediátrica de Singapura

FAULHABER, Maria Cristina Brito

TAN, R. M. R. ; et al. Dynamic adaptation to COVID-19 in a Singapore paediatric emergency department. Emerg Med J., v. 37, n. 5, p. 252-254, May 2020. DOI: 10.1136/emermed-2020-209634. Disponível em: http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/32321705

Singapura foi um dos primeiros países afetados pela COVID-19, tendo tido no início de fevereiro de 2020 um número de casos confirmados laboratorialmente maior que qualquer outro país fora da China. Isso levou à necessidade de criação de procedimentos logísticos para gerenciar o atendimento em emergências, entre eles uma emergência pediátrica terciária. O artigo aborda os diversos aspectos que devem ser considerados para executar essa adaptação, visto que o KK Women’s and Children’s Hospital tem 830 leitos pediátricos e atende cerca de 180.000 pacientes anualmente.

Foi realizada uma estratificação de alto (paciente colocado no isolamento), médio (colocado em tenda projetada para isso) e baixo (colocado na área principal) risco por uma pré-triagem, assim que o paciente chegava à emergência. A distinção entre baixo e médio risco foi importante também para diferenciar o tipo de equipamento de proteção individual (EPI) a ser usado pelos profissionais de saúde. A área de isolamento contou com sistema de ventilação com pressão negativa (ou exaustão – o ar é forçado a sair de dentro para fora) e consultórios privativos, sendo os pacientes e acompanhantes recém chegados da China encaminhados para ela, após receberem máscaras. Aqueles com história de febre ou sintomas respiratórios agudos receberam máscaras cirúrgicas e foram para a área de médio risco. Para a área de baixo risco foram os pacientes sem antecedentes de viagens, com contato suspeito, febre ou sintomas respiratórios. Divisórias foram construídas isolando parte da emergência para permitir o uso em comum de Rx e sedação de crianças quando necessário.  Intervenções outras foram cronologicamente sendo executadas a partir das constatações de novas evidências sobre a doença. No início o EPI padrão foi máscara cirúrgica e higiene das mãos com álcool, adicionando máscara N95, capote e luvas para os profissionais lotados no isolamento. Em meados de fevereiro, a partir da evidência da possível transmissão ocular, foi introduzido no EPI da triagem o uso de óculos de proteção. No início de março iniciou-se a realização da coleta de swab nasofaríngeo em crianças assintomáticas contactantes de casos confirmados, após a descoberta que crianças assintomáticas podem ter alta carga viral de COVID-19.

Por fim ficou estabelecido um consenso de que a triagem deveria usar máscara N95 e óculos de proteção; na área de alto risco deveriam ser usados máscara N95, óculos, capote e luvas; na área intermediária máscara N95 e óculos; na área de baixo risco máscara cirúrgica; nos procedimentos geradores de aerossóis como intubação, aspiração e coleta de swab nasofaríngeo usar o chamado PAPR (Powered Air-Purifying Respirator), ilustrado abaixo. Foi contra indicada a realização de medicações através de nebulizações pelo maior risco de dispersão dos aerossóis.

Quanto à mão de obra dos profissionais envolvidos, para prevenir exposição cruzada, a equipe foi dividida em médicos seniores e júniores, em quatro módulos de profissionais, com rodízio dos plantões a cada 12 horas.

Na prática foi importante instituir uma área exclusiva de isolamento pois permitiu que lá fossem atendidos casos de outras doenças infecciosas, como coqueluche ou sarampo, além de construir um local exclusivo para troca de EPI, uma sala de ressuscitação cardiorrespiratória, outra com blindagem de chumbo para realização de exames radiológicos, sanitários exclusivos para pacientes, separando áreas limpas de áreas contaminadas e uma farmácia para dispensação de medicações. Finalmente foi importante o treinamento no uso de PAPR, desconhecido para a maior parte dos profissionais.

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Como as máscaras podem ajudar a proteger do contágio da COVID-19 ?

