Evidências Covid 19

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Qual a competência e o comportamento informacional dos universitários em relação à saúde?

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Alfabetização em Saúde Digital e Comportamentos de Busca de Informações com base na Web por Estudantes Universitários na Alemanha durante a Pandemia da COVID-19: Estudo Transversal

DIAS, Elaine

DADACZYNSKI, K.; et al. Digital Health Literacy and Web-Based Information-Seeking Behaviors of University Students in Germany during the COVID-19 Pandemic: Cross-sectional Survey Study. J Med Internet Res.,v. 23, n. 1, p. e24097, Jan. 2021. Doi: 10.2196/24097. Disponível em: https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/33395396/

Durante a pandemia de COVID-19, as tecnologias de comunicação digital vêm desempenhando um papel importante na estratégia de comunicação em saúde pelos governos e pelas autoridades de saúde pública. A Internet e as redes sociais tornaram-se fontes importantes de informações sobre saúde relativas ao coronavírus e a formas de proteção contra o vírus.

Além disso, a infodemia com a COVID-19 se espalha mais rápido do que o coronavírus propriamente dito, e interfere nos esforços governamentais de comunicação em saúde. Esse fenômeno coloca as estratégias de saúde pública em risco, razão pela qual a alfabetização digital em saúde é uma competência chave para navegar pelas informações sobre saúde relacionadas ao coronavírus.

O estudo teve como objetivo investigar a alfabetização digital em saúde e o comportamento sobre a busca de informações online durante o estágio inicial da pandemia de coronavírus entre os estudantes universitários na Alemanha.

Foi realizado um estudo transversal com 14.916 estudantes universitários com mais de 18 anos em 130 universidades da Alemanha.  A pesquisa foi online e contemplou questões sociodemográficas e também utilizou as cinco escalas do Instrumento de Letramento Digital em Saúde, que foi adaptado para o contexto específico da COVID-19. O comportamento de busca de informações online foi investigado examinando as fontes empregadas e os tópicos que os alunos pesquisaram em relação ao coronavírus.

Entre as dimensões da alfabetização digital em saúde, as maiores dificuldades foram avaliar a confiabilidade de uma informação (42,3%). Além disso, os entrevistados também indicaram que costumam ter problemas para encontrar as informações que procuram (30,4%). Motores de busca, portais de notícias e sites de órgãos públicos foram usados ​​com mais frequência pelos entrevistados como fontes de busca de informações sobre a COVID-19. Descobriu-se que estudantes do sexo feminino usam mídias sociais e portais de saúde com mais frequência, enquanto estudantes do sexo masculino usam a Wikipedia e outras enciclopédias online e o YouTube com mais frequência. O uso de mídia social foi associado a uma baixa capacidade crítica para avaliar as informações.

O estudo demonstrou que, embora a alfabetização digital em saúde seja bem desenvolvida, ainda existe uma proporção significativa de estudantes universitários que enfrenta dificuldades com determinadas habilidades para lidar com a informação. Há necessidade de fortalecer a alfabetização digital em saúde dos estudantes universitários, mas também melhorar a qualidade da informação sobre saúde na Internet, e além disso implementar estratégias de checagem de fatos online, bem como aumentar a alfabetização em saúde daqueles que produzem e fornecem informação e serviços de saúde online.

Segundo os autores, as universidades podem, por exemplo, oferecer cursos sobre alfabetização digital em saúde e informações sobre saúde para seus funcionários e alunos, bem como divulgar notícias confiáveis ​​sobre coronavírus por meio de seus canais online.

O estudo realizado fornece conhecimento que pode ajudar os tomadores de decisão a desenvolverem políticas e programas que promovam comportamentos saudáveis, planejarem medidas preventivas e promoverem a adesão às políticas.

A alfabetização digital em saúde capacitará estudantes universitários e todos os outros grupos populacionais para terem maior controle na prevenção da COVID-19 e na sua disseminação, o que, por sua vez, provavelmente poderá levar a melhores resultados em saúde.

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Como o exercício físico influencia a evolução dos pacientes com COVID-19 ?

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A Capacidade Máxima de Exercício é Inversamente Relacionada à Hospitalização pela Doença do Coronavírus 2019

SOUZA, Valdênia

BRAWNER, C. A.  et al.  Inverse Relationship of Maximal Exercise Capacity to Hospitalization Secondary to Coronavirus Disease 2019, Mayo Clinic Proceedings, v. 96, n. 1, p. 32-39, Jan. 2021. Doi: 10.1016/j.mayocp.2020.10.003. Disponível em: https://www.sciencedirect.com/science/article/pii/S0025619620311307

Neste estudo retrospectivo e observacional, os autores testaram a hipótese de que a capacidade máxima de exercício seria um item independente de risco e inversamente relacionado à hospitalização por COVID-19. Foram incluídos adultos maiores de 18 anos que, por uma indicação clínica, completaram um teste de esforço entre 1 de janeiro de 2016 a 29 de fevereiro de 2020 e tiveram um teste para SARS-CoV-2 entre 29 de fevereiro e 30 de maio de 2020, com hospitalização em no mínimo 30 dias após. A exclusão dos pacientes era se o teste de esforço era incompleto.

