Evidências Covid 19

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Quais os principais tipos de medicamentos estudados para possibilitar a melhora clínica da COVID-19 e como eles atuam?

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Revisão da farmacoterapia emergente para o tratamento da COVID-19

BIANCHI, Breno

Barlow A, Landolf KM, Barlow B, Yeung SYAY, Heavner JJ, Claassen CW, Heavner MS. Review of Emerging Pharmacotherapy for the Treatment of Coronavirus Disease 2019,  Pharmacotherapy, v. 40, n. 5, p. 416-437, may 2020. DOI: 10.1002/phar.2398. Disponível em: https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/32259313/

O artigo apresenta uma revisão dos possíveis tratamentos farmacológicos para o novo coronavírus 2019 (SARS-CoV-2) e para síndrome de angústia respiratória severa causada por ele (COVID-19), com o intuito de fundamentar decisões terapêuticas. O mecanismo de ação, esquema posológico e efeitos adversos, de cada medicamento citado, são discutidos no texto.

Podemos dividir os medicamentos entre antivirais e imunomoduladores. Os antivirais inibem a replicação viral atuando em diversas etapas do seu ciclo. Foram desenvolvidos para o tratamento de outras infecções virais como: HIV, Hepatite B e C e Ebola, bem como por infecções causadas por protozoários como os causadores da malária e giardíase. 

Os antivirais são subdivididos em análogos do nucleosídeo e inibidores de protease. Os primeiros interrompem a replicação viral em sua fase inicial através do bloqueio da enzima RNA polimerase e consequentemente inibem a síntese de RNA viral.  Estes são o Rendesivir e a Ribavirina.  Por outro lado, os inibidores de protease atuam através do bloqueio desta enzima, que é fundamental para síntese de RNA viral. Desta forma, seu bloqueio impede a replicação do vírus e a evolução da COVID-19. O Lopinavir/ritonavir e o nelfinavir se encontram nesta classe.

A Cloroquina e a hidroxicloroquina são medicamentos antimaláricos utilizados de longa data. Os antimaláricos reduzem o pH endossomal e lisossomal interferindo na entrada e saída do vírus nas células humanas e assim reduzindo também a replicação viral. A Nitazoxanida, inicialmente desenvolvida para tratamento de giardíase, também possui ação contra outros parasitas intestinais, bactérias e até outros vírus como influenza.  São diversos seus mecanismos de ação, variando de acordo com o patógeno envolvido. Seu efeito antiviral se baseia na estimulação de interferon tipo 1 que exerce fundamental papel em nossa resposta imunológica viral.

Os imunomoduladores atuam de duas formas, estimulando o sistema imunológico no combate à COVID 19 ou bloqueando vias inflamatórias. O interferon-α, utilizado no tratamento de hepatite B e C, é uma proteína responsável pela resposta imunológica a infecções virais. Tem ação no reconhecimento do vírus por células de defesa, assim como ativa linfócitos responsáveis pelo clearance viral. O plasma convalescente é um tratamento inovador, que consiste em retirar plasma de pessoas curadas e administrá-lo a pacientes com COVID-19. Nele há anticorpos que ajudam nosso sistema imunológico a reconhecer e inativar o vírus.

 A COVID-19 é resultado da resposta inflamatória descontrolada durante a infecção pelo SARS-CoV-2. Esta resposta resulta em danos em diversos sistemas do corpo humano, com predomínio na via respiratória inferior, e é associado com maior mortalidade. Alguns medicamentos que bloqueiam a resposta inflamatória podem ser utilizados na COVID-19. O baracitinibe, tocilizumabe e corticosteróides são medicamentos utilizados no tratamento de doenças autoimunes e alérgicas, entre elas artrite reumatóide, vasculite sistêmica e asma. Existem trabalhos sugerindo o uso destas medicações na COVID-19. Todavia o uso prolongado destas se associa ao aumento de infecções; assim devemos ter cautela na prescrição.

Todos os medicamentos propostos pelo artigo necessitam de estudos clínicos controlados e com maior número de participantes, para comprovar sua eficácia na COVID-19. 

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Quais os efeitos dos medicamentos que reduzem a pressão arterial em pacientes com COVID-19 e seus possíveis benefícios?