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Proteção facial na era da COVID-19: uma revisão narrativa

NACCACHE, Mônica

LI, D. T. S.; et al. Facial protection in the era of COVID-19: a narrative review. Oral Diseases, Jun. 2020. [publicado antes do impresso] DOI: 10.1111/odi.13460. Disponível em: https://onlinelibrary.wiley.com/doi/full/10.1111/odi.13460

Artigo de revisão publicado em periódico, discute sobre os diferentes tipos de máscaras de proteção facial.

O uso de proteção facial é essencial na prevenção de infecções. Porém, a eficácia da maioria destes equipamentos ainda não foi provada. Observa-se a importância do uso de máscaras de alta-eficiência para profissionais de saúde, e o uso de máscaras comuns para a comunidade em geral, a fim de reduzir a velocidade de contágio. Este uso é recomendado principalmente pela possibilidade de transmissão por pacientes assintomáticos.

Os autores descrevem as máscaras respiradoras (N95, FFP2 e variantes) como sendo as que têm a maior capacidade de filtragem (filtram 90% das partículas de tamanho similar ao do vírus), possuem quatro camadas de filtros, se ajustam perfeitamente à face, e devem ser usadas uma única vez.

As máscaras cirúrgicas são usadas quando o risco de contaminação é de baixo a moderado, e têm três diferentes classificações, de acordo com a capacidade de filtração. Estas máscaras têm três camadas, mas não filtram partículas pequenas de forma eficiente e não se ajustam perfeitamente à face, mas podem ser efetivas em grande número de situações. Estas máscaras são recomendadas para uso da comunidade em geral, visando a redução do contágio da COVID-19. Os autores concluem que seu uso pode efetivamente reduzir o contágio, desde que associado a outras medidas, como o distanciamento social.

As máscaras de uso único e as feitas de tecido têm eficiência reduzida mas mesmo assim podem contribuir com a redução do contágio, e também são uma boa alternativa para uso com outras medidas como redução de circulação e distanciamento social.

Barreiras faciais não oferecem proteção contra o vazamento de aerossóis em suas margens. A sugestão é que sejam usadas apenas como proteção adicional (às máscaras, por exemplo). A vantagem é que são robustas e de fácil desinfecção, além de não bloquearem linguagens de interpretação visual.

Respiradores a bateria (Powered Air-Purifying Respirator, PAPR) são uma alternativa a algumas situações na impossibilidade do uso das N95, mas seu custo é bem elevado e também requer treinamento.

Foi feita uma comparação da incidência de COVID-19 na região de Hong Kong (onde 96,6% da comunidade em geral usava máscara tipo cirúrgica) com países em que o uso não era feito, e observou-se que a incidência era bem menor. Concluiu-se que o uso das máscaras diminui efetivamente a incidência de COVID-19, reduzindo a emissão de saliva e gotas respiratórias por pessoas contaminadas.

A reutilização das máscaras não é recomendada. Porém, com a falta de equipamentos, alguns métodos de desinfecção, por calor, por tratamento químico e por radiação, foram propostos, porém não são 100% seguros, e ainda existem questões em aberto: as máscaras podem ser efetivamente esterilizadas? Como? Quantas vezes? As máscaras reutilizáveis devem alcançar um balanço entre eficiência de filtração e integridade de material. A pesquisa por máscaras reutilizáveis deveria ser intensa, tendo em vista a possibilidade de surgimento de novas pandemias e epidemias.

O uso continuado de máscaras faciais pode resultar em problemas de pele como alergias, úlceras e outras lesões.

Os autores concluem que o uso das máscaras efetivamente reduz o contágio da COVID-19.

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Quais as principais características da COVID-19 nos sintomas e no tratamento conforme os estágios da doença?

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Doença do Coronavírus 2019: revisão clínica

WENNA, Sofia

GOUVEIA, Cristina Carvalho; CAMPOS, Luiz. Coronavirus Disease 2019: Clinical Review. Acta Med Port, v. 33, n. 7-8, jul.-ago. 2020 p. 505-511. Disponível em: https://doi.org/10.20344/amp.13957

O presente artigo faz um apanhado sobre o coronavírus-2019 (Sars-Cov-2), sua fisiopatologia e as manifestações clínicas da doença por ele causada (COVID-19). Descreve os principais achados laboratoriais e radiológicos, além de esclarecer as últimas recomendações farmacológicas contra a doença. Finalmente, para prevenção, recomenda medidas de proteção pessoais, ambientais e sociais.