A detecção do SARS-CoV-2 foi realizada usando teste de reação em PCR.

O esforço físico foi ergométrico em esteira, eco de estresse e teste de exercício cardiopulmonar.  Antes do teste, o histórico médico, prontuário e entrevista eram realizados e o protocolo do exame de acordo com a escolha do medico, seguindo as diretrizes da Associação Americana do Coração (American Heart Association). A capacidade máxima do exercício foi quantificada em equivalentes metabólicos de tarefas (METs).

Dados complementares eram colhidos para análise de co-variáveis, tais como: hipertensão arterial, diabetes, insuficiência cardíaca, doença renal crônica, asma, acidente vascular cerebral, intervenção percutânea coronariana, cirurgia cardíaca, histórico de câncer, índice de massa corpórea, tabagismo, etc.

Foram analisados os dados de 1.181 pacientes. O tempo médio entre o exame do esforço e o SARS-CoV-2 foi de 2,1 anos. 246 pacientes (21%) com idade média de 59 + 12 anos testaram positivo para SARS-CoV-2. Entre esses pacientes, 89 (36%) foram hospitalizados; e estes pacientes eram mais velhos e mais doentes (hipertensos, diabéticos, renais crônicos, etc.) e com uso de medicamentos (hipolipemiantes, betabloqueadores, bloqueadores de canal de cálcio, diuréticos, insulina, etc.). Dentre os hospitalizados, 8 foram para a ventilação mecânica e 13 foram a óbito. O MET médio dos pacientes em terapia intensiva, ventilados ou não, ou óbito não teve diferença estatística.

A diferença estatística (p < 0,001) ocorreu entre o pico do MET entre os pacientes hospitalizados e não hospitalizados. Ao separar em quartis de aptidão fisica, a faixa mais baixa (< 5,4 METS) obteve um OR = 3,88 em comparação com o quartil mais alto (> 9,7 METS). Cada unidade de pico de METs foi associada independentemente a 13% menor chance de hospitalização (OR = 0,87; IC 95% = 0,76 – 0,99), porém o declínio foi observado a partir de 13 METs.

Estas descobertas são importantes por poderem colocar a capacidade do exercício como estratégia modificável para prevenção de infecção, especificadamente o exercício regular de intensidade moderada, pois influencia favoravelmente as vias biológicas que estão envolvidas na resposta à infecção, inclusive à COVID-19. Outra importante informação é a capacidade de predizer a hospitalização ou não do paciente positivo.

Em conclusão, a capacidade máxima de exercício, determinada a partir de um teste de esforço antes da infecção por SARS-CoV-2, está independente e inversamente associada com a probabilidade de hospitalização. Esses dados apoiam ainda mais a importante relação entre a aptidão cardiorrespiratória e a saúde. Os pacientes devem ser encorajados a praticar exercícios aeróbicos regularmente, para manter ou melhorar sua capacidade de exercício. Estudos futuros são necessários para determinar se a melhora da capacidade de exercício está associada a um menor risco de complicações devido a infecções virais, como COVID-19.

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Variantes do virus da COVID-19 podem infectar mais?

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Variantes do SARS-CoV-2 501Y.V2 não apresentam maior infecciosidade, mas apresentam escape imunológico

PALMEIRA, Vanila Faber

QIANQIAN LI, et al. SARS-CoV-2 501Y.V2 variants lack higher infectivity but do have immune escape. Cell, v. 184, n. 9, p. 2362. Apr. 2021. DOI: 10.1016/j.cell.2021.02.042 Disponível em: https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC7901273/pdf/main.pdf

O novo Coronavírus 2019 (SARS-Cov-2), até fevereiro de 2021 já infectou mais de 100 milhões de pessoas, com mais de 2 milhões de mortes em todo o mundo. O SARS-Cov-2 é um vírus de RNA e, como tal, tem grande tendência a sofrer mutações, que levam a alterações de proteínas virais, e com isso ao surgimento de novas variantes do vírus.

Mutações são erros que acontecem na hora da replicação de um vírus, por exemplo, que leva a alterações de proteínas do vírus. Quando a mutação é favorável, ela rapidamente torna-se presente na maioria dos vírus circulantes. Desde o início da pandemia pelo SARS-Cov-2 no final de 2019, novas variantes do vírus originado em Wuhan têm sido descritas em vários locais pelo mundo. Pesquisas têm sido realizadas com o intuito de determinar se essas variantes vêm tornando-se mais infecciosas, ou são capazes de causar infecções mais graves, ou se conseguem escapar do sistema imune. No trabalho os autores foram atrás de buscar respostas para algumas dessas perguntas, em relação à variante que surgiu na África do Sul em outubro de 2020.

É importante ressaltar que, quanto mais pessoas infectadas, maior é a pressão seletiva (qualquer conjunto de condições ambientais que origina o favorecimento de determinados genes em relação a outros em determinada população) para que mutações ocorram. Por isso, regiões extensas como Brasil, África e Índia são favoráveis ao surgimento de novas variantes do SARS-Cov-2. Os autores investigaram se determinadas mutações da variante originada na África do Sul ainda seriam susceptíveis a neutralização por anticorpos monoclonais e anticorpos policlonais (obtidos de soro de pacientes convalescentes e de camundongos imunizados com vacinas). Além disso, os autores testaram para avaliar uma maior infectividade em células de origem humana e murina.