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Efeitos dos medicamentos na infecção por vírus, estado inflamatório e resultados clínicos em pacientes com COVID-19 e hipertensão: um estudo retrospectivo de centro único

DOLINSKY, Luciana

Yang, Guang; et al. Effects of angiotensin ii receptor blockers and ace (angiotensin-converting enzyme) inhibitors on virus infection, inflammatory status, and clinical outcomes in patients with COVID-19 and hypertension: a single-center retrospective study. Hypertension, v. 76, n.1; p. 51-58, jul.2020. DOI: 10.1161/HYPERTENSIONAHA.120.15143. Disponível em: http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/32348166

O artigo analisa os efeitos dos bloqueadores de receptores da angiotensina (BRA) e inibidores da enzima conversora da angiotensina (IECA) na infecção, inflamação e no desfecho clínico de pacientes hipertensos diagnosticados com a doença causada pelo novo coronavírus (COVID-19). A ideia é que estes fármacos reduzem a Angiotensina II e consequentemente a inflamação.

Estudos anteriores demonstraram que o vírus utiliza os receptores celulares para a enzima conversora da angiotensina (ECA2), para infectar as células humanas, e que pacientes com hipertensão tem pior prognóstico clínico quando infectados. Esses receptores ECA2 estão presentes em diversos tecidos, como pulmão, intestino, rim coração e vasos sanguíneos, sendo utilizados como porta de entrada para o vírus. Os fármacos do tipo BRA/IECA tem um papel controverso, uma vez que aumentam a expressão desses receptores sem evidências de facilitar a infecção, porém reduzem a inflamação possivelmente diminuindo complicações e óbitos em pacientes hipertensos.

Os autores realizaram um estudo retrospectivo de dados dos registros hospitalares de 126 pacientes hipertensos diagnosticados com COVID-19 e 125 pacientes normotensos pareados em idade e sexo com o grupo original, que foram utilizados como grupo controle. O grupo dos hipertensos foi subdividido em um subgrupo em tratamento regular com BRA/IECA (43 pacientes) e outro subgrupo em tratamento com outros anti-hipertensivos (83 pacientes). Os dados médicos, como gravidade da doença, alta do paciente, complicações, tempo de internação e óbito foram acompanhados durante o período do estudo, bem como os registros de histórico médico, dados demográficos, sinais e sintomas, comorbidades, análises bioquímicas e tratamento.

Resultados demonstraram que não houve diferenças estatísticas entre o grupo de hipertensos e o grupo controle no que diz respeito a gravidade da COVID-19 e óbitos. Pacientes em tratamento com BRA/IECA ou outros anti-hipertensivos também não mostraram diferenças estatísticas significativas quanto a gravidade e óbitos. Houve diferenças entre o grupo de pacientes e o grupo controle quanto a saturação de oxigênio, ureia, enzimas hepáticas, troponina cardíaca, proteína C reativa ultra sensível e procalcitonina. O grupo em tratamento com BRA/IECA mostrou concentrações reduzidas das substâncias inflamatórias proteína C reativa e procaciltonina em comparação com o grupo em tratamento com outros anti-hipertensivos.

 O principal achado do estudo foi o índice reduzido das substâncias inflamatórias proteína C reativa ultra sensível e procalcitonina nos pacientes hipertensos com COVID-19, em tratamento regular com BRA/IECA, em comparação com o grupo em tratamento com outros anti-hipertensivos. Como a hipertensão induz a produção de citocinas inflamatórias, que já foi demonstrado estarem aumentadas também em pacientes normotensos com COVID-19, pode-se propor que fármacos que inibem a resposta inflamatória tem potencial terapêutico para o tratamento de pacientes com o novo coronavírus e hipertensos, como demonstrado no estudo. Em pacientes normotensos o receptor poderia ser utilizado como alvo de novas terapias.

O estudo tem como ponto relevante a redução de substâncias inflamatórias no grupo de pacientes em tratamento com BRA/IECA, em relação ao grupo de pacientes em outros tratamentos anti-hipertensivos, o que pode sugerir uma proposta terapêutica. No entanto, os próprios autores reconhecem a limitação da análise, sendo necessários novos estudos.

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