O Sars-CoV-2 surgiu na China em dezembro de 2019, causando uma pandemia e centenas de milhares de mortes no mundo.

Para elaboração desta revisão, foram selecionados 68 artigos na base do PubMed.

Após consumo de animais hospedeiros do Sars-CoV-2, iniciou-se a transmissão pessoa a pessoa. A média de incubação em humanos é de 5,2 dias e cada indivíduo transmite a doença, em média, para 3,28 pessoas.

A infecção das células dá-se através do receptor de enzima conversora de angiotensina II. Nos pulmões, há edema, lesão de alvéolos e um estado pró-inflamatório, levando à síndrome respiratória aguda grave.

Há três estágios de doença: I – incubação e sintomas leves; II – envolvimento pulmonar;  III – síndrome hemofagocítica.

A transmissão do Sars-CoV-2 é respiratória, mas ele também foi identificado em amostras de fezes, urina, swab retal e sangue.

Sintomas comuns são febre, tosse e dispneia. Podem surgir mialgia, astenia, tosse produtiva, odinofagia, cefaleia, tonteira e hemoptise. Sintomas gastrointestinais podem ocorrer, mesmo sem manifestações respiratórias. Laboratorialmente, há elevação de albumina, proteína C reativa, lactato desidrogenase e velocidade de hemossedimentação. As principais complicações são insuficiência respiratória, lesão cardíaca, hepática e renal, arritmias, coagulopatias, choque e infecções secundárias.

A radiografia de tórax é utilizada para diagnóstico e acompanhamento, sendo a pneumonia bilateral o achado mais comum. A tomografia de tórax é indicada para estratificação e diagnóstico em casos duvidosos. Achados comuns são opacidades em vidro fosco e consolidações. Imagens mais críticas são caracterizadas por aparência de “pulmão branco”. A resolução tomográfica surge após 2 semanas.

O padrão-ouro para diagnóstico é o teste de reação em cadeia da polimerase (RT-PCR), em amostras do trato respiratório, com sensibilidade de 60-70%. O método de PCR digital mostrou-se mais sensível para amostras com baixa carga viral.

As sorologias tornam-se positivas entre 11-14 dias de infecção.

Cloroquina e hidroxicloroquina têm ação in vitro contra o Sars-Cov-2, porém possuem alta toxicidade cardíaca e não são recomendadas para tratamento. O remdesivir e favipiravir demonstraram boa resposta in vitro, porém testes clínicos se fazem necessários.

Substâncias anti-inflamatórias têm efeito promissor: tocilizumab, plasma ou imunoglobulina hiperimune de pacientes convalescentes e imunoglobulina humana. O uso de corticoides é controverso, porém indicado na sepse.

Pacientes em estágio I devem ser tratados com sintomáticos. No estágio II, inicia-se terapia de suporte, com eventual uso de corticoides e tocilizumab. No estágio III, recomenda-se imunomodulação, ponderando-se uso de corticóides e imunoglobulina humana. Pacientes internados devem receber heparina em dose profilática, visando evitar coagulopatias.

A mortalidade da COVID-19 é de 3,8%, porém aproximadamente 80% dos infectados têm sintomas leves. São preditores de mortalidade: idade avançada, sexo masculino, comorbidades, elevação de marcadores inflamatórios, pneumonia bilateral e dano endotelial.

Como medidas de prevenção, sugere-se higiene pessoal e de superfícies, uso de máscara e ventilação dos ambientes. Isolamento social e diagnóstico precoce são importantes no controle da disseminação da doença.

Sendo a COVID-19 uma doença recente, muitas questões permanecem sem resposta e um tratamento específico ainda não foi definido. O melhor conhecimento dos mecanismos moleculares do Sars-CoV-2 nos permitirão desenvolver novas drogas e vacinas contra a doença.

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Como manter assistência obstétrica de qualidade em uma pandemia?