O que foi percebido pelos experimentos utilizando vírus pseudotipados (não são o SARS-Cov-2 reais circulantes, e sim uma mistura da cepa mutante com um outro vírus) foi que a infectividade aumentou para células de camundongo que super expressavam ECA2, indicando a possibilidade de ampliação de hospedeiros para o vírus. Já para células humanas, a cepa mutante não teve aumento em sua infectividade, mas teve escape do sistema imune. Esses achados sugerem uma redução na capacidade neutralizante de anticorpos monoclonais e, possivelmente, das vacinas. Os autores discutem que os anticorpos monoclonais devem ser desenhados para reconhecimento de mais resíduos, aumentando assim a afinidade de ligação e, incluindo uma maior variedade de epítopos, possibilitando o reconhecimento apesar de mutações virais. Além disso, também foi ressaltado o fato de que estudos sobre a eficiência das vacinas para a novas mutantes devem ser feitos em outros trabalhos.

 

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Qual a proteção da vacina Oxford-AstraZeneca em função da distância em semanas entre as doses?

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Administração de dose única e a influência do momento da dose de reforço na imunogenicidade e eficácia da vacina ChAdOx1 nCoV-19 (AZD1222): uma análise agrupada de quatro ensaios clínicos randomizados

DOLINSKY, Luciana

VOYSEY, M. et al. Single-dose administration and the influence of the timing of the booster dose on immunogenicity and efficacy of ChAdOx1 nCoV-19 (AZD1222) vaccine: a pooled analysis of four randomised trials. The Lancet, v. 397, n. 10277, p. 881-891, Fev. 2021. DOI: 10.1016/S0140-6736(21)00432. Disponível em: https://www.thelancet.com/journals/lancet/article/PIIS0140-6736(21)00432

O artigo analisa a imunogenicidade e a eficácia da vacina ChAdOx1 nCoV-19, também conhecida como Oxford-AstraZeneca, com a finalidade de analisar o efeito de uma única dose e a influência do tempo na aplicação da dose de reforço, no caso das duas doses.    

O imunizante Oxford-AstraZeneca é uma vacina de vetor viral, contendo o material genético completo da proteína spike, e sua segurança e imunogenicidade foram determinadas em 4 estudos randomizados, duplo-cego e controlados realizados em 3 diferentes países: Reino Unido, Brasil e África do Sul. A eficácia da administração de 2 doses foi de 70,4, na análise de dados intermediária, e resultou na aprovação para uso emergencial no Reino Unido, respeitando o regime de 2 doses e intervalo de 4 a 12 semanas entre as doses, para maiores de 18 anos. Desde então a vacina foi aprovada para uso em diversos países.

Os estudos iniciais da Universidade de Oxford previam apenas uma dose do imunizante, sendo modificados apenas após a revisão dos dados de imunogenicidade da fase 1, que mostraram aumento de anticorpos neutralizantes após uma segunda dose. Em função dessa modificação no protocolo, vários participantes do estudo inicial escolheram não receber a segunda dose, resultando em uma coorte auto selecionada. Adicionalmente, em função do tempo para manufaturar novas doses, houve atrasos na aplicação da segunda dose. Essas situações acabaram resultando em oportunidade para analisar a imunogenicidade e a eficácia de uma única dose e o efeito do intervalo ampliado entre duas doses.

Foram analisados 3 estudos randomizados, duplo-cego e controlados. Os resultados primários foram infecções sintomáticas para COVID-19, confirmadas por amplificação de ácidos nucleicos, combinadas com pelo menos um sintoma clínico com mais de 14 dias após a segunda dose. Análises secundárias incluíram casos ocorridos mais de 21 dias após a primeira dose e qualquer teste de amplificação positivo. No Reino Unido infecções assintomáticas foram mensuradas semanalmente por exames (swabs) realizados pelos próprios voluntários. Respostas de anticorpos e neutralização com pseudovírus foram resultados exploratórios. As análises estatísticas foram robustas e significativas, com os autores retendo todo controle da pesquisa e da publicação.

Resultados demonstraram eficácia de 66,7% com mais de 14 dias após a segunda dose. Análises exploratórias da eficácia de uma única dose entre o dia 22 e o 90 após vacinação foi de 76% contra casos sintomáticos, sem queda significativa na dosagem de anticorpos. A eficácia de uma dose para qualquer amplificação positiva foi de 63,9%, sugerindo potencial para redução da transmissão. Nos participantes que receberam 2 doses a eficácia foi maior nos casos de intervalo entre doses de 12 semanas ou mais (81,3% contra 55,1% no caso de menos de 6 semanas). Os dados são corroborados pelos resultados de imunogenicidade.

O estudo conclui que o intervalo ideal entre as doses da vacina é de 12 semanas, sem diminuição da proteção nesses 90 dias iniciais. Não há evidências de duração da proteção, sendo recomendada uma segunda dose, que aumenta o nível de anticorpos neutralizantes, e provavelmente é necessária para garantir a proteção por maior período. Esses dados são importantes, pois em locais onde exista pouca disponibilidade de vacina pode se optar por imunizar uma população maior com uma única dose. Estudos recentes sobre adiar a segunda dose para vacinar uma parcela maior da população resultam em aumento imediato da proteção populacional.

A maior relevância do estudo é afirmar que um intervalo maior entre as doses é eficaz, podendo ser estratégico para o controle da pandemia, dada a escassez de insumos e vacinas ao nível mundial. No entanto, é importante salientar que são dados exploratórios que não foram previstos no estudo inicial.

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Como componentes alimentares menos monitorados por agências nutricionais e descartados pela indústria alimentícia podem contribuir para prevenção na COVID-19 ?

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Como componentes alimentares menos monitorados por agências nutricionais e descartados pela indústria alimentícia podem contribuir para prevenção na COVID-19 ?

LETICHEVSKY, Sonia

LAPONOGOV, I.; et al. Network machine learning maps phytochemically rich “Hyperfoods” to fight COVID-19 Human Genomics, v. 15, n. 1, Jan. 2021. Doi 10.1186/s40246-020-00297-x. Disponível em: https://humgenomics.biomedcentral.com/articles/10.1186/s40246-020-00297-x

Neste artigo os autores propõem combinar tratamentos médicos convencionais com intervenções nutricionais para o tratamento da síndrome respiratória aguda 2 (SARS-CoV-2). Uma opção é o reposicionamento de medicamentos – usar medicamentos já existentes: testados e validados para outras doenças. É uma forma de evitar o desenvolvimento de um novo medicamento e a aprovação regulatória que são processos lentos e custosos. Diversos medicamentos têm sido testados para a COVID-19. Testes com corticosteroide dexametasona comprovaram sua capacidade de reduzir a mortalidade em um terço para pacientes infectados que precisavam de auxílio respiratório. Porém, não há medicamentos clinicamente aprovados ou terapias antivirais para a prevenção de COVID-19 ou tratamento de pacientes sintomáticos não hospitalizados. Estes pacientes vão para casa com orientações básicas, mas permanecem em risco de piora do quadro, principalmente aqueles que apresentam comorbidades, como obesidade, diabetes e doenças cardiovasculares, que são muitas vezes consequências de hábitos e dietas pouco nutritivas e que são responsáveis por diversas adversidades relacionadas à COVID-19.

A dieta humana é rica em moléculas que possuem um papel tanto na prevenção como no tratamento de doenças virais, ao interagirem com medicamentos e potencializá-los ou ainda agirem como os próprios “medicamentos”. Os autores utilizaram a tecnologia de aprendizagem de máquina (Machine Learning) para identificar potenciais moléculas bioativas em alimentos com ação anti-COVID-19. Os modelos de aprendizagem de máquina foram calibrados, demonstrando que o método conseguiu predizer candidatos anti-COVID-19 dentre medicamentos (5.658 no total) com precisão de 80-85 %. Foram identificados os fármacos candidatos a serem adaptados para o combate da COVID-19, incluindo sinvastatina, atorvastatina e metformina. Finalmente, uma base de dados de 7.694 moléculas bioativas de alimentos foi rodada no algoritmo de aprendizagem de máquina calibrado, e identificou 52 moléculas de diversas classes químicas, incluindo flavonoides, terpenoides, cumarinas e indoles como potenciais agentes para combater a SARS-CoV-2.

A presença e quantidade destas moléculas não é comumente monitorada por agências nutricionais, que geralmente focam em minerais, vitaminas e macronutrientes. Estes compostos possuem gosto amargo e são rotineiramente removidos pela indústria alimentícia para melhorar o sabor. A identificação de constituintes e a consequente definição de “hiperalimentos” ricos fitoquimicamente, com propriedades curativas, pode ser um método seguro e de baixo custo para desenvolver estratégias terapêuticas nutricionais contra muitas doenças, incluindo a COVID-19. A lista de hiperalimentos revelada neste trabalho serve para desenvolver uma nutrição de prevenção. Os alimentos mais promissores encontrados são as frutas pequenas comestíveis (berries – groselha, framboesa, mirtilo, etc.), vegetais crucíferos (repolho, brócolis, etc.), maçãs, frutas cítricas, cebola, alho e feijão, pois são os mais ricos em termos de diversidade e quantidade de moléculas bioativas contra o SARS-CoV-2. Os métodos atuais de prevenção, tratamento e contenção de COVID-19 podem não ser efetivos em conter a taxa de transmissão. Além disso, pacientes não hospitalizados continuam em risco de piora clínica, especialmente os que apresentam comorbidades. Para estes pacientes, há uma necessidade crítica de tratamentos inovadores e com baixo custo. O uso da estratégia de nutrição de precisão é seguro e muito promissor neste contexto. Finalmente, os autores informam que validações clínicas adicionais são necessárias.

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A azitromicina pode trazer benefício na sobrevida de pacientes internados com COVID-19 ?