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Mantendo assistência obstétrica de qualidade em uma pandemia e além

DAMASCENO, Patrícia Salles

RENFREW, Mary J. et al. Sustaining quality midwifery care in a pandemic and beyond. Midwifery. Edimburgo, v. 88, May. 2020. DOI: 10.1016/j.midw.2020.102759.  Disponível em:   https://www.sciencedirect.com/science/article/pii/S0266613820301315?via%3Dihub

Mudanças emergiram no ambiente da saúde com o avanço da COVID-19. Medidas protetivas restringiram direitos de mulheres, bebês e famílias em maternidades, em prol de usuários e profissionais. São propostos princípios-chave para medidas de segurança baseadas em evidência. Busca-se equilíbrio entre qualidade, necessidades de saúde pública e direitos humanos.

A pandemia da COVID-19 no mundo trouxe mudança na prioridade nos serviços de saúde, levando a restrição de direitos de mulheres, recém-natos e famílias visando à segurança. Em nome desta, muitos serviços foram desativados, comprometendo a qualidade da assistência. Todavia, equilibrar restrições, mantendo decisões embasadas em evidências, torna possível manter a qualidade e proteger usuários e equipes de saúde, e não comprometer resultados futuros. Com esse objetivo, aqui seguem propostas que entremeiam a qualidade, as necessidades de saúde pública e os direitos humanos em maternidades.

Apesar do breu inicial, informações têm sido geradas rapidamente pela comunidade científica, adaptando linhas de cuidado na perspectiva da COVID-19. Na gestão em saúde, gerentes e governos adaptam seus serviços e políticas. Essa resposta, porém, não pode gerar riscos aos sistemas e práticas fundamentais à sobrevivência, à saúde e ao bem estar.

Mesmo com muitas mulheres e bebês sadios, a prevenção à COVID-19 se sobrepõe nas  maternidades no Reino Unido e em outros países. Documentos internacionais evidenciam redução de direitos perinatais. Suspensão do alojamento conjunto, aumento da medicalização e de cesarianas, serviços perinatais de forma remota, fechamento de serviços de banco de leite são exemplos. Ainda, há redução nas equipes das maternidades por remanejamento, doença ou auto isolamento, limitando a assistência.

Dada a crise, não surpreende o retorno a velhos padrões de comando e controle, com tomadas de decisão intuitivas em detrimento da racionalidade, arriscando ganhos importantes em segurança, qualidade, pessoalidade do cuidado com mulheres, bebês e família. A base para a tomada de decisões deve ser pautada pelas evidências sobre a doença e pela qualidade no cuidado conjuntamente. A qualidade ainda importa, e as parteiras importam mais do que nunca.

A pandemia ameaça melhorias dos últimos 30 anos, no que tange a sobrevivência, a saúde e o bem-estar de mulheres e recém nascidos. Aspectos como: a continuidade do cuidado; parteiras no cuidado integral centrado nas mulheres; fortalecer processos de parto normal e evitar intervenções desnecessárias; promoção do contato e apego pele a pele; amamentação exclusiva; e apoio à saúde mental das mulheres. Nesses tempos, a saúde mental está potencialmente abalada por medo e ansiedade gerada pela pandemia.

Restrições são flexibilizadas à medida que práticas baseadas em evidência para segurança com COVID-19 são somadas às práticas de segurança e qualidade também baseadas em evidência já vigentes, e não em detrimento destas. O sistema de saúde deve manter o suporte aos profissionais da área. Assim, se evitarão óbitos de mulheres e recém nascidos por causas preveníveis.

A melhor perspectiva de ação deve alinhar os interesses de mulheres, famílias e profissionais de saúde com as restrições impostas pela pandemia, e assim mitigar os impactos da COVID-19 em minorias do Reino Unido (Grupo BAME).  Estudos publicados pelo Sistema de Vigilância em Obstetrícia já mostram que o grupo BAME está em maior risco.

Áreas onde não houve o pico podem aprender com as experiências de países onde a epidemia avançou e estabilizou.

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Como os pacientes com câncer podem ser afetados pela COVID-19?