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Estudo de eficácia da azitromicina em pacientes hospitalizados

MARRA, Flavio Maciel

RECOVERY Collaborative Group. Azithromycin in patients admitted to hospital with COVID-19 (RECOVERY): a randomised, controlled, open-label, platform trial. Lancet, v. 397, p. 605-612, Fev. 2021. Doi: 10.1016/S0140-6736(21)00149-5. Disponível em https://www.thelancet.com/action/showPdf?pii=S0140-6736%2821%2900149-5

Os efeitos benéficos dos corticosteroides em pacientes com síndrome respiratória aguda grave e COVID-19 sugerem que drogas que suprimem ou modulam o sistema imunológico podem fornecer melhorias adicionais na evolução clínica desses pacientes. Nesse contexto, os macrolídeos também são conhecidos por apresentarem essa atividade imunomoduladora, por reduzirem a produção de citocinas pró-inflamatórias.

O ensaio clínico está incluído no estudo RECOVERY (Randomized Evaluation of COVID-19 Therapy), que investiga se o tratamento com diversos medicamentos ou procedimentos clínicos evitam a morte em pacientes com COVID-19. Esse trabalho, em particular, teve como objetivo avaliar a eficácia e a segurança do uso de azitromicina ou outro macrolídeo, em pacientes internados no hospital com COVID-19.

Trata-se de um ensaio randomizado controlado, aberto e de plataforma adaptativa, realizado em 176 hospitais no Reino Unido. Os pacientes elegíveis foram alocados aleatoriamente em dois braços de estudo – para o padrão usual de cuidado isolado ou padrão usual de cuidado mais azitromicina (500 mg por via oral, sonda nasogástrica ou injeção intravenosa uma vez ao dia por 10 dias ou até a alta). O desfecho primário foi a mortalidade por todas as causas em 28 dias. Desfechos secundários foram também analisados.

Dos 16.442 pacientes inscritos no estudo RECOVERY, 7.763 foram incluídos na avaliação da azitromicina. A idade média dos participantes foi de 65,3 anos e 38% eram mulheres. Foram incluídos no braço da azitromicina 2.582 pacientes e 5.181 para tratamento usual isolado. 

Os resultados mostraram que 561 pacientes (22%) que receberam azitromicina e 1.162 (22%) pacientes alocados para tratamento usual isolado morreram dentro de 28 dias. Nenhuma diferença significativa foi observada na duração da internação hospitalar ou na proporção de pacientes que receberam alta hospitalar com vida, em 28 dias. Entre aqueles que não estavam em ventilação mecânica invasiva no início do estudo, nenhuma diferença significativa foi observada na proporção que atendeu ao desfecho composto de ventilação mecânica invasiva ou morte.

A conclusão é que em pacientes internados em hospital com COVID-19, a azitromicina não melhorou a sobrevida ou outros desfechos clínicos pré-especificados e que o seu uso em pacientes internados no hospital com COVID-19 deve ser restrito a pacientes nos quais há uma indicação antimicrobiana clara.

Embora essa pesquisa não tenha detectado nenhum dano a pacientes individuais que receberam azitromicina, os autores alertam para o risco do uso disseminado de agentes antimicrobianos, em especial a azitromicina, que é classificada pela Organização Mundial da Saúde como um dos antibióticos que têm maior potencial de resistência e devem ser priorizados como alvos principais dos programas de controle de antimicrobianos.

 

 

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Como a tecnologia WiFi pode ser útil para acompanhar a evolução do estado clínico dos pacientes?

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Wi-COVID: uma estrutura de detecção de sintomas e monitoramento de pacientes COVID-19 usando WiFi

BARBOSA, Carlos Roberto Hall

LI, F.; et al. Wi-COVID: A COVID-19 symptom detection and patient monitoring framework using WiFi. Smart Health, v. 19, Mar. 2021. DOI: 10.1016/j.smhl.2020.100147 Disponível em: https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC7680085/

Este artigo descreve o potencial do uso da tecnologia WiFi em ambiente doméstico para monitoramento do ritmo respiratório (RR) de pacientes previamente diagnosticados com COVID-19. O objetivo é identificar os pacientes com maior risco de agravamento da doença e deterioração clínica, simultaneamente reduzindo a demanda nos hospitais e para equipes médicas. O sistema de monitoramento em tempo real proposto é não-invasivo e não-vestível (não causando portanto nenhum desconforto ao paciente).

Há 3 abordagens já conhecidas para utilização dos sinais de WiFi para monitoramento de sinais vitais e movimentações em ambiente doméstico, com complexidades e potencialidades crescentes: RSS (Radio Signal Strength – Força do Sinal de Rádio), CSI (Channel State Information – Informação do Estado do Canal) e FMCW (Frequency Modulated Continuous Wave – Onda Contínua Modulada por Frequência). Cada abordagem tem diferentes vantagens e desvantagens, e é aplicável a cenários distintos, mas todas já foram aplicadas anteriormente à estimativa do ritmo respiratório, com base nas pequenas alterações causadas pelos movimentos respiratórios nos sinais eletromagnéticos transmitidos pelos dispositivos WiFi.

O sistema proposto neste artigo, denominado Wi-COVID, baseia-se na abordagem CSI e é composto por 3 camadas. A primeira camada é a responsável pela detecção dos sinais WiFi, utilizando um dispositivo WiFi comercial como transmissor e uma plataforma Raspberry Pi como receptor. O paciente deve estar na área de cobertura do sinal WiFi e em estado de repouso, funcionando mesmo através de uma parede interna do ambiente.  A segunda camada é a responsável pelo processamento dos sinais gerados pela primeira camada, estimando o RR instantâneo e enviando os dados para a nuvem. Finalmente, a terceira camada, de monitoramento, analisa os valores de RR e dispara alarmes caso anormalidades sejam observadas. As diversas camadas são descritas em detalhes no artigo.

Os testes preliminares do protótipo foram realizados com um voluntário em um ambiente de 21 m2, a uma distância aproximada de 2,3 m do roteador WiFi e do Raspberry Pi, simulando um cenário típico de isolamento doméstico para pacientes diagnosticados com COVID-19. Os sinais WiFi detectados pelo Raspberry Pi são processados por uma série de filtros digitais e por análise de componentes principais (PCA), que extrai a informação referente aos movimentos respiratórios. Em seguida, esta informação é analisada nos domínios do tempo e frequência, usando técnicas de espectrograma de alta resolução. Permite assim identificar claramente episódios de variação brusca do RR, que são possíveis indicadores de deterioração clínica do paciente.

Os resultados preliminares comprovaram a capacidade do sistema Wi-COVID de estimar o RR a partir de sinais WiFi. Como trabalhos futuros, os pesquisadores pretendem implantar o sistema em domicílios de pacientes que tenham sido diagnosticados com COVID-19, de modo a transmitir automaticamente as informações de RR diretamente aos responsáveis pelo acompanhamento médico.

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Como as máscaras faciais são avaliadas em relação a sua eficiência protetora, de forma rápida no contexto da pandemia?

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Um método de triagem rápido para testar a eficiência de máscaras na decomposição de aerossóis

MONTEIRO, Elisabeth Costa

AMEDOLA, L. et al. A rapid screening method for testing the efficiency of masks in breaking down aerosols. Microchemical Journal. v. 157, p. 104928, Sep. 2020 [Epub 3 mai. 2020]. DOI: 10.1016/j.microc.2020.104928. Disponível em:  https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC7252045/pdf/main.pdf 

O trabalho desenvolve um sistema de medição para triagem rápida da eficácia de máscaras faciais, profissionais e não-profissionais, atualmente produzidas em mais larga escala no contexto da pandemia de COVID-19, muitas vezes por empresas que desviaram o seu campo de atuação em decorrência da demanda sanitária emergente.

Na Itália, várias indústrias desviaram parte de sua capacidade fabril para a produção de máscaras faciais profissionais e não-profissionais. Para contribuir na avaliação rápida da eficácia dessas máscaras produzidas pelas indústrias reconvertidas, foi desenvolvido um sistema analítico inteligente, com contador óptico de partículas para medir o aerossol que passa através das máscaras faciais, em combinação com uma bomba para simulação da inspiração e expiração. Utilizando o sistema, avaliaram-se máscaras faciais produzidas por indústrias reconvertidas e estes resultados foram comparados aos obtidos na avaliação de máscaras profissionais.

A constatação da contribuição das máscaras faciais cirúrgicas no controle da transmissão do coronavírus determinou aumento significativo da demanda por esses equipamentos de proteção, impulsionando indústrias a alterarem sua cadeia de fabricação para máscaras faciais profissionais e não-profissionais. Na Itália, as máscaras profissionais devem atender a requisitos normativos (EN 14683:2019; EN 149:2009), que necessitam instalação laboratorial complexa e longo tempo de análise. A 2002/657/CE destaca métodos de triagem como ferramentas analíticas úteis para análises rápidas e econômicas. Assim, o desenvolvimento de método de triagem rápida para avaliar máscaras faciais profissionais e não-profissionais pode contribuir para atender à ampla demanda emergente.

Desenvolveu-se um sistema para avaliação da eficiência de filtração de aerossóis através das máscaras faciais, utilizando duas câmaras separadas pela máscara analisada. A primeira câmara é carregada com aerossol e a segunda é conectada a uma bomba de vácuo que simula o ato respiratório. Com o contador óptico avalia-se a porcentagem de partículas bloqueadas pela máscara, medindo-se as partículas na câmara 1 e na câmara 2, após a ação respiratória profunda simulada (vazão de 6 L/min, durante 2 segundos). Cada um dos diferentes tipos de máscaras avaliadas foi medido oito vezes, tanto na inspiração como na expiração simuladas.

Utilizando o sistema desenvolvido, foram realizadas medições em diversos tipos de máscara facial não-profissional e em máscaras profissionais, avaliando-se a resposta tanto na inalação quanto na exalação, usando máscaras diferentes do mesmo lote. A eficiência média de filtração, levando em conta as partículas com diâmetros maiores que 0,28 µm, indicaram que a máscara facial médica apresenta valores superiores a 97 %, e dentre as não-profissionais, apenas as fabricadas com três camadas, principalmente constituídas por TNT (material não-tecido) alcançaram valores superiores a 95 %. Maior eficiência foi observada para partículas com dimensões mais elevadas.