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Pacientes com Câncer e Pesquisa durante a Pandemia de COVID-19: uma revisão sistemática da evidência atual

GIESTA, Monica Maria da Silva

Moujaess, E.; Kourie, H. R.; Ghosn, M.  Cancer patients and research during COVID-19 pandemic: a systematic review of current evidence. Crit Rev Oncol Hematol. v. 150, Jun. 2020, p. 2 – 9. DOI: 10.1016/j.critrevonc.2020.102972 Disponível em: https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC7174983/pdf/main.pdf

Pacientes com patologias crônicas são mais susceptíveis a desenvolver complicações pela COVID-19. Dentre estes, portadores de câncer tem risco 39% mais elevado de desenvolver maior gravidade quando comparados aos 8% de chance na população geral. Entre as medidas de controle da epidemia está a redução de procedimentos não urgentes, porém, o acompanhamento dos pacientes oncológicos não deve interrompido, o que os coloca muitas vezes frente a uma maior ameaça. O artigo objetiva revisar na literatura os achados clínicos, epidemiológicos e radiológicos de pacientes oncológicos com COVID-19, assim como explanar sobre as estratégias diagnósticas e terapêuticas sugeridas pelas instituições das áreas endêmicas mundiais, com ênfase na China e Itália.

Os materiais e métodos do estudo consistiram em uma pesquisa eletrônica iniciada em dezembro de 2019 até 05 de abril de 2020, usando termos COVID-19 combinado a câncer, assim como os termos correlatos das duas condições. Foram eleitas 88 publicações, sendo 59% originárias da China e Itália e 7 estudos com colaboração multinacional. 

Em relação às pesquisas oncológicas, muitos pesquisadores tiveram que decidir entre a interrupção ou continuidade dos estudos. Entre aqueles que decidiram manter, houve adaptações de protocolos, redução das visitas presenciais, acompanhamento remoto e até avaliação das medicações antineoplásicas no tratamento da COVID-19.

Nas estratégias de manejo dos pacientes neoplásicos, a publicação chama a atenção para o risco de progressão do câncer quando o início da terapia específica é adiado por conta da pandemia, a falta de protocolos universais específicos,  a necessidade de proteção adequada dos profissionais que lidarão com estes pacientes e do remodelamento dos espaços que os receberão. Na seleção dos artigos chineses foi ressaltado que pacientes com câncer de pulmão podem ser mais vulneráveis ao acometimento por COVID-19 e sugerem que o rastreio deste vírus deve ser feito neste grupo mesmo com baixa suspeita de infecção. A experiência italiana mostra dados similares. Para pacientes com malignidades potencialmente cirúrgicas, como as urológicas e ginecológicas, foram criados algoritmos de rastreamento, enfatizando a notificação telefônica de sintomas sugestivos de COVID-19.

Em março de 2020 muitos artigos foram publicados pelas sociedades mundiais de oncologia, auxiliando a tomada de decisão para o tratamento de tumores malignos na epidemia. Hematologistas orientaram a maior parcimônia em transplantes, pelos riscos de infecção nos doadores e receptores imunossuprimidos. Para câncer de mama preconizou-se evitar radioterapia ou diminuição da carga. Três instituições americanas recomendaram priorizar o controle ambiental, abordagem multidisciplinar, telemedicina para acompanhamento, incremento das terapias adjuvantes, diminuição das admissões hospitalares, discutir a paliação quando não houver chance de cura e providenciar suporte psicológico para a equipe e pacientes. Cirurgias somente para os pacientes com evolução rápida do câncer.

Na conclusão, os autores ponderam que, apesar de todos os esforços feitos, ainda se busca um modelo ideal de tratamento dos pacientes com câncer durante a epidemia. A abordagem deve levar em conta a experiência profissional, condições do local de tratamento, particularidade de cada caso e atenção quanto ao adiamento de terapias de primeira linha se houver prolongamento da epidemia, pois este fator pode ser mais letal do que a infecção pela COVID-19.

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Qual a associação entre diabetes, inflamação crônica e COVID-19?