Desenvolveu-se um sistema de medição para a análise laboratorial de máscaras faciais profissionais e não-profissionais, utilizando contador óptico de partículas combinado a uma bomba que simula o ciclo respiratório. Os resultados apontam para maior eficácia das máscaras não-profissionais fabricadas com três camadas de TNT, corroborando com a recomendação antes publicada pelo Politécnico de Milão. O estudo demonstra que o a técnica é capaz de evidenciar em tempo curto a adequação das máscaras faciais, podendo ser empregada como um método de triagem para avaliar as máscaras faciais produzidas nas condições de urgência no atual contexto da pandemia de COVID-19.

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Como a confiança na ciência pode estar relacionada com crenças em teorias conspiratórias?

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Desinformação sobre COVID-19: evidência de perfis latentes diferenciais e uma forte associação com confiança na ciência

COTRIM JUNIOR, Dorival Fagundes

AGLEY, J.; XIAO, Y. Misinformation about COVID-19: evidence for differential latent profiles and a strong association with trust in science. BMC Public Health., v. 21, n. 1, p. 89, Jan. 2021. Doi: 10.1186/s12889-020-10103-x. Disponível em: https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/33413219/

O artigo objetivou analisar, a partir de uma pesquisa transversal realizada com adultos norte-americanos, a crença em teorias conspiratórias a respeito da COVID-19 (transmissão do vírus por 5G, conspiração da vacina de Bill Gates, desenvolvimento laboratorial do vírus, restrições de liberdade e científica). 660 pessoas participaram da pesquisa, sendo todas questionadas sobre a credibilidade das cinco narrativas selecionadas, orientação política, compromisso religioso, confiança na ciência e itens sociodemográficos. Emergiram quatro perfis distintos de crença e uma das principais conclusões é de que a crença na narrativa que reflete o consenso científico pode não ser mutuamente excludente da crença em desinformação ou em conspirações.

A introdução foi dividida em quatro subitens. Inicialmente contextualizaram a pandemia, os esforços científicos para a divulgação das pesquisas relacionadas e a percepção da comunidade de pesquisadores a respeito da disseminação de desinformação, teorias conspiratórias e informações não verificadas sobre a COVID-19.

Para investigar o problema, identificaram perfis de crenças sobre as narrativas da COVID-19, a partir de Análise de Perfil Latente (LPA), e elencaram as duas hipóteses: (i) há perfis distintos de crenças nos indivíduos em diferentes narrativas relativas à COVID-19; e (ii) a confiança na ciência é menor entre os subgrupos endossadores da desinformação ou conspiração, mesmo após o controle das características sociodemográficas, de orientação política e religiosa.

Quanto aos métodos, a amostra foi de 660 usuários do mTurk dos Estados Unidos com 18 anos ou mais. Foram solicitadas as informações supramencionadas e a avaliação da credibilidade de cada narrativa foi feita a partir da escala tipo Likert, de 1 a 7 (extremamente inacreditável para extremamente confiável), no total de 21 questões. A análise estatística foi realizada em quatro etapas.

Os “Resultados” indicaram uma maior prevalência do sexo masculino (61,82%), de brancos (60,45%), idade média de 24,8 anos e 50,83% graduado. As pontuações médias de orientação política, compromisso religioso e confiança na ciência foram, respectivamente, 4,82, 4,82 e 3,65. Dentre os perfis de crenças em narrativas tivemos que o Perfil 1 (463 pessoas) geralmente acreditava na narrativa científica e tendia a não acreditar em outras. Foram os que menos acreditaram na narrativa 5G e os que mais credibilizaram a narrativa zoonótica para a origem da COVID-19.

O perfil 2 (54 pessoas) considerou todas as declarações altamente plausíveis; o perfil 3 (77 pessoas) relatou credibilidade de baixa a moderada para todas as quatro narrativas e a menor pontuação para a narrativa zoonótica; e o perfil 4 (66) apresentou credibilidade razoavelmente alta para a maioria das narrativas, diferindo-se do perfil 2 por indicar menos plausibilidade na narrativa 5G.

Na “Discussão” foi identificado que a confiança na ciência era menor entre os grupos que relataram alta credibilidade para informações incorretas sobre a COVID-19, o que foi parcialmente suportado pelos resultados.

A pesquisa confirmou outros achados, como o elevado índice de pessoas nos Estados Unidos que acreditam em pelo menos uma teoria da conspiração. Verificou-se ainda que as pessoas céticas em relação à desinformação tendem a acreditar na ciência, que a neutralidade sobre a credibilidade de narrativas mal-informadas não necessariamente se traduz em endosso à científica e que há grupos latentes para as quais a crença na ciência não mutuamente exclui a crença na desinformação.

A crença na ciência parece estar associada a uma menor probabilidade de expressar um padrão de crença endossador de narrativas definitivas ou provavelmente mal-informadas. Ou seja, não é necessariamente irracional para uma pessoa não inserida na pesquisa científica relatar nível mais baixo de confiança na ciência com base na ideia de que certas teorias estão erradas, foram fraudulentas ou estão em progresso.

A pesquisa sugere que construir sistematicamente a confiança na ciência pode ser uma maneira eficaz de proteger a população contra informações incorretas, mostrando como a ciência funciona e a sua confiabilidade.

Dentre as limitações apontadas estão: a irrepresentatividade nacional dos dados, possibilidade de o estudo estar sujeito a viés de variável omitida, e impossibilidade de afirmar qualquer causalidade.

A conclusão sugere que acreditar em desinformação sobre COVID-19 pode não ser mutuamente excludente de acreditar em explicação científica e que a maioria dos que acreditam em desinformação acredita em várias narrativas diferentes.

Por fim, os autores recomendam aumentar a amostra, aferir a possibilidade de replicação, estruturar estudos longitudinais e desenhar experimentos randomizados para determinar se as intervenções breves podem melhorar a confiança na ciência.

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Como a COVID-19 afetou o cuidado de pacientes com urticária aguda e crônica?

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Avalição de pacientes com urticária antes e durante da pandemia de COVID-19: um estudo retrospectivo

ORSINI, Marcela

AKCA, H. M.; TUNCER KARA, K. Evaluation of urticaria patients before and during the period of the COVID-19 pandemic: A retrospective study. Dermatol Ther., v. 34, n.2, p. e14800, Mar. 2021. Epub 2 Fev. 2021. Doi: 10.1111/dth.14800. Disponível em: https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/33486861/

Após o início da pandemia por COVID-19, muitas patologias ficaram negligenciadas e sem avaliação médica adequada, o que foi evidenciado pela queda da procura de atendimento médico.

Na tentativa de mostrar a diferença no número de atendimentos antes e após o início da pandemia, o presente artigo descreve um estudo retrospectivo que avaliou pacientes atendidos em ambulatório, com o quadro clínico de urticária, ocorridos antes e após o início da pandemia por COVID-19.

Urticária é um quadro de acometimento cutâneo, clinicamente identificada como a formação de lesões avermelhadas, que podem assumir a forma de placas, arredondadas ou não, geralmente acompanhadas de coceiras. Podem ser acompanhadas de edema, inchaço em pálpebras, lábios e recebem o nome de angioedema. São classificados em urticária aguda (UA) quando se tem menos de seis semanas de duração e urticária crônica (UC), quando sua duração é maior que seis semanas.  

Neste estudo avaliou-se o total de 82 pacientes, sendo 57 (69,5%) no período de dezembro de 2019 até fevereiro de 2020 e o restante, 25 (30,5%)  entre março a maio de 2020. O diagnóstico e a classificação da urticária para inclusão dos pacientes no estudo obedeceu aos critérios previstos no EAACI/GA(2)/LEN/EDF/WAO Guideline.

Examinou-se prontuários dos pacientes para avaliar idade, gênero e duração da doença.

A análise estatística foi feita através do programa SPSS, versão 22.0, calculados porcentagens e médias. Testes do X2 e U de Mann-Whitney foram usados. O valor de P<0.5 foi considerado como estatisticamente significativo.

Os resultados mostraram que antes do início da pandemia foram atendidas 4754 consultas por queixas dermatológicas. Destas, 57 foram diagnosticadas como urticária (1,19%). Durante a pandemia e até o término desde estudo, foram atendidas 1564 consultas por queixas dermatológicas, sendo 25 (1,6%) diagnosticadas como urticária. A diferença entre o número total de atendimentos antes e durante a pandemia foi significativa com P<0.1.  Em relação ao gênero, foram avaliados 51 (62,2%) pacientes do sexo feminino e 31 (37,8%) do sexo masculino. A idade média dos pacientes não apresentou diferença estatística entre os grupos de atendimento antes e após início a pandemia (P=0.340) bem como em relação ao gênero (P=0.604). Entre os 82 pacientes avaliados antes do início da pandemia, 23 (40,4%) tinham UA e 34 (59,6%) apresentavam UC; em relação aos pacientes atendidos durante a pandemia, 20 (80%) tinham UA e 5 (20%) tinham UC. A proporção de pacientes atendidos com UA dentre todas as queixas dermatológicas, no período dos três meses após o início da pandemia, foi estatisticamente significativa (P=0.002).

Urticária é um motivo comum de procura de atendimento médico, sendo que cerca de 15% a 20% da população tem pelo menos um quadro agudo da doença em sua vida. Neste trabalho, os autores mostram a queda do número de consultas dermatológicas após o início da pandemia. Entre as consultas realizadas, aquelas com quadro de UA correspondem à maioria. Há dois aspectos que devem ser considerados: o primeiro diz respeito a que só há procura do serviço médico durante a pandemia para avaliação de quadros agudos, com negligência de quadros crônicos, conforme já descrito em outros estudos; segundo, é sabido que infecção por vírus pode ter como sinal inicial o aparecimento de urticária aguda. Portanto, mais estudos merecem ser realizados para definir a relação causal entre urticária e COVID-19.

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