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Diabetes e síndrome metabólica como fatores de risco para COVID-19

PESSANHA, Katia Maria de Oliveira Gonçalves

Marhl, Marko; et al. Diabetes and metabolic syndrome as risk factors for COVID-19. Diabetes Metab Syndr., v. 14, n. 4; p. 671-677, Jul./aug. 2020. DOI: 10.1016/j.dsx.2020.05.013. Disponível em: https://doi.org/10.1016/j.dsx.2020.05.013

Baseado na observação clínica de que pacientes com Diabetes Mellitus (DM) têm maior risco de desenvolver COVID-19, o artigo apresenta um modelo de interligação com processos crônicos de adoecimento, abordando possíveis biomarcadores preditores de agravamento da doença viral.

Os autores objetivam demonstrar a existência de uma associação entre DM, síndrome metabólica (SM), processo inflamatório crônico e COVID-19. Propõem a utilização de quatro biomarcadores específicos para avaliação de pior desfecho nos pacientes: hipertensão arterial, diminuição da contagem de linfócitos, aumento da enzima hepática (ALT)  e aumento de interleucina 6 (IL-6).

O método utilizado foi a pesquisa de publicações no PubMed relacionadas a contextos fisiológicos comuns a Diabetes e COVID-19, utilizando a biblioteca Python Entrez, com seleção de 1.121.078 artigos. Destes foram extraídos gráficos específicos conectando Diabetes e COVID-19, nos quais 14 tópicos de interrelação foram observados e ressaltados os que demonstravam significância.

Os resultados revelaram três principais vias fisiopatológicas que ligam Diabetes e COVID-19: receptor ACE2, disfunção hepática e inflamação crônica. Deste modo a observância dos biomarcadores clínicos poderia prever a apresentação de complicações auxiliando nas decisões clínicas.

O receptor ACE2 foi identificado como ponto de entrada do vírus Sars-Cov2 na célula, e sua maior expressão em diabéticos e hipertensos, especialmente em pulmões e rins, demonstra a razão do maior acometimento destes órgãos na COVID-19. O ACE2 inativa a angiotensina II, responsável pela estimulação da resposta inflamatória, sendo a maior expressão  desses receptores um fator protetor. Porém, na presença de COVID-19,  esta expressão se torna um preditor de desfecho desfavorável, já que o vírus utiliza essa via para sua entrada e impede a inativação da angiotensina II.

 Os autores  analisaram gráficos cruzados demonstrando que a interseção em pacientes graves de hipertensão e COVID-19 é mais pronunciada que DM e COVID-19. Concluíram que a associação dessas doenças seria um importante fator de risco para morbidade e mortalidade em COVID-19, reconhecendo a hipertensão como biomarcador clínico mais importante.

No segundo eixo, a ALT foi identificada como biomarcador da fase inicial mais preditivo de evolução para síndrome do desconforto respiratório agudo (SDRA). O estudo demonstra estreita relação entre síndrome metabólica, pré-Diabetes, Diabetes, distúrbios hepáticos e a presença de elevação leve da ALT, sugerindo sua utilização como preditor de evolução desfavorável da COVID-19. De acordo com as análises realizadas, o vínculo entre aumento isolado de ALT e COVID-19 sem a presença de uma doença metabólica prévia não pode ser considerado preditor de gravidade, uma vez que não caracteriza lesão hepática inflamatória crônica.

A inflamação seria o terceiro eixo estudado e um elo importante entre as doenças citadas. Neste ponto, dois biomarcadores se destacam na interrelação Diabetes, Inflamação crônica, idade e COVID-19: IL-6  e linfócitos. A tempestade inflamatória da COVID-19 exacerba a inflamação crônica preexistente. Além disso, o DM tipo 2 e a obesidade compartilham o maior número de genes desregulados nas infecções com a COVID-19, o que explicaria do ponto de vista genético esta interrelação idade/DM/COVID-19.

Os autores concluíram haver uma interligação COVID-19 e DM a partir dos 3 eixos citados, justificando a utilização de biomarcadores que podem ser aplicados diretamente na prática clínica (IL6, ALT e contagem de linfócitos). Enfatizam o papel da síndrome metabólica, obesidade e Diabetes, onde já existe o processo inflamatório crônico e a desregulação genética, na pior evolução da COVID-19. Relatam ainda preocupação com uma pandemia associada a uma epidemia já em curso de doenças metabólicas.

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